O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 31 de julho de 2013

Memorial para os advogados que lutaram contra a ditadura

Notícia importante: http://blogs.estadao.com.br/roldao-arruda/advogados-que-lutaram-contra-ditadura-ganham-memorial/

Do ponto de vista simbólico é importante reconhecer como virtude a atuação desses advogados. É difícil defender os direitos dos "indesejáveis" criados pelo sistema.

Essa é uma das mais nobres funções que um advogado pode exercer:  a eficácia de direitos.  E se isso acontecer em um período histórico de dificuldades, como foi o da ditadura militar, mais importante ainda.

Merecida e justa homenagem.


terça-feira, 30 de julho de 2013

Recreio

Hora e lugar. Tempo maravilhoso de intervalo entre as aulas na minha infância, e onde desenvolvíamos as nossas incipientes relações sociais.

O lugar do recreio parecia uma praça de guerra, onde eram travados conhecimentos, surgiam amizades e inimizades, e as desigualdades sociais transpareciam nos comportamentos.  Gosto muito de observar as pessoas recentes manejando os instrumentos de adaptação social, principalmente as normas jurídicas: não há como entender o direito de propriedade sem uma visita ao parquinho.

O meu recreio começava, todo dia, com um picolé de morango com leite.  O meu colégio era muito grande, e o recreio era curto, então não dava para enfrentar a fila da cantina para comprar lanche.  Nós só tínhamos duas alternativas: ou levar a refeição de casa (quanto pão com manteiga e açúcar a pessoa pode comer durante a vida?), ou encontrar meios alternativos, no caso, o picolé de Zé.

Passei anos tomando picolé, até que descobri que não gosto de sorvete.  Sim, não gosto de sorvete e não sou uma pessoa pior por isso.

Eu me acostumei a passar o meu recreio com os meus irmãos.  Apesar da diferença de idade, sempre fomos amigos porque tínhamos os mesmos interesses. E quando eu não queria ouvir os barulhos da felicidade do recreio, ia à biblioteca da escola.  Mas, repito, o intervalo era muito curto e quase não dava para fazer nada.

Refletindo ontem sobre o assunto, cheguei à conclusão de que na verdade o recreio é cruel.  Um exercício de liberdade, mas dentro das entranhas da instituição (Escola) que delimita o tempo e lugar de sua alegria.  Que diz o que temos que aprender e como.  Acho que Hobbes estava pensando nisso quando escreveu o seu Leviathan. Bem...talvez não.

O recreio também era a oportunidade de esperar que o Sapotizeiro, árvore frutífera e generosa, se dignasse  derrubar seus frutos.  Aqueles que não possuíam o dom da paciência tentavam derrubar as frutas a pedradas.  O sapoti é tão marcante na nossa infância que, na semana passada, eu e meu irmão o comemos e imediatamente voltamos aos tempos do colégio.

Agora, respondendo à sua pergunta (de um aluno):  não, os alunos da pós-graduação não têm direito a recreio.

sábado, 27 de julho de 2013

Memória brasileira: o petróleo é nosso!

Nessa semana, durante uma aula de Direito Administrativo, comecei a falar sobre a Petrobrás e da atuação empresarial do Estado Brasileiro.  Fiz uma viagem até os anos de 1940, e lembrei a grande polêmica sobre o início da exploração do petróleo no Brasil, que culminou na campanha "O petróleo é nosso".

Naqueles tempos havia uma grande dúvida quanto a existir petróleo no território brasileiro, e não havia procedimentos para regular essa atividade econômica.  A quantidade de entraves burocráticos era tanta, e tanto era o medo de que esses recursos naturais estratégicos caíssem em mãos estrangeiras, que o escritor Monteiro Lobato escreveu ao Presidente Getúlio Vargas sobre o assunto (cf. http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato/monteirolobato/cartaget.html).

Monteiro Lobato denunciou o "Escândalo do Petróleo" e acabou preso por isso.  Mas a minha principal lembrança sobre essa confusão toda era um livrinho infantil de que gostava muito, chamado o "Poço do Visconde".  Em linguagem simples (e, presumo, também técnica), Monteiro Lobato tentou explicar porque havia petróleo no Brasil e como poderia ser explorado, para que até as crianças entendessem seu ponto de vista.

Eu, filha de geólogo, adorava esse livrinho porque podia tirar minhas dúvidas com meu papi.  Além disso, tem uma palavra que eu aprendi nessas leituras e nunca esqueci: sinclinal.

O resultado dessa grande polêmica nacional foi a criação de uma empresa para exploração, que durante décadas exerceu a atividade sob a forma de monopólio, tendo a União Federal como sócia majoritária.
Para ver imagens dessa época, basta ir ao Google imagens e informar o nome da campanha.




sexta-feira, 26 de julho de 2013

Direito à memória dos mortos: o misterioso visitante da tumba de Edgar Allan Poe

Ontem conversava com a minha irmã sobre Edgar Allan Poe, um autor de nossa preferência há muitos anos.  Discutíamos sobre suas obras e biografia, e lembramos do dia em que fomos visitar a sua casa e tumba na cidade de Baltimore, no Estado de Maryland.

Ela, então, contou uma história que parecia saída dos livros dele: todo ano, há muito tempo, um misterioso visitante visita o túmulo no dia do aniversário de sua morte, deixando três rosas e uma garrafa de conhaque inacabada.

A curiosidade das pessoas, que teimam em descobrir o mistério, acabou se transformando em uma tocaia anual (http://lifestyle.inquirer.net/85985/poe-visitor-comes-nevermore-yet-mystery-lingers).  Dezenas de pessoas vão à noite ao cemitério e aguardam, em suspense, se o visitante aparecerá ou não, e tentam descobrir quem é o fantasmagórico personagem.

Não é interessante?  Parece um conto de Poe, com suspense e um pé no além-túmulo.

O fato é que há uns quatro anos o visitante deixou de aparecer.  Alguns dizem que é pelo medo de ser reconhecido e importunado, outros dizem que ele (ou ela) morreu, mas isso não nos impede de ficar esperando o próximo aniversário de morte do escritor para prestar a nossa homenagem e, quem sabe, rever o visitante misterioso.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Resgatando conhecimentos tradicionais (2): Medir o tempo

No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html iniciamos uma reflexão sobre a perda de conhecimentos antigos, que acompanham a Humanidade desde tempos imemoriais, mas que foram esquecidos pelo desuso.

Já falamos sobre fazer fogo sem utilização de utensílios modernos (ainda não consegui), e meu irmão construiu um arco e também suas flechas. Agora, acredito que precisamos reaprender a medir o tempo como faziam os antigos, por isso decidi construir uma clepsidra (relógio de água), um relógio de sol  e vou estudar sobre ampulhetas.

Sei que em alguns parques e praças públicas possuem relógios de sol e água, então também resolvi que vou colecionar fotografias desses lugares.

Apenas para incluir um detalhe pessoal, e considerando o meu direito à livre manifestação de pensamento e expressão, gostaria de consignar que não uso relógios de pulso por motivos ideológicos.  Acredito que são grilhões disfarçados, que aprisionam o homem a uma concepção de tempo padronizada, que não respeita a diversidade dos tempos sociais.

Além disso, geralmente tenho alergias.

E não, o relógio de pulso não foi inventado por Santos Dumont.

domingo, 14 de julho de 2013

População agindo na defesa de bens religiosos em Minas Gerais

A apropriação pela população é a condição sine qua non para que um bem cultural seja considerado "patrimônio".  E uma das maneiras mais visíveis dessa apropriação é o desejo de defender e ter junto a si o bem cultural.

Um exemplo interessante ocorre em Minas Gerais: http://defender.org.br/2013/07/13/fe-move-o-resgate-de-joias-sacras-em-minas/. O número de denúncias vem crescendo nos últimos tempos e, infelizmente, também o número de roubos.

Nesse ponto, duas observações devem ser feitas:  a primeira é que a política de preservação não abrange todos os bens, mas só aqueles valorados e tutelados pelo Estado.  Então, existe todo um universo de bens culturais que não chegam a integrar as políticas públicas de proteção, preservação e promoção.

Em segundo lugar,  mesmo em relação aos bens que são efetivamente tutelados, o Estado não consegue (e jamais conseguirá) evitar a ação de criminosos.  Quando pensamos especificamente no crime de roubo, não podemos esquecer que os bens culturais móveis  são extremamente valiosos e possuem um mercado incessante e ávido.

Além disso, e infelizmente, o roubo de bens culturais é um crime cercado de glamour.  Os ladrões de obras de arte são personagens idealizados por filmes e peças teatrais, sempre muito elegantes e sofisticados, cheios de aparatos tecnológicos, e são contratados por pessoas ricas que frequentemente roubam bens para o seu próprio deleite.  Às vezes as peças ficam escondidas durante anos, e só aparecem eventualmente na época de um inventário.

Tudo isso dificulta o combate ao crime, sem contar com o fato de que o Brasil está realizando o inventário de conhecimento dos bens culturais, mas ainda não foi concluído.  O governo brasileiro tem uma ação permanente de identificação e resgate de bens ilicitamente transferidos, veja a campanha institucional:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=2jMu-f57kho

Para acessar o banco de bens procurados: http://portal.iphan.gov.br/consultaPublicaBCP/index.jsf


sábado, 13 de julho de 2013

Krak des Chevaliers bombardeado em 12/07/2013

Dia triste.

Para ver o monumento sendo bombardeado: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=RHPtHwNqaVE

Fortaleza templária, cuja construção remonta ao século XII, e foi um importante marco estratégico na época das Cruzadas.

Mais uma vítima inocente da guerra na Síria.  O princípio da inocência dos monumentos é consagrado na Convenção da Haia de 1954.

Mortalhas

Ontem à noite, quando passava pela janela da cozinha, ouvi uma coruja rasgando mortalha.  Segundo os antigos da minha região, isso é sinal de "mau agouro", indicativo de que alguém irá falecer.

Imediatamente, lembrei da primeira vez que ouvi falar em "mortalha", e também foi a primeira vez que eu vi uma. Aconteceu assim:  a minha tia-bisavó estava muito doente, foi para a casa da minha avó para ser cuidada.

Ela, muito velhinha e frágil, ficava deitada em um quarto, por onde sempre passavam pessoas, para que pudesse ser constantemente monitorada. Um dia, enquanto ajudava a minha avó a cuidar dela, vi um vestido preto, que na verdade parecia de um azul-marinho muito profundo.

Eu perguntei:

- Vovó, é para dobrar o vestido e guardar no armário?
- Não, Fabiana, essa é a mortalha da sua tia.

Mortalha, o que é isso?  Pensei, mas não perguntei na hora.  Um tempo depois, perguntei à minha avó o que era uma mortalha, e ela disse que era a vestimenta que a minha tia fez para ser enterrada.

Eu achei aquilo tudo assombroso porque me pareceu profundamente triste. E continuo achando assombroso, primeiro, que alguém pudesse costurar a própria mortalha com tanto tempo de antecedência (parece que ela havia feito isso há muitos anos) e, depois, a naturalidade com a qual aquele tema era tratado entre os antigos.

Ultimamente tudo ficou muito mais estranho porque o termo "mortalha" passou a ser utilizado para designar as roupas carnavalescas de quem participa de blocos de axé, e depois passaram a chamar de abadás.   Lembro que, uma vez, fui convidada a participar de um bloco de carnaval e me perguntaram se eu não ia comprar minha mortalha.

Tomei um susto! E ainda perguntei, inocentemente, se o carnaval estava tão violento assim, que as pessoas precisavam encomendar mortalhas. Era o final da década de 80 e essa moda da mortalha carnavalesca tinha acabado de chegar por estas bandas, eu não tinha ainda me adaptado aos novos tempos.

Aliás, como chego muito atrasada nos modismos, para mim a mortalha ainda é apenas o último suspiro fashion das pessoas, e guarda um simbolismo profundo como uma das expressões de última vontade.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Lembrar Hípias de Élis

Eu tive dois heróis na minha infância: um era Alexandre, o Grande (ando meio decepcionada com ele), e ou outro, Hípias de Elis (460 a.C -400 a.C).

Lembro perfeitamente de um grande livro verde, com algumas páginas faltando, que minha mãe me dava para ver as figuras, porque ainda não sabia ler.  Era um livro ilustrado de História, e eu passava as tardes sentadinha, colorindo as ilustrações, e o detalhe é que não era um livro de colorir.  Gostava principalmente de pintar os deuses do Olimpo.

Pois bem, nesse livro havia fotos de esculturas de vários personagens, e as minhas preferidas eram as de Alexandre e Hípias.  Aos poucos, e devido à minha curiosidade patológica, fui lendo um pouco sobre eles e acabei virando fã.

Hípias é um personagem muito interessante.  É considerado "sofista", o que parece ser suficiente para angariar o desprezo e a intolerância do time dos filósofos. Parece que ele era meio fanfarrão, parlapatão (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/resgatando-xingamentos-antigos-2.html), gostava de se auto-promover, vituperando (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/resgatando-xingamentos-antigos.html).

Gabava-se de saber muitas coisas, e devia ser um personagem interessante. Um brisa de ar fresco naquela comunidade sisuda que se levava tão a sério. Mas, o que me impressionou realmente foi o seu interesse por trabalhos manuais, que eram vistos como um trabalho inferior para homens de sua posição social.

Hípias tecia suas próprias roupas e fazia os seus próprios sapatos, não é genial?  Tenho a maior admiração por pessoas que sabem fazer coisas com as próprias mãos, pois esse é um conhecimento que está se perdendo, em função da industrialização e da compartimentação do processo produtivo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html). Meu irmão também passou um tempo fazendo as próprias roupas e sapatos, inclusive para mim, e era bem legal.

Voltando ao nosso ídolo, há uma vinculação de Hípias à arte da memória   (cf. post sobre Simonides de Ceos http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/lembrar-simonides-de-ceos.html), e também é considerado "pai" da mnemotécnica, o que é bastante compreensível já que se dedicava à Oratória e, como vimos, essas duas atividades sempre estiveram muito ligadas.

Adoraria poder estudar sistematicamente mas, por enquanto, só  deixo a minha memória vagar até o porto de Hípias e lembro dele, de vez em quando.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Museu expõe o lado oculto dos quadros


Que notícia interessante:http://video.br.msn.com/?mkt=pt-br&vid=2a14fe09-7a30-4c74-b5f2-2fd9d23f724e&from=sharepermalink&src=v5:share:sharepermalink:


Esse é um lado que dificilmente o público pode ver. Há tantas informações no verso dos quadros, por exemplo, os selos de autenticação e certificados de origem e propriedade.

Achei uma idéia excelente.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cerveja e tradição

Ontem li uma notícia sobre o interesse de empresas cervejeiras em "ressuscitar" antigas fórmulas de cerveja, com ajuda da Arqueologia:  http://nytsyn.br.msn.com/colunistas/cervejaria-artesanal-decide-investir-em-arqueologia#page=1

Lembrei que há alguns anos, vestígios de cerveja foram encontrados no Egito: http://tronnos.blogspot.com.br/2009/03/uma-cerveja-para-o-farao.html.  Lembrei também que no século XVI, na Inglaterra, a cerveja era feita em casa, e era consumida por todo mundo (crianças e adultos), com ou sem temperos e especiarias.

Achei muito interessante a informação de que a cerveja lá era misturada com lavanda, por exemplo, e tinha gostos diferentes.  Tudo isso durou até que o gim virou moda, e a partir do século XVIII já aparecia como um problema social (cf. ilustração de William Hogarth - Gin Lane - http://www.britishmuseum.org/explore/highlights/highlight_objects/pd/w/william_hogarth,_gin_lane.aspx, e sua curiosa comparação com Beer Street, do mesmo autor).

Por falar nisso, parece que consumir gin voltou a ser moda por lá: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/viagem/noticia/2013/02/onde-apreciar-o-gim-bebida-da-moda-na-inglaterra-4055738.html.

Parece que de vez em quando essas bebidas são ressuscitadas, o que prova que elas jamais foram esquecidas e que podem até ser consideradas patrimônio imaterial.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mercado público de Porto Alegre

Sempre considerei que o mercado público é a alma de uma cidade. Um microcosmos onde se pode ter uma  amostra do que as pessoas fazem, comem, gostam, discutem.  Alguns são tão importantes que se acham o umbigo do lugar, e que tudo gira em torno deles.

Uma das minhas primeiras providências quando chego em um lugar desconhecido é procurar o mercado.  Lá eu tenho certeza que vou encontrar boa comida, e muita informação, já que os feirantes, em geral, adoram conversar.

Com grande pesar vi a notícia de que o mercado público de Porto Alegre incendiou-se.  Então, fiz um esforço de memória para lembrar o que eu conhecia sobre ele, e minhas impressões quando estive lá:





Os moradores de Porto Alegre têm orgulho dele.  Quando perguntei aos meus anfitriões o que veríamos primeiro, eles disseram direto "o" mercado.Para conhecer um pouco da história do monumento, visite a página http://www2.portoalegre.rs.gov.br/mercadopublico/default.php?p_secao=4.

Gostei muito, achei elegante e muito variado.  Fui muito bem alimentada lá,  o que significa que definitivamente voltaria ( ficaria), tal como fazem os gatos.  Torço para que em breve a população receba de volta o seu mercado, devidamente restaurado.

sábado, 6 de julho de 2013

Direito à memória dos mortos: funerais e flores

Olha que notícia interessante:
http://www.abc.es/ciencia/20130703/abci-primera-tumba-llevaron-flores-201307031315.html#.UdVArDm5Ji4.twitter

A região da Jordânia, Palestina e Israel tem revelado preciosos bens arqueológicos e informações.  Certamente, o costume de colocar flores e ervas aromáticas nos túmulos não começou há 13.500 anos, mas esse achado permitiu criar um marco para a região, e também perceber que tipo de enterramento era feito.

Sempre  achei fascinante a maneira como as pessoas utilizam flores em funerais.  Aqui na minha região, além de flores naturais, também fazem guirlandas de flores de papel, costume cada vez mais raro entre nós. Elas parecem ter uma  função puramente estética, e não há (ou pelo menos, ignoro) uma simbologia específica para cada tipo de flor.

Também não percebo a utilização de ervas aromáticas entre nós, e lembro que o alecrim era o símbolo da memória dos falecidos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/12/alecrim-e-memoria.html) na Grécia antiga.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Lembrar Simonides de Ceos

Simonides de Ceos (séc. VI a.C?) foi um poeta grego, considerado o "pai" da mnemotécnica, ou Arte da Memória.

A fama dos poderes mnemônicos dele deve-se ao seguinte episódio:  Simonides foi convidado para um banquete, e durante o evento retirou-se da sala, que acabou desabando e matando todos os convidados.  Além de ser o único sobrevivente, ele também foi capaz de lembrar e identificar cada um dos convidados, que assim puderam ser devidamente reconhecidos.

Desde a Antiguidade (ocidental) a mnemotécnica é ligada à Oratória, e assim permaneceu até o medievo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/deusa-memoria.html). Após a invenção da imprensa, e modernamente com as ferramentas de registro em áudio e vídeo, e o compartilhamento quase ilimitado de arquivos e informações através da internet, alguns acreditam que a arte da memória morreu.

Não neste blog.  Aqui Simonides ainda é lembrado, e é nosso herói.

Lembrando desse episódio, toda vez que inicia um novo semestre na Universidade, faço o exercício de memorizar o nome e rosto dos novos alunos, em função de sua posição na sala de aula.  Se conseguir executar corretamente as técnicas, a partir da segunda aula já consigo aprender e memorizar todos.

Isso é extremamente útil para Fabiana, a professora, pois:

a) Sei exatamente quem é assíduo, e pontual, e quem não é.

b) Identifico as relações de amizade e preferências topológicas (posição na sala);

c) Percebo imediatamente quando há uma alteração na geografia da sala.  Principalmente em dias de provas, é muito interessante perceber quem muda de lugar por razões escusas;

d) Embora menos útil, também dá para perceber a dinâmica das relações sociais.  Namoros que começam e acabam, amizades iniciando, estremecidas ou finalizadas.  Tudo isso por saber quem e onde.

Enfim, os meus alunos não apreciam muito esse meu exercício.  No início, quando que eu chamo alguém pelo nome, às vezes as pessoas se assustam e acham que foram "marcadas". Pensam que fizeram alguma coisa errada e, por esse motivo, eu os perseguiria até os confins do semestre...Gente estressada.

"Marcado" não é a expressão correta,e sim "notados".  Notae, na mnemotécnica medieval, eram os elementos característicos usados para fixar a imagem da coisa ou idéia que se queria reter na memória.  Então é só fazer associações para memorizar, destacando esses elementos característicos.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Boas lembranças...Roma

Roma, cidade eterna.

Eu adorava estudar  História Antiga na escola, e Roma era um dos meus capítulos favoritos.  Infelizmente, a estratégia mnemônica para contá-la, uma narrativa de declínio, sempre me preocupou bastante (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/time-maps.html).

Eu esperei tanto para conhecer essa cidade e quando cheguei lá, mais uma vez, meu queixo caiu. Eu não sabia nem para onde olhar!  Imaginem se os monumentos tivessem sido preservados... muitos foram "reciclados", tiveram os seus mármores reaproveitados em novas construções, e foi necessária até uma bula papal proibindo essa prática durante o Renascimento.

Roma é um lugar para se conhecer, definitivamente.  Já foi o centro de um mundo, e isso não é pouca coisa.

No geral, a minha experiência em Roma foi ótima, mas tive alguns percalços.  Primeiro, a minha máquina fotográfica quebrou, e eu só consegui tirar duas fotos:






Sim, ambas são do coliseu.  Sim, eu fiquei olhando para ele de dia, ao escurecer, até a noite cair.  Não me cansava de olhar e imaginar.

Roma deixou fortes impressões em mim.  Devido ao turismo intenso, acho que a cidade está superlotada e a  população anda estressada.  Se os italianos já têm fama de serem expressivos e barulhentos, imaginem em um calor fortíssimo, com todos os serviços superlotados (especialmente transporte público).  Todos os monumentos visitáveis tinham fila, ou uma coisa que parecia com uma fila, e apesar do barulho, da confusão, e do calor, tudo acabava dando certo.

Confesso que não entendi muito bem como funciona a questão do ônibus.  Quando chegou a hora do almoço do motorista, ele simplesmente parou o busão e as pessoas tinham a alternativa de esperar ele voltar ou ir embora.  Não sei se essa é a regra, mas virou a regra para mim.  Depois disso preferi andar de metrô ou a pé.

Não dá para conhecer Roma de uma vez só.  O que é visível é apenas uma pequena (embora majestosa) parte do patrimônio da cidade.  Imaginem o que há nos subterrâneos!  Você olha para um lado, tem o Circus Maximus, olha para o outro o Coliseu, gira o pescoço uns 360º e olha a Coluna de Trajano.

Eu mencionei o patrimônio imaterial, em especial, a gastronomia? Vixe...

Não deu.  Roma foi demais para mim. Preciso voltar várias vezes.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Guatemala resgatará os nomes tradicionais dos sítios arqueológicos

Confiram essa importante notícia: http://noticierostelevisa.esmas.com/cultura/611427/guatemala-restituira-nombres-originales-mayas-sitios-arqueologicos/

Estão sendo realizados estudos para tentar determinar os nomes originais dos sítios, que segundo consta, são extremamente significativos e dão uma noção da importância do lugar.  Por exemplo, Tikal (poço de água) não corresponde ao idioma maya clássico.  O nome correto seria Yax Mutul (pano sagrado que contém oferendas aos deuses).

Muitos desses lugares tiveram sua denominação alterada na época da invasão espanhola, portanto foram renomeados há quinhentos e tantos anos.  Por isso, se realmente efetivado o resgate, não se poderá olvidar os nomes substituídos e as razões que levaram à substituição.

Sou absolutamente favorável ao resgate dos nomes antigos, desde que sejam  mantidas as memórias dos nomes substituídos e dos motivos que levaram à substituição, e também desde que não seja sintoma de uma visão essencialista, idealizada e estática do passado.

Nós, aqui no blog, estamos em campanha permanente pela defesa dos nomes tradicionais e por sua restauração: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-pelo-resgate-e-manutencao-de.html, por sua condição de patrimônios imateriais

Adoro nomes tradicionais de lugares e de pessoas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/campanha-pela-revitalizacao-do-uso-de.html) e não descansarei na luta por sua revitalização.