O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 27 de julho de 2014

Memória Poética - Chico Buarque de Holanda

Retrato em preto e branco

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração
______________

Isso é quando a memória dói.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dez músicas (brasileiras) que eu adoro

Uma das maneiras de organizar a memória é colocar as informações em determinada ordem, e fazer uma lista é sempre um ótimo exercício.

Já listei dez lembranças rápidas da década de 80 no post: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/12/d%C3%A9cada-de-80-em-10-r%C3%A1pidas-lembran%C3%A7as.html.

Hoje estava tentando lembrar das minhas músicas favoritas.  Não vou colocar em ordem de preferência porque simplesmente não consigo escolher a que mais gosto:


- Feira de Mangaio, com Sivuca na sanfona: http://www.youtube.com/watch?v=E9nFiNKl3L4.  Também adoro a versão com Clara Nunes cantando (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/lembrar-clara-nunes.html).  Só quem já viu uma feira assim pode entender a precisão da descrição e acho realmente uma pena que as nossas feiras estejam mudando tão rapidamente.

- Milonga para as missões, interpretada pelo gaiteiro Renato Borghetti, a primeira música nesse vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=eBlxXqd7xpA.  Adoro esse tal de Borghettinho desde que era criança.  O resto do disco também é maravilhoso.

- Frete (https://www.youtube.com/watch?v=y4XTXVjNx2g), de Renato Teixeira.  Veja, nessa semana eu descobri que sou fã de Renato Teixeira, simplesmente porque adoro a maioria das músicas que ele fez.  Faltava-me essa visão de conjunto e por isso tinha um amor aleatório e uma afinidade seletiva, mas isso tudo mudou nesta semana.

De vez em quando tenho essas revelações, como quando descobri que adorava Sérgio Reis (pelos mesmos motivos) e detestava sorvete.

- Ele também tem outras músicas maravilhosas. Gosto especialmente de Romaria na versão icônica de Elis Regina (https://www.youtube.com/watch?v=IpPmjX-VjJ8), ou nesta que é atribuída a Almir Sater (https://www.youtube.com/watch?v=kfNxzeyeTTY).  Não tenho certeza se é ele cantando, mas deve ser porque ficou incrível.

Não quero tolher a liberdade artística de ninguém, mas considero todas as outras versões supérfluas.

- Villa-Lobos, Bachianas nº 2 (https://www.youtube.com/watch?v=JC9kqs6zafo), especialmente o movimento chamado "Trenzinho do Caipira".

-  "Olhos nos olhos" de Chico Buarque.  Evidentemente, a versão de Maria Bethânia: https://www.youtube.com/watch?v=JjF4kfIqLcs.

- Vinicius de Moraes e Tom Jobim - Eu sei que vou te amar: https://www.youtube.com/watch?v=LMmVOIuTv1k.

- Lamento sertanejo, Dominguinhos e Gilberto Gil: https://www.youtube.com/watch?v=yPytOVQ6HiU.

- Luis Gonzaga (Gonzagão):  Que nem jiló, por ele mesmo: https://www.youtube.com/watch?v=raTNK09E0uY.

- Lenine "Leão do Norte", por razões identitárias:  https://www.youtube.com/watch?v=-jSVLwz1bag. Adoro absolutamente todos os bens culturais citados.

Fazendo essa lista, percebi que adoro muito mais do que dez músicas.  Vou ter que tentar ir lembrando aos poucos para completar essa lista.

Percebi também que só lembrei de músicas brasileiras do século XX...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Luto na Literatura Brasileira (julho de 2014)

Esse mês foi trágico para a Literatura e o Teatro Brasileiros.  Três imortais se tornaram lembranças:  Ivan Junqueira, João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna.

Três grandes autores, cada um no seu estilo.

Ariano Suassuna é um dos meus autores favoritos, e eu adoro as suas peças. Mas gostava mais ainda das suas opiniões contundentes e do seu profundo amor por uma versão singular do Brasil.

Com ele aprendi uma importante lição:  a gente tem que ter coragem para assumir os nossos gostos e desgostos.  Uma vez o ouvi dando uma entrevista, em que ele disse que passou 57 anos tomando café sem gostar, só porque dizem que o brasileiro adora um cafezinho.

Certo dia ele fez uma reflexão, percebeu que não gostava de café, e parou de tomar.  Nessa entrevista (https://www.youtube.com/watch?v=HVl-9lJ9KjQ aos 7:44), ele explica essa história, além de falar um pouco sobre vida, morte e sobre as comemorações dos seus oitenta anos.

Por causa disso, parei para pensar naquilo que eu realmente apreciava, e nos gostos herdados pela tradição.  Com muita surpresa, neste momento, percebi que não gostava de sorvete e também parei de tomar.  Desde então pratico o saudável esporte de parar, pensar, e só depois decidir se gosto ou não, e se quero fazer, deixar de fazer ou continuar fazendo algo.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Cajuína - Patrimônio imaterial do Brasil

A cajuína foi registrada como patrimônio imaterial do Brasil: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do?id=18441&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia .

Eu gosto de cajuína, e gostei mais ainda de saber de toda essa tradição de hospitalidade que a envolve.  Vamos cantar uma loa em homenagem à cajuína cristalina de Teresina: https://www.youtube.com/watch?v=nmd7Nw9KqaE.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Boi de piranha

Essa é uma das expressões mais interessantes que eu já aprendi.

O boi de piranha é um animal enviado ao sacrifício em nome da segurança da boiada.  Quando é necessário atravessar um rio cheio de piranhas, para evitar que a boiada seja atacada, é escolhido um boi que é ferido e, sangrando, enviado na frente para ser atacado enquanto o resto passa.

Idéia terrível, não é?


domingo, 20 de julho de 2014

Memória brasileira: telenovelas

As telenovelas parecem ser profundamente marcantes para a memória coletiva.  Os brasileiros gostam desse tipo de diversão, e através delas conseguimos conhecer grandes autores, trilhas sonoras incríveis, estórias maravilhosas e alguns atores excepcionais.

Algumas novelas são obras de arte, e grande parte delas é entretenimento da pior qualidade.  Mas se o vilão for ruim de doer, com certeza vai mobilizar legiões de seguidores.

Quem não se lembra da comoção nacional para saber "quem matou Odete Roitman"?  Ou do último capítulo de Roque Santeiro, que mobilizou tanto as pessoas que até atrapalhou a campanha eleitoral?

Para mim, existem duas novelas brasileiras icônicas:  a "Escrava Isaura" que parece ser lembrada todo dia por alguém, principalmente o lê-lê-lê-lê da abertura, da música Retirantes de Dorival Caymmi (https://www.youtube.com/watch?v=3BDt7h_Myds); e o impagável "O Bem Amado", cujo personagem Odorico Paraguaçu parece ser a inspiração de alguns candidatos que pululam no horário eleitoral.

Olha que entrevista interessante com Odorico: https://www.youtube.com/watch?v=9SNMIo-1_lo.  Tenho certeza que, se concorresse, ganharia as eleições de 2014.

Lembro que também gostei da novela "Pantanal", principalmente por causa das paisagens. Desde lá, o Pantanal passou a ser um lugar muito misterioso para mim, cheio de vida e assombrações, e que pretendo em breve visitar.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Memória brasileira: Cubatão e a poluição

Quando eu era pequena, de vez em quando a imagem de uma cidade cinzenta e melancólica aparecia na televisão:  Cubatão, a cidade mais poluída do mundo.

Eu ficava meio em dúvida se esse título era para ser comemorado, considerando que no Brasil valoriza-se muito o que é "maior", e não necessariamente o melhor.  Acho que havia, sim, uma certa insinuação de orgulho ao falarem disso, já que a produção industrial e os seus resíduos outrora foram sinônimos do "progresso a qualquer preço".

Aquela Cubatão parecia simbolizar tudo o que era de ruim, mas por outro lado, deixou em mim duas impressões muito equivocadas:  que "poluição" só era digna dessa nome quando chegasse àquele nível, e que tal situação era restrita a uma cidade específica.

Por causa de Cubatão eu não percebia a sujeira do meu rio, que passa em frente à casa da minha mãe, como poluição.  Um rio do qual não se pode beber, nem pescar, e nem praticar esportes, salvo se você gostar de perigo e adrenalina.

Hoje, a cidade tenta recuperar o meio ambiente e esquecer o seu apelido de "Vale da Morte".  Apesar de ser considerada uma história de sucesso, acho que as lembranças e os vestígios daquela poluição ainda vão assombrar sua paisagem, lençóis freáticos e consciências por muito tempo.

Sobre Cubatão devemos nos perguntar, e lembrar, que tipo de mentalidade permitiu aquela tragédia, e quantos cubatãos serão necessários para que os padrões e normas ambientais realmente sejam efetivos? Confesso o meu pessimismo porque não percebo uma transformação substancial nos modos de produção econômica e estilos de viver capazes de reverter a forma suicida de apropriação humana dos recursos ambientais.

Se é possível recuperá-la aos poucos, poder-se-ia também reverter os problemas ambientais que nos afetam em escala global?

Acredito que a poluição e Cubatão marcaram profundamente a memória brasileira, e até encontrei uma música falando do assunto: https://www.youtube.com/watch?v=WKy9F52Gb8g.  É uma regravação da música da banda Psychic Possessor, da década de 80.  A gravação original pode ser ouvida no link
 https://www.youtube.com/watch?v=jAGrm6xM6oI.




quarta-feira, 16 de julho de 2014

Memória Poética - Almir Sater


"Sonhos Guaranis"

Mato Grosso encerra em sua própria terra
Sonhos Guaranis
Por campos e serras a História enterra uma só raiz
Que aflora nas emoções
E o tempo faz cicatriz
Em mil canções
Lembrando o que não se diz.

Mato Grosso espera esquecer, quisera,
O som dos fuzis
Se não fosse a guerra
Quem sabe hoje era um outro país
Amante das tradições de que me fiz aprendiz
Em mil paixões sabendo morrer feliz

E cego é o coração que trai
Aquela voz primeira que de dentro sai
E as vezes me deixa assim ao
Revelar que eu vim da fronteira onde
O Brasil foi Paraguai.

______________

Bonito.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Abandoned America

Vi a referência desse site http://www.abandonedamerica.us, fiquei impressionada e desolada.

Dentre os inúmeros bens abandonados, as igrejas e residências chamaram a minha atenção: http://www.abandonedamerica.us/residential-and-religious.

Todo abandono é uma tristeza.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Copa do Mundo do Brasil 2014: reflexões de conclusão


A Copa do Mundo no Brasil (2014) foi um evento memorável.  O Brasil, que já respira futebol normalmente, experimentou o que significa sediar um evento desse porte, e o fato de termos jogos espalhados por várias capitais contribuiu para um maior envolvimento das pessoas e lugares.

Vou lembrar do antes, do durante e do depois.

Como fatos notáveis do "antes" podemos destacar toda a discussão política sobre prioridades, gestão e planejamento que culminaram em um movimento pela não realização da Copa do Mundo.  Havia muitas dúvidas quanto à capacidade de realização do evento em razão dos cronogramas estourados (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/04/conhece-te-ti-mesmo-brasil-procrastinar.html), e a sensação de que muito do que foi planejado não seria executado por falta de tempo.

Enfim, habemus Copa.  E tudo correu muito bem, para quem experimentou o mundial através da televisão.  Para a maioria dos milhões de telespectadores, a Copa do Mundo do Brasil foi como qualquer outra.  O que se destacou mesmo foram os jogos, sempre tão imprevisíveis e emocionantes.

A minha cidade foi sede de cinco jogos da Copa, e por isso a nossa rotina mudou bastante.  Não conseguimos viver  normalmente porque não tínhamos a estrutura para um mega-evento.  Em dias de jogo, foi preciso decretar feriado.

Sem dúvida, o fato mais marcante para os brasileiros foi a derrota na semifinal para os alemães pelo placar de 7 X 1.   Embora o brasileiro sinta uma necessidade visceral de ganhar (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-1.html), a derrota em si não seria um problema.

O trauma coletivo foi causado pela sequência incompreensível de gols.  Cinco gols em 29 minutos do primeiro tempo foi algo que nós nunca vimos. Ainda no primeiro tempo, ninguém mais pensava em lutar, reagir ou que a seleção teria a mínima chance de empatar:  o que todo mundo queria era que o jogo acabasse logo para a derrota não ser pior.

Se 5 a zero no primeiro tempo foi ruim de engolir, pior foi a sensação de que poderia chegar a 10, 12.  E quando a seleção levou mais dois gols no segundo tempo, sentimos que ainda saiu barato porque cabia mais.

Não há como descrever a percepção do trauma coletivo.  No dia seguinte ao jogo, em todos os lugares, as pessoas só falam disso:  vergonha, decepção, trauma, tristeza.  Foi só um jogo de futebol, mas para os brasileiros o futebol supera o mero jogo:  é patrimônio cultural (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/memoria-brasileira-o-futebol-patrimonio.html) e integra o nosso modo de viver e sentir, e somos educados para isso.

Ainda hoje, passada quase uma semana, se alguém (eu) puxar a conversa sobre a derrota para a Alemanha, as mesmas sensações afloram.  E ninguém parece ter ligado para a nossa derrota para a Holanda na disputa pelo terceiro lugar.

Foi interessante notar que, mais uma vez, essa suposta rivalidade inventada com a Argentina sofreu um intenso reforço midiático.  Inventada, sim, e transmitida através das gerações.  O fato da Argentina disputar a final foi tratada como um "castigo adicional contra" os brasileiros.  Quanta bobagem.

Não sei se por rivalidade inventada com a Argentina, ou para nos permitir a saída honrosa de perdermos para os campeões, o fato é que muita gente estava torcendo pela Alemanha.  Quando saiu o gol, parecia um carnaval, todo mundo gritando, se abraçando, e soltando os fogos guardados desde o São João para essa ocasião.

Passado o mundial, muitos questionamentos apontaram, por exemplo:  "qual o peso da derrota da seleção para as eleições presidenciais"?  Sério?!

Sério sim, futebol e política sempre se misturaram no Brasil.

Foi o tempo também de pensar nas "lições" que o mundial deixou... Todo dia vejo nos jornais, blogs e redes sociais a indicação dessas lições.  Se houve alguma, aqui no blog nos cabe perguntar até quando vamos nos lembrar delas.

domingo, 6 de julho de 2014

Documentos do Governo dos Estados Unidos sobre a tortura no Brasil: 1967-1977

A Comissão Nacional da Verdade divulgou algumas interpretações sobre os documentos encaminhados pelo governo norte-americano, confirmando a tortura no Brasil, e as estratégias utilizadas pelos agentes públicos para criar versões falsas sobre os homicídios:  http://www.cnv.gov.br/index.php/outros-destaques/499-recebimento-de-relatorios-das-forcas-armadas-e-documentos-do-governo-dos-eua.

Esses documentos contrariam a versão de que não houve comprovação da tortura, recentemente apresentada.  Eu compreendo que não haverá comprovação documental, já que quem torturava não se preocupava com burocracia, mas o dever de memória exige o aprofundamento das investigações.

A tortura no Brasil é um daqueles assuntos "indizíveis", onde o silêncio atua como mecanismo de esquecimento.  Como bem lembra  Luciano Oliveira (1994, p. 67-72), a tortura é negada pelas autoridades a despeito das provas testemunhais e documentais contrárias, ou é apresentada sob a forma do eufemismo como “excessos isolados praticados por pessoas desautorizadas”.

Por causa dessa postura, vivenciamos a permanência das estruturas e condições sociais que viabilizam e legitimam a tortura em suas mais variadas formas na sociedade, com as inúmeras e sucessivas chacinas, maus-tratos e práticas violentas e autoritárias arraigadas na cultura brasileira, que constituem a nossa verdadeira memória (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/10/memoria-coletiva-e-autoritarismo-3-o.html e DANTAS, 2010). 

A questão não é se existia tortura da Ditadura, mas por que ela ainda existe.  

E ainda existe porque estruturas e pessoas que dela participaram nunca deixaram o aparelho estatal (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/01/ato-institucional-n-5-45-anos.html). Algumas ainda estão na ativa e, enquanto assim permanecer, as respostas serão iguais.

Einstein, que era um homem reconhecidamente inteligente, dizia que "não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar cada vez um resultado diferente".  Enquanto não fizermos diferente, o resultado será o mesmo.  Ou, então, assumimos de vez a loucura e tornamos o Brasil mais inteligível.


Referência.

DANTAS, Fabiana Santos.  Direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.


OLIVEIRA, Luciano. Do nunca mais ao eterno retorno – uma reflexão sobre a tortura. São Paulo: Brasiliense, 1994.





sábado, 5 de julho de 2014

Direito à memória dos mortos: sepulturas na Bósnia

Em razão das enchentes que assolam a região, foram descobertas covas coletivas da época da Guerra da Bósnia: http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/enchentes-revelam-sepulturas-de-vitimas-da-guerra-da-bosnia,ca82519629107410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html.

Pela notícia, os corpos apresentavam marcas de execução.  Ainda há milhares de desaparecidos em razão desse conflito, e a obrigação dos bósnios é continuar procurando.  É um dever de memória garantir que esses fatos sejam explicados, lembrados e, se possível nunca repetidos, e às pessoas assassinadas deve ser garantido o jus sepulchri.

Para quem me pergunta "de que adianta" garantir a memória dos mortos, lembro da importância também para os vivos e para o Estado.  Para o falecido, é uma maneira de concluir a sua biografia de forma digna;  para a família, é o cumprimento de um dever moral e jurídico imemoriais, além de possibilitar o fechamento do ciclo de luto, importante do ponto de vista psicológico.

Mas para o Estado, especialmente um Estado nascente e recente como a Bósnia e Herzegovina, a guerra e o destino dos seus cidadãos vincula-se a questões de identidade e ao modo de fundação da nação.  As memórias coletivas dos bósnios certamente foram impactadas profundamente pela recente guerra, e a existência de desaparecidos, covas coletivas, genocídio e limpeza étnica aprofundam esse trauma.