O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Patrimônio Cultural Familiar (4): os fatos axiais

Famílias não são apenas afetos e desafetos entre pessoas.  São estruturas que permitem a criação, manutenção e transmissão de modos de viver, fazeres e saberes.

As famílias, como qualquer outro grupo, também têm a sua identidade e o seu patrimônio cultural.  A herança de uma família vai além dos meros bens econômicos: há todo um acervo de valores imateriais e culturais transmitidos através das gerações.  Refletimos sobre aspectos desse importante acervo nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.html , http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/patrimonio-cultural-familiar-2-arte-de.html e https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/patrimonio-cultural-familiar-3.html?m=0


Essa herança, que vai além dos meros bens econômicos, confere identidade e sensação de pertencimento. Os conhecimentos e valores (culturais e morais) são o quadro no âmbito do qual desenvolvemos a nossa personalidade, e sentimos a sua continuidade através da estreita relação com a memória dos antepassados e a convivência com os contemporâneos.

Alguns fatos familiares são centrais na construção da identidade familiar, e podem revestir-se de importância para a memória coletiva do grupo específico ou para toda a Nação. Dentre esses, achei fenomenal a história do afundamento do navio Eber, em Salvador (Bahia) durante a Primeira Guerra Mundial, pelo Comandante Schaumburg e, mais ainda, a busca do naufrágio pelos seus descendentes: http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1906534-navio-naufragado-na-ribeira-ha-100-anos-atrai-familia-de-descendentes-alemaes.

Mergulhar em busca da História da família mostra como esse fato específico - o naufrágio - é importante para o grupo, e agrega mais um capítulo para a reflexão das futuras gerações da família Schaumburg.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Resgatando xingamentos antigos (22): Flibusteiro

Flibusteiros eram os piratas do Caribe, no longínquo século XVII, que geriam um negócio lucrativo e desonesto.

Esse aspecto, mais do que o glamour aventureiro, cunhou o belo (e feio) adjetivo "flibusteiro", que hoje serve para etiquetar os desonestos e trapaceiros.

Gosto muito dessa palavra - flibusteiro - porque parece um ornamento arquitetônico, junto com os algerozes e sanefas. Não é, mas bem que poderia ser, inclusive metaforicamente, quando falarmos da construção do caráter de alguém.

Modo de usar:  "Sepulcro caiado, sua fachada de pessoa honesta esconde a putrefação da alma. No fundo, um flibusteiro barato como todos os outros, que conspurcam essa terra miserável".

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Citações sobre a memória - Cornelius Castoriadis

"Nosso projeto de elucidação das formas passadas da existência da Humanidade só adquire seu sentido pleno como momento do projeto de elucidação de nossa existência, por sua vez inseparável do nosso fazer atual.  Estamos já inexoravelmente engajados numa transformação desta existência quanto à qual a única escolha que temos é entre sofrer e fazer, entre confusão e lucidez. O fato de que isso nos leve inevitavelmente a reinterpretar e a recriar o passado, pode ser deplorado por alguns e denunciado como um "canibalismo espiritual pior que o outro". Nós, como eles, nada podemos contra isso, assim como não podemos impedir que nosso alimento contenha, em proporção constantemente crescente, os elementos que compunham o corpo de nossos ancestrais há trinta mil gerações"(p. 197).

______________

Destaco essa expressão visceral (mesmo) da ressignificação de bens culturais.  Estou estudando, e ainda não consegui definir se a memória coletiva é o repositório dos produtos do imaginário, ou se é outra coisa.

Referência.

CASTORIADIS, Cornelius.  A instituição imaginária da sociedade.  Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

domingo, 19 de novembro de 2017

Formas de lembrar (9): fazer listas

Não há dúvidas de que fazer uma lista é uma boa forma de lembrar, pois a memória trabalha com organização, classificação, associação.

Como disse Hume (https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/citacoes-sobre-memoria-hume.html): "O papel principal da memória é conservar não simplesmente as idéias, mas a sua ordem e a sua posição."

Fazer listas mentalmente ajuda a exercitar a memória, mas escrevê-las permite dar uma longevidade e transmissibilidade maiores.

Vejam esse exemplo abaixo.  A minha sobrinha, que hoje completa dezesseis anos (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/11/parabens-maria-clara.html), fez essa lista sobre as coisas desorganizadas que ela observou na minha casa, com olhos de lince e espírito de auditora de cinco anos de idade:


Lista de Maria Clara - Foto Marcelo Müller


Eu guardei essa lista para lembrar de Maria Clara em uma época mágica da descoberta da escrita, ainda que em certo sentido tenha sido utilizada para opressão, e também como um marco de resistência, pois desde então conservei tudo na mesma bagunça de sempre.

Como presente de aniversário, vou permitir que ela escolha um item da lista e eu, com as minhas próprias mãos, vou arrumá-lo.

Em breve faremos a cerimônia do corte do item.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Caferana

No post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/05/sabor-perdido-da-infancia.html, expliquei a minha emoção em reencontrar um sabor perdido da infância, uma lembrança querida do quintal mágico da minha vovó Aline.

Estamos em plena safra de caferanas, então resolvi tirar uma foto e mostrar aqui no blog:


Foto de Marcelo Müller
Caferanas madurinhas

As caferanas de 2017 estão com tudo e não estão prosa.

sábado, 4 de novembro de 2017

Citações sobre a memória - John Kenneth Galbraith

"Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta".

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Artigo publicado - Fabiana Dantas

Prosseguindo com as reflexões sobre a preservação do patrimônio cultural brasileiro: publicado o artigo "A AGU COMO INSTRUMENTO DE EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO". Cf.http://seer.agu.gov.br/index.php/EAGU/article/view/1975/1702.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Telenovela - patrimônio cultural do Brasil

É inegável.

As estórias, boas ou ruins, fazem parte do nosso cotidiano.  Os brasileiros falam da vida das personagens como se fossem pessoas reais, discutem alternativas e fazem fofocas, com uma intimidade tão grande como se fossem da família (sobre isso http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.html).

Esse compartilhamento de impressões produz uma memória coletiva importante para determinados grupos, e produz marcas profundas.  Quem matou Odete Roitman? Quem não lembra de Roque Santeiro ou Odorico Paraguaçu? (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/07/memoria-brasileira-telenovelas.html?m=0).

Às vezes, as telenovelas são tomadas como projeções das próprias biografias dos telespectadores, que se identificam com as situações.  Seria um ótimo efeito colateral se, além do entretenimento, também propiciassem a reflexão.

Mas, no fundo, no fundo, são apenas diversão, no sentido de desviar a atenção da vida ou dos problemas da vida, e devem ser assim consideradas.

Não se espere das telenovelas mais do que podem ser.


sábado, 21 de outubro de 2017

Arqueologia fascinante (2): guerreira viking

Em todos os tempos, e em todos os lugares, as mulheres lutam: http://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2017/09/dna-revela-que-famoso-guerreiro-viking-era-na-verdade-uma-guerreira.

Só é uma surpresa para aqueles que, com a lente da "ideologia de gênero", acham que as mulheres (nós) não podem ou não conseguem.

Diferentemente do que dizem os dicionários, viragos não são mulheres com hábitos masculinos. São indivíduos que tornaram-se mulheres, com direito de exercer a sua individualidade e desenvolver livremente as suas capacidades.

Depois de tantos séculos, a identidade e a veracidade do passado dessa guerreira estão sendo recompostas.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Estados Unidos e Israel saem da UNESCO

O tempo não para, mas parece que está dando voltas: https://www.publico.pt/2017/10/12/mundo/noticia/estados-unidos-saem-da-unesco-em-dezembro-1788634

Já aconteceu antes: os Estados Unidos se retiraram da UNESCO na década de 80, também em um governo republicano. O motivo alegado na época eram os russos mas parece que há algo (atrito, desconforto, desconfiança ou tudo isso) em relação a temas educacionais, científicos e culturais em determinados grupos políticos.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Divulgação - Livro "Escrachos aos torturadores da Ditadura"


Novo livro de Ana Paula Brito, para acrescentar reflexão à nossa memória:



Parabéns e obrigada.  Vou ler com muita atenção.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Citações sobre a memória - Luís Fernando Veríssimo

"Até hoje, ninguém que confiou na falta de memória do Brasil se arrependeu".

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Imortalidade e violência

Assistindo às notícias sobre os atentados em Las Vegas, novamente nos deparamos com a tristeza, o choque e a falta de sentido dessa violência que vitima inocentes.

Como sempre, sobra aos sobreviventes tentar entender a tragédia.  É o momento de tentar paralelos impossíveis com outras tragédias - todas são únicas e incomparáveis- e tentar extrair lições para que tais fatos sejam evitados do futuro, que é uma das funções vitais da memória coletiva.

Percebo a perplexidade dos jornalistas pois este é um caso  clássico da falência das teorias, onde estamos diante de "nenhuma das alternativas acima".  O atirador era homem, branco, rico, não professava ideologias racistas e nem fundamentalismo religioso.

O que fazer quando as explicações tradicionais não são suficientes?  Apelar para outro esquema tradicional de explicação que é a teoria do "lobo solitário".

Já que todos estão dando a sua opinião, vou também manifestar a minha.  Não creio que a melhor maneira seja pensar em "lobos solitários", pois no mínimo é um lobo que se comunica com a matilha antes dele.  Parece existir um grupo de pessoas que se ligam pelo desejo de ser imortais à custa das vidas alheias, marcando a memória coletiva com as indeléveis cicatrizes da dor.

A motivação pode ser individual, sim.   Às vezes, apenas o sujeito chega em uma idade e percebe que a sua vida não foi o que esperava, apesar de ter tudo o que precisava e a possibilidade de realizar o que quisesse.

Se for materialista ao extremo, vai tentar suprir o vazio existencial com coisas. No caso, armas.  Junte o desencanto com armas, e o desejo de se manifestar violentamente, e muitas pessoas vão sofrer.

As pessoas só expressam o que têm dentro de si.  Um indígena vai querer ser Tupã, não Bonaparte. E às vezes as pessoas não se conformam em deixar o mundo sem uma marca, e não querem fazer isso sozinhas: http://www.diariodenavarra.es/noticias/navarra/2017/07/30/un-fallecido-heridos-tras-una-explosion-puente-reina-543943-300.html.

Talvez seja um acerto de contas com o passado familiar, como sugeriram alguns.

Mas evidentemente essa manifestação individual tem que ser contextualizada em uma sociedade e em um tempo específicos.  E essa é a era dos extremos e dos extremistas, que produz as matilhas.


domingo, 24 de setembro de 2017

Formas de lembrar (8): malhar em memória

O desafio é cumprir uma série de exercícios em memória do Lt. Michael P. Murphy, soldado americano caído em combate, mas não esquecido: https://themurphchallenge.com/pages/about-the-event.

A série de exercícios pode ser vista neste sítio: http://boxlifemagazine.com/murph-why-we-do-it/.


domingo, 17 de setembro de 2017

Bisso :0

Nunca havia ouvido falar de "bisso" até hoje, mas desde de manhã estou fascinada, e já procurei vídeos, textos, fotos, o que pude encontrar.

Olhem, que coisa mais interessante:



Um conhecimento que passa de geração em geração de uma mesma família, de como utilizar a secreção de um molusco que tem a textura de seda, e é utilizada (por quem sabe) para fazer bordados delicados.

O Bisso, na tradição da família de Chiara Vigo - La maestra que aparece no vídeo - não pode ser vendido, só pode ser ganho.  A idéia maravilhosa é que não se pode apropriar de bens naturais, e nem lucrar com ele.

História, identidade, patrimônio cultural familiar e beleza, precisa mais?

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Formas de lembrar (7): andar em memória

Nesta série, tento refletir como a lembrança pode assumir formas variadas: um anúncio de jornal (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/formas-de-lembrar-1-o-anuncio-no-jornal.html) para dialogar com a memória dos falecidos; um sinal nos céus para lembrar um compromisso (https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/formas-de-lembrar-2-um-sinal-nos-ceus.html); um doce que vale uma lembrança (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/formas-de-lembrar-3-brigadeiro.html); uma canção, para lembrar de alguém (https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/formas-de-lembrar-4-uma-cancao.html); perpetuar o nome (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/formas-de-lembrar-5-nomear-em-homenagem.html), como forma de imortalidade; ou dançar em memória de (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/formas-de-lembrar-6-dancar-em-memoria.html).

Para mim, caminhar tornou-se uma forma de lembrar. Enquanto caminho, às vezes revisito na memória lugares queridos do Camino de Santiago: uma paisagem incrível, um monumento assombroso, aquele cachopo com sidra que me fez feliz, subidas e descidas, idas e vindas, pessoas, pensamentos. Aquele sorriso tão lindo que o meu marido me deu ao chegarmos na última etapa.

Enquanto caminho, penso na vida e em como ela é interessante. Por isso, ando cada vez mais, e hoje vou voltar a pé para casa.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Camino de Santiago - coisas realmente úteis

Para o Camino de Santiago, no verão, pois fomos em julho/agosto:

Mochila boa, com compartimentos externos. A barrigueira é essencial.
Chapéu
Protetor solar e labial
hidratante
Camisa de manga comprida com filtro UV.
Casaco de frio (leve, para manhãs geladas)
grampos de roupas
uma corda de varal (um metro)
alfinetes de segurança
Gel de banho que sirva para os cabelos e corpo
Meias anti-bolhas (usei a da Nike e é boa)
Saco de dormir leve
Botas confortáveis e impermeáveis (não usei tênis).  A minha bota Bull Terrier rasgou dentro na primeira semana, e isso me causou muitas bolhas.
Sandálias confortáveis, para quando tirar as botas e for tomar banho nos albergues.
Calças de ginástica que sejam leves e sequem rápido.  Não use shorts, porque você vai ficar bicolor.
Um mosquetão para pendurar coisas.  Às vezes precisamos pendurar roupas e toalhas nos banheiros coletivos, e não há como.
Toalha absorvente.  Pode ser tamanho médio.
Garrafa de água
Óculos de sol
cortador de unha.
Um canivete.

É claro que dinheiro é sempre útil, em quase qualquer situação.

Não citei materiais de higiene pessoal, porque isso é um assunto delicado, mas já vou avisando:  se você é como eu, que gosta de vários creminhos, esqueça.  Esse negócio de lavar, tonificar e hidratar a pele é para os fracos.  Nada de maquiagem mas perfume é sempre bom, se for suave.

Levei uma capa de chuva, mas se fosse hoje, não levaria.  Basta a capa da mochila no verão europeu, porque as chuvas eram rápidas e a capa é bem pesada.

Não usamos repelentes contra insetos, nem lanternas e nem isqueiros.

Finalmente, recomendo veementemente ter um cronograma factível, e um planejamento adequado das hospedagens.  Reservar os albergues com antecedência, se isso for possível, é muito bom.

É claro que você vai perder a chance de deixar o destino escolher, mas ajuda a não ficar na roubada e nem nos devaneios.  A tentação é grande de permanecer em lugares lindos, mas isso pode atrasar a missão e comprometê-la.

Se lembrar de alguma outra coisa, vou colocar nos comentários.

Ah, ia esquecendo... vá e faça.

domingo, 10 de setembro de 2017

Compostela e certificado de distância

Compostela de Fabiana

Certificado de distância

Vou guardar com carinho.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Caminho de Santiago - o post místico

Tantos séculos de peregrinação contribuíram para criar uma aura de sacralidade em torno do Camino. Ninguém o percorre só para fazer turismo, emagrecer ou se divertir, mesmo que nem todos os peregrinos sejam devotos. E, certamente, todos saem diferentes.

De fato, o Camino enseja a meditação.  Às vezes porque há quilômetros e quilômetros de paisagens monótonas, às vezes porque elas são tão bonitas que você tem certeza de que Deus existe, e isso não é pouca coisa.

Ter que escutar o próprio corpo também produz estranhos efeitos na sua vida.  Na maior parte do tempo eu, e acredito que muitas pessoas também, não desenvolveu um sentimento de identidade e compaixão pela própria máquina, e daí essas insatisfações e guerra constante com a aparência. Durante, depois e agora, sinto-me muito melhor e bem mais à vontade, talvez mais harmônica seja a palavra, e consequentemente mais feliz.

"Felicidades" foi o que me desejaram em Santiago ao entregar a compostela, e realmente fui feliz desde então.

O Camino é uma jornada para dentro.  Reforçar valores, persistir, ter objetivos, aprender a se relacionar positivamente com pessoas diferentes certamente nos transforma para melhor.  Acho que nunca saí tão enriquecida de férias antes e certamente encontrei mais do que buscava.

Agora, vou falar do que não encontrei: bruxas, fantasmas, anjos e demônios.  Não os encontrei mas tive vislumbres e deslumbres.  Para mim, nós os peregrinos parecíamos fantasmas flutuando em uma dimensão paralela, sempre passando, passando, e provavelmente acompanhados da energia de todos que vieram antes de nós.

Certamente essa percepção foi influenciada pelo poema de Benedetti, esse grande simulacro que para mim passou a fazer todo sentido (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/11/memoria-poetica-mario-benedetti.html):

"O esquecimento está tão cheio de memória que às vezes não cabem as lembranças
e rancores precisam ser jogados pela borda no fundo
o esquecimento é um grande simulacro ninguém sabe nem pode
ainda que queira
esquecer um grande simulacro abarrotado de fantasmas
esses romeiros que peregrinam pelo esquecimento como se fosse o caminho de Santiago".


Algumas regiões têm um forte vínculo com bruxas, locais cheios de árvores e histórias, mas principalmente de memórias dolorosas de perseguições.  Muitos homens e mulheres pereceram por causa desse título, e não foi à toa que a expressão "caça às bruxas" tornou-se sinônimo de indiscriminada e injustificável perseguição.

É claro que se formos menos literais e esperançosos, podemos considerar que muitas pessoas do caminho são bruxas, anjos e demônios.

Tenho certeza de que o Camino é realmente mágico.  Não sei porque mas ele dá vontade de caminhar, mesmo que esteja sentindo muita dor.  E depois, a gente esquece a dor e aproveita a caminhada, o que é uma bela lição para a vida.

Transformar essa experiência em ouro de sabedoria parece ser a essência do Camino.

E, antes que eu me esqueça, vá e faça. Se tem vontade, vá e faça.  Sem hesitações, sem preparações demasiadas, o Camino vai ser o que tem que ser, e o que Deus quiser.

domingo, 3 de setembro de 2017

Saudades do Camino

Hoje acordei sentindo saudades do Camino de Santiago, e por isso vou caminhar para lembrar.

Fabiana mirando Portomarin - Foto: Marcelo Müller

Senti tanta dor e tanto cansaço, e ainda sinto, mas a memória mais forte que guardo é de felicidade e gratidão.

Dá vontade de voltar e fazer tudo de novo.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sabor da infância - Oblea

A oblea é um doce que eu comia na infância, nos bons tempos em que morei na Colombia.  Ela se compõe de duas coisas gostosas que parecem um biscoito fininho, recheadas com doce de leite.

Nunca consegui reproduzi-las, mas encontrei uma alternativa genérica, cujo sabor é similar e me permite, por breves instantes, matar o desejo e as saudades:

Oblea genérica
Cavaco com doce de leite - essa é a minha oblea genérica.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Caminho de Santiago (2017) - impressões

O Caminho de Santiago é um patrimônio material da Humanidade, assim declarado pela UNESCO em 1993, que destaca a existência no percurso de mais de 1800 edifícios religiosos e civis de grande interesse histórico, e o seu papel de testemunha do poder e da persistência da fé cristã, e dos bens culturais que produziu. (UNESCO, 2009, p. 397).

Não bastasse os bens materiais que o pontuam, o Camino também abriga importantes manifestações culturais imateriais, como os dialetos, a gastronomia e as lendas que contribuem para tornar a peregrinação uma vívida experiência cultural.

Para quem como eu se dedica ao direito à memória e à preservação de bens culturais, percorrer o Camino era um sonho antigo, realizado neste ano da Graça de 2017 (de 08 de julho a 09 de agosto). Foram 800 quilômetros oficiais de caminhada, acrescidos de outros tantos necessários para chegar aos bens culturais mais distantes (como sítios arqueológicos e outros monumentos), que definitivamente tornaram-se um patrimônio meu, da minha humanidade enriquecida.

As minhas impressões - o Camino de Fabiana - são frutos da minha observação direta e não têm o caráter de "dicas", embora possam eventualmente servir assim para os leitores interessados. Então, vamos a elas:

a) O Camino é um desafio físico interessante.  Não é impossível e não é exatamente difícil.  Difícil mesmo é manter a disciplina e o senso de objetividade pois muitas são as tentações - desde a preguiça até o desejo de visitar monumentos distantes.

O cronograma sugerido pelos Amis du Chemin de Saint-Jacques, em 34 etapas, é plausível e foi muito útil para mim: http://www.die-schule-des-lebens.de/fileadmin/ProfDrChristianZielke/user_upload/Download1_Etappenplan34.pdf

É possível realizá-lo em etapas ao longo da vida, então as dificuldades físicas, de tempo e recursos podem ser equalizadas.

b) A principal lição é conhecer o seu ritmo, e saber que o seu caminho é diferente do caminho dos outros.

c) E que não se trata de uma competição.  Você será ultrapassado por fumantes, idosos, crianças.  Eu fui ultrapassada por um idoso fumante que carregava uma criança nos ombros.

No princípio doeu um pouco, ainda tinha aquela ilusão de orgulho pelo preparo físico, que se desvaneceu rapidamente.

Há atletas fazendo o caminho que farão o percurso das etapas em um décimo do seu tempo. Mas isso é o caminho deles, não o seu.  Não dá para se comparar com nada nem com ninguém.

d) A verdade é que se ficar parado, você não faz o Camino.  Seguir em frente, no seu ritmo, com dor ou sem, com alegria ou sem, com chuva e sem chuva, porque esses são só momentos e andar é preciso.

e) É frequente considerar o Camino como uma metáfora da vida, pelas razões que citei anteriormente. Quase tudo pode ser metáfora para quase tudo, basta que se esteja aberto a considerá-lo assim.

Para alguns peregrinos o Camino - e a vida - são uma festa.  Gente jovem e desnoitada que caminhava para curar ressaca.  Ou famílias que caminhavam em busca de união ou da Graça. Ou pessoas que o percorrem para emagrecer.

Nunca pensei em ser iluminada ou mudar de vida fazendo o Camino, mas certamente saí enriquecida, e mais magra, embora isso possa ser considerado um verdadeiro milagre, pois não resisti a nenhuma das tentações gastronômicas. Pequei em todas elas.

f) O Camino é bem diferente do que eu pensava, e muito melhor.  É tão antigo - o seu traçado já mudou e vem mudando - que passa por lugares inusitados.  É esteticamente bonito e poético em alguns lugares, parece haver sido criado artificialmente, mas às vezes é aleatório e passa em estacionamentos de supermercados, no quintal das pessoas, por plantações.

g) Esse camino inserido no cotidiano das pessoas é muito interessante também. Elas fazem ginástica e aprendem a andar no Camino, e o utilizam para ir e vir nas situações mais banais do dia a dia, como comprar pão.

h) Mas no geral parece uma dimensão paralela, onde todos só pensam e falam no Camino. Há um mundo à parte para peregrinos: alimentação, locais, vestimentas, vocabulários, sensações, que criam uma identidade entre desconhecidos de diferentes procedências.

i) A língua mais falada é o Inglês, mas você vai conseguir se comunicar com qualquer outro peregrino, de qualquer nacionalidade. As pessoas querem se comunicar e se esforçam para entendê-lo e conversar de qualquer jeito.

j) Entendi perfeitamente a importância das Igrejas, com suas áreas de descanso e fontes.  Aliás, se tem uma lição que aprendi no Camino é ser grata pelas fontes e pelas praças com suas árvores que dão sombra.  Hoje, posso dizer que o meu hobby favorito é sentar à sombra e tomar água.

Avistar uma Igreja ao longe e saber que aquele era o meu objetivo, e que lá encontraria abrigo e descanso, provavelmente foram sensações que permitiram a minha identificação com todos os peregrinos antes e depois de mim.

l) Percorrer o Camino é caro.  Pode ser mais ou menos caro dependendo da forma como escolher trilhá-lo.Ficar em albergues pode ser uma alternativa mais barata, mas eu tive a limitação de não conseguir dormir bem naquela situação - muita gente,  muito barulho - então preferi ficar em quartos com banheiro privado.

Em média uma cama em albergue custa de 7 a 10 euros, mas muitos não têm lençóis incluídos (que custam 3 euros).  Vou me permitir dar uma dica, porque acho realmente útil: levar um saco de dormir fininho, leve, para substituir os lençóis pode ajudar a economizar bastante.

Vale a pena dividir quartos com banheiro privado com amigos, pois às vezes sai pelo preço similar ao aluguel de cama com lençóis.

Quando deixei ao sabor do destino escolher o lugar de repouso, não me dei bem.  Então aprendi a reservar com antecedência através de sítios especializados (como Booking, Trivago, Tripadvisor) ou diretamente no sítio do albergue.

Vou fazer um post com as indicações de albergues e hotéis em que pousei, pois talvez ajude alguém.

m) Coma e beba com moderação.  Nesse tema, não tenho moral para dar conselhos.

Mas se me permitem, evite comer Botillo se tiver que andar muito.

n) Andar é muito bom, mas andar muito causa dores.  É sempre bom consultar um médico sobre quais medicamentos podem ser usados, e comprá-los para levar (com a devida receita).  Tive que tomar suplementos de potássio e magnésio para tentar diminuir as dores musculares, mas o que quase me tirou do jogo foram as bolhas.

Usar sapatos e meias adequados, e fazer paradas regulares, pode ajudar muito.  Depois de um tempo, suas bolhas viram calos e param de doer, mas até lá haverá choro e ranger de dentes.

o)  Sabedoria ao fazer a sua mochila.  Coloque tudo que você acha necessário, e depois tire metade.  Acredite, você vai agradecer carregar menos coisas. E, sim, você vai se acostumar a carregar a sua mochila, mas isso também causará dores.

Não é necessário levar muitas roupas (duas mudas completas bastam), pois há possibilidade de lavá-las, se você faz o estilo de peregrino arrumadinho e cheiroso. Se não, basta uma roupa mesmo.

Vou fazer um post com as coisas que realmente  se revelaram úteis.

p) Muito rápido descobri que o meu objetivo não era terminar o Camino, mas percorrê-lo até onde fosse possível, até onde Deus permitisse.  Santiago de Compostela foi só mais uma etapa, uma bela etapa, mas o Camino não termina.

Talvez a vida seja assim mesmo.

Enfim, faria tudo de novo. E talvez faça outra vez, porque o Camino será sempre diferente e interessante.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Pausa no blog

Transformando sonhos em memórias.

Trilhando el Camino de Santiago.



segunda-feira, 3 de julho de 2017

sexta-feira, 30 de junho de 2017

30 de Junho - Dia da lembrança pelas pessoas vítimas de homicídio

O blog vai reservar esse dia anualmente para lembrar das pessoas assassinadas, no Brasil e além, cumprindo como possível o nosso dever de memória (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/dever-de-memoria-homicidios-no-brasil.html).

Não é uma data oficial, é emocional.

É um lamento por todas e tantas famílias enlutadas nessa guerra cotidiana.  No Brasil as pessoas são assassinadas diariamente, sem razão, sem explicação, sem prevenção.

Esse dia é também de luta pela efetivação do direito à vida.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Brincadeira de criança: notícia maluca

Lembro-me apenas vagamente do que sentia, queria e fazia quando era pequena, e falo isso com uma certa melancolia e tristeza de perceber que envelheci.

A mútua compreensão entre mim e as crianças é bastante limitada, e talvez por isso me surpreendam com tanta facilidade (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/08/dialogo-surreal-6-brincadeira-de-crianca.html).

Mas nunca, nem quando era pequenina, nem nos meus mais loucos devaneios, acreditei que uma carta de Banco Imobiliário (na época versão do Monopoly) pudesse ser usada na vida real.  Por isso essa notícia me deixou assombrada: http://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,homem-preso-nos-eua-tinha-um-card-de-jogo-que-lhe-concedia-liberdade,70001868758.

Ah, se todo aquele dinheiro que eu ganhei fosse de verdade...

(Aqui, uma lembrança se intrometeu em meu pensamento e gostaria de compartilhar.  Nós - eu, irmãos e primos - nunca respeitamos as regras do Banco Imobiliário. O nosso jogo usava as peças e o tabuleiro, mas era muito mais selvagem:  havia corrupção, agiotagem, tomada hostil de imóveis, técnicas de concorrência desleal o que, mais de uma vez, exigiu a arbitragem de adultos, nem sempre justa. Nem sempre o jogo acabava, e nem sempre acabava bem.)

Enfim, não é que eu tivesse juízo nem bom senso, atributos que não devem ser esperados nem exigidos de crianças, mas...

terça-feira, 13 de junho de 2017

Objetos (incríveis!) achados na Argentina

Impressionante.  Objetos antigos chineses e egípcios, e artefatos nazistas que, se autênticos, formam um acervo estonteante: cf. https://www.youtube.com/watch?v=8PiuOrvZHNY.

domingo, 11 de junho de 2017

Memória Poética - Quanto vale o show? - Mano Brown

"A primeira coisa que aprendi a fazer na minha vida foi isso aqui, ó!
Ráááá! É isso!
Só eu sei os desertos que cruzei até aqui
Pode pá, tá lançada a sorte

83 era legal, sétima série, eu tinha 13 e pá e tal
Tudo era novo em um tempo brutal
O auge era o Natal, beijava a boca das minas
Nas favelas de cima tinha um som e um clima bom
O kit era o Faroait
O quente era o Patchouli
O pica era o Djavan
O hit era o Billie Jean
Do rock ao black as mais tops
Nos dias de mais sorte ouvia no Soul Pop
Moleque magro e fraco, invisível na esquina
Planejava a chacina na minha mente doente, hey!
Sem pai, nem parente, nem, sozinho entre as feras
Os malandro que era na miséria fizeram mal
Meu primo resolve ter revólver
Em volta outras revoltas, envolve-se fácil
Era guerra com a favela de baixo
Sem livro nem lápis e o Brasil em colapso

"Quanto vale...
Quanto vale...
Quanto vale..."
Quanto vale o show?

Já em 86 subi aos 16 ao time principal
Via em São Paulo, tava mil grau já, favela pra carai, fi
Bar em bar, baile em baile, degrau pós degrau, ia
Quanto baixo eu pude ir, pobre muito mal
O preto vê mil chances de morrer, morô?
Com roupas ou tênis sim, por que não?
Pra muitos uns Artemis, benzina ou optalidon
Tudo pela preza, irmão
Olha pra mim e diga: Vale quanto pesa ou não?

"Quanto vale...
Quanto vale...
Quanto vale..."
Quanto vale o show?

A César o que é de César
Primeira impressão: Os muleque tinha pressa, mano
Que funk louco, que onda é essa, mano?
E assim meus parceirin virou ladrão
É que malandro é malandro memo e várias fita
Era Bezerra o que tava tendo, Malandro Rife
Outros papo, outras gírias mais, outras grifes
Cristian Dior, Samira, Le Coq Sportif
G-Shock eu tive sim, calça com pizza eu fiz
Brasil é osso, a ideia fixa eu tinha
Porque pardin igual eu assim era um monte, uma pá
Fui garimpar, cruzei a ponte pra lá
Ei, zica
Isso significa que era naquele pique, tocando repique de mão, jow
No auge da Chic Show, nos traje
Kurtis Blow era o cara, curtição da massa
Era luxo, só viver pra dançar, fui ver Sandra Sá
Whodini eu curti
A vitrine Pierre Cardin, Gucci, Fiorucci, Yves Saint Laurent, 
Indigo Blue
Corpo negro semi-nu encontrado no lixão em São Paulo
A última a abolir a escravidão
Dezembro sangrento, Sp, mundo cão promete
Nuvens e valas, chuvas de balas em 87
Quanto vale?
Quanto vale o show?"

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Memórias de um tempo e de um modo de viver.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Convento de Cristo em Tomar: reflexão sobre riscos

Essa notícia me deixou de cabelos em pé: https://www.publico.pt/2017/06/06/culturaipsilon/noticia/o-patrimonio-nao-e-so-uma-marca-para-por-a-render-1774669

O Convento de Cristo em Tomar, Portugal, é um daqueles monumentos que marcam a memória de forma indelével. Impressionante, fundamental.  Preservar para a atual e futuras gerações é mais do que um dever do Estado, é uma missão moral.

Jóias têm que ser tratadas com todo o zelo.  Contraria esse zelo permitir que uma fogueira de doze metros seja acendida dentro do claustro e levadas substâncias explosivas para dentro do edifício.

Não adianta dizer que todas as medidas de segurança foram tomadas. A principal delas - proibir efetivamente que isso ocorra - não foi tomada.  Se os planos de segurança falhassem, um dano irreparável poderia ter ocorrido, e isso é motivo suficiente para dizer não.

O fato vai ser apurado em um inquérito, vou tentar saber o resultado, e certamente assistirei ao filme de Terry Gilliam (Monty Python) que foi filmado no Convento de Cristo.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Tradição X práticas cruéis contra animais: O caso da Emenda Constitucional nº 96/2017

Observem:

Presidência da República
Casa CivilSubchefia para Assuntos Jurídicos



 Acrescenta § 7º ao art. 225 da Constituição Federal para determinar que práticas desportivas que utilizem animais não são consideradas cruéis, nas condições que especifica.



As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:
Art. 1º O art. 225 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido do seguinte § 7º:
"Art. 225. .................................................................................
..........................................................................................................
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos."(NR)
Art. 2º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, em 6 de junho de 2017.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Memória poética - Retrato da Vida - Dominguinhos e Djavan

Esse matagal sem fim, essa estrada esse rio seco
Essa dor que mora em mim, não descansa e nem dorme cedo
O retrato da minha vida é amar em segredo
Não quer saber de mim e eu vivendo da tua vida
Deus no céu e você aqui
A esperança é quem me abriga
Esses campos não tardam em florir
Já se espera uma boa colheita
E tudo parece seguir
Fazendo a vida tão direita
Mas e você o que faz
Que não repara no chão
Por onde tem que passar e pisa em meu coração
O teu beijo em meu destino
Era tudo que eu queria
Ser teu homem, teu menino
O ser amado de todo dia

Para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=kEvOON-4enU

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Cacos do meu coração por todos os lados.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Citações sobre a memória - Kierkegaard

"A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente".

domingo, 4 de junho de 2017

Brasões familiares

Os brasões familiares são símbolos da identidade de  um grupo, formado pela sucessão das gerações de pessoas ligadas por laços de parentesco, e integra a sua memória coletiva.

Mas não para Donald Trump.  Para ele, são marcas de produtos: http://www.huffpostbrasil.com/entry/trump-mar-a-lago-crest-a-scam-new-york-times-finds_us_592c6f40e4b053f2d2ad7e75

Adotar comercialmente o símbolo de outra família, sem autorização, e ainda substituir a "integridade" pelo nome "Trump", sem dúvida, diz muito sobre o personagem.

No Brasil, a Lei 9279/96 não permite proteger brasões públicos como marcas:

"Art. 124. Não são registráveis como marca:
    
    I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação;"

Talvez brasões familiares  possam ser protegidos por marca e direitos autorais - patrimoniais e morais - já que se trata de obra de criatividade humana.  Mas isso eu deverei estudar melhor no futuro, se der tempo.


sábado, 3 de junho de 2017

Meu bolo de aniversário

Às vezes publicamos um pensamento e não sabemos que efeitos ele poderá causar.  Às vezes palavras iluminam, respondem, ofendem e emocionam.

No caso do post "Patrimônio Cultural familiar (3) :gastronomia caseira" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/patrimonio-cultural-familiar-3.html), a minha intenção era apenas refletir sobre o acervo cultural repassado através das gerações de uma mesma família, ilustrando com o exemplo da família Müller que, basicamente, constrói as suas relações na cozinha e à mesa de refeições.

Mostrar como D. Hildegard fazia o seu famoso bolo de morango com nata, para a minha sorte, rendeu-me esse presente de aniversário feito pelo meu marido:

Meu bolo de aniversário feito por Marcelo Müller, conforme receita tradicional de sua família.  Também fez a foto.

O resultado é que desde de 24 de maio vinha me alimentando desse bolo enorme.  As definições de "cumplicidade" foram atualizadas:  "e aí, vamos almoçar bolo hoje?".

A delícia de fatia.  foto:Marcelo Müller.

 Almoçamos, jantamos, comemos pela manhã, lanchamos e jantamos de novo, durante quatro dias. No domingo 28/05/2017, ele saiu da vida para entrar na memória.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Auto-retrato de aniversário

Fabiana,

1)  Não faz selfies, portanto, esse auto-retrato considera gostos, aptidões e inapetências.

2) Não usa smartphones, e nada que eles veiculam.  Não uso whatsapp, nem quaisquer outros "aplicativos" (pff).

3) Penso em memória individual (dos vivos e dos mortos), memória coletiva, patrimônio cultural e o direito que lhes corresponde. O tempo todo.

4) Sou a favor de comer o patrimônio cultural comestível de todos os povos, de viajar para ver o patrimônio material em todos os lugares e praticar manifestações tradicionais.

5) A minha opinião pessoal, em geral, é baseada em fatos e suas corroborações.

6) A minha opinião pessoal é considerada uma, das muitas versões possíveis da realidade.  Por isso, procuro não impor a minha visão de mundo a ninguém. A exceção evidente é o meu marido, que casou comigo e agora tem que aguentar.

7) Também não aceito visões de mundo impostas.  É preciso que eu me convença (por meus próprios meios) e, se isso acontece, incorporo a visão alheia à minha versão, com os devidos créditos.

8) Embora reconheça que questões de gênero, raça e procedência nacional são importantes para moldar argumentos, não as considero como ultima ratio. São aspectos do argumento, e não o argumento inteiro.

9) 7 e 8 somados fazem-me considerar a diversidade cultural como um recurso adaptativo indispensável.  Não é descolado e cool, é apenas inegável e necessária para a evolução humana.

10) As grandes questões da Humanidade deixaram de ser um problema para mim porque a "Arte é longa e a vida é breve".  É melhor abraçar a imponderável e colorida maravilha da existência, enquanto estou por aqui.

11) Parece que estou filosófica também, mas não deve ser nada grave.  Canja de galinha e mel com limão devem resolver.  Não como mastruço (mastruz).

12) Se a identidade é definida por permanências, reconheço algumas constantes (ainda que inconstantes) em minha vida: certos valores inegociáveis, limites intransponíveis, um apreço por tudo o que é marcial (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/artes-marciais-e-memoria.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/01/saudar-os-mestres.html
), e uma curiosidade inexcedível por tudo o que é cultural.

13) Não sou supersticiosa, na maior parte do tempo, embora reconheça o valor de todo esse acervo de crendices que ajudam a moldar o nosso comportamento.  Não passo embaixo de escada por razões óbvias, não deixo gatos pretos cruzarem o meu caminho e nem aponto para a Lua.

14) Achei que não tivesse TPM (tensão pré-menstrual) mas recentemente descobri que naturalmente também tenho os meus momentos.  E isso não deve ser razão para desconsiderar as minhas atitudes ou opiniões porque os hormônios não falam por mim.  Talvez interfiram um pouco apenas na forma, mas não no conteúdo.

15) Acredito na educação - formal, informal, superior, inferior, lateral, de onde venha - porque essa é a chave para superar a maioria dos problemas que eu e os meus contemporâneos enfrentamos no Brasil.  E aprendi, nesse tempo todo em que ando nesta Terra, que é absolutamente imperdoável alguém que tem os meios (financeiros, econômicos, pessoais, profissionais e sociais) não dar valor e não demonstrar educações.

Nesses tempos bizarros que vivemos, são aqueles que têm as melhores condições que derramam os piores sentimentos, argumentos e comportamentos.  Se não é para se tornar uma pessoa melhor, para que respirar?

Pensei em fazer esse auto-retrato como parte das reflexões do meu aniversário. Pensei que ao chegar nessa idade - avançada por sinal - eu já teria alcançado a sabedoria, a idade da razão, mas não.  Talvez no ano que vem.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Aniversário do Blog "Direito à memória" - Sete anos

Hoje, 17 de maio, faz sete anos que tomei coragem para criar um blog. Na verdade minha intenção era, e continua sendo, discutir e refletir sobre o direito à memória coletiva e individual (dos vivos e dos mortos),  a partir do patrimônio cultural que lhe serve de veículo, além de divulgar sítios, eventos e chamadas de trabalhos.

E por que comemorar o aniversário do blog?  Porque ele também tem memória, ora.  Já comemoramos 150, 300, 500 e mil postagens, e sete aniversários. Este é o post publicado nº 1126, e até hoj tivemos  117.143 visualizações (!), em diversos lugares interessantes pelo mundo afora.
  A postagem que mais suscitou interesse foi esta sobre o Halloween , Raloim e Dia do Saci (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/31-de-outubro-halloween-raloim-dia-do.html), o que me faz pensar se essa entidade zombeteira e maléfica, na verdade, não poderia ser considerada o padroeiro do blog.

Não, melhor não mexer com essas coisas.
  Deixo a todos os meus agradecimentos, em especial àqueles que se inscreveram, pela companhia e pelo interesse.
 Feliz aniversário, seu blog!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Feliz Aniversário, Reintraud Karen Müller!

Feliz aniversário, com direito até à perpetuação da tradição gastronômica da família Müller, referida no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/patrimonio-cultural-familiar-3.html:


Rememoração do famoso bolo de morango com nata de Hildegard Müller

Tão lindo, e tão longe de mim.

sábado, 13 de maio de 2017

Fátima - Cem anos depois

Em 13 de maio de 1917, a tradição católica conta que a Virgem Maria fez a primeira de diversas aparições a três crianças portuguesas, conhecidas como os pastorinhos Lúcia, Jacinta e Francisco, os dois últimos falecidos ainda na infância.

Nossa Senhora de Fátima, relatam, comunicou três segredos às crianças, posteriormente guardados por Lúcia, que foi freira durante toda a vida, e pela Igreja Católica.  E como todo segredo, gerou muita curiosidade, especulações e superinterpretações.

Eu tive a oportunidade de conhecer o santuário de Fátima, e de lá trouxe um rosário benzido, não porque seja católica e nem vá usá-lo em orações, mas porque o considero um documento de uma prática religiosa.  Vou atualizar esse post depois com uma fotografia dele e, se localizar, também com as da minha visita.

Além disso, eu trabalho ao lado de uma Igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima, que atrai centenas de pessoas devotas, reunidas para manifestar de forma pacífica e benéfica a sua fé, e é o local onde se encontram os restos mortais do confessor dos pastorinhos.

Quais são os segredos de Fátima e qual sua importância para as nossas vidas?  Não sei, mas Deus sabe, então está tudo certo.

De toda forma, acho fenomenal que um segredo perdure por cem anos.  Se as aparições tivessem ocorrido em 2017, no Brasil, mantê-lo é que seria o verdadeiro milagre.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Cavalo de Aço, o sapato

Meu pai usou e , na semana passada, confessou o seu arrependimento por ter usado.  Demos boas risadas.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Formas de lembrar (6): Dançar em memória de Bob Marley

Hoje, dia 11 de maio, é o Dia Nacional do Reggae no Brasil, marco comemorativo do falecimento de Robert Nesta Marley, instituído pela Lei nº 12630/2012 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12630.htm).  Não é feriado, mas bem que merecia.

Todos os dias lembro de Bob Marley ouvindo as suas canções.  É a trilha sonora no meu caminho para o trabalho (https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/05/lembrar-bob-marley.html?showComment=1494506388639#c1803642480196722872), e tenho certeza de que o meu dia e a minha relação com as pessoas fica melhor por isso.

E hoje vou dançar em sua memória.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Patrimônio cultural familiar (3): gastronomia caseira


Famílias não são apenas afetos e desafetos entre pessoas.  São estruturas que permitem a criação, manutenção e transmissão de modos de viver, fazeres e saberes.

As famílias, como qualquer outro grupo, também têm a sua identidade e o seu patrimônio cultural.  A herança de uma família vai além dos meros bens econômicos: há todo um acervo de valores imateriais e culturais transmitidos através das gerações.  Refletimos sobre aspectos desse importante acervo nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/patrimonio-cultural-familiar-2-arte-de.html.


Acho fenomenal como as famílias transmitem conhecimentos, e as receitas são um patrimônio imaterial maravilhoso. Não conheço uma receita tradicional que seja ruim, simplesmente porque passou no teste de diversas gerações, e são lembradas em cada ocasião festiva.

Algumas dessas receitas integram-se tão intimamente na lembrança dos membros que servem de marcos biográficos imateriais.  Algumas delas são lembranças tão queridas que provocam evocações e sensações apenas quando são citadas.

A família do meu marido zela bastante pela arte de comer, e achei muito interessante o fato de que eles publicaram as receitas tradicionais, e distribuíram em uma festa que os reuniu.  Essas são as jóias da família Müller - as mulheres e suas receitas:




Aqui vemos D. Hildegard, a avó do meu marido (foto do meio da primeira linha), ensinando como se faz o célebre bolo de morango com nata:

O inesquecível bolo de morango com nata de Hildegard Müller - Foto:  Fabiana Dantas

Hildegard Müller - Foto: Fabiana Dantas

O famoso bolo de morango com nata, prestes a virar almoço.  Foto:  Fabiana Dantas


Esse bolo foi gentilmente feito para mim, e ele não teve a menor chance.  Passei os dois dias seguintes comendo-o no café da manhã, almoço e jantar, para o horror de D. Hildegard. Supostamente, eu deveria comer pequenas fatias no final da tarde, na hora do café, mas não foi possível.

Bolo de Morango com Nata: uma lembrança querida de Hildegard Müller, da hora do café em uma tarde na casa da minha sogra com muitos risos, e saudades.

sábado, 6 de maio de 2017

Tecendo a memória

Tecidos podem ser formas de expressão e modos de fazer (patrimônio imaterial), e também podem possuir valor documental material.

Tecidos podem ser mais que eles mesmos, como afirma esse interessante vídeo: https://ciseiweb.wordpress.com/2017/05/03/bellisimo-video-sobre-la-cosmovision-andina-a-traves-del-tejido/

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Fortaleza dos Reis Magos - Natal/RN: Monumento Nacional


Foto: Fabiana Dantas
Foto: Fabiana Dantas
Foto: Fabiana Dantas


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Arqueologia fascinante (4): a cidade perdida da Serra do Sincorá

Se tem uma coisa que fascina e intriga é a tal da cidade perdida.  Seja coberta de ouro, como Eldorado, ou submersa como Atlântida, a missão é encontrá-la.

No Brasil, há a lenda de uma cidade perdida na Chapada Diamantina, na Serra do Sincorá.  Cf. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882002000100008

Há inscrições fenícias na Pedra da Gávea? Há uma cidade perdida na Bahia? Provavelmente não, mas essas perguntas abrem um mundo de possibilidades.

Estou pensando seriamente em procurar (e não encontrar) a tal cidade perdida, como um ensaio geral para procurar o misterioso Caminho do Peabiru.