domingo, 31 de agosto de 2014

Dieta paleolítica?!

Parece que emagrecer tem sido a grande preocupação e conquista da civilização ocidental deste último século. Toda revista feminina, toda semana, traz matérias sobre como emagrecer, os avanços da cirurgia plástica e métodos para escravizar o parceiro/a.

Nesta semana uma das dietas da moda chamou a minha atenção, porque pretende retomar hábitos alimentares há muito esquecidos: a dieta paleolítica.  Em síntese, pretende-se excluir do cardápio diário aqueles alimentos aos quais o corpo humano ainda não se acostumou, como açúcares refinados e produtos industrializados, retomando o consumo de alimentos mais naturais.

A chamada "dieta das cavernas" promete uma alimentação mais saudável, como se pode ver nesse link: http://corpoacorpo.uol.com.br/dieta/dieta-de-emergencia/dieta-das-cavernas-aposte-no-cardapio-e-emagreca-12-kg-em-30-dias/4216.

Certo, a idéia de excluir produtos industrializados e com conservantes é ótima. Só acho um pouco demais dizer que isso é uma dieta paleolítica porque, certamente, os homens daquela época não tinham tanta variedade de alimentos que o cardápio do exemplo acima exigia, e dificilmente fariam seis refeições.  Como dependiam do ambiente e da sorte para se alimentarem, eventualmente podiam ficar algum dia sem comer, situação não contemplada nos cardápios que eu vi.

Enfim, mesmo não sendo paleolítica (como poderia, se os próprios alimentos mudaram ao longo do tempo?), a idéia de reduzir o consumo de alguns tipos de alimentos, especialmente aqueles com conservantes, pode até fazer bem.

sábado, 30 de agosto de 2014

Resgatando xingamentos antigos (20): Lheguelhé

Lheguelhé é um xingamento muito interessante porque:

a) Nós temos poucas palavras na Língua Portuguesa que começam com "lh". Por exemplo, lhama, lhano e seus derivados e os pronomes lho e lhe.

b) Se esse caráter raro já não bastasse para conferir-lhe importância, a palavra lheguelhé também tem uma grafia engraçada e um som esquisito que, por si só, já é capaz de demonstrar desprezo.  Ela parece uma palavra que deu errado, e alguém decidiu deixar assim mesmo porque o sujeito que ia ser xingado não valia o trabalho de consertá-la.

c) Lheguelhé é um substantivo masculino que significa "zé -ninguém", um mequetrefe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/resgatando-xingamentos-antigos.html). 

No dicionário, vi que a referência era a um "joão-ninguém", que é uma expressão que eu não uso.  Aqui no meu rincão nós chamamos o lheguelhé de "zé ninguém".  Fiquei na dúvida entre qual dos dois é mais sem importância, já que ambos foram homenageados com canções: Noel Rosa cantou o "joão ninguém" (https://www.youtube.com/watch?v=YoqB8pjR0uk) e o grupo Biquini Cavadão homenageou o outro (https://www.youtube.com/watch?v=rc5Wofp_FC0).

Acho que o zé-ninguém está numa situação pior.

Modo de usar:  Sai da frente, lheguelhé! Sua existência atrapalha o funcionamento do mundo.

sábado, 23 de agosto de 2014

Versões, aversões e monumentos

Saber como os povos constroem e transmitem as suas memórias sempre foi fascinante para mim.  Saber como o constructo social denominado "patrimônio cultural" é formatado, utilizado e transmitido vem sendo o tema das minhas pesquisas e curiosidades nos últimos anos.

Hoje parei para pensar em alguns exemplos interessantes de transmissão e substituição das significações históricas e o seu reflexo em monumentos.

Há muitas maneiras de se transmitir uma versão histórica, e uma das mais interessantes que eu já vi foi construção de um parque temático. Confiram: http://www.grutoparkas.lt/?lang=gb.  Nesse parque temático os lituanos podem passar pela "experiência soviética" e ver como a sovietização feriu a alma da nação lituana.

A construção deste parque foi uma interessante forma de preservar os vestígios materiais da presença soviética, que era traduzida em monumentos, por exemplo, estátuas, que foram desmontadas e poderiam acabar virando sucata. A solução foi recolher todos esses monumentos 'ideológicos' desmontados e ressignificá-los (http://www.grutoparkas.lt/apie.php).

Alguns povos optaram simplesmente por destruir vestígios materiais e seu simbolismo. Vamos lembrar de alguns monumentos que foram destruídos para lavar a alma das nações:

1- Estátua de Saddan Hussein: http://noticias.br.msn.com/fotos/ies135-invasao-do-iraque-completa-10-anos?page=8

2 - Diversas estátuas de Stalin foram derrubadas e substituídas.  Vejamos alguns exemplos:

a)Derrubada em sua cidade natal - Gori, na Geórgia - para ser substituída por um memorial às vítimas da guerra com a Rússia (http://internacional.estadao.com.br/noticias/europa,estatua-de-stalin-e-derrubada-na-cidade-natal-do-ditador-na-georgia,571908)

b) Derrubada em Budapest, 1956: http://elpais.com/diario/2006/10/22/domingo/1161489157_740215.html
simbolizavam um passado

3 - Estátuas de Lenin, Hitler, Kadhafi, entre outros.  Olha só que interessantes algumas das fotos mostradas neste post http://enriquegdelag.blogspot.com.br/2012/09/tear-it-down-and-move-on.html

É claro que a damnatio memoriae não se restringe a vestígios materiais tão personalistas de ditadores, como seus bustos e esculturas.  Pode também atingir símbolos e cores do regime, e até mesmo outras formas de lembrança celebrativa, como o nome de ruas.

A questão é saber porque alguns personagens são mais merecedores da danação do que outros?

4 - Situação diferente parece ter sido a do "Soldado de Bronze de Tallinn", que servia de marco à sepultura de soldados soviéticos, e foi transladado por decisão das autoridades estonianas a um cemitério militar. A decisão evidencia um conflito de significados adversários:  para os russos, a estátua representava a libertação, e para os estonianos, a anexação forçada à União soviética.  O fato de retirar a estátua causou revoltas, ciberataques e até uma morte.

No fim das contas, a estátua foi mesmo transladada ao cemitério, onde pode receber as homenagens de quem sentir a necessidade de prestá-las: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=136722&tm=&layout=121&visual=49.

5- Até Cristóvão Colombo recentemente foi  banido de Caracas, como forma de afirmação ideológica: http://noticias.terra.com.br/ciencia/estatua-de-cristovao-colombo-e-retirada-de-caracas,9c2a803f3f40b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html.

6- Sobre a administração de conflitos simbólicos, esse pequeno texto de Burke é interessante: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1006200715.htm.  Concordo especialmente com a alternativa de agregar informações, valores e significados ao monumento, e não simplesmente destruir ou substituir.  Ressignificar pode ser mais educativo pode permite o confronto de versões.

O ato político de criar, destruir e substituir monumentos pode dizer muito sobre os mecanismos de formação e transmissão da memória coletiva.  Nesse momento em que no Brasil inicia-se a discussão sobre a manutenção e substituição de lembranças celebrativas de personagens em logradouros públicos, basicamente com o intuito de danar a memória dos ditadores da última ditadura (1961-1988), pergunto:

Que estranhos caminhos são esses que levaram Getúlio Vargas a ser tantas avenidas, praças, viadutos nesse meu Brasil, e a ser considerado herói nacional em 2010 (pela Lei 12326/2010 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12326.htm), e ter o nome inscrito no Panteão da Liberdade e da Democracia?

E mais importante, por que ninguém questiona?
 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Souvenir (13): Serra das Paridas, Chapada Diamantina


Esse souvenir é a reprodução de pinturas rupestres no sítio arqueológico de Serra das Paridas, que tem esse nome porque se interpreta que algumas figuras parecem com mulheres parindo.





Além do patrimônio arqueológico fenomenal, lá também havia umas mangabas do tamanho de maçãs, cousa nunca dantes vista, deliciosas e com pouco visgo.  Aquilo é o máximo que uma mangaba pode sonhar em ser.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Comissão Nacional da Verdade: sugestões ao relatório final

A partir de 11 de agosto podemos/devemos encaminhar sugestões à Comissão Nacional da Verdade: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/08/comissao-da-verdade-vai-incluir-sugestoes-da-sociedade-em-relatorio-final-6153.html

Olhei o sítio da Comissão mas não achei um link específico para as sugestões ao relatório, então, presumo que devem ser encaminhadas através da Ouvidoria: https://www.ouvidoria.cnv.gov.br/index.php?a=add.

domingo, 10 de agosto de 2014

Tatuagem e Memória (3)

Refletimos sobre o caráter memorial das tatuagens no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/tatuagem-e-memoria.html, e também como às vezes tudo pode dar muito errado http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/tatuagem-e-memoria-2-pessimas.html.

Mas a tatuagem também pode ser uma forma de registrar e promover bens culturais.  Olha o exemplo das tatuagens do meu irmão:



 


Essas  são as famosas "Estatuas de San Augustín", en Colombia.  Algumas foram roubadas e estão em processo de restituição, cf. http://www.lanacion.com.co/index.php/actualidad-lanacion/item/237275-estatuas-robadas-de-san-agustin-que-regresaran-al-pais.  Para contribuir com a restituição, há até uma petição dirigida ao governo colombiano: https://www.change.org/es/peticiones/que-nos-devuelvan-las-estatuas-de-san-agust%C3%ADn.

O meu irmão é escultor, já postei algumas de suas obras aqui no blog, e desenvolveu uma relação afetiva tão forte com esses bens culturais que resolveu tatuá-los, não é interessante? Isso, sim, é apropriar-se dos bens culturais.

 Não conheço mais ninguém que tenha tatuado monumentos, mas já comecei a procurar.

sábado, 9 de agosto de 2014

Souvenir (12): Lençóis, Chapada Diamantina, Bahia

Essa lembrança eu trouxe da Chapada Diamantina, mas a troca foi injusta porque eu deixei o meu coração lá.  Esse souvenir é uma tentativa de retratar a icônica paisagem dos "Três Irmãos", três acidentes geográficos que aparecem à esquerda:



Infelizmente, a única foto que eu tirei dos Três Irmãos exatamente deste ângulo ficou péssima, mas vou tentar dar uma idéia do tipo de paisagem deslumbrante que há na Chapada:



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Diálogo Surreal (6): Brincadeira de criança

Esse diálogo aconteceu quando me deixaram de babá dos meus sobrinhos, um menino e uma menina, que na época tinham mais ou menos 6 e 5 anos.  Enquanto eles brincavam e conversavam, eu ficava por ali fingindo que sabia o que estava fazendo:

- Sobrinho:  Vamos brincar?
- Sobrinha:  hã, hã.
- Sobrinho:  Vamos brincar de Power Ranger?
 - Sobrinha:  hã, hã.
- Sobrinho:  Tá certo.  Eu vou ser o Power Ranger Preto e você o Power Ranger Rosa.
- Sobrinha:  ...
- Sobrinho:   Eu vou ser o Power Ranger que bate e você o Power Ranger que apanha.

Foi aí que eu comecei a prestar atenção à conversa.  Como eles são praticamente da mesma idade e peso, de baixo potencial ofensivo, deixei a brincadeira continuar.

Quando o tempo do regulamentar de "round" acabou, resolvi intervir.

- Eu:  Agora vamos trocar.  Você vai ser o Power Ranger que apanha e ela vai ser o Power Ranger que bate.
- Sobrinho (com os olhos marejando de água):  Mas eu não consegui bater nela direito. Nem deu tempo...
- Sobrinha:  É, tia, ele não bateu não, é bem fraquinho.
- Sobrinho:  Não sou fraquinho, você vai ver!

E partiram para a briga de verdade, mas ele acabou levando a pior.  Apanhou um bocado, e aí os pais (meus irmãos) vieram correndo para apartar.

-Minha irmã (mãe da sobrinha):  O que aconteceu?  Por que vocês estão brigando?
-Sobrinha:  Por que ele queria bater em mim, mas é fraquinho.  Aí eu bati nele, mamãe.
-Meu irmão (pai do sobrinho, tadinho):  É, meu filho, a história se repete.  Sua tia também batia em mim.  É melhor deixar ela se acalmar e depois você volta para brincar.

Enfim, acho que esse episódio deveria servir para ensinar alguma lição a alguém, mas não foi o que aconteceu.

domingo, 3 de agosto de 2014

Souvenir (11): Natal

Esse souvenir eu conquistei em visita ao Forte dos Reis Magos, localizado em Natal, Estado do Rio Grande do Norte.  Trata-se de uma pequena réplica do "Marco de Touros".



Aqui embaixo está o monumento, que é considerado o mais antigo do denominado "período histórico" brasileiro:



No Brasil, considera-se que a Pré-História encerra-se no Descobrimento. Então, até 1500 d.C temos Pré-História, e a partir de então, período histórico.  O Marco de Touros foi chantado em 07 de agosto de 1501, marcando a ocupação do território, que teve por consequência jurídica o domínio português.





sábado, 2 de agosto de 2014

Chá de monumento

Raspe um pouco do monumento e coloque para ferver.

Depois, é só coar e bebericar aos poucos, quando esfriar.

É bom para dores de cabeça e de estômago, problemas da mulher e do homem, e afecções em geral.


???????????

E o pior de tudo, é que é verdade.  Existe um monumento no Rio Grande do Norte que era raspado para fazer chá.

Aliás, ultimamente, tenho tido as notícias mais bizarras do mundo dos chás.  Meus irmãos descobriram que aqui na nossa cidade é tradição fazer chá de caixa de charuto (?!), muito efetivo para problemas masculinos. É tão popular que as caixas de charuto desapareceram da cidade.