sábado, 31 de dezembro de 2016

2016: o ano em que perdemos contato


Com a realidade, com valores, com um tipo de futuro, mas tomamos um novo e excitante caminho.

1) No mundo jurídico, onde habito, 2016 foi um ano singular.  Não sei se a velocidade das comunicações evidenciou e potencializou os fatos, mas sem dúvida atravessamos uma crise no Direito Brasileiro.  Houve fatos e decisões que mudaram o eixo interpretativo de algumas normas, e procedimentos inéditos que trouxeram perplexidade àqueles que trabalham com uma tradição interpretativa.

Algumas mudanças nessa tradição foram tão abruptas que chocaram e chacoalharam nossas consciências.  É preciso meditar e estudar para entender o que vem nos atingindo.

2016 também vai ficar marcado como o ano em que as questões não foram decididas.  Até agora não sabemos se cabe impedimento sem crime de responsabilidade, ou se a presidente impedida cometeu ou não crime de responsabilidade.

O ano em que o massacre do Carandiru virou legítima defesa.

2) Boquirroto e sorrelfa, palavras ressuscitadas em 2016.

3) O ano em que "direita" e "esquerda" no Brasil foram reduzidos a polos políticos rasteiros.  "De esquerda", é quem defende ciclovia e corrupção, estuda Ciências Humanas,  faz baderna, quer acabar com a família e a propriedade.  "De direita"é contra a corrupção, contra a baderna, protege a família e os valores tradicionais da sociedade brasileira, e não admite opinião diversa.

Essa polarização, independente de qualquer verdade (ou "pós-verdade" como agora dizem), produziu cenas de ignorância inenarrável.  Esse exemplo é interessante alguém viu uma bandeira japonesa no Congresso Nacional, daí concluiu que o Legislativo brasileiro estava se rendendo à dominação comunista (?), produzindo essa manifestação: https://www.youtube.com/watch?v=NojHBPe10ks.

Na pós-verdade, os fatos não importam.  Importa especular e gritar mais alto possível a versão compatível com as próprias necessidades.

4) No mundo, Donald Trump é presidente dos Estados Unidos.

O mundo temeu, a Rússia gostou, e o resto não entendeu.  Evidentemente, o futuro Presidente Trump não vai conseguir cumprir o que prometeu.  Os resultados serão tímidos, principalmente na política migratória, como foram os de seus antecessores.

La migra, como sempre, enxugará gelo e reterá areia com peneira. Tomará sopa com garfo.

Trump é o sintoma mais visível de uma tendência protecionista na Economia.  A mão invisível do mercado agora precisa apertar a mão visível do Estado para poder continuar a sua trajetória.

5)Vixe, até o número de postagens do blog entrou em crise. O menor número de postagens desde 2011, e metade do que foi produzido em 2015.  Safra rara essa de 2016.

6) Algumas pessoas não sobreviveram a 2016:  Fidel Castro, D. Paulo Evaristo Arns, os náufragos do Mediterrâneo, e tantas outras pessoas.

7) Chapecoense, o time de futebol de Uganda e o avião com músicos militares da Russia.

8) Algumas cidades e bens culturais não sobreviveram a 2016.

9) Resgatado o xingamento antigo "Sevandija", no âmbito de uma operação da polícia federal: http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2016/12/prefeita-de-ribeirao-preto-darcy-vera-e-presa-na-segunda-fase-da-sevandija.html

10) Futuro congelado por vinte anos. Será?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O último desejo de Fidel Castro: não nomear logradouros públicos

Notícia muito interessante: http://g1.globo.com/mundo/noticia/raul-castro-torna-lei-o-ultimo-desejo-de-fidel.ghtml

Em alguns posts deste blog já discutimos a grande importância que os nomes das ruas, praças e monumentos têm para a memória individual e/ou coletiva, por se tratar de uma forma de lembrança celebrativa: (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/09/os-nomes-das-ruas-da-minha-cidade.html; http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/nomes-de-logradouros-publicos-alteracao.html e https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/10/nomes-de-logradouros-publicos-alterar.html).

O poder político de dar nome às coisas e pessoas é importantíssimo e é um indicador de quem detém o poder simbólico de uma comunidade. E muitas vezes é uma forma de perpetuar esse poder, especialmente quando é utilizado como forma de publicidade do sobrenome, a ser lembrado em períodos eleitorais.

É muito interessante que o último desejo de Fidel Castro tenha sido não nomear logradouros públicos, supostamente por uma aversão ao personalismo do culto. Eu também manifestei esse desejo no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/09/os-nomes-das-ruas-da-minha-cidade.html, simplesmente porque não quero ver meu nome vinculado à degradação dos logradouros.

Se eu puder especular - e aqui no blog eu posso -   acredito que esse desejo possa vincular-se à prevenção do abuso da imagem, tal como ocorreu com Che Guevara, com discutimos no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/11/o-direito-memoria-dos-mortos.html.  É significativa a preocupação de Fidel Castro de proibir que sejam utilizados o seu nome e imagem como marcas ou símbolos distintivos com fins comerciais, bem como sejam proibidas outras formas de homenagem (bustos, faixas e etc).

Caso interessante para ser estudado.  Não lembro de outro governante que tenha feito a própria damnatio memoriae desse jeito. O oposto - buscar a imortalidade nesse tipo de lembrança celebrativa - é mais comum.

Por outro lado, e continuando a refletir, a interdição pode servir para tornar Fidel Castro mais especial, pois todo o sagrado começa com o proibido, o tabu, e evitar a banalização da sua imagem pode contribuir significativamente para criar ou manter uma aura de sacralidade em torno do personagem.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Perda

Essa sensação estranha
de esquecer algo
ou alguém.

É dor tamanha
de querer e não poder
e não saber e ter ninguém.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Não esqueçam de Aleppo. Não esqueçam a Síria.

Essas foram as frases invocadas pelo atirador turco Mevlut Altintas que assassinou o embaixador russo na Turquia, Andrey Karlov, em 18/12/2016.

Cf. http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2016/12/19/embaixador-russo-e-baleado-por-atirador-na-turquia.htm

domingo, 18 de dezembro de 2016

Ruin porn

Conceito interessante: http://www.archdaily.com.br/br/625553/a-ascensao-do-ruin-porn

Sem dúvida, um dos efeitos da disseminação da idéia-valor da preservação é a valorização dos bens culturais, ainda que arruinados, pelo seu valor de testemunho.  Se isso é "ruin porn", precisamos refletir profundamente.

Não vejo nenhum problema em admirar ruínas, em aprender como o tempo, a natureza e os fatores antrópicos agem sobre os bens culturais.  A lição de um monumento perdura no tempo, ensina pela presença e pela localização, e não vejo nenhum paradoxo em decidir manter um edifício em estado de ruínas.

O restauro de um bem não depende só do gosto/opinião ou necessidade do sujeito.  É preciso conhecer, reconhecer, entender e "ouvir" o objeto.  Nem sempre o restauro muito interventivo é a melhor escolha para a preservação.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Lembrança celebrativa pelos falecidos no acidente aéreo da Chapecoense

O Brasil está de luto pela tragédia com o avião que transportava os jogadores e comissão técnica da Associação Chapecoense de Futebol e profissionais de comunicação que iriam narrar o jogo.

O jogo não aconteceu, mas a torcida do Nacional compareceu para prestar sua homenagem: https://esportes.yahoo.com/fotos/torcida-do-nacional-lota-est%C3%A1dio-na-hora-de-jogo-para-homenagear-chapecoense-slideshow/stla255015-photo-1480589010562.html  http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/noticia/2016/11/torcida-do-atletico-nacional-adapta-cantico-tradicional-em-homenagem-a-chapecoense-8549566.html.

Respeito.