domingo, 2 de janeiro de 2011

Direito à memória dos mortos: o caso de Billy, The Kid

A memória coletiva às vezes é engraçada...Depois de 129 anos, o facínora Billy "The Kid" ainda continua nas manchetes dos jornais. Olha só a notícia: "Governador do Novo México recusou ontem perdoar William Bonney por falta de provas" O perdão prometido a um dos mais famosos bandidos do Novo México, Billy the Kid, vai continuar a engrossar as muitas lendas do Faroeste. O governador do estado norte-americano, Bill Richardson, recusou ontem conceder um perdão póstumo ao fora-da-lei e assim vingar uma suposta traição do seu antecessor Lew Wallace. Há 130 anos, o governador Wallace teria convencido William Bonney a depor contra três homens em troca de imunidade, mas o rapaz acabou preso, acusado de matar 21 pessoas - uma por cada ano de vida. Acabaria por ser morto pelo xerife Pat Garrett, depois de fugir da prisão. Bill Richardson anunciou o veredicto ontem de manhã, no programa "Good Morning America". A revisão histórica da relação do homicida como as autoridades da época entusiasmou os americanos e desencadeou movimentos de protesto. Bill Richardson iniciou a investigação depois de receber uma petição movida por um advogado de Albuquerque, Randi McGin, em defesa do perdão. A questão era de honra: Billy the Kid tinha cumprido a sua parte do acordo, ao contrário do governador. Além de encomendar uma análise histórica, Bill Richardson, que fez da causa uma das última bandeiras do seu mandato, criou um site na internet para receber a opinião dos eleitores. Segundo a Associated Press, em 809 emails recebidos até ao passado domingo, 430 mensagens mostravam-se a favor da indulgência e 379 contra. Ainda assim, o governador não se terá deixado levar pelas massas e decidiu não conceder o perdão, "devido à falta de certezas e à ambiguidade histórica" em torno da razão que terá levado o governador Lew Wallace a abandonar a intenção de perdoar William Bonney. As únicas provas da alegada promessa são uma entrevista dada pelo governador Lew Wallace a 28 de Abril de 1881, mas os descendentes do xerife que matou William Bonney e do governador acusado de traição têm outra leitura da história: "A verdade é que Wallace não tinha qualquer intenção de perdoar Billy", sublinhou J. P. Garrett, neto de Pat Garrett. A promessa teria sido então um engodo para convencer o bandido a denunciar os companheiros, aparentemente com sucesso. A dupla contra o perdão alegou também que nas quatro cartas escritas por Billy the Kid enquanto aguardava o julgamento pelo homicídio do xerife William Brady nunca foi usada a palavra "perdão", embora o bandido tentasse a todo o custo ser ilibado. Como se comentava ontem no Twitter, com perdão ou sem perdão, a história continua. M. F. R. Fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/96284-historia-ja-perdoou-billy-the-kid-mas-o-perdao-oficial-ficou-na-gaveta. Algumas considerações sobre a notícia, que é um ótimo motivo para continuar pensando na memória dos mortos: 1) Ninguém discute que Billy "The Kid" era um celerado. E pensar sobre ele tem a vantagem de poder usar palavras como "facínora" e "celerado", em homenagem à época em que viveu. Portanto, a sua memória individual, e a memória coletiva sobre ele, apontam que devemos lembrá-lo como um bandido. 2) A grande polêmica no caso (?) é se o governador da época prometera ou não perdão a Billy, em troca de informações. E mesmo com tais informações, o perdão não foi dado. Parece-me que queriam que o governador cumprisse com a sua palavra, mesmo depois de morto... 3) Do meu ponto de vista, não se trata de perdão (nem na forma de graça, de indulto ou anistia) e nem de reabilitação, como discutimos em post anterior. Parece-me que havia uma promessa de delação premiada, na qual Billy "The Kid" trocaria sua imunidade por informações (bargain system), o que evidentemente se tornou irrelevante com a sua morte. O caso, portanto, não é de reabilitação de sua memória, que inclusive é celebrada em filmes e livros exatamente no sentido de fortalecer o seu aspecto criminoso e marginal, mas de reparar uma, digamos, "injustiça histórica" porque o governo não cumpriu a sua parte no suposto acordo. E na verdade o governador Lew Wallace não necessitaria cumpri-la porque o beneficiado foi morto em seguida. 4)O "perdão" foi negado pelo governador do Novo México, e apenas constitui-se em mais um aspecto a ser lembrado qundo o assunto for Billy The Kid. De toda maneira, é sempre um ótimo exercício raciocinar sobre esse tipo de situação. Valeu pela notícia Flávia!

3 comentários:

  1. A decisão de não perdoar acabou sendo uma exceção ao principio da presunção de inocência. Ou seja, na duvida e por falta de provas, preserve-se a memoria de que ele é culpado.
    Engraçada retorica.

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  2. Não sei se chegou a ser processado...Também, faleceu com 21 anos, e tanto é colocado na sua conta, quem nem dá para saber o que ele realmente fez.
    Ele ficou famoso POR SER MALFEITOR, logo, a memória coletiva sobre ele tem esse conteúdo.

    Não acho que a falta de perdão tenha sido uma exceção ao princípio da presunção da inocência, até porque para ser perdoado é necessário que alguém seja considerado culpado...

    Retomando o seu argumento, e faltando evidências de que foi penalmente condenado, o perdão é logica e juridicamente impossível.

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  3. http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/depois-de-129-anos-governador-do-novo-mexico-nega-perdao-a-billy-the-kid.html

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