sábado, 22 de janeiro de 2011
Tatuagem e Memória
No post anterior comentei que os gregos concebiam (metaforicamente)a memória como uma tábua de cera, na qual eram "marcadas" as informações. Quanto mais marcantes essas impressões, mais forte seria a sua lembrança. E se essa tábua de cera for a nossa pele? As diversas formas de registrar informações na pele, com suas distintas finalidades, são também uma espécie fonte memorial. A tatuagem, originalmente, servia para registrar os eventos importantes na vida do indivíduo e às vezes também da coletividade, além indicar o processo de aquisição de um determinado status social. Esses sinais em seu conjunto davam a informação sobre a origem e a posição do indivíduo no grupo, e acabavam por constituir um sinal de identidade cultural. Um belo exemplo disso são as tatuagens do povo maori: Fonte:http://imagenshistoricas.blogspot.com/2010/11/oceania-e-pacifico.html Mas as tatuagens podem ser também símbolos de vergonha, ou mesmo uma penalidade acessória. Já foram utilizadas como forma de identificação de criminosos, e essa deve ser a origem da idéia (ainda presente no Brasil) de que esse tipo de marca corporal pode acarretar a inidoneidade moral. Em concursos para certos cargos públicos, ter uma tatuagem pode significar a desclassificação sumária, embora atualmente a jurisprudência se mostre favorável aos candidatos eliminados. No século 20, a tatuagem também foi utilizada pelos Nazistas de maneira utilitária, para registrar a quantidade de pessoas que passavam nos campos de concentração. Não havia um significado intrínseco naqueles números naquela época, mas posteriormente tornaram-se símbolos de sobrevivência. Acho que a tatuagem hoje perdeu muito do seu significado original, e agora virou moda principalmente por fins estéticos, pois para ter uma tatuagem não é preciso merecê-la, basta ter dinheiro e tolerância à dor. Apesar disso, ainda é possível ver que algumas pessoas buscam através da tatuagem registrar no próprio corpo eventos importantes de forma indelével, tatuando datas, símbolos, retratos, com função explicitamente memorial e identitária. Acho particularmente interessante quando as pessoas tatuam o nome de sua paixão no momento. Registrar situações efêmeras como essa pode ser uma fonte de grande dor de cabeça, e exemplos não faltam de gente que gastou muito dinheiro para apagar o nome e a efígie de ex-namorados (uma espécie de damnatio memoriae)... Eis aí o paradoxo: ao contrário de ter apenas a lembrança do relacionamento (uma), na verdade temos essa, a de fazer a tatuagem, e a de apagá-la. E quem não tem dinheiro para apagar? Deixa como está ou manda cobrir com uma tarja ou outro desenho, e a memória permanece ali, censurada ou encoberta.
...@Fabiana...
ResponderExcluirAlguns grupos sociais usam a tatuagem como forma de distinção (não falo somente da Yakuza). As gangues do Oeste Americano, torcidas organizadas no Brasil, a Vor Vzakone...atores pornô que tatuam frases como "Só Deus pode me Julgar".
Perceba que, na maioria das vezes, as tatuagens em partes públicas (famosa public skin, termo criado pela Scottland Yard para os punk's) são feitas seguindo este modismo. Existem tatuados e tatuados...
Quanto ao 'esquecimento' de apagar a tatuagem, na maioria das vezes, a escolha por encobrir é a preferida...afinal de contas, "Riscar é Arte. Doer, faz parte".
Exato, o que você chama de distinção é o indicativo da posição do indivíduo no grupo. A marca corporal indica as conquistas do indivíduo,dentro de um certo sistema de valores.
ResponderExcluirEvidentemente, se o grupo social considerado é dedicado à criminalidade, as suas marcas corporais vão representar as conquistas e os valores respectivos.
O que questiono no modismo é a superficialidade. Uma tatuagem, no meu entender, deve ter um significado tão profundo para o indivíduo e para o grupo, que apagá-la não deve ser uma opção.
Às vezes as pessoas escolhem um símbolo ou um desenho só pela estética, e não respeitam o seu significado dentro da cultura que o produziu.
Você já pensou? Um Maori procurando um dermatologista para apagar as suas tatuagens rituais?
Não faz sentido.
No fim, acho até engraçado, esse negócio de cobrir tatuagens. A gente vê um nome se transformar em uma fada, a fada se transformar em uma fênix maior, que se transforma em um pavão, tomando as costas do indivíduo.
E quando o sujeito envelhecer, finalmente, o pavão envelhece junto, curvando-se e enrugando-se, até se transformar em um pequeno traço colorido, ocultado pelas pelancas.
@Fabiana: a seqüência da tatuagem fada-fênix-pavão me faz lembrar uma certa professora nossa...
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@vocêsdois: o mundo da tatuagem por ser muito injusto. Lembram daquele casal que arquitetou a morte de uma atriz de novela? Eles tinham tatuado nas respectivas zonas genitais o nome um do outro. Ela se chamava Ana e ele Guilherme!
Claro que ele saiu perdendo nessa...
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@todomundo: Pra mim, algumas tatuagens são obras de arte e merecem ser apreciadas como tais, independente de terem significados altruistas, poéticos, pejorativos, criminosos etc.
No tema tatuagem ñ é necessario saber o porquê da coisa para q elas marquem nossa memoria.
Nunca esqueço q num restaurante, hà muitos anos, vi uma moça cujo começo do rego portava o escrito: 'carpe diem'.
Até hoje num entendi! Mas vejam, memorizei!
Lapso: Ela, a Ana, foi quem saiu perdendo!
ResponderExcluir@Fabiana: você lembra da moça do restaurante?
Graças a Deus, não lembro de nenhuma moça com "Carpe Diem" tatuado no começo do rego.
ResponderExcluirNão estava com você nessa ocasião pois, se estivera, com certeza lembraria. Não dá para esquecer uma tatuagem dessas.
Em relação às tatuagens de casal que você falou, parece que essa estória é boato, nao é fato.
Sou contra esse negócio de tatuagem de casal. Não é mais fácil usar uma aliança ou combinar as roupas, para ficar igual ao um par de jarros?
Quanto à arte da tatuagem, concordo contigo. Acho que algumas são realmente obras de arte, lindas de se ver, mas como afirmei e insisto (porque concordo comigo, citando você), o sentido original está se perdendo e chafurdando no modismo estético.
Isso é tão verdadeiro que alguns desenhos simplesmente saem de moda, por exemplo, as fadinhas. O que está na moda hoje? Tatuagem tribal (de qual "tribo", cara pálida?).
Outro dia vi uma moça com um desenho "tribal" no começo do rego (deve haver um nome técnico e anatómico para essa parte do corpo... lombar?), que na verdade era um filete portenho. Portanto, ela deveria ser da tribo de Buenos Aires...
Os filetes portenhos são lindos. Eu tive vontade de comprar um pra colocar na parede de casa, pois eu pensei ser esta a sua destinação.
ResponderExcluirJà pendurà-lo na lombar...
Eu também adoro filete portenho! São tão coloridos e parece que sempre dá certo, não é?
ResponderExcluirNunca vi um filete feio... É claro que eu nunca tentei desenhar um, então não há como saber.
Acho que ficaria lindo na parede, e como a sua função é mesmo decorativa, dá para colocar também nos móveis. Vi uma foto de um carro todo decorado, e ficou absolutamente lindo.
Aff maria! Carpe Diem é o equivalente pseudo-chique (do tipo: "Oh, prestei atenção nas aulas de literatura e sou cabeça!") ao slogan "Entre sem Bater".
ResponderExcluirQuando fui fazer a minha, Robinson me disse uma coisa que nunca esqueço: "Faça em um lugar que envelheça com dignidade". Justamente para não correr o risco de ficar parecendo um código de barras ou um desenho abstrato. Fazer um filete na porta da miséria (assim que chamo o rego) é a renovação daquele dístico maravilhoso da década de 70..."tattoo dá c..."
@Gentem:
ResponderExcluirRego = filete = porta da miséria?
Fico procurando o gênero proximo e a diferença especifa. Vejamos: Pelo rego e pelo filete se escorrega para cima ou para baixo. Mas qto à porta, eu me pergunto se ela é way-in ou way-out?
(...)
Realmente a semi-otica é um caos!
@Albino:
Arrobei vc de novo no post "A deusa da Memoria". Vê là pra continuarmos a discussão.
@Fabiana:
Se quiseres censurar algum comentario, no problem! Eh necessario manter um minimo ético nessa bagunça.
@albino: correção: arrobei vc no post RECEITA PARA ESQUECER UM GRANDE AMOR.
ResponderExcluir@Fabiana: Eu te falei q aos poucos vai ser dificil pegar o fio da meada nesse teu blog. Organizar melhor isso, rapais!
Ou pelo menos cria um campo para comentarios fora dos posts.
@Denise, eu não sei fazer isso que você está sugerindo (criar campo para comentários fora dos posts). Você sabe como se faz?
ResponderExcluirQuanto à censura, você sabe que o meu espírito democrático não permite isso, e esse negócio de arrumar, controlar, dá uma canseira...
Afe, vim aqui pra resgatar o tema dos maoris, mas tinha esquecido de quanto este os debates neste post tinham derivado....
ResponderExcluirWell, para voltar ao tema dos maoris, mas sem falar de tatuagem: hoje almocei com uma familia deles.
Na verdade um amiga que eu jà conhecia, mas que ainda não tinha entendido de onde ela vinha, (o porque de tanta falta de compreensão da minha parte é outra estoria) me convidou pra conhecer o resto da familia.
Sugiu o assunto da doação do primeiro filho, que é costume entre esses povos, mesmo hoje em dia.
A questão central era saber se esse costume é vivido de forma tranquila, ou se a mistura com os costumes ocidentais, principalmente os dos colonisadores franceses, acabava por problematizar a coisa.
Resposta unânime de todos, inclusive mais jovens: eu acho isso normal. Nunca me chocou o fato de ter primo ou irmão que foi criado por tia, cunhada etc.
(...)!!!
A parte o problema de ter pego uma pequena amostragem, vamos pensar que eles dizem o q ressente todo o povo maori, a pergunta então passa a ser: se todo mundo vive bem com esse costume, pra onde vai o direito à memoria individual dessas crianças que foram dadas?
Facil, fica confinado no mundo ocidental onde foi criado. E não se fala mais nisso!
http://www.hypeness.com.br/2016/05/livro-infantil-ilustrado-coloca-pai-contando-suas-memorias-para-o-filho-atraves-de-suas-tatuagens/
ResponderExcluirUltimamente, estou sentindo vontade de fazer uma tatuagem. Mas comigo nada é tão simples, como escolher um desenho, o tatuador e fazer a tatuagem. Não. Eu tenho que merecer. A tatuagem tem que possuir um significado coletivo, porque se trata de uma marca identitária. Tudo muito difícil.
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