quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ode marítima - Fernando Pessoa

Hoje escolhi mais um poema de Fernando Pessoa, simplesmente porque todo dia descubro uma "novidade" maravilhosa que ele escreveu.

A Ode Marítima é um dos melhores relatos de paisagem que já li, e parece que eu estava com o poeta ali no cais, vendo os barcos passarem...Escolhi dois trechos que falam sobre a memória desse momento:

(...)

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É - sinto-o em mim como o meu sangue -
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui...

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

(...)

__________________

"Todo cais é uma saudade de pedra" é pra se lascar. Esse poeta devia ser preso por cenas de poesia explícita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário