domingo, 11 de setembro de 2011

Biografias erradas e o direito à memória

Tempos interessantes esses que vivemos...

Algumas pessoas nem chegaram na metade da vida e já lançam a sua biografia, que mais parece um balanço contábil de empresa, até aquela data.

Ruim mesmo é quando contam errado a estória da vida da pessoa, com flagrante violação à memória individual (e por vezes coletiva), por faltarem à veracidade e à integridade do passado.

Para exemplificar, três personagens cuja biografia foi totalmente deturpada pelo cinema:

1 - Em primeiro lugar, o herói nacional da Romênia, o princípe Vlad III, filho de Vlad "Draculea", rebaixado na ficção a "Conde" Drácula. Infelizmente, quando lembram desse personagem histórico, as pessoas só evocam o famosíssimo livro de Bram Stoker, com evidente prejuízo para a biografia do princípe.

Há alguns anos assisti a um filme sobre Vlad III chamado "Príncipe das Trevas - a verdadeira história de Drácula", que pelo menos tentou retirar o caráter sobrenatural da estória, o que já é grande coisa.

2 - A trilogia "Sissy", que a minha mãe adora, aparentemente quis retratar a estória da Imperatriz Elisabeth da Áustria (1837-1898). Os filmes são verdadeiros contos de fada, onde a belíssima Imperatriz está sempre linda, cheia de jóias e absolutamente feliz.

Linda e cheia de jóias era mesmo, mas a vida dela nada tem a ver com os filmes. No fim, foi assassinada com uma estiletada no coração.

3 - Em terceiro lugar, a intrigante Erzebet Bathory (1560-1614), também conhecida como"A Condessa Sangrenta", que supostamente matou dezenas de mulheres para banhar-se no seu sangue e assim permanecer jovem.

A Condessa passou à memória coletiva como uma serial killer, mas há dúvidas se efetivamente cometera tais crimes ou foi vítima de uma conspiração, haja vista que possuía grande fortuna e o seu comportamento de viúva alegre escandalizava a elite da sua época.

Recentemente assisti a um filme que pretendia questionar a biografia oficial, concluindo o oposto: que Bathory na verdade um anjo de mulher, que foi perseguida e incriminada. A credibilidade dessa versão ficou comprometida para mim porque o roteirista inventou um affair entre a Condessa e o pintor Caravaggio, que acaba por deturpar duas biografias com uma cajadada só.

Há informação (não confirmada) de que os autos do processo da Condessa Sangrenta existem e continuam lacrados.

Moral da história: espero que quando fizerem um longa metragem sobre a minha vida, lembrem de mim exatamente como eu fui. Linda, alta, magra (ao ponto de preocupar familiares e amigos pela minha falta de apetite), bem humorada os 365 dias do ano e excelente cozinheira.

7 comentários:

  1. De que serve ser linda, magra e alta, quando se é fanho?

    Dizem que os amigos mais proximos são os legitimados para escrever a biografia de alguém, amiga.

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  2. Veja bem, tudo poderia ser pior se eu acordasse o gênero: linda, magra, alta e fanhA!!!

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  3. Rapaz, outro dia eu li que Sissi é conhecida como a mulher que mais viajou na época dela e parece que a biografia dela é interessante mesmo visse.

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  4. Só o fato de ser imperatriz já é muito interessante. O que significa ser a "mulher que mais viajou na época dela?". Parece mais uma crítica da oposição à Chefe de Estado ausente, não acha?

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  5. Atenção ao projeto de lei que está em votação na Câmara dos Deputados, sobre a questão das biografias não autorizadas.

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  6. O Supremo Tribunal Federal, em votação unânime, afastou a necessidade de autorização para a publicação de biografias (2015). Cf. http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=293336

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