terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Direito à veracidade e integridade do passado: o caso dos filhos sequestrados dos presos políticos brasileiros

Um dos aspectos do direito individual à memória que mais me preocupa é a efetivação da sua integridade e veracidade.

Acredito que seja profundamente arrasador para o indivíduo não conhecer suas próprias origens, não possuir informações verdadeiras da sua biografia, o que efetivamente causará danos à sua identidade.

Nenhum exemplo me parece melhor para ilustrar essa situação de violação à memória individual do que o caso dos netos argentinos, sequestrados pelos militares e criados por eles como se filhos fossem. Sobre essa dramática situação, escrevi o primeiro (que na verdade é o segundo) post deste blog: http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html. Situação parecida aconteceu durante o regime de Franco, na Espanha.

Eu sempre me perguntei se aconteceu o mesmo no Brasil. Ouvi relatos de presas brasileiras grávidas, mas nada se diz sobre os seus filhos nascidos em cativeiro.

Nesta semana li uma reportagem que parece confirmar essas preocupações: Maria Amélia de Almeida Teles, que integra a Comissão de Familiares, informou que pelo menos sete crianças foram sequestradas e entregues a militares brasileiros para adoção. (cf. http://correiodobrasil.com.br/sentenca-da-oea-sobre-araguaia-leva-parentes-ao-ministerio-publico-2/340909/).

Se isso é verdade, essas pessoas são a prova viva do envolvimento dos "falsos pais" não só com o regime ditatorial, mas com o que havia de pior nele.

Na Argentina, foram localizadas aproximadamente 105 pessoas sequestradas nessa mesma situação. Mas isso decorreu de uma efetiva campanha realizada pela Associação das Mães da Plaza de Mayo, que contaram a história dos filhos mortos e desaparecidos através de atos públicos, documentários, conclamando as pessoas com certo perfil (idade, por exemplo), a duvidarem de sua identidade.

Talvez fosse útil divulgar as fotos dos pais desaparecidos para ver se esses 7 (ou mais) brasileiros se reconhecem. Talvez fosse útil deixar que os familiares, avós, tios, falem e expliquem em rede nacional o que aconteceu.

4 comentários:

  1. Eu nunca tive duvidas de que tinhamos exemplos desse tipo de pratica durante a ditadura no Brasil.

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  2. Eu já tinha ouvido relatos de presas grávidas ( e me perguntava o que havia sido feito delas), mas nunca, nunca, tinha ouvido relato de sequestro de bebês brasileiros, e nem de filhos resultantes de estupro.

    É um crime continuado que atinge diretamente, pelo menos quatro gerações (avós, pais presos, filhos e netos).

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  3. Lia Cecília da Silva Martins, aparentemente o primeiro caso de bebê sequestrado brasileiro http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-07-21/bebe-sequestrada-e-deixada-em-orfanato-em-1974-pode-ser-filha-de-guerrilheiros.html

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  4. Segundo a reportagem que referi acima, a estória dos bebês sequestrados permanece viva na memória coletiva da região do Araguaia. Lá as pessoas lembram quantos foram os bebês, quem eram os pais, e até o destino de alguns deles. É necessário ir lá ouvir essas pessoas e registrar todas as informações da geração que viveu os fatos.

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