quarta-feira, 6 de junho de 2012

Memória coletiva e autoritarismo (2)

No post "memória coletiva e autoritarismo" (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/05/memoria-coletiva-e-autoritarismo.html destacamos a pesada herança de desrespeito aos direitos fundamentais que nos foi repassada, e hoje é determinante nas nossas relações públicas e privadas.

Uma comprovação dessa memória coletiva do autoritarismo pode ser lida e refletida na seguinte reportagem: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2012-06-05/quase-metade-dos-brasileiros-concorda-com-tortura-para-obter-provas-na-justica.html.

De onde vem esse conforto, essa sensação de licitude em relação à tortura em interrogatórios?  Também de um passado em que tais práticas foram consentidas, estimuladas e, em certa medida, até exigidas pela população.

5 comentários:

  1. Acho que esse conforto vem da sensação de impunidade dos crimes em geral que nutre nas pessoas um sentimento de caos (e não da falta de memoria daquele passado de tortura).

    As pessoas afirmam que são a favor da tortura em interrogarios porque pensam que essa é uma solução para um bem maior, ou seja, que seria a punição "imediata" do acusado, visto que partem do juizo aprioristico de que o Estado-judiciario não faz direito e seu trabalho.

    Também existe incutida naquela afirmação, a falsa idéia de que o interrogado que se autorizaria torturar (jà) é um bandido. Na verdade as pessoas contextualizam a pergunta dentro de suas experiências de vida atuais, que elas identificam como um caos de impunidade.

    Repare q essas mesmas pessoas podem, ao mesmo tempo, afirmar que são contra os ditadores que torturam porque estes torturaram presos politicos. Como se preso politico fosse mocinho, e não um "jà bandido" como aquele do contexto anterior. Dai serem contra a tortura dessas pessoas especificamente. A idéia de que o ditador é o vilão, faz com que "naturalmente" as pessoas tomem partido pelo "mocinho".

    Os que afirmam isso e aquilo, não conseguem ver a incoerência de seus rasos discursos dicotômicos.

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  2. O mesmo conforto pode ser verificado nas relações de abuso em geral. Nessa semana, o IPEA publicou pesquisa mostrando que a maioria dos entrevistados concorda que a mulher é responsável pelo estupro (http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/maioria-acredita-que-mulher-tem-responsabilidade-em-casos-de-estupro-diz-ipea).

    OU porque usam roupas curtas, ou porque "deram motivo". Que causalidade pervertida é essa?

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    1. A causalidade é pervertida, e a consequência é o estupro individual, coletivo, simbólico ou material.

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  3. Esse mesmo conforto pode ser visto com a crescente intolerância às escolhas diversas, que constituem o cerne das liberdades públicas de crer, não crer, descrer, pensar, manifestar, ir, vir e voltar, ser, sentir e etcetera.

    Acompanhado com o crescente desejo de vilipendiar. Tempos estranhos esses em que se confunde ofensa com opinião política. Violência simbólica por todos os lados.

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  4. "Cultura do estupro" é só uma das facetas da mentalidade autoritária que nos assola. Liberdade sexual é só uma das manifestações de liberdade que precisamos cultivar.

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