domingo, 18 de novembro de 2012

Direito à memória dos mortos: mumificação em Papua-Nova Guine (Koke)

Acabei de assistir a um programa do Discovery sobre a mumificação na comunidade Koke, em Papua-Nova Guiné.  O documentário, apresentado por Josh Bernstein, mostra o processo de transmissão de técnicas de mumificação, para evitar que o conhecimento seja esquecido.

Gostei desse programa por vários motivos:

1) Pela preocupação e urgência do chefe da comunidade, último guardião do conhecimento, de morrer e não conseguir a mumificação, porque os membros não saberiam como.

2) Pela vontade de continuar pertencendo à comunidade depois de morto, agora como protetor.  É interessante como os mortos da comunidade ainda fazem parte da vida cotidiana.

3) Achei interessante o conflito entre as técnicas tradicionais de disposição do cadáver e a maneira ensinada pelos missionários.  Pelo que pude perceber, tradicionalmente eles adotavam a corrupção consentida mas ocultada, colocando o cadáver acima das árvores, e a corrupção proibida, através do processo de mumificação.

4) Não consegui perceber em que situações escolhiam por uma ou outra.  Os missionários ensinaram a técnica da inumação, que permite a desintegração oculta dos corpos, que passou a ser adotada nas últimas décadas porque disseram ser ilegal a prática da mumificação.

5) Ocorre que dentro da cultura Koke a inumação é extremamente negativa, pois representaria uma oferenda de corpo humano à Terra, que depois ficaria sedenta por mais corpos.

6) Com a nova necessidade de prolongar a preservação das múmias, um especialista foi convidado para ensinar a realizar intervenções de restauro utilizando substâncias encontradas no próprio ambiente.  Se essas técnicas forem incorporadas, haverá uma mudança no ritual que poderá ser repassado à memória coletiva, e às futuras gerações.


Depois que essa etapa do processo de transmissão foi concluída, mostraram o interesse das crianças pelo passado, e a intimidade da convivência com as múmias que ficam guardadas em um local especial. Essa intimidade,  esse conforto, nada mais é do que a identidade cultural que garantirá a continuidade daquela comunidade (de vivos e de mortos).


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