segunda-feira, 13 de maio de 2013

Direito à memória dos mortos: exposição de cadáveres no DOI -CODI

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o senhor Marival Chaves declarou que os cadáveres dos militantes torturados e assinados eram expostos à visitação, e porque não dizer, à execração: http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/05/cadaveres-eram-expostos-como-trofeus-diz-ex-agente-da-ditadura.html

Isso não acontecia com todos, apenas com aqueles que eram considerados "importantes".  Ou seja, o caráter de troféu fica evidenciado e, lembro, que não é uma prática estranha aos nossos costumes. 

Parando para refletir, lembrei alguns casos em que houve exposição de restos mortais com essa mesma finalidade:  as cabeças dos cangaceiros do bando de Lampião (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/10/direito-memoria-dos-mortos-o-caso-de.html), no esquartejamento e exposição do corpo de Tiradentes (herói nacional), e alguns relatos que vez por outra escuto de que desfilaram com o corpo de um "bandido" morto.

É nesses momentos que a memória coletiva aflora, e o que vemos não é compatível com os princípios e valores que a sociedade brasileira tenta cultivar, sem sucesso.

2 comentários:

  1. Sei là, mas acho essa ultima frase ambigua. Acho que é necessario contexto tempo-espaço antes de dizer que não é compativel. Parece q a afirmação està impregnada pelo pressuposto (não necessario) de que o poder dos militares era ilegitimo. Se se transporta o fato em outro contexto de forma isolada, expor cabeça poderia ser sim compativel com ideal do povo.

    Imagine um povo q pegue em armas e faça uma revolução para retomada do poder, e exponha a cabeça dos usurpadores como troféu... Veja bem, antes q vc diga q é delirio meu. Expor cabeças em praça publica pode ser a coisa mais esperada pelo povo. P.ex. cortar a cabeça de toda a monarquia e expo-las antes de instaurar uma republica nascida de uma revolução popular foi considerado o ponto optimal na historia da revolução francesa. Isso foi desejo coletivo para evitar um sucessor aparecerer mais tarde pra ameaçar a nova ordem. Alias, eles cuidaram de expor a cabeça de todos os reis mortos, inclusive os mortos antes da revolução. Foram buscar desde Dagobertos, merovingios e cia, e todos os outros entrerrados nas igrejas, pra não ficar duvida de que não queriam mais monarquia de jeito algum. E isso fazia parte dos principios e valores da sociedade da época, e ainda hj faz (do dia-dia da politica, os franceses são capazes de fazer concessões democraticas, mas nunca republicanas).

    Enfim, na boa, no caso exposto, me choca mais a existência da tortura (mesmo que eu não a tenha visto) que a exposição do cadaver a posteriori. Se pensarmos bem, a decisão de expor um cadaver torturado como troféu é de grande estupidez, pois depõe contra aquele que praticou o ato, e isso em varios sentidos. Nada muda o sentimento coletivo de injustiça em relação ao coitado que foi torturado.

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  2. Veja, no meu entender, se são necessários símbolos para um ideal, dificilmente uma cabeça cortada, e exposta, seria o mais adequado.

    A multidão pode até desejar e considerar que isso é bom, porque passa algum tipo de mensagem. Mas nessa multidão eu seria a voz discordante.

    A sociedade brasileira tenta (sem conseguir) cultivar os princípios da dignidade da pessoa humana, da fraternidade, da solidariedade. Não sei onde a exposição desrespeitosa de restos mortais pode ser compatível com essas idéias.

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