domingo, 20 de abril de 2014

Do dia do Índio ao Descobrimento: 19 e 22 de abril

Normalmente faço uma reflexão sobre os marcos comemorativos do calendário oficial e as respectivs efemérides, para analisar o seu significado para a memória coletiva.

Em relação ao dia do Índio, refletimos sobre a sua origem no Brasil, através da Lei nº 5540/53 e o seu significado nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/19-de-abril-dia-de-que-indio.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/04/19-de-abril-dia-do-indio.html.

Mas dessa vez preferi realizar uma análise sequencial porque, embora totalmente acidental, o fato de que no calendário o dia do Índio é anterior ao descobrimento nos permite fazer associações entre duas efemérides próximas.

Sendo anterior no calendário, o Dia do Índio pode  reforçar a informação de que já existia populações aqui antes do Descobrimento. Entretanto, para mim,  já reflete uma uma idéia apocalíptica.  Praticamente, o nosso calendário afirma que tudo ia bem no dia 19 de abril, mas que dali a três dias...

Tudo no mundo indígena mudou com o contato.  É comum encontrar narrativas evolucionistas afirmarem que os índios brasileiros estavam na Pré-História (baseados na forma de produção econômica) e "saltaram" para novos tempos a partir do contato com civilizações mais evoluídas.

Esse tipo de narrativa parece apontar a assimilação da cultura "menos desenvolvida" por outra "civilizada" como um benefício, ainda que para isso fosse necessária uma certa violência, minimizando o extermínio para maximizar o benefício histórico do contato (CARRETERO, 2010, p. 221).

As imagens do descobrimento mostram cenas isoladas do contato que, em linhas gerais, pretendem destacar o seu caráter amistoso de intercâmbio, principalmente em relação a troca de produtos e na participação dos nativos na primeira missa realizada no território brasileiro.

Sabe-se que a ocupação posterior não foi pacífica - como até hoje não é - e que esse evento do descobrimento oficial por Portugal revestiu-se do caráter fundacional da nacionalidade e da identidade brasileiras, especialmente porque o nosso povo é concebido como mestiço, a fusão de "três raças" indígena, negra e portuguesa.

Na escola ambas as efemérides possuem uma base lúdica e emocional, principalmente durante a infância, para garantir a adesão dos jovens brasileiros à narrativa comum do Estado Nacional. Nessa fase, não existem conflitos e, tanto os índios como os portugueses estavam absolutamente maravilhados com tudo o que acontecia aqui.

Com o passar do tempo, o caráter festivo da efeméride escolar  vai se diluindo mas, na minha experiência, não é substituído por versões capazes de produzir uma visão crítica e proativa de cidadania.


Referência.

CARRETERO, Mario. Documentos de Identidade- A construção da memória histórica em um mundo globalizado. Porto Alegre: Artmed, 2010.

DANTAS, Fabiana Santos.  Direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.

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