terça-feira, 14 de abril de 2015

Confusão público-privada no Brasil

A questão da dicotomia público-privado no Brasil é um ponto central da nossa mentalidade e, por que não dizer, da nossa identidade coletiva, como já refletimos no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/conhece-te-ti-mesmo-brasil-4a.html.

Depois dos últimos acontecimentos políticos, e diante dos exemplos cotidianos da confusão entre os âmbitos público e privado, constato que entre nós o que era uma questão (de como construir um espaço público e cívico forte em uma democracia recente?) assumiu contornos dramáticos.

De uma lado, evidências do uso empresarial ilícito da máquina pública (Operações Lava-Jato e Zelotes), de outro, a prevalência de grupos específicos, que contêm agendas específicas, em detrimento de necessidades e direitos coletivas (confira-se o apoio empresarial à ditadura civil-militar, e a sucessão de matérias irrelevantes em tramitação no Congresso Nacional).

A falta de clareza do que é "público" parece ser a raiz dos males de gestão no Brasil. O público não se confunde com o governamental.  O público equaciona necessidades coletivas. O "público" é o coração do estatal.

Que mentalidade, que memória é essa, que atravessa as gerações e  causa tremenda  confusão entre interesses públicos e privados, ao ponto de quase não conseguirmos distingui-los?  Tratar a res publica como alheia afasta o cidadão do seu lugar no Estado, mas tratar a res publica como própria parece ser a raiz de toda a corrupção brasileira.

4 comentários:

  1. E desde quando é lícito alçar questões religiosas (de determinados grupos) a uma prioridade do Estado que se diz laico?

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  2. Observe-se a distorcida noção de "governabilidade" no Brasil. Primeiro interesses pessoais e de grupos, inclusive partidários, depois o interesse público.

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  3. Essa semana me peguei refletindo, e isso é uma coisa que eu não posso evitar, sobre alguns discursos que tenho ouvido ultimamente. O status de "cidadão de bem pagador de impostos" tem assumido uma faceta muito estranha. As pessoas que assumem esse papel parecem acreditar que isso é uma forma de comprar o Estado à prestação.

    Seria essa mais uma forma de privatização do interesse público? Mais uma manifestação da confusão público-privada?

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  4. Mais uma confusão do interesse público com o privado que vira uma confusão institucional. Liberar um empreendimento irregular só porque uma autoridade tem interesse pessoal é, no mínimo, imoralidade administrativa.

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