sábado, 23 de maio de 2015

Fetiche do princípio

Um fetiche é uma idéia, desejo ou comportamento baseada no fascínio por algum objeto ou procedimento, que enfeitiça as pessoas.  Aliás, a palavra fetiche e feitiço têm a mesma origem.

Para algumas pessoas, como eu, o começo, a raiz, o arquétipo são especialmente fascinantes porque é na origem (sonhamos), que se encontram as verdadeiras causas e explicações, o verdadeiro poder.

Pensando em fetiche do princípio, não há como esquecer da mítica moedinha nº 1 de Tio Patinhas. De nada valiam para ele e para mim todas as outras moedas da piscina-cofre, mas era a primeira, a origem, que tinha o verdadeiro valor.

Gosto muito de utilizar o dito "o que começa errado, termina errado", para ilustrar as consequências funestas dos maus começos. Tentar fazer tudo certo desde o princípio para que tudo se desenvolva da melhor maneira possível, pois "pau que nasce torto, nunca se endireita".

Enfim, eu sei que a origem é só um momento da existência, e que a "semente não explica a árvore", como afirma Ginzburg. Mas seria esse o momento mais importante? Ou será que importâncias dependem primordialmente do contexto?

O certo é que esse fetiche atrapalha a minha vida algumas vezes.  Por exemplo, não consigo começar a ler um livro pelo meio, mesmo que os capítulos sejam independentes.  Se perco o início de um filme não continuo assistindo, espero a próxima oportunidade.

Quando estou estudando, tenho que fazer uma revisão do que foi visto antes de adentrar em novos e misteriosos desdobramentos (olha só a manifestação do fetiche http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/memoria-1.html).  É por isso que tento fazer fichamentos completos, porque senão jamais conseguiria avançar nos meus estudos.  Mas tudo bem, acredito que revisar, reviver e relembrar são muito importantes no aprendizado.

De fato, como dizia Confúcio (CONFÚCIO, 1995, p.7), "Aquele que está sempre revendo seus velhos conhecimentos e adquirindo novos poderá tornar-se um professor para os outros".

Voltando à idéia original deste post (hehehe), acredito que o passado e a memória são um fascinante material para reflexões e talvez essa seja a raiz do meu interesse nessa área. 


Referência

CONFÚCIO. The Analects. New York: Dover, 1995


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