quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Livro de Aço (2) - Visita ao Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves

Brasília, 26 de novembro de 2015.

O sol do meio dia queimava os meus olhos, e o calor ardente envolvia o meu corpo enquanto tentava, em vão, atravessar o deserto em direção à memória dos heróis brasileiros.  A sede, a fome e a exaustão não me impediram de encontrar o meu destino e, então, pude compreender o verdadeiro significado do sacrifício pela Pátria.

Ou, sendo menos dramática:  fui a uma reunião de trabalho em Brasília, e troquei o meu horário de almoço por uma visita ao Panteão dos Heróis e Heroínas do Brasil (Panteão Trancredo Neves) porque estava curiosíssima para ver o Livro de Aço (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/04/o-livro-de-aco-livro-dos-herois-da.html).  A dispensa para o almoço ocorreu mais ou menos ao meio dia, e eu tive que atravessar a Praça dos Três Poderes sob o inclemente sol do Cerrado.  Não é um percurso desprezível para quem está com muita sede, um pé inchado (souvenir de Belo Horizonte), vestida com um terno preto e sempre com fome.  Tudo isso para cumprir uma promessa que fiz no post anterior sobre o assunto porque, como diz Nietzsche, "devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos".

Mas valeu a pena, cumpri a promessa feita a mim mesma, satisfiz a minha curiosidade e folheei o Livro de Aço. Ele fica depositado em um monumento após a Praça dos Três Poderes, do lado oposto ao Congresso Nacional (fato geográfico, sem nenhuma intenção irônica), ao lado da Pira da Pátria e da Bandeira Nacional.  O monumento foi projetado por Oscar Niemeyer, é denominado "Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves" (cf. http://www.brasil.gov.br/governo/2009/09/panteao-da-patria):

Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves - Brasília, DF.  Foto de Fabiana Dantas

Na entrada do prédio há um busto de Tiradentes - Herói Nacional - cujo nome é o primeiro inscrito (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/herois-brasileiros-tiradentes.html), recebendo os visitantes:
Foto:  Fabiana Dantas


 Entrando no edifício, há sala com uma exposição permanente sobre Tancredo Neves, e uma frase escrita na parede:


Foto:  Fabiana Dantas

Subindo as escadas, há uma sala muito escura, lúgubre e dramática, onde está o Livro de Aço em um pedestal, com luzes sobre ele.  A sensação ao chegar lá é estranha porque vinha de um ambiente com muita, muita luz e de repente tudo fica escuro.  Confesso que fiquei com medo porque, há muitos anos, fui visitar o Memorial Juscelino Kubitschek, mausoléu do ex-presidente, bem no final do expediente, acabei me distraindo e fiquei presa lá dentro.  Demorou uns bons minutos para que alguém percebesse que a turista desorientada tinha ficado para trás, e a essa altura eu já estava, digamos, meio apavorada mas ainda tentando manter a compostura.

Enfim, superada essa memória traumática, pude apreciar a ambiência do Livro.  Atrás há um belo mural e um busto, mas o foco está nele.  Há inscrição do nome do herói ou da heroína, com datas celebrativas e um pequeno resumo do motivo que levou à inscrição.



Livro de Aço.  Foto: Fabiana Dantas

Perguntei rapidamente aos cuidadores do monumento se havia solenidades periódicas para honrar a memória dos heróis e heroínas, e foi dito que não.  A solenidade acontece no ato da inscrição, mas posteriormente não é prevista nenhuma comemoração sistemática.  Se acontecem, imagino, devem ter um caráter acidental.

No edifício funciona um órgão público, hoje gerido pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Achei interessante a vinculação do nome de Tancredo Neves ao monumento, já que ele não é herói, mas aparentemente deve-se ao fato de que a comoção pela sua inesperada morte oportunizou a criação desse monumento em sua memória (também), ocorrida em 21 de abril de 1985 (observem a coincidência com a data da execução de Tiradentes).  O monumento foi inaugurado no ano seguinte ao seu falecimento, em 07 de setembro de 1986.

Em memória do segundo ano do falecimento de Tancredo Neves,  em 21 de abril de 1987, foi inaugurada a Pira da Pátria, que fica em frente ao Panteão, onde está perenemente acesa a chama simbólica da Nação.

Não há dúvida de que é um lugar de memória, mas a impressão que tive é que ela está meio adormecida, já que não há muita promoção da biografia e do significado dos heróis e heroínas junto aos cidadãos brasileiros.




Um comentário:

  1. Uma atualização: publiquei um artigo sobre os heróis e heroínas brasileiros na Revista Jurídica da Presidência. Cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2021/01/artigo-publicado-2021-fabiana-dantas.html

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