sábado, 7 de maio de 2016

Papel de carta

Quando eu era uma menina, mais ou menos de seis ou sete anos, começou uma moda de colecionar papéis de carta.  Todo um mundo de sociabilidade rodeava o fato de colecionar, fazer escambo, e exercer poder político para aumentar as coleções.

Havia alguns critérios de que lembro para rigorosamente aferir a desejabilidade do objeto:

- É melhor o papel estrangeiro do que o nacional;
- O papel devia ser de boa qualidade;
- É preferível o papel perfumado;
- O papel acompanhado de envelope é mais valioso;
- Se o envelope for acompanhado de selo, melhor ainda.
- O tema do papel é muito importante.  Havia uns com bichinhos, bonequinhas, flores, e alguns tão decorados que nem dava para saber onde alguém podia escrever.

Olha aqui alguns exemplares bem comuns daquela época: https://www.buzzfeed.com/manuelabarem/35-papeis-de-carta-que-farao-meninas-dos-anos-80-e-90-voltar?utm_term=.nmo57lm3D#.kh7ALJkmn

Eu fui a imperatriz do escambo do recreio (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/recreio.html) - esse tempo mítico da minha infância - e minha habilidade para trocar e lucrar papéis de carta deveria ter sido registrada. Até hoje, atribuo o meu intenso sucesso comercial a um bloco de papéis de carta que meu pai trouxe de uma viagem ao Japão, que cumpria maravilhosamente todos os requisitos acima. E ele, evidentemente, nem desconfiava disso.

Mesmo quando perdeu o perfume, dava para ver que aquele papel era lindo, de altíssima qualidade, com um envelope e selo charmosíssimos, e um certo ar de melancolia da linda gueixa que atravessava uma ponte curva em um jardim, no seu quimono suavemente colorido. Esse papel custou caro a muita gente.

Quando atingi o auge da minha coleção, que impressionava mais pela qualidade do que pela quantidade, como só os sábios conseguem, acabei me desinteressando, e ela acabou no lixo, úmida e mofada, vítima da minha indesculpável negligência.

Hoje, poucas  pessoas colecionam papéis de carta, apenas algumas meninas daquela época conservam suas coleções. Quase não há mais cartas, estão em extinção. O próprio papel como meio de comunicação parece fadado a desaparecer.

Não chega a ser uma pena, é só a vida seguindo.

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