segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Lidar com o passado (1): Alemanha e Nazismo


A Embaixada da Alemanha no Brasil publicou um vídeo para mostrar como é o ensino de História lá, e que não temem abordar assuntos difíceis, como o nazismo: https://twitter.com/Alemanha_BR/status/1037303279724781568.

É breve mas vale a pena para explicar que aprender História não ocorre só na escola, mas através da própria leitura da cidade e dos seus monumentos, através das memórias familiares, e também que História não é só o passado, mas o presente e, no caso do Nazismo, a necessidade de combater os ideais remanescentes diariamente.

(Aqui faço um breve parêntese para dizer que o vídeo não explica, mas para nós brasileiros seria uma grande lição a ser aprendida, que lidar com o passado é uma política pública.  A forma como se constrói a narrativa histórica, que tipo de valores essa narrativa vai legar aos futuros cidadãos, e a sua eficácia, serão determinantes para a compreensão dos fatos históricos.)

É por isso que negar o Holocausto é crime, e é por isso que lá, como aqui, os símbolos nazistas são proibidos.

Lá na Alemanha, a herança desse passado é encarada de frente, com responsabilidade e constitui uma política pública, que tem até nome próprio: Vergangenheitsbewältigung.  A idéia é garantir que esse tipo de ideologia racista e destrutiva não volte a matar pessoas.

A idéia saudável é fomentar a discussão e a reflexão, mas não foi isso que aconteceu no Brasil.  Alguns brasileiros acham que podem, sem nenhum embasamento, discordar da forma como a Alemanha representa e apresenta o seu passado: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/13/politica/1536853605_958656.html?%3Fid_externo_rsoc=FB_BR_CM.

A polarização "direita-esquerda-volver" apareceu de uma forma bem estranha nessa polêmica porque a suposta extrema direita brasileira quer afirmar que o Nazismo é uma ideologia de esquerda (?) e que Hitler possui características que o aproximam de ditadores de esquerda. Como se isso fosse o suficiente e o necessário para legitimar a sua própria ideologia.

Enfim, e independentemente de entrar no mérito dessa discussão, novamente pecamos pelo princípio e pela forma: de não saber discutir idéias, e reduzir as discussões à polarização infrutífera que por vezes nega a realidade e tenta desfigurar arbitrariamente o passado.

E nega a dor das pessoas.

O vídeo deveria suscitar a discussão de como é importante lidar com o passado, e não fingir que ele não aconteceu, ou que pode "desacontecer" ou ser "desacontecido". A reflexão poderia ser: como podemos aprender a lidar com os nossos traumas históricos, a partir do exemplo alemão?

Com esse vídeo, oficialmente agora é 8 x 1 para a Alemanha.

Um comentário:

  1. Alguns aspectos interessantes da política de memória alemã: mobilização da sociedade civil e posterior assunção do tema pelo Estado, experiência de processos de responsabilização, produção de conhecimento (pesquisas, obras de arte) sobre o nazismo e suas consequencias, reconhecimento de vítimas e grupos específicos contextualizadamente, monumentalização para marcar narrativas com teleologia definida (memoriais específicos), e transmitir a memória coletiva de forma dinâmica, de modo que possa ser herdada ativamente, e as novas gerações possam contribuir para a sua perpetuação .

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