domingo, 18 de novembro de 2018

Formas de lembrar (14): caminhando e lembrando

O denominado "Caminho de Santiago" iniciou, segundo conta a tradição, com a peregrinação para visitar o túmulo do Apóstolo São Tiago, cujo corpo foi encontrado no Campo da Estrela (Compostela), erguendo-se uma catedral para sepultá-lo.

Portanto, fazer o caminho é uma forma de lembrança celebrativa, uma das expressões do direito à memória dos mortos ( cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2010/11/o-direito-memoria-dos-mortos.html).

Mas além dessa celebração explícita da memória de Santiago, o Caminho também é repleto de marcos memoriais de peregrinos falecidos.  Não só daqueles que faleceram durante a peregrinação, e geralmente o marco indica o local do falecimento, mas também daqueles peregrinos que fizeram o caminho e que, por quaisquer motivos, os familiares e parentes acreditam que seria uma forma de homenagem à sua memória deixar alguma lembrança de sua peregrinação.

Muitas dessas lápides ou mesmo pequenos marcos com fotografias são cobertos por pedras depositadas pelos peregrinos.  Embora o ato de aposição de uma pedra no Caminho de Santiago possa assumir diversos significados, por exemplo, o ato simbólico de desapego de um problema ou um pedido, no caso desses marcos memoriais parecem refletir o costume judaico de honrar a memória dos mortos.


Homenagem à peregrina Foto - Marcelo Müller 

Monumento à memória dos falecidos - Foto de Marcelo Müller

Pedrinhas e cruz - Foto Marcelo Müller

2 comentários:

  1. Discorrendo sobre as etapas do desenvolvimento do comportamento funerário, assim explica Silva (2014, p. 121): "Cobertura com pedras: conceito relacionado com a construção de uma pilha de pedras sobre o corpo"(...); "são depositados intencionalmente materiais sobre o corpo resultando em um espaço natural/artificial, como uma inumação". Seria essa a origem do costume referido nesse post? Seria uma forma de reviver o ato de inumação?

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  2. SILVA, Sérgio Francisco Serafim. Arqueologia funerária: corpo, Cultura e Sociedade. Recife: Editora da UFPE, 2014.

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