segunda-feira, 15 de abril de 2019

Sobre perdoar e esquecer

O perdão não é uma forma de esquecimento, mas de superar o efeito traumático de certas circunstâncias.

É um ato voluntário e exclusivo daquele que sofreu o trauma, e em geral é realizado em proveito próprio. Perdoamos porque é necessário aliviar a carga de sofrimento.

Quem não é vítima não pode perdoar.

Já o o esquecimento pode ser voluntário ou involuntário. O esquecimento individual é involuntário, já que as tentativas de esquecer um evento normalmente reforçam a sua memória.

Mas o esquecimento coletivo, ah, esse é uma estratégia de sobrevivência baseada em seis elementos  que podem vir juntos ou separados (DANTAS, 2010):

1) a produção da memória oficial sem os fatos inadequados

2) a concessão de anistias


3) a fabricação de um consenso, geralmente sob a forma de discurso de "superação das ideologias"


4) o silêncio sobre fatos conflituosos, que também pode aparecer sob a forma de eufemismo.


Alguns fatos são tão graves que se tornam "indizíveis" e é preciso abrandá-los na linguagem pois dizer a que categoria pertencem pode prejudicar a sua formatação. Por exemplo, dizer que os escravos africanos eram imigrantes em busca de uma vida melhor; ou que assassinato não é assassinato, é outra coisa.


Observar quem usa do eufemismo e porque ajuda muito a compreender os mecanismos da memória coletiva.

5) a busca da reconciliação nacional

6) Comemorações da datas cívicas, escolhidas especificamente para veicular certos valores, em detrimento de outros.



REFERÊNCIA

DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.

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