segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Patrimônio cultural familiar (5): as comemorações e rituais familiares


Famílias não são apenas afetos e desafetos entre pessoas.  São estruturas que permitem a criação, manutenção e transmissão de modos de viver, fazeres e saberes.

As famílias, como qualquer outro grupo, também têm a sua identidade e o seu patrimônio cultural.  A herança de uma família vai além dos meros bens econômicos: há todo um acervo de valores imateriais e culturais transmitidos através das gerações.  Refletimos sobre aspectos desse importante acervo nos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/08/patrimonio-cultural-familiar.htmlhttp://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/04/patrimonio-cultural-familiar-2-arte-de.html e https://direitoamemoria.blogspot.com.br/2017/05/patrimonio-cultural-familiar-3.html?m=0http://direitoamemoria.blogspot.com/2017/12/patrimonio-cultural-familiar-4-os-fatos.html

Essa herança, que vai além dos meros bens econômicos, confere identidade e sensação de pertencimento. Os conhecimentos e valores (culturais e morais) são o quadro no âmbito do qual desenvolvemos a nossa personalidade, e sentimos a sua continuidade através da estreita relação com a memória dos antepassados e a convivência com os contemporâneos.

As comemorações familiares são oportunidades para, através do encontro dos membros, reforçar laços e reafirmar valores comuns.


Algumas são de caráter solene e dramático como os velórios e funerais.  Essa é uma ocasião muito importante para a família porque reafirma a sua continuidade a despeito da perda de membros, e garante a permanência desses membros falecidos com o status de antepassados.

Algumas são de caráter festivo, como aniversários, Natal e Ano Novo, e a forma como cada família celebra essas datas pode explicar muito da dinâmica de poder, das visões de mundo, dos valores comuns e dos padrões estéticos.

A extensão da festa também é interessante de ser analisada.  A família do meu marido promove um festival a cada dois anos, em que se reunem todos os membros.  Uma multidão de tios, tias, primos, primas que estão espalhados pelo território nacional e cuja comunidade ultrapassa as fronteiras de municípios, Estados e regiões.

A minha família, o núcleo familiar próximo, é pequena: somos quinze pessoas, dois cachorros e quatro gatos.  Em ocasiões realmente festivas conseguimos nos reunir para conversar e comer, com uma trilha sonora sempre presente.

Os recém-chegados relatam a sua impressão, o que é bem interessante para nos conhecermos.  Basicamente, a palavra usada para descrever é caos, apesar de não serem servidas bebidas alcoólicas.  A bebida mais frequente é suco de maracujá, que deveria acalmar a todos, mas até o momento isso não foi relatado.

Há algumas coisas que sonhamos fazer mas nunca conseguiremos: formar uma banda. A dificuldade reside em uma tendência anárquica de que cada um só toca o que deseja.  Não acreditamos em harmonia.

O nosso ritual deve ser olhado com desprezo por outros rituais familiares adequados.  Não há uma hora específica para comer, nem palavras rituais. Estar ali é o suficiente, vendo as pessoas e conversando com elas, principalmente sobre arte, Arqueologia e História, e lembrando dos antepassados.

Às vezes transformamos essas conversas em expedições:http://direitoamemoria.blogspot.com/2018/12/pedra-do-inga-sitio-arqueologico-de.html.  Já há alguns projetos, como buscar a cidade perdida da Serra do Sincorá (http://direitoamemoria.blogspot.com/2017/05/arqueologia-fascinante-4-cidade-perdida.html). Veremos.

Esse é o nosso modo de viver e sentir, nossa identidade: nos juntamos, comemos, conversamos vários assuntos ao mesmo tempo, alguns tocam e outros cantam o que aprouver, comemos de novo, gostamos de estar ali nos vendo e depois voltamos para casa.

Só para finalizar, há um detalhe que as pessoas acham esquisito na minha pequena família e acho que isso é uma particularidade:  nós não fazemos visitas.  Não nos visitamos, e não visitamos outras pessoas.  Isso é estranho?


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