quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Duzentos mil

Em 09 de outubro de 2016 o blog comemorou cem mil visualizações (https://direitoamemoria.blogspot.com/2016/10/cem-mil.html).

Se qualquer cem mil coisas já é muito, duzentas mil então...

Nunca imaginei que esse instrumento de expressão pudesse ter esse alcance, e a minha única pretensão era  falar sobre memória, direito à memória e patrimônio cultural.  

Agradeço a todos os que visualizam as postagens e considero a atenção recebida como estímulo  para continuar refletindo aqui sobre temas tão fascinantes. Agradeço por lembrarem comigo.

Obrigada, em todas as línguas!

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Lembrar Nijinski

Vaslav Nijinski nasceu em Kiev, em 12 de março de 1889, e dedicou a sua vida a assombrar a dança. Reconhecido como bailarino e coreógrafo, é considerado um gênio etéreo e pioneiro que mudou os rumos da sua arte.

Não sei nada sobre dança ou balé, mas entendi o conflito de tentar explicar sem palavras as mais profundas emoções humanas. O esforço de expressar-se em uma linguagem não-verbal tão complexa, que juntava o som, o gesto e a visão consumiu o artista e o levou à loucura.

Que vida tão humana teve o deus da dança. Quanto sofrimento, quanta angústia, quanto amor percorreram a sua biografia enquanto ele pairava sobre a sanidade como se fosse um palco dos seus balés.

Eu não sei nada de dança, mas entendi o que ele queria dizer. Era arte.


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Computador quebrado

Hoje o meu computador quebrou e logo veio aquela dúvida que nos assombra em situações como essa: perdi todos os meus arquivos?

A memória de tudo quanto fiz foi preservada?

A resposta para isso é que preservo os meus arquivos no plano astral (que não é a nuvem), como fazem os aborígenes australianos no seu sonho, ou tempo dos sonhos.

Há um espaço em que toda a nossa memória habita, que alguns chamariam de memória do mundo, registro akhasico.  Essa idéia fascinante foi por mim materializada em um hd externo.

Preservo os registros periodicamente. Guardo em mídias diversas. Atualizo as mídias. E assim repasso os meus arquivos de computador em computador até o fim dos tempos.

O conteúdo de alguns arquivos fundamentais é impresso, catalogado e devidamente sistematizado na estante.

Cheguei à conclusão de que os mais importantes deveriam também ser escritos na parede, o que não se trata exatamente de uma idéia nova, que já provou ser funcional e eficaz em várias culturas e períodos históricos, mas não tenho habilidades para pinturas rupestres.

Ainda.



quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Fake News X Memória

 A Bíblia, nos dez mandamentos, alerta para que não se levantem falsos, ou não se dêem falsos testemunhos porque a mentira é inimiga de Deus.

Aliás, para os cristãos, a mentira é um indicativo do mal, ou de uma espécie de mal personificada em um personagem que essencialmente existe para enganar, desencaminhar com falsas promessas, e cujas ações são reconhecíveis exatamente por isso.

A defesa da verdade é um imperativo ético. Nesse nosso tempo em que a informação e a desinformação circulam com igual aparência e velocidade é preciso estar treinado para entender, reconhecer e combater uma mentira quando nos deparamos com ela, porque as que subsistem envenenam pessoas, relações e memórias.

A mentira distorce e deforma a memória porque há o registro de uma informação falsa que será transmitida às futuras gerações, e cujos efeitos são imprevisíveis.

Há mentiras inofensivas e inúteis, mas há outras que prejudicam, fazem sofrer e até matam. A memória não deve ser o veículo dessas mentiras, e isso também é um imperativo ético.

Embora a memória seja dinâmica e esteja em contínua ressignificação, as revisões e reinterpretações não podem criar o que não aconteceu ou negar o aconteceu.  Existe um limite ético que, quando transgredido, transforma a ressignificação em esquecimento, em violação da memória.


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Andre Matos - Documentário "O Maestro do Rock"

14 de setembro  é o aniversário de Andre Matos, e em comemoração ao seu 50º aniversário foi lançado o documentário "O Maestro do Rock" (2021).

Enquanto aguardo para assisti-lo, estou ouvindo uma música dele por dia, durante 50 dias. 

Feliz aniversário, Andre.



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Maus, de Art Spiegelman

Estou de férias em casa e esse livro era o primeiro da minha lista de leituras obrigatórias.

Na verdade já figura nessa lista há muito tempo, mas confesso que eu estava evitando ler e pensar sobre o tema tão doloroso, o Holocausto.

Como fato histórico e trauma coletivo é documentado e debatido há décadas. Mas vislumbrar a dimensão pessoal da tragédia dos pais do autor, e como esse trauma incomunicável e inexplicável se transmitiu e moldou as gerações futuras é uma experiência de leitura e reflexão profundamente dolorosa e necessária.

Esse livro é um clássico por muitos motivos.  Pela linguagem inesperada dos quadrinhos, pela impotência e transparência do autor ao tentar contar a história da sua família de uma maneira tão verdadeira. Por fazer tudo que uma obra de arte  faz, que é expandir a nossa compreensão.

Não há palavras para expressar o que essas pessoas sofreram. O que a gente faz quando perde tudo? Quando todos os afetos são assassinados, desaparecidos? Como continuar vivendo?

A memória dos sobreviventes é cheia de dor e culpa. E medo. São feridas que o tempo não consegue curar, e que são transmitidas às gerações futuras, criando uma solidariedade intergeracional no trauma.

O talento e os desenhos do autor contam a história como ela deve ser contada. Eu, que não sou rato, nem gato, nem porco ou cachorro me senti como um fantasma.  A vontade era avisar aos ratinhos desavisados o mal que estava por vir mas, como fantasma, não era possível ser ouvida.

A lição para a leitora é lembrar do que aconteceu e alertar os ratinhos, gatinhos, porcos e cachorrinhos do futuro porque a História não se repete, mas às vezes rima.




 

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Todos os nomes da memória

Como será que as pessoas pelo mundo concebem e definem a memória?  Cada povo deve ter a sua própria perspectiva, e só conseguimos aprender e apreender quando entendemos contextualmente um conceito.

Então vamos começar pelo básico: qual é a palavra que designa a memória?

Amintire (romeno)

Memória, memoria, memory, mémoire, memoria: Espanhol, Português, Inglês , Francês, Italiano. Outras têm palavras que soam como memória, embora com a grafia diferente.

Erinnerung, ذاكرة (árabe), μνήμη (grego), Speicher, याद (hindi), זכּרון (íidiche), メモリー(japonês), mahara (maori), manatua (samoano), 記憶 (chinês).

Tantos idiomas! Eu gostaria de saber porque a memória recebeu esses nomes, qual a etimologia, o uso. Provavelmente escrevi errado alguns, mas até em outros alfabetos que eu desconheço a palavra é linda.

Vou colecionar os nomes da memória em outras línguas, juntamente com cornucópias, relógios de sol e xingamentos antigos.