segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Cada um na pandemia

O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.

Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois. 
Eclesiastes 1: 9-11


Essa citação da Bíblia é tão importante e esclarecedora, que me permite pensar o passado, o presente e o futuro em termos análogos.  Nem tudo o que foi há de ser, mas muitas coisas foram e continuam sendo.

Pensando na pandemia, o tema que molda as nossas vidas nos dois últimos anos, fiquei imaginando as outras pestes que passamos.  A Peste Negra deve ter sido análoga ao que ocorreu em 2020, e apesar dos quase sete séculos que separam o nosso presente daquele passado trágico, acho que podemos entender que:

a) Alguns governantes não acreditaram que a peste era real;
b) Outros acreditaram em remédios milagrosos e quejandas fábulas;
c) Outros implementaram medidas sanitárias.  Cobrir o rosto, lavar-se com frequência, realizar o distanciamento social e impor barreiras sanitárias são medidas descritas por pensadores da época como Ibn al-Khatib.
d) Havia os médicos - meio místicos,  meio sábios como o estágio inicial da ciência possibilitava - que arriscavam a sua vida para ajudar os outros.
e) E havia os nada sábios e mistificadores que se achavam médicos e arriscavam a vida dos outros.
f) Os outros eram como nós, que nada sabemos dessa ciência médica, ou de como fabricar remédios e vacinas, e só temos a experiência de epidemias passadas guardada na memória coletiva para nos guiar.

Eu estudei História e aprendi com ela. Lembrei da peste negra, da gripe espanhola, e da malária (nome geral dado na minha cidade à doença que matou milhares de pessoas), e com elas aprendi que a boa ventilação, iluminação, distanciamento, alimentação, higiene e proteção individual com luvas e máscaras pode ajudar muito.

A diferença é que em 2022 nós temos vacinas e medicamentos. A semelhança é que alguns não acreditaram que a pandemia é real; outros continuam acreditando em elixires milagrosos sem nenhuma evidência científica; outros tentam implementar medidas sanitárias, os profissionais da saúde continuam arriscando a vida para nos ajudar, ainda há charlatães e nós que nada sabemos, mas precisamos fazer  o que a memória ensina.

Há algo de novo debaixo do sol, e se chama conhecimento acumulado, que depende da nossa lembrança das coisas que precederam, e como vamos passá-la para  os que hão de vir depois.

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