sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Diálogo Surreal (17): Sobre ter e manter sonhos

Para os efeitos desse post, um sonho é um pão frito com creme de pasteleiro dentro.

Existem também sonhos de goiabada, mas a política deste blog é não prestar atenção neles.

Pois bem, hoje me dei ao desfrute de ir comer sonhos pela manhã, foi quando aconteceu mais esse diálogo surreal na minha vida:

- Bom dia!  (Essa sou eu, feliz por apenas estar em uma padaria, sentindo aquele cheiro maravilhoso de pão quentinho prestes a ser sacrificado).

- Bom dia.

- Moço, esse sonho é de hoje?

- Não.

- Tudo bem, sonho de ontem também é bom.  Por favor, eu quero os três.

- Não.  Esses eu não posso vender.

- Por que, já estão vendidos?

- Não, porque são de ontem.

- Veja, ontem é um passado recente.  Sonhos não morrem.

Ele já havia negado três vezes, levantou a cabeça e olhou-me nos olhos, antes de falar calmamente:

- Não posso vender porque esses  sonhos são para descarte.  A manipulação dos ingredientes reduz a vida útil do que já é perecível, então não são mais adequados para o consumo.

- Mas estão  tão lindos... (Essa sou eu, quase chorando ao pensar em sonhos desperdiçados).  Eu não me importo!

- E ele, como uma navalha de sonhos, disse: Pois devia. Próximo!

Fiquei arrasada, jurei que não ia voltar naquela padaria hoje, e não adiantou o padeiro tentar me consolar dizendo que mais tarde haveria sonhos novinhos.  Uma fornada só para mim.

Tudo foi arruinado hoje às 6:30, meus sonhos e minha relação com o padeiro.  Ele vai ter que se esforçar muito, colocar o triplo de recheio nos sonhos para poder voltar às boas comigo.



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