quinta-feira, 4 de abril de 2013

Solidariedade intergeracional, ou a falta dela.

Em um post anterior (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/solidariedade-intergeracional.html) refletimos sobre o princípio da solidariedade intergeracional e a sua importância para a transmissão da memória.

Há uma música, de que gosto muito, que fala sobre a questão da solidariedade intergeracional, ou a falta dela:  Herdeiro da Pampa Pobre (Osvaldir e Carlos Magrão):

"Mas que pampa é essa que eu recebo agora

Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a estória
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam as mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a estória
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam as mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Pra pagar uma porção de contas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai (2x)".

Gosto muito de refletir sobre poemas, e este em particular sempre me fez pensar.  No ano passado, tive a oportunidade de visitar a região denominada "Pampa", cujos herdeiros reclamam acima, e que se situa no Sul do Brasil, na área que abrange a fronteira com o Uruguai e Argentina.

Percebi que a paisagem do Pampa está mudando. Houve uma evidente mudança na economia tradicional, que está determinando uma profunda alteração da conformação espacial.  O plantio de árvores para corte, de um lado, obstacula a  amplitude (que para mim significa o pampa) e de outro lado, o desmatamento traz um cenário de desolação.

O resultado dessa mudança na paisagem, acredito, será a perda de inteligibilidade entre as gerações. As futuras gerações não vão compreender o que era a vida do pampa, sua economia pecuária e toda cultura que decorre disso (observem quantas referências no poema acima), porque será outro espaço e outro tempo.  A ruptura não é apenas econômica, é também simbólica.

Para conhecer a música, com Gaúcho da Fronteira: https://www.youtube.com/watch?v=nwPj0fr-2t4

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ei rapaz, faz um post falando como a solidariedade intergeracional mudou o conceito de arqueologia e seu objeto de estudo.
    ____________
    Falaê, eu dou ou não dou idéia boa?

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  3. Boa e complexa. Vamos discutir esse assunto, que muito me interessou!

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