quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Curando a memória coletiva: a postura ativa dos cidadãos frente aos traumas da História
Existem fatos, ações e pessoas que não podem e não devem ser esquecidos porque servem de modelos positivos e alicerce para o desenvolvimento da sociedade, ou representam experiências que não devem ser repetidas. Tais elementos, quando capazes de marcar profundamente a existência de uma comunidade, precisam ser mantidos presentes na memória individual e coletiva, a fim de que se possa compreendê-los, questioná-los, evitá-los no futuro e, se necessário, sanar as suas conseqüências (DANTAS, 2010). Muitas sociedades mantêm vivos os fatos considerados importantes através de rituais, co-memorações e até mesmo protestos. O grande desafio na cura dos traumas coletivos é realizar a "transição" para um tempo em que REALMENTE sejam respeitados os direitos humanos e os direitos fundamentais, com a devida responsabilização civil e penal daqueles que violaram o dever jurídico do governar para a melhoria das condições de vida do povo. Hoje, no mundo árabe, existem sociedades que iniciaram o processo de transição de governos ditatoriais que duraram décadas. Quantas pessoas foram presas ilegalmente? Torturadas e assassinadas só porque têm uma opinião diferente do governante? Quem se locupletou com a falta de controle e crítica das instituições e dos cidadãos que temiam por sua segurança? Após o restabelecimento da ordem, é preciso cobrar responsabilidades. Outras vezes, a memória coletiva apenas exige que o fato não seja esquecido. É o caso do protesto dos chineses contra o Ministério da Educação Japonês, que deliberadamente omitiu dos livros didáticos os crimes de guerra cometidos na China no período compreendido entre a década de 30 e o final da Segunda Guerra Mundial. A revolta neste caso era contra o esquecimento do extermínio de vinte milhões de chineses pelo Exército Japonês, além das torturas, estupros em massa e uso de guerra bacteriológica (epidemia de peste bubônica provocada) nas províncias de Hunan e Zhejiang. A omissão desses fatos nos livros de História, teme-se, poderia culminar no seu esquecimento e conseqüente impunidade (CORDEIRO, 2005, p. 164-165). Cada geração encontrará seus próprios meios de lidar com os traumas do passado: transformar o tema em tabu, obrigando ao silêncio coletivo que pode levar ao esquecimento, ou adotar medidas proativas para superar, não esquecer. Uma proposta interessante de superação foi da japonesa Anri Suzuki, conforme notícia veiculada no síte http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2010/06/japonesa-oferece-sexo-para-pagar-divida-de-guerra-com-china.html: ______________________ "Uma atriz pornô japonesa está oferecendo relações sexuais com estudantes chineses para se desculpar pela Segunda Guerra Sino-Japonesa de 1937. Doutora no assunto, Anri Suzuki, de 24 anos, se comoveu com a história da invasão japonesa na China nos anos 1930 e quer usar seu próprio corpo para se desculpar com a nova geração de chineses. Anri fez a oferta para alunos chineses que estão em Tóquio e acabaram de estudar o assunto. "Temos que respeitar a história e, embora não consigamos mudá-la, temos que tentar recompensar os chineses", argumentou a professora. "Quero curar as feridas da China com o meu corpo e estou me oferecendo para fazer sexo com estudantes chineses que estão no Japão". Segundo Anri, esta seria uma compensação simbólica para os chineses. _____________________ Respeito a iniciativa, e se a notícia for verdadeira, será um ótimo exemplo de postura ativa (e passiva) para superar traumas individuais fundados em acontecimentos coletivos. É assim que se constrói laços de solidariedade: cada um dá o que tem. Entretanto, tenho dúvidas quanto aos resultados práticos da proposta. Primeiro porque a senhora Suzuki escolheu a maior população da Terra, vai ter que demonstrar muita disposição para consolar todos os chineses. Depois, vai ter que se esforçar muito para agradar porque não é fácil superar uma memória tão trágica. E finalmente, acho que a proposta pode ser ofensiva para as gerações que compartilham essa memória dolorosa. Neste caso, acho que a melhor solidariedade é ficar em silêncio respeitoso, lembrar das vítimas, homenageá-las e rezar por elas. REFERÊNCIAS CORDEIRO, Tiago. Crime sem perdão. Veja, São Paulo, nº 18, p. 164-165, 2005. DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010.
A coisa começou até bem nesse post, mas...
ResponderExcluirOnde tu vai buscar esse tipo de informação?
Depois da lei do Malawi, esta da professora consoladora de chinês foi fora de série!
Um exemplo de reconhecimento da tragédia das "mulheres conforto": http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/12/coreia-do-sul-e-japao-alcancam-acordo-sobre-escravidao-sexual.html?utm_source=facebook&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar
ResponderExcluirAtualização https://br.noticias.yahoo.com/tribunal-constitucional-sul-coreano-rejeita-recurso-mulheres-conforto-164242830.html
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