quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Memórias de uma Guerra Suja - Livro de Marcelo Netto e Rogério Medeiros

Passei esta semana lendo o livro "Memórias de uma Guerra Suja", de Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que publicaram e analisaram o relato do Sr. Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS do Espírito Santo, que segundo conta foi um ativo personagem no aparelho repressivo do Estado Brasileiro no período da ditadura militar de 1961-1988 (cf. post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/09/memoria-brasileira-ditadura-de-1961-1988.html)

Há muitos anos tenho o hábito de fichar tudo o que eu leio, e ultimamente estou estudando formas de sintetizar ao máximo (com  completude) minhas leituras.  Nessa minha fase minimalista, pude entender o seguinte do sinistro relato:

1) Havia um grupo de parceiros, denominado "Comunidade da Informação", composto por pessoas civis, servidores públicos civis e militares, que utilizavam a informação para combater a subversão.  Essa comunidade era a base do aparelho repressivo do Estado.

2) A parceria acontecia por motivos diversos: ideológicos (combater o mal comunista), financeiros (aproveitar as benesses da instransparência ditatorial); distúrbios psicológicos (gostar de machucar outras pessoas), e pelo desejo de obter e manter-se no poder, com todos os privilégios diretos e indiretos que a posição traz.  Havia também aqueles que orbitavam apenas para "frequentar", mas que não eram membros efetivos.

3) O Sr. Cláudio Guerra afirma ter sido o executor de pessoas e ações, por motivos ideológicos e hierárquicos.

4) Sozinho ou acompanhado foi responsável direto pela morte das seguintes pessoas:  Nestor Veras, Ronaldo Mouth Queiroz,  Emanuel Bezerra dos Santos, Manoel Lisboa, Manoel Aleixo, Ismael Veríssimo, Tenente Odilon.

5) Sozinho ou acompanhado foi responsável pela ocultação dos cadáveres dos seguintes desaparecidos: Merival Araújo, João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski Silva, Wilson Silva, David Capistrano, João Massena, Fernando Santa Cruz Oliveira, Eduardo Coleia Filho, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão, Almir Custório, Ranúsia. 

6) A maioria dos restos mortais foi incinerada em uma usina.  Mas esclarece a existência de quatro cemitérios clandestinos.

7) Ainda esclarece que foi responsável pela explosão da Rádio Nacional em Angola (27/05/1977), e participou de diversos atentados para sabotar o processo de redemocratização, inclusive o atentado no Riocentro.

Apesar desse complexo relato exigir uma extensa corroboração antes de ser considerado fidedigno, recomendamos a leitura atenta desse livro a todos aqueles que acompanham os trabalhos da Comissão da Verdade e estudam a memória desse período.

Referência

MEDEIROS, Rogério & NETTO, Marcelo.  Memórias de uma guerra suja. Rio de Janeiro:  Topbooks, 2012.


Um comentário:

  1. Cláudio Guerra denunciado por ocultação de cadáver em 24/07/2019. Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/08/01/mpf-denuncia-ex-delegado-do-dops-por-ocultacao-e-destruicao-de-cadaveres.htm

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