segunda-feira, 14 de julho de 2014
Copa do Mundo do Brasil 2014: reflexões de conclusão
A Copa do Mundo no Brasil (2014) foi um evento memorável. O Brasil, que já respira futebol normalmente, experimentou o que significa sediar um evento desse porte, e o fato de termos jogos espalhados por várias capitais contribuiu para um maior envolvimento das pessoas e lugares.
Vou lembrar do antes, do durante e do depois.
Como fatos notáveis do "antes" podemos destacar toda a discussão política sobre prioridades, gestão e planejamento que culminaram em um movimento pela não realização da Copa do Mundo. Havia muitas dúvidas quanto à capacidade de realização do evento em razão dos cronogramas estourados (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/04/conhece-te-ti-mesmo-brasil-procrastinar.html), e a sensação de que muito do que foi planejado não seria executado por falta de tempo.
Enfim, habemus Copa. E tudo correu muito bem, para quem experimentou o mundial através da televisão. Para a maioria dos milhões de telespectadores, a Copa do Mundo do Brasil foi como qualquer outra. O que se destacou mesmo foram os jogos, sempre tão imprevisíveis e emocionantes.
A minha cidade foi sede de cinco jogos da Copa, e por isso a nossa rotina mudou bastante. Não conseguimos viver normalmente porque não tínhamos a estrutura para um mega-evento. Em dias de jogo, foi preciso decretar feriado.
Sem dúvida, o fato mais marcante para os brasileiros foi a derrota na semifinal para os alemães pelo placar de 7 X 1. Embora o brasileiro sinta uma necessidade visceral de ganhar (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-1.html), a derrota em si não seria um problema.
O trauma coletivo foi causado pela sequência incompreensível de gols. Cinco gols em 29 minutos do primeiro tempo foi algo que nós nunca vimos. Ainda no primeiro tempo, ninguém mais pensava em lutar, reagir ou que a seleção teria a mínima chance de empatar: o que todo mundo queria era que o jogo acabasse logo para a derrota não ser pior.
Se 5 a zero no primeiro tempo foi ruim de engolir, pior foi a sensação de que poderia chegar a 10, 12. E quando a seleção levou mais dois gols no segundo tempo, sentimos que ainda saiu barato porque cabia mais.
Não há como descrever a percepção do trauma coletivo. No dia seguinte ao jogo, em todos os lugares, as pessoas só falam disso: vergonha, decepção, trauma, tristeza. Foi só um jogo de futebol, mas para os brasileiros o futebol supera o mero jogo: é patrimônio cultural (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/memoria-brasileira-o-futebol-patrimonio.html) e integra o nosso modo de viver e sentir, e somos educados para isso.
Ainda hoje, passada quase uma semana, se alguém (eu) puxar a conversa sobre a derrota para a Alemanha, as mesmas sensações afloram. E ninguém parece ter ligado para a nossa derrota para a Holanda na disputa pelo terceiro lugar.
Foi interessante notar que, mais uma vez, essa suposta rivalidade inventada com a Argentina sofreu um intenso reforço midiático. Inventada, sim, e transmitida através das gerações. O fato da Argentina disputar a final foi tratada como um "castigo adicional contra" os brasileiros. Quanta bobagem.
Não sei se por rivalidade inventada com a Argentina, ou para nos permitir a saída honrosa de perdermos para os campeões, o fato é que muita gente estava torcendo pela Alemanha. Quando saiu o gol, parecia um carnaval, todo mundo gritando, se abraçando, e soltando os fogos guardados desde o São João para essa ocasião.
Passado o mundial, muitos questionamentos apontaram, por exemplo: "qual o peso da derrota da seleção para as eleições presidenciais"? Sério?!
Sério sim, futebol e política sempre se misturaram no Brasil.
Foi o tempo também de pensar nas "lições" que o mundial deixou... Todo dia vejo nos jornais, blogs e redes sociais a indicação dessas lições. Se houve alguma, aqui no blog nos cabe perguntar até quando vamos nos lembrar delas.
Em 1950, o Brasil perdeu a final da Copa do Mundo para o Uruguai, em um evento que ficou conhecido como Maracanazo. Esse foi o pior trauma futebolístico do Brasil até o fatídico jogo contra a Alemanha no Estádio do Mineirão.
ResponderExcluirEssa derrota memorável ficou conhecida como Mineirazo ou Mineiratzen (ha, ha) e sem dúvida suplantou a anterior.
Apenas para registrar. Algumas pessoas tentaram realizar um paralelo impossível entre o Mineirazo e tragédias reais, como 11 de setembro. Absurdo.
ResponderExcluirResolvi fazer uma pesquisa informal sobre a memória desse jogo com a Alemanha. Escolhi um grupo de controle, e a cada período de tempo (mais ou menos uns dois meses), durante um ano, vou perguntar as impressões sobre o jogo. Vamos ver se há o arrefecimento ou transformação da memória.
ResponderExcluirEstou anotando tudo em um caderno de campo e não vou dizer aos entrevistados o que eu estou fazendo. Estou curiosa, só isso.
A seleção robótica da Alemanha ganhou por 11 x 1 da seleção brasileira na Robocup: http://globoesporte.globo.com/pb/noticia/2014/07/alemanha-vence-o-brasil-por-11-1-em-copa-do-mundo-de-robos-na-paraiba.html.
ResponderExcluirA "lições" da Copa do Mundo foram esquecidas? Onde estão as discussões sobre planejamento, prioridades e etc?
ResponderExcluirO Brasil vou continuar se surpreendendo e chocando sistematicamente só porque não guarda experiências na memória institucional?
Nessa semana vi o surgimento de um novo ditado popular: "mais imprevisível do que 7 a 1", utilizado quando não se espera de jeito nenhum que alguma coisa aconteça. Uma surpresa absolutamente chocante.
ResponderExcluirEstá na hora de ver se as pessoas já esqueceram o Mineiratzen. Vou começar a minha pesquisa informal com o grupo de controle.
ResponderExcluirNesse momento de virada de ano, onde as retrospectivas são uma obrigação (oh, memória mais que seletiva), a goleada da Alemanha lidera. Do nosso ponto de vista, é listada como uma das tragédias ou fatos mais pessimamente marcantes do ano. Acredito que a memória dos alemães sobre o fato será ligeiramente diferente, não é?
ResponderExcluirLições aprendidas, não sei dizer. Mas com certeza 7x1 virou parâmetro para várias coisas. Por exemplo, em uma reunião na semana passada, um colega disse que "se o planejamento não for adequado, a gente vai levar de sete a um". Sete a um, nesse contexto, era o pior cenário possível.
ResponderExcluirDepois de tudo que está acontecendo na FIFA - prisão de dirigentes, renúncia de Blatter, "ameaça" de ligas e campeonatos paralelos - parece que a Copa do Brasil ainda não chegou ao fim.
ResponderExcluirAfinal, por que Trinidad y Tobago está sendo tão citada no chamado "novo escândalo da FIFA"?
ResponderExcluirhoje, 01/07/2015, várias manifestações nas redes sociais comemorativas do jogo Brasil 1 X 7 Alemanha. Ainda dói.
ResponderExcluirkkk http://www.kibeloco.com.br/2015/07/01/e-hoje-62/
ResponderExcluirkkk http://sensacionalista.uol.com.br/2015/07/01/cunha-quer-novo-brasil-e-alemanha-para-tentar-virar-o-7-a-1/. Pode até ser, já que como dizia Joelmir Beting: "No Brasil, até o passado é imprevisível".
ResponderExcluirkkk http://www.kibeloco.com.br/2015/07/08/7x1day/
ResponderExcluirEngraçado, vi três datas de comemoração: 01/07/2015, 07/01/2015 e 8/07/2015, data em que efetivamente ocorreu o jogo. As duas primeiras fazem a óbvia referência ao placar, mas essa profusão de datas comemorativas me fala da necessidade de externar um sentimento específico. O resultado é que faz uma semana que os brasileiros lembram do fato.
ResponderExcluirUm vereador da cidade de Campinas (SP) propôs a criação do dia municipal do "Gol da Alemanha" para lembrar o fatídico 7X1. A justificativa? Seria uma data de reflexão sobre o esporte.
ResponderExcluirNão acredita? http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2015/08/04/vereador-de-campinas-quer-instituir-dia-do-e-gol-da-alemanha-no-municipio.htm
Em outubro de 2015 o Tribunal de Contas da União (TCU) emitiu parecer recomendando a rejeição das contas da Presidente Dilma Rousseff do ano de 2014 ao Poder Legislativo, que detém a competência para a decisão. Isso, supostamente (e dificilmente) seria motivo para o impeachment.
ResponderExcluirPor oito votos a zero, o parecer do relator foi aprovado, o que levou as pessoas a considerar que foi uma goleada maior do que a da Alemanha: cfhttp://www.sulconnection.com.br/noticias/1678/dia-para-ficar-na-histria-dilma-leva-8-a-0-e-tcu-supera-goleada-da-alemanha.
Definitivamente, aquele jogo virou um parâmetro que ingressou em nossa memória coletiva
O "7x1" ainda dói. Ontem, quando a Câmara autorizou a abertura de impedimento por um placar de 367 (votos sim) contra 137 (votos não), e 7 abstenções, o paralelo foi imediato.
ResponderExcluirO Brasil venceu nessa semana a seleção do Haiti por 7 x 1. Embora muita gente atribua a esse fato o significado de alguma forma de recuperação da honra, efetivamente isso não é possível. O passado é irreversível, nada vai mudar o 7X1 que o Brasil levou. Nada. Essa história só pode piorar.
ResponderExcluirE se torna visivelmente impossível quando o Brasil é eliminado da Copa América pelo Peru, com placar de 1 a 0.
ResponderExcluirOntem, 0807/2016, a derrota do 7X1 foi lembrada. Ainda dói, apesar de tudo que aconteceu nesses últimos dois anos no Brasil.
ResponderExcluirEspera aí... A final olímpica do futebol masculino vai ser entre Brasil e Alemanha. É isso mesmo?
ResponderExcluirNão. O 6X0 no jogo contra Honduras NÃO encerrou a maldição da seleção brasileira de futebol. 7X1 jamais será esquecido. http://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-6-a-0-encerram-a-maldicao-dos-7-a-1-por-scott-moore/
ResponderExcluirkkk. http://www.kibeloco.com.br/2016/10/05/eterno-em-nossos-coracoes/
ResponderExcluirEstão vendo? http://www.infosaj.com.br/index/noticias/id-102487/pesquisadores_apontam_que_7_x_1_na_copa_do_mundo_influenciou_o_impeachment_de_dilma
ResponderExcluirO 7x1 teve um efeito colateral importante no Piauí. Lá agora se torce para a Argentina kkkk: https://www1.folha.uol.com.br/esporte/2018/06/descrentes-torcedores-pintam-rua-com-cores-da-argentina-no-piaui.shtml
ResponderExcluirSem dúvidas, houve uma mudança no comportamento das pessoas na minha cidade em relação à Copa do Mundo. Não vi fantasias e bandeirinhas, e eram raras as camisas da seleção.
ResponderExcluirVeja bem, torcer para o México não anula o 7X1. E o efeito colateral é que a Alemanha pode vir a jogar com o Brasil pela próxima fase. Pior do que perder na semi-final é nem chegar lá, verdade?
ResponderExcluirHoje a Alemanha jogou com a Suécia. Os brasileiros estavam torcendo contra a Alemanha, um pouco por vingança do 7 x 1, mas muito por medo de cruzar com ela nas fases seguintes da Copa do Mundo. Saiu até um #ZicaPraAlemanha, mas não adiantou porque ganhou da Suécia.
ResponderExcluirCf. https://esporte.uol.com.br/futebol/copa-do-mundo/2018/noticias/2018/06/23/zicapraalemanha-brasileiros-criam-hashtag-para-comentar-jogo-da-alemanha.htm
A Alemanha foi eliminada da Copa do Mundo de 2018. Inevitavelmente, surgiram muitos memes. Mas nenhum deles é capaz de mudar o passado, brasileiros. 7x1 é para sempre.
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