quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Carnaval: reflexão etnográfica

Essa  série do blog foi criada para analisar as festividades/situações sociais em que nos metemos periodicamente.  Não são necessariamente comemorações oficiais, mas servem para compor o mosaico do nosso modo de ser, viver e sentir.  Iniciamos com uma reflexão sobre o Chá de Panela (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/cha-de-panela-reflexao-etnografica.html), para mim sempre motivo de mistério e questionamento;  depois refletimos sobre a particularíssima forma de comemorar formaturas, em festas que duram dias e noites (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/cerimonias-de-formatura-reflexao.html, e finalmente, a anacrônica e não menos intrigante festa de debutantes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/festa-de-15-anos-reflexao-etnografica.html).

Agora o assunto é sério, vamos falar de carnaval.

O carnaval brasileiro não é uniforme em todas as regiões.  Em alguns lugares parece que o mundo acabou ou virou de cabeça para baixo, as leis foram reinventadas e nada será como era antes.  Em outros lugares, não existe carnaval ou, se existe, é tão  sutil que eu não o reconheceria enquanto tal.

Afirma-se que é uma festa de inversão, e isso é bem verdade aqui na paisagem onde habito. Contrariando a prática normal, é um exemplo de planejamento.  Quando o carnaval termina, no dia seguinte já estão (amos) planejando o próximo.

Algumas verdades precisam ser ditas sobre os carnavais do meu lugar:

1) A festa não dura só quatro dias. Normalmente há o sábado de Zé-Pereira, o domingo de carnaval, a segunda, a terça-feira gorda e a quarta-feira de cinzas, que não deveria ser dia de festa, mas acaba sendo.  Oficialmente, em Olinda estendemos o carnaval até a quinta-feira do Batata.  A sexta-feira é nebulosa, nada funciona, o sábado da retomada, o domingo da despedida, e aí é o fim. Na segunda, começamos a pensar no carnaval do ano seguinte.

Tenho a firme convicção de que, sendo o carnaval geralmente em fevereiro, deveríamos ter a coragem de imprensar logo o mês de janeiro e acabar com toda essa angústia.

2) As prévias carnavalescas não acontecem apenas no período imediatamente anterior à folia.  Entre nós, começam em setembro.  Desde setembro de 2014 escuto os ecos do carnaval em bailes, acerto de marcha dos blocos, ensaios, enfim, tudo muito profissional e planejado.

3) Aqui nós não brincamos o carnaval, o pulamos.  Nós pulamos carnaval e levamos tudo muito a sério.  Não dá para chamar isso de brincadeira.

4) Outras especificidades já tratadas anteriormente: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/02/carnaval-2012.html.

Enfim, como essa é uma reflexão etnográfica, tenho que falar sobre a minha experiência carnavalesca. Eu fui criada em uma família de foliões, e adestrada para amar o carnaval e dele participar com todas as minhas forças.

Durante muito tempo, e em cada fase da vida, frequentei festas.  Quando criança, ia às matinês dos clubes, ambientes controlados onde os pimpolhos em formação recebem as lições preliminares.  Depois, quando adolescente, caí na farra das ruas, que caracteriza o nosso carnaval.

Aqui abro parênteses para dizer que não consigo entender carnaval dentro de cordão de isolamento ou em desfiles de escola de samba como no Rio de Janeiro. O meu carnaval é solto e esfregado, com muito contato humano.

O carnaval de rua é um interessante e louco exercício de liberdade.  Cada um se fantasia como pode e como quer, faz o que quer, bebe o que quer.  Infelizmente, há sempre aqueles que querem fazer o mal, então é também uma oportunidade para a prática de crimes.  Foi por causa desse tipo de ocorrência que eu renunciei à festa.

Quem pula carnaval com espírito de liberdade e festa, acredito, ganha uma experiência inesquecível.  Tenho recordações maravilhosas, fui passista, dancei pelas ruas da minha cidade, falei e cantei com desconhecidos que eu nunca mais vou ver, contrariando todos os conselhos maternos, e que estavam ali só para ser felizes.

O carnaval é um encanto de se ver. Adoro as fantasias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/fantasias-de-carnaval-reflexao-e.html), adoro as músicas centenárias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/marchas-de-carnaval.html), adoro a diversidade de expressões culturais que aparecem nessa ocasião: maracatus rurais e nação, caboclinhos, afoxés, blocos loucos, gente alegre e um humor que faz falta no resto do ano. 

Confesso que apesar de ter desistido do carnaval, quando chega a época fico com muita vontade de sair pulando (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/03/o-significado-do-carnaval.html).  Quem sabe em 2015 eu me desaposento?

9 comentários:

  1. Não me desaposentei. Passei o carnaval de 2015 na minha toca e bem longe da agitação. Melhor assim.

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  2. Acabei de receber uma mensagem informando que faltam apenas 100 dias para o carnaval de 2016. kkk


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  3. Esperando o ano começar após o carnaval 2017.

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  4. Fevereiro, agora a coisa ficou séria. A terça-feira gorda é dia 28/02, mas desde o sábado anterior (de Zé Pereira) começam oficialmente os festejos.

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  5. Como eu posso estar atrasada para um carnaval que nem começou?

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  6. Ai, ai, ai, nesse ano estou com vontade de ir.

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  7. Carnaval e situações bizarras. Pensei em escrever um post da série "diálogo surreal" mas, definitivamente, não era o caso. Olha o que me aconteceu no dia 27 de janeiro:

    Lá vou eu, às cinco da manhã, tentar correr para manter as promessas de Ano Novo. Encontrei um grupo de foliões fantasiados saindo de alguma festa, o que não é de admirar já que estamos em prévias carnavalescas desde setembro do ano passado. Então, um deles vira para mim e pergunta: "essa tua fantasia é de que?".
    - Não é fantasia, é roupa de ginástica.
    E eles saíram rindo, zombando da minha cara, da minha tentativa ridícula de ser fitness.
    Naquele momento eu poderia ter desistido de tudo, mas fui lá e fiz a minha parte.
    Se aprendi alguma lição? Se beber, não dirija a palavra a Fabianas.

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  8. Esperando o ano começar após o carnaval 2019.

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