domingo, 5 de julho de 2015

Diálogo surreal (10): sobre planejamento, ou a falta dele.

Esse diálogo aconteceu com o meu marido, que então era meu namorado há pouco tempo, sobre a decisão de realizar uma viagem de aventura pelo Rio São Francisco, junto com um amigo.  A idéia era buscar um barco que o pai do amigo havia dado de presente.

Eu fiquei preocupada, é claro, pois nenhum deles conhecia o rio ou a área, então aconteceu o diálogo surreal:

- Fabiana:  Mas vocês decidiram isso assim, de uma hora para outra?
- Marcelo:  Foi.  O pai dele deu um barco de presente, e a gente resolveu ir buscar.  Levar o barco da cidade onde ele mora até Petrolina, e depois trazer para cá.
- Fabiana:  Até Petrolina? Mas não é muito longe?
- Não, a gente vai estar de barco, então deve ser mais perto.
- E quanto tempo isso vai levar, Marcelo?
- Mais ou menos quatro dias.  A gente está calculando entre quatro e vinte dias.
- Quatro E vinte dias?  Que espécie de cronograma é esse?
- É mais ou menos.
- Estão levando comida suficiente?
- Estamos levando comida para dois dias.
- Mas, o mínimo é quatro dias, como isso pode ser?
- É porque lá tem lugar para comprar comida, não precisa levar tanto.
- E os equipamentos?
- São esses aí.
- Mas não tem nada de útil.  Vocês não vão acampar?  Cadê a barraca?
- A gente vai dormir no barco.
- Corda? Faca? Alguma coisa para cozinhar, fogareiro?
- Não precisa de nada disso, porque a gente é roots.
- Cadê o mapa?
- Não precisa de mapa, a gente vai descendo o rio São Francisco.
- E como vocês vão fazer para atravessar as barragens das hidrelétricas?
- Que barragens?
- No caminho de vocês tem pelo menos duas gigantescas.  Outra coisa:  vocês sabem dirigir esse tipo de barco?

Foi nesse momento que o amigo dele interrompeu, e pôs fim ao diálogo assim:

-Fabiana, pare de fazer perguntas difíceis.  Não tem mistério, a gente só vai buscar um barquinho.  Mulher se preocupa com cada detalhe.

____________

Aprenda-se a lição:  planejar não tem nada a ver com gênero.  Todos precisam de planejamento.
Graças a Deus, voltaram depois de 18 dias, magros e laranjados porque o combustível do barco espirrou neles, e acabaram se queimando ao sol.  Detidos pela polícia, quase assaltados na estrada, trouxeram um barco furado que virou troféu, e muitas estórias para contar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário