O garimpo em Serra Pelada produziu imagens inesquecíveis, para mim, da degradação humana e ambiental.
Nos idos de 1980, a televisão e as revistas mostravam cenas de um formigueiro humano, cavando, cavando, cavando em busca de ouro. A região chegou a ser considerada "El Dorado" brasileiro, e alimentava os sonhos e delírios de riqueza daqueles que se iludiram atrás da próxima pepita.
Pessoas curvadas e cheias de lama até os olhos, carregando fardos de terra às costas. Milhares, milhares. Subiam e desciam em um imenso buraco, parecendo querer chegar à China. Sim, naquela época eu realmente acreditava ser possível construir um túnel até lá, passando pelo centro da Terra. Mas meu pai, que é geólogo e não tem paciência com sonhos infantis, tratou de esclarecer que eu provavelmente morreria queimada porque o centro da Terra é muito quente.
Depois que eu li a Divina Comédia, pareceu-me que Serra Pelada seria a perfeita representação do Purgatório, em que as pessoas ficam até conseguirem alcançar o Paraíso, que no caso dos garimpeiros viria em forma de uma grande pepita.
Olhando o passado, não consigo lembrar ou perceber se as notícias eram favoráveis ou contra o modo como o garimpo foi exercido. Para mim, pareceu um grande dano ambiental e sócio-cultural, mas não consigo lembrar se era considerado assim. Talvez todo mundo ficasse orgulhoso do Brasil possuir o maior buraco do mundo, sei lá.
Acredito que se a mina de Serra Pelada for reativada, aquelas cenas não mais poderiam se repetir. Imagino que não haveria a possibilidade de garimpeiros autônomos/aventureiros, e que certamente seriam adotadas medidas compensatórias e mitigadoras dos danos ambientais.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Capoeira em 2013
A capoeira é um jogo de destreza corporal, que envolve golpes de luta executados como se fossem dança, de forma ritmada. Essa é uma das características marcantes da capoeira: a onipresença do ritmo, da música.
Essa manifestação cultural é muito rica de significado, e o fato de ser executada em grupo, porque ninguém faz uma roda de capoeira sozinho, propicia o estabelecimento de relações sociais complexas, com hierarquias, diálogos, conspirações. A roda de capoeira é um espaço de socialização muito interessante.
Aqui no blog já tivemos a oportunidade de refletir sobre essa manifestação no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/04/sobre-capoeira-patrimonio-imaterial.html.
Mas hoje o motivo de estar pensando nela é diferente. Resolvi que em 2013 vou voltar a jogar.
Eu joguei capoeira há 10 anos e 25 kilos. Parei de jogar por questões pessoais que, vendo agora, seriam totalmente superáveis e não exigiriam que eu parasse de praticar. Não há falta de tempo, nem desânimo para quem é disciplinado e tem apetite pela prática.
Joguei capoeira por uns oito anos, e embora tenha parado, nunca a esqueci. Toda vez que via uma roda, aquela vontade imensa de jogar voltava, aquela alegria voltava, pena acabar assim que eu tentava levantar a perna e não mais conseguia.
Mas agora que no ano novo começou, tudo mudou.Vou mudar de estilo de capoeira, serei uma capoeirista muito melhor, para recuperar o tempo perdido. Vou estudar berimbau, porque nunca fui muito boa tocando (vixe, meu berimbau era desafinado. Isso é possível?), e também vou tentar memorizar as letras dos toques, porque confesso que enrolava um bocado enquanto cantava.
Boa sorte para mim!
Essa manifestação cultural é muito rica de significado, e o fato de ser executada em grupo, porque ninguém faz uma roda de capoeira sozinho, propicia o estabelecimento de relações sociais complexas, com hierarquias, diálogos, conspirações. A roda de capoeira é um espaço de socialização muito interessante.
Aqui no blog já tivemos a oportunidade de refletir sobre essa manifestação no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/04/sobre-capoeira-patrimonio-imaterial.html.
Mas hoje o motivo de estar pensando nela é diferente. Resolvi que em 2013 vou voltar a jogar.
Eu joguei capoeira há 10 anos e 25 kilos. Parei de jogar por questões pessoais que, vendo agora, seriam totalmente superáveis e não exigiriam que eu parasse de praticar. Não há falta de tempo, nem desânimo para quem é disciplinado e tem apetite pela prática.
Joguei capoeira por uns oito anos, e embora tenha parado, nunca a esqueci. Toda vez que via uma roda, aquela vontade imensa de jogar voltava, aquela alegria voltava, pena acabar assim que eu tentava levantar a perna e não mais conseguia.
Mas agora que no ano novo começou, tudo mudou.Vou mudar de estilo de capoeira, serei uma capoeirista muito melhor, para recuperar o tempo perdido. Vou estudar berimbau, porque nunca fui muito boa tocando (vixe, meu berimbau era desafinado. Isso é possível?), e também vou tentar memorizar as letras dos toques, porque confesso que enrolava um bocado enquanto cantava.
Boa sorte para mim!
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Memória do Mundo no Brasil: exposição
O Arquivo Nacional fará uma exposição dos documentos brasileiros inscritos no programa Memória do Mundo, da UNESCO: http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1606&sid=40.
Aqui no nosso blog, no item"Para ver e não esquecer", há um link para a coleção de fotografias da Imperatriz D. Thereza Christina Maria, que é absolutamente deslumbrante.
Aqui no nosso blog, no item"Para ver e não esquecer", há um link para a coleção de fotografias da Imperatriz D. Thereza Christina Maria, que é absolutamente deslumbrante.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Cueca Sola
É uma manifestação memorial das mulheres chilenas, que denunciam o desaparecimento dos seus entes queridos, dançando com as suas fotografias.
Os desaparecidos e as senhoras que dançam são vítimas do regime ditatorial chileno, marcado pela violação dos direitos humanos, como de resto aconteceu em outros Estados da América do Sul, tais como o Brasil, o Paraguay e Argentina.
Sempre considerei essa manifestação notável, e creio que consegue expressar admiravelmente a sensação de perda e solidão que o desaparecimento forçado de pessoas provoca. Confira o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=SQzu4R6LRps
Algumas informações sobre la Cueca Sola:
http://www.uchile.cl/noticias/81574/investigadora-expuso-trabajo-sobre-la-cueca-sola-en-el-icei
O compositor Sting cantou a música "They dance alone": http://www.youtube.com/watch?v=MS_bN5ECJTI.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Madain Saleh
Cidade escultural, patrimônio arqueológico que remonta à época dos nabateus, vai ser aberta à visitação pública. Localizada na Arábia Saudita, visitação era proibida e agora foi liberada: cf. http://noticias.terra.com.br/ciencia/arabia-saudita-expoe-joia-milenar-oculta-por-ordem-religiosa-ha-81-anos,04dee5515f1fc310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html.
Vale a pena fazer uma pesquisa de imagens do sítio. Absolutamente deslumbrante.
Sinceramente, não sei mais o que vou fazer da minha vidinha, se todo dia aparecer um lugar lindo desses para visitar. A minha lista de desejos turísticos é muito extensa, fica difícil de administrar em uma vida só.
Olha ai o que ainda vou visitar um dia:
1- Etiópia
2 - Egito
3- Grécia
4 - Turquia
5 - Rota da Seda terrestre e marítima, e todos os países que dela constem
6- Nepal
7 - China
8- Índia
9 - Japão
10- Tibet
11- Iraque
12 - Romênia
13- Macedônia
14-Austrália
15-Peru
Só para citar os quinze primeiros. Agora vou ter que refazer a minha lista a partir de Petra, já que Madain Saleh também exige visitação.
Ah, sim. Não se deixem enganar porque eu utilizei os atuais nomes dos Estados-Nação. Eu quero mesmo é visitar a Mesopotâmia, as cidades-Estado gregas, a Gália, o Reino de Sabá e navegar pelo Mare Nostrum.
Vale a pena fazer uma pesquisa de imagens do sítio. Absolutamente deslumbrante.
Sinceramente, não sei mais o que vou fazer da minha vidinha, se todo dia aparecer um lugar lindo desses para visitar. A minha lista de desejos turísticos é muito extensa, fica difícil de administrar em uma vida só.
Olha ai o que ainda vou visitar um dia:
1- Etiópia
2 - Egito
3- Grécia
4 - Turquia
5 - Rota da Seda terrestre e marítima, e todos os países que dela constem
6- Nepal
7 - China
8- Índia
9 - Japão
10- Tibet
11- Iraque
12 - Romênia
13- Macedônia
14-Austrália
15-Peru
Só para citar os quinze primeiros. Agora vou ter que refazer a minha lista a partir de Petra, já que Madain Saleh também exige visitação.
Ah, sim. Não se deixem enganar porque eu utilizei os atuais nomes dos Estados-Nação. Eu quero mesmo é visitar a Mesopotâmia, as cidades-Estado gregas, a Gália, o Reino de Sabá e navegar pelo Mare Nostrum.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
CAMPANHA PELA REVITALIZAÇÃO DE CONHECIMENTOS TRADICIONAIS
Essa é mais uma campanha deste blog engajado. Queremos reaprender conhecimentos e tecnologias que integram o patrimônio cultural da Humanidade, mas que hoje foram privatizados ou são propriedade de poucos.
Pela democratização do conhecimento tradicional e pelo resgate daquilo que a Humanidade sabe fazer desde tempos imemoriais! Começamos pela técnica de fazer fogo e arcos: (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html
Confiram outras campanhas do blog:
1) Campanha permanente contra a frase "o brasileiro não tem memória": http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/campanha-contra-frase-o-brasil-eiro-nao.html
2) Campanha pela revitalização de nomes próprios tradicionais: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html
3) Campanha contra a caracterização pejorativa do matuto e contra o casamento forçado na quadrilha: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-contra-caracterizacao.html
4) Campanha pela carnavalização do feriado de sete de setembro: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/campanha-pela-carnavalizacao-do-feriado.html
5) Campanha pela restauração da tapioca tradicional: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/campanha-pela-restauracao-da-tapioca.html
6) Campanha pela acurácia no cumprimento de normas jurídicas: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/campanha-pela-acuracia-no-cumprimento.html
7) Campanha pelo resgate e manutenção de nomes tradicionais em logradouros públicos: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-pelo-resgate-e-manutencao-de.html
8) Campanha pela decoração utilitária e ilustrativa dos prédios públicos brasileiros: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/campanha-pela-decoracao-utilitaria-e.html.
Vamos nos mobilizar!
Pela democratização do conhecimento tradicional e pelo resgate daquilo que a Humanidade sabe fazer desde tempos imemoriais! Começamos pela técnica de fazer fogo e arcos: (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html
Confiram outras campanhas do blog:
1) Campanha permanente contra a frase "o brasileiro não tem memória": http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/campanha-contra-frase-o-brasil-eiro-nao.html
2) Campanha pela revitalização de nomes próprios tradicionais: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html
3) Campanha contra a caracterização pejorativa do matuto e contra o casamento forçado na quadrilha: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-contra-caracterizacao.html
4) Campanha pela carnavalização do feriado de sete de setembro: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/09/campanha-pela-carnavalizacao-do-feriado.html
5) Campanha pela restauração da tapioca tradicional: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/campanha-pela-restauracao-da-tapioca.html
6) Campanha pela acurácia no cumprimento de normas jurídicas: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/campanha-pela-acuracia-no-cumprimento.html
7) Campanha pelo resgate e manutenção de nomes tradicionais em logradouros públicos: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-pelo-resgate-e-manutencao-de.html
8) Campanha pela decoração utilitária e ilustrativa dos prédios públicos brasileiros: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/campanha-pela-decoracao-utilitaria-e.html.
Vamos nos mobilizar!
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Memória brasileira: a escravidão
A escravidão no Brasil definitivamente não é coisa do passado.
Nesta semana me deparei com uma notícia que só reforça a constatação de que ainda hoje há pessoas reduzidas à condição análoga a de escravos, exercendo o seu trabalho em condições insalubres, percebendo remuneração incompatível com a vida digna:http://br.mulher.yahoo.com/blogs/cabide-fashion/marca-utilizava-trabalho-an%C3%A1logo-%C3%A0-escravid%C3%A3o-para-fabricar-212145212.html
A luta contra o trabalho infantil e a escravidão é contínua, e o governo brasileiro vem envidando esforços para minimizar os danos que esse tipo de mentalidade produz. É uma cultura, uma mentalidade arraigada nos padrões de produção e representação no Brasil, que infelizmente ainda não conseguimos superar.
Lembrando do tema "escravidão no Brasil", a minha memória forçosamente viaja até o período colonial e ao período monárquico. Muitos mitos, mal-entendidos e descompassos precisam ser revisados e superados através da intensa pesquisa que o tema exige e merece.
No Brasil, houve escravos negros e brancos. A escravidão não acabou em todo território ao mesmo tempo, e nem existia em todo território do mesmo jeito.
Alguns personagens, lendários ou não, tais como Zumbi dos Palmares (Herói da Pátria! Lei 9315/96), Chica da Silva e Chico Rei, abrem uma série de questionamentos sobre essa memória que perdura entre nós.
Nesta semana me deparei com uma notícia que só reforça a constatação de que ainda hoje há pessoas reduzidas à condição análoga a de escravos, exercendo o seu trabalho em condições insalubres, percebendo remuneração incompatível com a vida digna:http://br.mulher.yahoo.com/blogs/cabide-fashion/marca-utilizava-trabalho-an%C3%A1logo-%C3%A0-escravid%C3%A3o-para-fabricar-212145212.html
A luta contra o trabalho infantil e a escravidão é contínua, e o governo brasileiro vem envidando esforços para minimizar os danos que esse tipo de mentalidade produz. É uma cultura, uma mentalidade arraigada nos padrões de produção e representação no Brasil, que infelizmente ainda não conseguimos superar.
Lembrando do tema "escravidão no Brasil", a minha memória forçosamente viaja até o período colonial e ao período monárquico. Muitos mitos, mal-entendidos e descompassos precisam ser revisados e superados através da intensa pesquisa que o tema exige e merece.
No Brasil, houve escravos negros e brancos. A escravidão não acabou em todo território ao mesmo tempo, e nem existia em todo território do mesmo jeito.
Alguns personagens, lendários ou não, tais como Zumbi dos Palmares (Herói da Pátria! Lei 9315/96), Chica da Silva e Chico Rei, abrem uma série de questionamentos sobre essa memória que perdura entre nós.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Exumação dos restos mortais de D. Pedro I e suas esposas
Notícia interessante para a memória dos mortos: D. Pedro I e suas esposas, as imperatrizes D. Leopoldina e D. Amélia, foram exumados para estudos científicos: http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2013-02-19/exumacao-de-dpedro-i-e-suas-mulheres-reconta-a-historia.html.
D. Pedro I, aliás, é herói do Brasil (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/os-herois-do-brasil.html), conforme a Lei 9828/99. Algum dia vou escrever um post sobre ele, mas agora vai demorar um pouco porque estou curiosa para ler o resultado do trabalho acadêmico.
D. Pedro I, aliás, é herói do Brasil (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/os-herois-do-brasil.html), conforme a Lei 9828/99. Algum dia vou escrever um post sobre ele, mas agora vai demorar um pouco porque estou curiosa para ler o resultado do trabalho acadêmico.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Resoluções de Ano Novo 2013
Considerando que o ano começou efetivamente ontem, aqui estão as minhas resoluções para 2013:
1) Perder peso e não reencontrá-lo;
2) Sair do sedentarismo milenar em que me encontro;
3) Aprender a fazer fogo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html) e pentes de osso (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/pente.html), porque acho um absurdo não conhecer essas tecnologias milenares;
4) Estudar mais;
5) Encontrar alguma forma de lazer artística.
Se eu conseguir fazer essas coisas neste ano, 2013 será um dos mais produtivos.
1) Perder peso e não reencontrá-lo;
2) Sair do sedentarismo milenar em que me encontro;
3) Aprender a fazer fogo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/resgatando-conhecimentos-tradicionais.html) e pentes de osso (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/pente.html), porque acho um absurdo não conhecer essas tecnologias milenares;
4) Estudar mais;
5) Encontrar alguma forma de lazer artística.
Se eu conseguir fazer essas coisas neste ano, 2013 será um dos mais produtivos.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Feliz 2013, outra vez.
Sim, o ano novo começou agora, depois do carnaval. Não fosse esse incômodo janeiro, mês tão mal educado, que separou duas grandes festividades - o Ano Novo e o Carnaval - nós teríamos nos divertido muito mais.
Algum dia teremos a coragem necessária para imprensar o mês de Janeiro.
Renovo os meus votos de estima a todos, desejando que o mundo de agora seja como recitou Eduardo Galeano: http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8.
Algum dia teremos a coragem necessária para imprensar o mês de Janeiro.
Renovo os meus votos de estima a todos, desejando que o mundo de agora seja como recitou Eduardo Galeano: http://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Resgatando conhecimentos tradicionais
Existem alguns conhecimentos que acompanham a História da Humanidade desde os primórdios, e que se tornaram banais ou desnecessários ao longo do tempo.
Por exemplo, fazer fogo. O domínio do fogo, e a relação que o Homem desenvolveu com ele, por vezes mágica, por vezes técnica, foi fundamental para o desenvolvimento da metalurgia, de algumas religiões, da culinária, por exemplo.
Enfim, é um conhecimento primordial mas que foi esquecido. Eu não sei fazer fogo partindo do nada, só através de ferramentas civilizatórias industrializadas, como o fósforo. Isso é um absurdo.
Como é que eu não sei fazer fogo, se essa é uma conquista milenar da Humanidade ? (!). Acho importante resgatar esse conhecimento tradicional, e não vale usar pederneiras. O meu marido sabe fazer fogo com pederneiras, e se propôs a me ensinar, mas eu particularmente acho que isso não vale enquanto resgate.
Fico imaginando... Eu seria um daqueles indivíduos fascinados pelo fogo, que atribuiria propriedades mágicas e místicas não só ao objeto, mas também quem soubesse dominá-lo. Seria capaz até de fundar uma religião em torno desse assunto, só porque fazer fogo para mim permanece um mistério.
O meu irmão concorda comigo, embora tenha chegado à mesma conclusão por caminho diverso. Por isso, durante o carnaval resolveu fabricar um arco e uma flecha, que também são conquistas civilizatórias milenares.
Com razão, ele entende que houve uma "privatização" do conhecimento tradicional, no sentido de que hoje poucas pessoas sabem fazer o que todo mundo antigamente fazia. É verdade, hoje a maioria das pessoas não sabe fazer seus próprios utensílios (potes de cerâmica, cestos, facas, pentes), o que era muito comum outrora.
Por isso, nós resolvemos fazer o caminho inverso e aprender tecnologias esquecidas. Eu decididamente vou aprender a fazer fogo, e pretendo me tornar sacerdotisa de alguma coisa até o fim do ano. E o meu irmão partiu na frente e já fez o arco dele, olha aí:
Por exemplo, fazer fogo. O domínio do fogo, e a relação que o Homem desenvolveu com ele, por vezes mágica, por vezes técnica, foi fundamental para o desenvolvimento da metalurgia, de algumas religiões, da culinária, por exemplo.
Enfim, é um conhecimento primordial mas que foi esquecido. Eu não sei fazer fogo partindo do nada, só através de ferramentas civilizatórias industrializadas, como o fósforo. Isso é um absurdo.
Como é que eu não sei fazer fogo, se essa é uma conquista milenar da Humanidade ? (!). Acho importante resgatar esse conhecimento tradicional, e não vale usar pederneiras. O meu marido sabe fazer fogo com pederneiras, e se propôs a me ensinar, mas eu particularmente acho que isso não vale enquanto resgate.
Fico imaginando... Eu seria um daqueles indivíduos fascinados pelo fogo, que atribuiria propriedades mágicas e místicas não só ao objeto, mas também quem soubesse dominá-lo. Seria capaz até de fundar uma religião em torno desse assunto, só porque fazer fogo para mim permanece um mistério.
O meu irmão concorda comigo, embora tenha chegado à mesma conclusão por caminho diverso. Por isso, durante o carnaval resolveu fabricar um arco e uma flecha, que também são conquistas civilizatórias milenares.
Com razão, ele entende que houve uma "privatização" do conhecimento tradicional, no sentido de que hoje poucas pessoas sabem fazer o que todo mundo antigamente fazia. É verdade, hoje a maioria das pessoas não sabe fazer seus próprios utensílios (potes de cerâmica, cestos, facas, pentes), o que era muito comum outrora.
Por isso, nós resolvemos fazer o caminho inverso e aprender tecnologias esquecidas. Eu decididamente vou aprender a fazer fogo, e pretendo me tornar sacerdotisa de alguma coisa até o fim do ano. E o meu irmão partiu na frente e já fez o arco dele, olha aí:
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Pente
Adoro objetos antigos, e no post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/10/penico.html fiz uma homenagem ao penico. Acho fundamental manter esses objetos em uso, porque essa informação é essencial à sua inteligibilidade.
Outro objeto sensacional é o pente. Quando eu era da quinta série (agora não sei como se chama, acho que é primeiro ano do Ensino Médio), eu li em um livro de História que o pente já existia durante o período Neolítico, e muitos foram encontrados em escavações arqueológicas.
Como acredito que essa antiguidade toda confere muita dignidade ao objeto, desde então eu parei de usar escovas de cabelo e só uso pentes.
E toda vez que eu vou usar um pente, lembro que ele é um objeto que remonta ao período que se denomina "Pré-História", que ele já foi feito de diversos materiais, e que o meu é de plástico. Deve ser por isso que eu demoro tanto penteando o cabelo.
Já um tive pente de madeira, mas ele é muito frágil. Acho que vou tentar fazer um pente de osso, como faziam os antigos.
Outro objeto sensacional é o pente. Quando eu era da quinta série (agora não sei como se chama, acho que é primeiro ano do Ensino Médio), eu li em um livro de História que o pente já existia durante o período Neolítico, e muitos foram encontrados em escavações arqueológicas.
Como acredito que essa antiguidade toda confere muita dignidade ao objeto, desde então eu parei de usar escovas de cabelo e só uso pentes.
E toda vez que eu vou usar um pente, lembro que ele é um objeto que remonta ao período que se denomina "Pré-História", que ele já foi feito de diversos materiais, e que o meu é de plástico. Deve ser por isso que eu demoro tanto penteando o cabelo.
Já um tive pente de madeira, mas ele é muito frágil. Acho que vou tentar fazer um pente de osso, como faziam os antigos.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Citações sobre a memória - Câmara Cascudo
"A memória é a imaginação do povo, mantida comunicável pela tradição, movimentando as culturas, convergidas para o uso, através do tempo".
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Concessão de indulgências no blog "direito à memória"
No ano passado resgatamos a instituição da indulgência (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/01/resgatando-instituicoes-antigas-4.html), para poder distribui-las em 2013, depois que o mundo acabasse.
Se você precisa de alguma forma de perdão pelo que fez no carnaval, basta dizer anonimamente o que fez abaixo, na seção de comentários.
O seu caso será analisado com a arte da prudência e da proporcionalidade e, se merecer, você será perdoado por nós.
Se você precisa de alguma forma de perdão pelo que fez no carnaval, basta dizer anonimamente o que fez abaixo, na seção de comentários.
O seu caso será analisado com a arte da prudência e da proporcionalidade e, se merecer, você será perdoado por nós.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Chá de panela: reflexão etnográfica
Aproveitando a pausa para o carnaval, resolvi iniciar uma nova série do blog, para analisar essas festividades/situações sociais em que nos metemos periodicamente. Não precisam ser comemorações oficiais, de cunho identitário e estatal: qualquer ajuntamento de pessoas que comemorem alguma coisa poderá ser objeto de análise.
Para começar, escolhi uma comemoração que sempre me intrigou bastante: o chá de panela, também conhecido como "chá de cozinha".
Em primeiro lugar, não entendo e não descobri quando onde essa "tradição" apareceu entre nós. "Na época" da minha mãe, as noivas não faziam chá de panela, e eu também não fiz motivos ideológicos.
Imagino que a origem dessa novíssima tradição no Brasil deve ser o "bridal shower", evento pré-nupcial em que as pessoas ajudam a mobiliar a casa, e que ocorre nos países de tradição anglo-saxã.
Entre nós a entrega de dádivas matrimoniais sempre ocorria no dia do casamento. Não entendo, com perdão dos menos ignorantes, como pode haver duas ocasiões de entrega de presentes.
Talvez para evitar o bis in idem, no chá de panela os presentes geralmente são pequenos e baratos, e são requisitados utensílios de cozinha.
Ainda assim, não faz o menor sentido. O shower virou "chá" em suas mais variadas versões (será?). Chá de panela, Chá de bebê e mais recentemente, o chá de lingerie, onde são presenteadas peças de vestuário íntimo que a noiva decente jamais compraria.
Percebam que não há o menor sentido no nome dado a comemoração: chá de bebê? chá de panela?
Enfim, saindo da teleologia e passando à análise da performance, ainda assim não entendo essa comemoração.
No Brasil, geralmente só mulheres são convidadas para o chá de panela. Mas considerando que gênero é uma construção cultural, ultimamente pessoas anatomicamente masculinas também podem participar.
A noiva, em troca dos utensílios, oferece aos convidados comidas e bebidas. Então, enquanto comem e bebem (muito), as convidadas fazem a noiva passar por provas e testes para conquistar os presentes.
Basicamente, se trata de um jogo de adivinhação, no qual a noiva deve descobrir os presentes para poder ganhá-los. Se a noiva não acertar, então são elaboradas outras provas, desafios ou prendas, para a diversão dos convidados.
É neste ponto que tudo fica muito, muito estranho.
Vou generalizar correndo o risco de ser injusta ou ignorante, mas para mim o formato do chá de panela é uma espécie de rito de passagem para a noiva. As mulheres convidadas infligem à noiva "brincadeiras" de cunho sexual, cuja temperatura vai aumentando proporcionalmente à quantidade de álcool ingerida.
As velhas da tribo - mães, avós e/ou tias, geralmente tão decentes - transformam-se em algozes e impõem as provas mais esquisitas às noivas e rituais de humilhação. Estranhas danças, consumo excessivo de álcool, fazem maquiagens exóticas na noiva e às vezes tiram as suas vestes. E tudo isso na boquinha da garrafa, com forte referência onipresente ao falo.
Há relatos de noivas totalmente pintadas correndo seminuas pela rua. Isso não seria motivo para o fim do noivado?
Talvez esse transbordamento seja o troco dado pelas noivas aos futuros cônjuges, onde a tradição (essa sim, existia) manda realizar uma despedida de solteiro, espécie de salvo-conduto ou indulgência para degustar outras mulheres antes do matrimônio, sem que isso seja considerado traição.
Talvez por isso, nos últimos tempos, os chás de panela também contemplem formas leves de striptease masculino, geralmente contratados pela madrinha. Algumas noivas mais modernas ainda substituem o chá por uma "despedida de solteira".
Ou talvez essa minha reflexão etnográfica tenha sido contaminada pela minha experiência em chás de panela totalmente amalucados. O fato é que eu não estimo essa comemoração, que está ganhando contornos de tradição entre nós.
Se algum dia o chá de panela for uma tradição, talvez eu escreva um post defendendo-o.
Para começar, escolhi uma comemoração que sempre me intrigou bastante: o chá de panela, também conhecido como "chá de cozinha".
Em primeiro lugar, não entendo e não descobri quando onde essa "tradição" apareceu entre nós. "Na época" da minha mãe, as noivas não faziam chá de panela, e eu também não fiz motivos ideológicos.
Imagino que a origem dessa novíssima tradição no Brasil deve ser o "bridal shower", evento pré-nupcial em que as pessoas ajudam a mobiliar a casa, e que ocorre nos países de tradição anglo-saxã.
Entre nós a entrega de dádivas matrimoniais sempre ocorria no dia do casamento. Não entendo, com perdão dos menos ignorantes, como pode haver duas ocasiões de entrega de presentes.
Talvez para evitar o bis in idem, no chá de panela os presentes geralmente são pequenos e baratos, e são requisitados utensílios de cozinha.
Ainda assim, não faz o menor sentido. O shower virou "chá" em suas mais variadas versões (será?). Chá de panela, Chá de bebê e mais recentemente, o chá de lingerie, onde são presenteadas peças de vestuário íntimo que a noiva decente jamais compraria.
Percebam que não há o menor sentido no nome dado a comemoração: chá de bebê? chá de panela?
Enfim, saindo da teleologia e passando à análise da performance, ainda assim não entendo essa comemoração.
No Brasil, geralmente só mulheres são convidadas para o chá de panela. Mas considerando que gênero é uma construção cultural, ultimamente pessoas anatomicamente masculinas também podem participar.
A noiva, em troca dos utensílios, oferece aos convidados comidas e bebidas. Então, enquanto comem e bebem (muito), as convidadas fazem a noiva passar por provas e testes para conquistar os presentes.
Basicamente, se trata de um jogo de adivinhação, no qual a noiva deve descobrir os presentes para poder ganhá-los. Se a noiva não acertar, então são elaboradas outras provas, desafios ou prendas, para a diversão dos convidados.
É neste ponto que tudo fica muito, muito estranho.
Vou generalizar correndo o risco de ser injusta ou ignorante, mas para mim o formato do chá de panela é uma espécie de rito de passagem para a noiva. As mulheres convidadas infligem à noiva "brincadeiras" de cunho sexual, cuja temperatura vai aumentando proporcionalmente à quantidade de álcool ingerida.
As velhas da tribo - mães, avós e/ou tias, geralmente tão decentes - transformam-se em algozes e impõem as provas mais esquisitas às noivas e rituais de humilhação. Estranhas danças, consumo excessivo de álcool, fazem maquiagens exóticas na noiva e às vezes tiram as suas vestes. E tudo isso na boquinha da garrafa, com forte referência onipresente ao falo.
Há relatos de noivas totalmente pintadas correndo seminuas pela rua. Isso não seria motivo para o fim do noivado?
Talvez esse transbordamento seja o troco dado pelas noivas aos futuros cônjuges, onde a tradição (essa sim, existia) manda realizar uma despedida de solteiro, espécie de salvo-conduto ou indulgência para degustar outras mulheres antes do matrimônio, sem que isso seja considerado traição.
Talvez por isso, nos últimos tempos, os chás de panela também contemplem formas leves de striptease masculino, geralmente contratados pela madrinha. Algumas noivas mais modernas ainda substituem o chá por uma "despedida de solteira".
Ou talvez essa minha reflexão etnográfica tenha sido contaminada pela minha experiência em chás de panela totalmente amalucados. O fato é que eu não estimo essa comemoração, que está ganhando contornos de tradição entre nós.
Se algum dia o chá de panela for uma tradição, talvez eu escreva um post defendendo-o.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Mardi Gras 2013
Há mais um menos um ano, refletia neste mesmo local, sobre a terça-feira gorda de carnaval (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/02/mardi-gras.html).
Nada mudou.
Nós, brasileiros, continuamos a celebrar visceralmente o carnaval, apesar de tudo. O carnaval - essa alegria sazonal irrepresável - parece ser um verdadeiro ato de resistência, e a memória é feita exatamente desse tipo de persistência.
Nada mudou.
Nós, brasileiros, continuamos a celebrar visceralmente o carnaval, apesar de tudo. O carnaval - essa alegria sazonal irrepresável - parece ser um verdadeiro ato de resistência, e a memória é feita exatamente desse tipo de persistência.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Abdicação do Papa Bento XVI
Fato histórico e pouco comum, a abdicação do papa Bento XVI foi anunciada e ocorrerá no dia 28/02/2013. Conforme informações da internet, a última ocorreu em 1415.
A Santa Sé uma monarquia, portanto a forma de governo é vitalícia e hereditária. Ser hereditário não significa que passa "de pai para filho", mas de antecessor para sucessor por tradição do poder. No caso, a monarquia eletiva do chefe de Estado denominado "Papa", deverá convocar nova eleição para substituir o monarca que abdicou.
Tempos verdadeiramente interessantes.
A Santa Sé uma monarquia, portanto a forma de governo é vitalícia e hereditária. Ser hereditário não significa que passa "de pai para filho", mas de antecessor para sucessor por tradição do poder. No caso, a monarquia eletiva do chefe de Estado denominado "Papa", deverá convocar nova eleição para substituir o monarca que abdicou.
Tempos verdadeiramente interessantes.
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Carnaval 2013
Continuando a reflexão sobre o período momesco, iniciada pela discussão sobre as marchinhas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/marchas-de-carnaval.html) e fantasias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/fantasias-de-carnaval-reflexao-e.html), vamos pensar na origem da comemoração.
Afirma-se correntemente que aquilo que chamamos de "carnaval" remonta a comemorações pagãs da Antiga Roma e/ou Grécia (cf. nota de rodapé), que foram assimiladas e incorporadas ao calendário cristão. Para não formatar o passado à nossa imagem e semelhança, com as estratégias discursivas tão bem elucidadas por Eviatar Zerubavel, vamos pensar apenas nos últimos séculos.
Diz-se que o carnaval foi trazido ao Brasil pelos portugueses, consubstanciando-se em uma simpática manifestação chamada "Entrudo". Pelo que pude entender até aqui, já que nos últimos anos não brinco carnaval e estou sóbria neste período, o carnaval é uma preparação para o arrependimento que inicia na quarta-feira de cinzas.
Ou seja, a comemoração possui duas partes: na primeira - carnaval em sentido estrito - as pessoas entregam-se aos prazeres da carne, aos excessos e tudo o que não se deve fazer para depois, na segunda parte da festa, iniciar o período de abstinência e penitência necessários à salvação da alma.
Os cristãos, na quarta-feira de cinzas, começam o período de quaresma, que é preparatório para a Páscoa. Acho que esse cronograma aqui onde eu habito está meio prejudicado, pois as "cinzas" são comemoradas na quinta e sexta-feira. O sábado seguinte é uma espécie de revival, de reminiscência do período de fartura dos dias gordos anteriores, para descansar no domingo e, aí sim, começar a contrição na segunda-feira, que é dia propício para esse tipo de sentimento.
_____________________________
Nota de rodapé: Será que existe alguma semelhança entre o que se faz no carnaval e o que faziam os gregos e os romanos? Será que uma estratégia mnemônica que elege similitudes, no caso, pessoas alcoolizadas que comemoram, é realmente legítima?
Afirma-se correntemente que aquilo que chamamos de "carnaval" remonta a comemorações pagãs da Antiga Roma e/ou Grécia (cf. nota de rodapé), que foram assimiladas e incorporadas ao calendário cristão. Para não formatar o passado à nossa imagem e semelhança, com as estratégias discursivas tão bem elucidadas por Eviatar Zerubavel, vamos pensar apenas nos últimos séculos.
Diz-se que o carnaval foi trazido ao Brasil pelos portugueses, consubstanciando-se em uma simpática manifestação chamada "Entrudo". Pelo que pude entender até aqui, já que nos últimos anos não brinco carnaval e estou sóbria neste período, o carnaval é uma preparação para o arrependimento que inicia na quarta-feira de cinzas.
Ou seja, a comemoração possui duas partes: na primeira - carnaval em sentido estrito - as pessoas entregam-se aos prazeres da carne, aos excessos e tudo o que não se deve fazer para depois, na segunda parte da festa, iniciar o período de abstinência e penitência necessários à salvação da alma.
Os cristãos, na quarta-feira de cinzas, começam o período de quaresma, que é preparatório para a Páscoa. Acho que esse cronograma aqui onde eu habito está meio prejudicado, pois as "cinzas" são comemoradas na quinta e sexta-feira. O sábado seguinte é uma espécie de revival, de reminiscência do período de fartura dos dias gordos anteriores, para descansar no domingo e, aí sim, começar a contrição na segunda-feira, que é dia propício para esse tipo de sentimento.
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Nota de rodapé: Será que existe alguma semelhança entre o que se faz no carnaval e o que faziam os gregos e os romanos? Será que uma estratégia mnemônica que elege similitudes, no caso, pessoas alcoolizadas que comemoram, é realmente legítima?
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Bons tempos...
Você sabe que envelheceu quando começa a falar: "no meu tempo", "na minha época".
Outro dia me peguei pensando nos "bons tempos", quando a gente andava em segurança pela rua, e a única coisa a temer era levar uma topada feia.
"Bons tempos", um passado de ouro, nunca no futuro.
Na minha época, a gente brincava de espião (que alguns chamam de queimado), de bola de gude, de academia (que alguns chamam de amarelinha).
Na minha época, eu só tomava picolé para achar o palito premiado. Eu nem sabia ainda que detestaria sorvete.
Na minha época, voltar às aulas era ótimo. Eu ganhava um monte de material escolar novo, e ficava cheirando aqueles livros novinhos até enjoar.
Agora não tomo sorvete. Agora a volta às aulas me traz problemas de mobilidade urbana. Agora não tem mais palito premiado no picolé.
Bons tempos de outrora, que não voltam mais.
Outro dia me peguei pensando nos "bons tempos", quando a gente andava em segurança pela rua, e a única coisa a temer era levar uma topada feia.
"Bons tempos", um passado de ouro, nunca no futuro.
Na minha época, a gente brincava de espião (que alguns chamam de queimado), de bola de gude, de academia (que alguns chamam de amarelinha).
Na minha época, eu só tomava picolé para achar o palito premiado. Eu nem sabia ainda que detestaria sorvete.
Na minha época, voltar às aulas era ótimo. Eu ganhava um monte de material escolar novo, e ficava cheirando aqueles livros novinhos até enjoar.
Agora não tomo sorvete. Agora a volta às aulas me traz problemas de mobilidade urbana. Agora não tem mais palito premiado no picolé.
Bons tempos de outrora, que não voltam mais.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Marchas de carnaval
Já que eu não brinco mais carnaval - renunciei à folia há muitos anos- resolvi ficar em casa pensando sobre o assunto.
Estou analisando o caráter memorial da festa, a partir de outros aspectos tradicionais como o tipo de fantasia (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/fantasias-de-carnaval-reflexao-e.html), as músicas, por exemplo.
Fico surpresa em perceber que, ano após ano, nós continuamos a cantar e a nos emocionar com músicas compostas no final do século XIX e início do século XX.
Quantas vezes, meu bom Deus, testemunhei pessoas temulentas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/11/resgatando-xingamentos-antigos-7.html) e emocionadas, levantarem os braços e, em lágrimas, cantando "Bandeira Branca" (https://www.youtube.com/watch?v=RQLhK7sLvzY). Ou seja, faz décadas que essa música tão triste embala a folia de forma, no nosso modesto entender, totalmente incoerente.
Bem, incoerente mas compreensível, já que no carnaval há todo tipo de folião, inclusive aqueles que estão padecendo de nostalgia mas que, por dever cívico, estão participando da festa.
Depois dizem que o "brasileiro não tem memória"... Como? As pessoas passam o ano inteiro sem ouvir essas músicas (com raríssimas exceções), e quando chega a época do carnaval elas ressurgem das cinzas de confetes para obrigatoriamente serem executadas nos salões e nas ruas.
Essa resiliência das marchinhas de carnaval deveria ser estudada, se já não o foi. Especialmente daquelas que são incompatíveis com os valores atuais, mas a despeito disso, continuam sendo cantadas ano após ano, por exemplo, "o teu cabelo não nega" (http://www.youtube.com/watch?v=C36_dl1W72Q) e "cabeleira do Zezé" (https://www.youtube.com/watch?v=YpPFBjaAzF4).
Não sou de defender a censura, nem vou dizer que essas marchinhas devem ser proibidas (jamais). Mas defendo que se faça uma reflexão sobre esses conteúdos porque a memória coletiva autoritária é transmitida através desse tipo de veículo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/05/memoria-coletiva-e-autoritarismo.html).
Evidentemente que esse tipo de reflexão não será feita nesse período momesco, para educar pessoas temulentas. Deverá ser feita em oportunidade adequada, através da educação na família, escola e ambientes de trabalho, de forma contínua.
Vejam os vídeos do youtube cujos links indiquei ao longo do post. São imperdíveis.
Bom carnaval!
Estou analisando o caráter memorial da festa, a partir de outros aspectos tradicionais como o tipo de fantasia (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/fantasias-de-carnaval-reflexao-e.html), as músicas, por exemplo.
Fico surpresa em perceber que, ano após ano, nós continuamos a cantar e a nos emocionar com músicas compostas no final do século XIX e início do século XX.
Quantas vezes, meu bom Deus, testemunhei pessoas temulentas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/11/resgatando-xingamentos-antigos-7.html) e emocionadas, levantarem os braços e, em lágrimas, cantando "Bandeira Branca" (https://www.youtube.com/watch?v=RQLhK7sLvzY). Ou seja, faz décadas que essa música tão triste embala a folia de forma, no nosso modesto entender, totalmente incoerente.
Bem, incoerente mas compreensível, já que no carnaval há todo tipo de folião, inclusive aqueles que estão padecendo de nostalgia mas que, por dever cívico, estão participando da festa.
Depois dizem que o "brasileiro não tem memória"... Como? As pessoas passam o ano inteiro sem ouvir essas músicas (com raríssimas exceções), e quando chega a época do carnaval elas ressurgem das cinzas de confetes para obrigatoriamente serem executadas nos salões e nas ruas.
Essa resiliência das marchinhas de carnaval deveria ser estudada, se já não o foi. Especialmente daquelas que são incompatíveis com os valores atuais, mas a despeito disso, continuam sendo cantadas ano após ano, por exemplo, "o teu cabelo não nega" (http://www.youtube.com/watch?v=C36_dl1W72Q) e "cabeleira do Zezé" (https://www.youtube.com/watch?v=YpPFBjaAzF4).
Não sou de defender a censura, nem vou dizer que essas marchinhas devem ser proibidas (jamais). Mas defendo que se faça uma reflexão sobre esses conteúdos porque a memória coletiva autoritária é transmitida através desse tipo de veículo (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/05/memoria-coletiva-e-autoritarismo.html).
Evidentemente que esse tipo de reflexão não será feita nesse período momesco, para educar pessoas temulentas. Deverá ser feita em oportunidade adequada, através da educação na família, escola e ambientes de trabalho, de forma contínua.
Vejam os vídeos do youtube cujos links indiquei ao longo do post. São imperdíveis.
Bom carnaval!
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Fantasias de carnaval: reflexão e antecipação
Sei que na maioria dos lugares de bem o carnaval ainda não começou, mas aqui onde eu vivo desde setembro de 2012 acontecem prévias da festa que aconteceria em fevereiro do ano seguinte. E agora, que o carnaval será na próxima semana, então efetivamente ele já começou desde janeiro.
Hoje, por exemplo, enquanto me dirigia à livraria para adquirir bibliografia sobre a memória, vi um monte de pedestres fantasiados, pensando em cair na folia como se a segunda-feira e Deus não exitissem.
Então, considerando que é domingo, parei para olhar e refletir sobre o que eu estava vendo. Dezenas de pessoas fantasiadas de piratas, colombinas, pierrôs e arlequins e odaliscas. Pensem bem: são personagens do século XVI, XVII, XVIII que são relembrados todos os anos durante esse período.
Não acredito que a maioria dos fantasiados realmente esteja celebrando o triângulo amoroso entre Arlequim, Colombina e Pierrot. Esses tradicionais personagens possuem um grande apelo estético e já são cidadãos do carnaval brasileiro, cuja presença é quase obrigatória.
Digam: por que se fantasiar de pirata? E não é qualquer um, não. Tem que ser o pirata literário, da perna de pau, com olho de vidro e cara de mau (cf. http://www.youtube.com/watch?v=ObT_zt1iR6o). Por que celebrar piratas?
E as odaliscas? Por que odaliscas frequentam a folia, se deveriam estar em um harém otomano à espera de atenção?
Não bastasse o carnaval - a festa em si - possuir o caráter de patrimônio cultural imaterial, ocasião em que a maioria das manifestações da minha região são exercitadas, existe um conteúdo memorial nas escolhas dessas fantasias, que às vezes são até uma tradição familiar. Por que, ano após ano as pessoas continuam a se fantasiar com esses personagens?
Estou curiosa para ver quais são as fantasias e os novos personagens que surgirão nesse carnaval.
Hoje, por exemplo, enquanto me dirigia à livraria para adquirir bibliografia sobre a memória, vi um monte de pedestres fantasiados, pensando em cair na folia como se a segunda-feira e Deus não exitissem.
Então, considerando que é domingo, parei para olhar e refletir sobre o que eu estava vendo. Dezenas de pessoas fantasiadas de piratas, colombinas, pierrôs e arlequins e odaliscas. Pensem bem: são personagens do século XVI, XVII, XVIII que são relembrados todos os anos durante esse período.
Não acredito que a maioria dos fantasiados realmente esteja celebrando o triângulo amoroso entre Arlequim, Colombina e Pierrot. Esses tradicionais personagens possuem um grande apelo estético e já são cidadãos do carnaval brasileiro, cuja presença é quase obrigatória.
Digam: por que se fantasiar de pirata? E não é qualquer um, não. Tem que ser o pirata literário, da perna de pau, com olho de vidro e cara de mau (cf. http://www.youtube.com/watch?v=ObT_zt1iR6o). Por que celebrar piratas?
E as odaliscas? Por que odaliscas frequentam a folia, se deveriam estar em um harém otomano à espera de atenção?
Não bastasse o carnaval - a festa em si - possuir o caráter de patrimônio cultural imaterial, ocasião em que a maioria das manifestações da minha região são exercitadas, existe um conteúdo memorial nas escolhas dessas fantasias, que às vezes são até uma tradição familiar. Por que, ano após ano as pessoas continuam a se fantasiar com esses personagens?
Estou curiosa para ver quais são as fantasias e os novos personagens que surgirão nesse carnaval.