Talvez não exista uma "receita", mas existem procedimentos mínimos que devem ser adotados sob pena de não conseguir esquecer.
O primeiro passo, sem dúvida alguma, é oficializar o fim da relação. Pode parecer estranho, mas às vezes o fim da relação só a torna mais viva, porque o (a) ex está sempre ocupando a moita.
Termine.
Se não souber como terminar, e para tornar tudo mais oficial mesmo, recomendamos publicar uma carta no Diário Oficial, como aconteceu no dia 16/02/2012: http://g1.globo.com/paraiba/noticia/2012/02/carta-de-amor-vai-parar-no-diario-da-justica-do-trabalho-da-paraiba.html
Para ler a íntegra da carta, basta acessar o link: https://aplicacao2.jt.jus.br/dejt/f/n/diariocon, o dia é 16/02/2012, órgão (TRT 13ª), única publicação disponível, página 17.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Comemorações do centenário de "Eu", de Augusto dos Anjos
O nosso blog promove uma singela homenagem ao poeta Augusto dos Anjos, no ano do centenário do seu único livro de poemas, "Eu".
Começamos as homenagens com o post: http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/02/centenario-do-livro-eu-de-augusto-dos.html
Nele, transcrevemos o belíssimo poema Versos Íntimos, que no bojo dessas comemorações foi ilustrado pelo escultor Robinson Dantas através de uma escultura:
"A mão que afaga":
"É a mesma que apedreja":
Fica aí a homenagem de dois leitores apaixonados.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Feliz 2012 (de novo)!
Hoje o ano de 2012 realmente começou, e é hora de colocar em prática os planos e promessas compilados em 31/12/2011.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Preservação das línguas brasileiras e do direito à memória coletiva
O Brasil possui duas línguas oficiais: o Português, tal como previsto pelo artigo 13 da Constituição Federal; e a Língua Brasileira de Sinais, prevista pela Lei 10.436/02, com a expressa ressalva de não substituir a língua portuguesa escrita.
Ao lado dessas idiomas oficiais gerais, o Brasil ainda possui outros idiomas oficiais locais: por exemplo, o Município de São Gabriel da Cachoeira tornou oficiais três línguas indígenas (Nheengatu, Tukano e Baniwa), cf. http://www.ipol.org.br/imprimir.php?cod=83.
É muito importante reconhecer a diversidade linguística brasileira, pois muitos cidadãos não conseguem exercer os seus direitos porque não falam português. E, por outro lado, as repartições públicas e concessionárias de serviço público não estão preparadas para lidar com essa necessidade.
A língua é um componente importantíssimo da memória coletiva porque nomeia e veicula significados de uma forma especial, capaz de evidenciar como determinada comunidade percebe e interage com o entorno sócio-ambiental. É uma forma de expressão da individualidade e dos modos de viver que precisa ser preservada.
No Brasil, há aproximadamente 190 línguas em risco de extinção, o que já demonstra a incrível diversidade do nosso patrimônio cultural, sem contar a própria língua portuguesa, em si um caldeirão de influências fruto das andanças lusitanas pelo mundo e da posição estratégica do seu território. Para conhecer algumas dessas línguas, pelo menos os nomes e locais de ocorrência, confira o Atlas interativo das línguas em perigo de extinção da UNESCO: http://www.unesco.org/culture/languages-atlas/index.php?hl=es&page=atlasmap.
Enfim, a questão da preservação das línguas brasileiras sempre me preocupou muito, ao ponto de ser apelidada carinhosamente (ou nem tanto) de "Policarpo Quaresma", o personagem do escritor Lima Barreto que defendia a "volta" do Tupi como língua oficial do Brasil.
A questão não é tanto adotar uma língua indígena (qual?) como oficial, com aquela idéia de retorno essencialista à identidade cultural primordial (e estática), o que eu costumo chamar de "fetiche do princípio".
A questão é: por que, nós brasileiros, sequer ouvimos falar da existência dessas línguas? Não há possibilidade de um brasileiro de centros urbanos sequer ouvir essas línguas. Essa ausência de informação determina o esquecimento rápido delas, das quais sequer haverá a mínima memória da existência.
Não é pedir muito, eu só queria saber que existem. A falta de informação compromete o exercício desse direito cultural, consubstanciado no direito de acessar as fontes da cultura nacional,previsto pelo artigo 215 da Constituição Federal.
Bem, para finalizar esse post, devo dizer que fiquei impressionada com o museu da Língua Portuguesa (cf. http://www.museulinguaportuguesa.org.br/), em São Paulo.
Realizar a exposição de um patrimônio imaterial não é fácil, e lá é possível ver e ouvir um panorama das influências da língua falada hoje no Brasil.
Eu descobri que falo quimbundo. Muitas expressões e palavras que usamos diariamente têm essa origem africana. Por exemplo, beleléu é cemitério, então ir para o beleléu é morrer. Batucar, bagunçar, biboca, titica, moqueca, moleque... Não é incrível?
Ao lado dessas idiomas oficiais gerais, o Brasil ainda possui outros idiomas oficiais locais: por exemplo, o Município de São Gabriel da Cachoeira tornou oficiais três línguas indígenas (Nheengatu, Tukano e Baniwa), cf. http://www.ipol.org.br/imprimir.php?cod=83.
É muito importante reconhecer a diversidade linguística brasileira, pois muitos cidadãos não conseguem exercer os seus direitos porque não falam português. E, por outro lado, as repartições públicas e concessionárias de serviço público não estão preparadas para lidar com essa necessidade.
A língua é um componente importantíssimo da memória coletiva porque nomeia e veicula significados de uma forma especial, capaz de evidenciar como determinada comunidade percebe e interage com o entorno sócio-ambiental. É uma forma de expressão da individualidade e dos modos de viver que precisa ser preservada.
No Brasil, há aproximadamente 190 línguas em risco de extinção, o que já demonstra a incrível diversidade do nosso patrimônio cultural, sem contar a própria língua portuguesa, em si um caldeirão de influências fruto das andanças lusitanas pelo mundo e da posição estratégica do seu território. Para conhecer algumas dessas línguas, pelo menos os nomes e locais de ocorrência, confira o Atlas interativo das línguas em perigo de extinção da UNESCO: http://www.unesco.org/culture/languages-atlas/index.php?hl=es&page=atlasmap.
Enfim, a questão da preservação das línguas brasileiras sempre me preocupou muito, ao ponto de ser apelidada carinhosamente (ou nem tanto) de "Policarpo Quaresma", o personagem do escritor Lima Barreto que defendia a "volta" do Tupi como língua oficial do Brasil.
A questão não é tanto adotar uma língua indígena (qual?) como oficial, com aquela idéia de retorno essencialista à identidade cultural primordial (e estática), o que eu costumo chamar de "fetiche do princípio".
A questão é: por que, nós brasileiros, sequer ouvimos falar da existência dessas línguas? Não há possibilidade de um brasileiro de centros urbanos sequer ouvir essas línguas. Essa ausência de informação determina o esquecimento rápido delas, das quais sequer haverá a mínima memória da existência.
Não é pedir muito, eu só queria saber que existem. A falta de informação compromete o exercício desse direito cultural, consubstanciado no direito de acessar as fontes da cultura nacional,previsto pelo artigo 215 da Constituição Federal.
Bem, para finalizar esse post, devo dizer que fiquei impressionada com o museu da Língua Portuguesa (cf. http://www.museulinguaportuguesa.org.br/), em São Paulo.
Realizar a exposição de um patrimônio imaterial não é fácil, e lá é possível ver e ouvir um panorama das influências da língua falada hoje no Brasil.
Eu descobri que falo quimbundo. Muitas expressões e palavras que usamos diariamente têm essa origem africana. Por exemplo, beleléu é cemitério, então ir para o beleléu é morrer. Batucar, bagunçar, biboca, titica, moqueca, moleque... Não é incrível?
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Pássaro lira e a memória sonora
Fiquei encantada com a capacidade do passáro lira de imitar todo o tipo de sons.
Infelizmente, além do som da câmera fotográfica e de alarmes de carro, também o ensinamos a reproduzir (perfeitamente) o som das moto-serras. Vejam que incrível esse vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=VjE0Kdfos4Y
É convencionado que os animais não têm memória propriamente dita, mas instinto e habilidades naturais. De todo jeito, fico interessada em ver esse aprendizado espontâneo por imitação, que é um processo muito diferente de ensinar palavrões a um papagaio.
Por falar nisso, lembrei que diariamente era esculhambada por um papagaio vizinho da minha mãe, antes de ir para a escola. Ele me dizia as coisas mais impublicáveis e depois cantava Ilariê, de Xuxa.
Infelizmente, além do som da câmera fotográfica e de alarmes de carro, também o ensinamos a reproduzir (perfeitamente) o som das moto-serras. Vejam que incrível esse vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=VjE0Kdfos4Y
É convencionado que os animais não têm memória propriamente dita, mas instinto e habilidades naturais. De todo jeito, fico interessada em ver esse aprendizado espontâneo por imitação, que é um processo muito diferente de ensinar palavrões a um papagaio.
Por falar nisso, lembrei que diariamente era esculhambada por um papagaio vizinho da minha mãe, antes de ir para a escola. Ele me dizia as coisas mais impublicáveis e depois cantava Ilariê, de Xuxa.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Comissão da Verdade: Manifesto interclubes militar
A Comissão da Verdade, se outro mérito não tiver, pelo menos provoca uma discussão pública.
É muito bom ver as pessoas e instituições manifestando-se, visto que o direito à livre expressão é uma das principais garantias individuais e é um dos pilares de um Estado Democrático.
Utilizando desse direito, os Clubes Naval, Militar e da Aeronáutica fizeram um manifesto no dia 16/02/2012 (cf. http://www.clubemilitar.com.br/pdf/compromissos.pdf), expressando o seu desacordo e desagrado com o apoio (ou pelo menos pela ausência de repreensão) da Sra. Presidenta Dilma Rouseff em relação às declarações das ministras Eleonora Menicucci e Maria do Rosário.
Hoje, os jornais divulgam que os clubes militares "recuaram" nas críticas à Sra. Presidenta: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1052712-clubes-militares-recuam-de-critica-a-dilma-por-opiniao-de-ministras.shtml.
Segundo as informações de jornal, o sítio do clube militar publicou um texto lacônico desautorizando o manifesto assinado pelos representantes das três entidades em uma nota, que não está mais disponível.
Aparentemente, o Comandante do Exército mandou que o manifesto fosse retirado: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1226504&tit=Comandante-do-Exercito-manda-retirar-nota-contra-ministros.
É muito bom ver as pessoas e instituições manifestando-se, visto que o direito à livre expressão é uma das principais garantias individuais e é um dos pilares de um Estado Democrático.
Utilizando desse direito, os Clubes Naval, Militar e da Aeronáutica fizeram um manifesto no dia 16/02/2012 (cf. http://www.clubemilitar.com.br/pdf/compromissos.pdf), expressando o seu desacordo e desagrado com o apoio (ou pelo menos pela ausência de repreensão) da Sra. Presidenta Dilma Rouseff em relação às declarações das ministras Eleonora Menicucci e Maria do Rosário.
Hoje, os jornais divulgam que os clubes militares "recuaram" nas críticas à Sra. Presidenta: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1052712-clubes-militares-recuam-de-critica-a-dilma-por-opiniao-de-ministras.shtml.
Segundo as informações de jornal, o sítio do clube militar publicou um texto lacônico desautorizando o manifesto assinado pelos representantes das três entidades em uma nota, que não está mais disponível.
Aparentemente, o Comandante do Exército mandou que o manifesto fosse retirado: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1226504&tit=Comandante-do-Exercito-manda-retirar-nota-contra-ministros.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS (12): Javevó
Javevó: Adj. pessoa mal trajada, feia, de aspecto desagradável (AURÉLIO, 1999, p.1158).
Esse xingamento é uma delícia porque parece o nome de algum tipo de doce tradicional ("para finalizar, polvilhe açúcar refinado nos javevós ainda quentes...).
Não dá nem para desconfiar que é um xingamento.
Modo de usar: Fulano (está) ou (é ) tão javevó.
Esse xingamento é uma delícia porque parece o nome de algum tipo de doce tradicional ("para finalizar, polvilhe açúcar refinado nos javevós ainda quentes...).
Não dá nem para desconfiar que é um xingamento.
Modo de usar: Fulano (está) ou (é ) tão javevó.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Contagem regressiva para o início de 2012
Ou alguém ainda tem dúvida de que o ano só começa depois do carnaval?
5 - Quarta-feira de cinzas
4 - Quinta-feira da ressaca
3 - Sexta feira da saudade
2- Sábado que, só por ser fim de semana, já é motivo para farra renovada
1 - Domingo, porque na segunda, o ano vai começar.
5 - Quarta-feira de cinzas
4 - Quinta-feira da ressaca
3 - Sexta feira da saudade
2- Sábado que, só por ser fim de semana, já é motivo para farra renovada
1 - Domingo, porque na segunda, o ano vai começar.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Mardi Gras
É hoje, terça-feira gorda de carnaval.
Teoricamente seria o último dia dos festejos carnavalescos, mas entre nós há a quarta-feira de cinzas, a quinta da ressaca, a sexta da saudade, o sábado de carnaval renovado, e o domingo, que nesse caso é dia útil de carnaval.
A partir de amanhã estamos em contagem regressiva para o início do ano!
Teoricamente seria o último dia dos festejos carnavalescos, mas entre nós há a quarta-feira de cinzas, a quinta da ressaca, a sexta da saudade, o sábado de carnaval renovado, e o domingo, que nesse caso é dia útil de carnaval.
A partir de amanhã estamos em contagem regressiva para o início do ano!
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Hashi e memória
Vi nesse sítio que o uso de hashi (aqueles pauzinhos utilizados para comer sushi) ajuda a melhorar a memória.
Cf.: http://www.nipocultura.com.br/?p=854
Só não consegui descobrir por que e, se alguém souber, por favor me explique.
Cf.: http://www.nipocultura.com.br/?p=854
Só não consegui descobrir por que e, se alguém souber, por favor me explique.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Domingo de Carnaval - lembrança do ano passado
No domingo de carnaval do ano passado quebrei o meu juramento de não comparecer à folia.
E o que eu ganhei com isso? Um boneco gigante, representando a noiva de Chucky (o boneco assassino), se esfregou desavergonhadamente em mim, e foi embora sem deixar sequer o telefone.
Olha aí o post: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/03/domingo-de-carnaval.html
E o que eu ganhei com isso? Um boneco gigante, representando a noiva de Chucky (o boneco assassino), se esfregou desavergonhadamente em mim, e foi embora sem deixar sequer o telefone.
Olha aí o post: http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/03/domingo-de-carnaval.html
sábado, 18 de fevereiro de 2012
RECEITA PARA ESQUECER UM GRANDE AMOR (DE CARNAVAL)
Amores de carnaval são uma realidade.
Talvez porque a maioria das pessoas vai para a folia com a explícita intenção de ser alegre, e frequentemente a alegria está associada a não ser solitário;
Talvez porque o álcool e a influência da multidão (em um contexto social permissivo) ajudem a liberar algumas amarras morais;
Talvez porque tem tanta gente junta, cada um cuidando da sua vida, que ninguém perde tempo olhando o que você está fazendo;
Talvez porque a sua consciência também está bebâda, e se desprendeu de você para ir pular carnaval em outra ladeira;
Por todos esses fatores, e talvez outros que não vêm ao caso, as pessoas se dedicam a relações amorosas efêmeras durante o carnaval. E não é raro sequer lembrarem do nome das pessoas envolvidas.
Então, a receita para esquecer um grande amor de carnaval é deixar a semana passar, que na quinta-feira as coisas voltam ao normal.
Talvez porque a maioria das pessoas vai para a folia com a explícita intenção de ser alegre, e frequentemente a alegria está associada a não ser solitário;
Talvez porque o álcool e a influência da multidão (em um contexto social permissivo) ajudem a liberar algumas amarras morais;
Talvez porque tem tanta gente junta, cada um cuidando da sua vida, que ninguém perde tempo olhando o que você está fazendo;
Talvez porque a sua consciência também está bebâda, e se desprendeu de você para ir pular carnaval em outra ladeira;
Por todos esses fatores, e talvez outros que não vêm ao caso, as pessoas se dedicam a relações amorosas efêmeras durante o carnaval. E não é raro sequer lembrarem do nome das pessoas envolvidas.
Então, a receita para esquecer um grande amor de carnaval é deixar a semana passar, que na quinta-feira as coisas voltam ao normal.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Jogo da Memória
Para você, que não vai brincar o carnaval, sugerimos o jogo da memória on line como passatempo.
Esse aí combina memória e comida, dois dos meus esportes prediletos: http://jogos360.uol.com.br/tasty_food_memory.html
Esse aí combina memória e comida, dois dos meus esportes prediletos: http://jogos360.uol.com.br/tasty_food_memory.html
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
TRICENTENÁRIO!
Esse é o post número 300.
Agora eu posso dizer, sem perigo de exagerar, que escrevi trezentas ("trocentas") coisas sobre memória.
Trezentos é um número importante, e ser tricentenário já confere antiguidade, posto e respeito ao nosso blog.
E falando em trezentos, lembrei daquele poema "Chopp" de Carlos Pena Filho;
(...)
"Nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados."
Lembro também de 300 de Esparta (que não eram trezentos, ao final das contas).
Enfim, trezentos é um número importante para dedéu, e merece ser comemorado.
Agora eu posso dizer, sem perigo de exagerar, que escrevi trezentas ("trocentas") coisas sobre memória.
Trezentos é um número importante, e ser tricentenário já confere antiguidade, posto e respeito ao nosso blog.
E falando em trezentos, lembrei daquele poema "Chopp" de Carlos Pena Filho;
(...)
"Nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados."
Lembro também de 300 de Esparta (que não eram trezentos, ao final das contas).
Enfim, trezentos é um número importante para dedéu, e merece ser comemorado.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS (11): Arrabaldino
A palavra arrabaldino não nasceu como xingamento. Apenas indicava alguém que provinha dos arrabaldes, ou seja, do subúrbio.
A questão é saber quando ser suburbano, arrabaldino virou xingamento. O porque é fácil: a periferia sempre foi o lugar de moradia dos excluídos do centro político e econômico, então tudo que se relaciona com o arrabalde é considerado "menos", "brega", "barato", quando não "inferior".
Acho importante resgatar o xingamento "arrabaldino" porque, atualmente, só escuto a minha mãe utilizá-lo (e às vezes a minha irmã), tornando-o candidato à extinção, mas também porque o próprio significado da palavra subúrbio está mudando.
Antes era um lugar esquecido por Deus, habitado por quem morava longe. Atualmente é objeto de desejo para quem idealiza bairros planejados, intocados pela mão boba da urbanização caótica, à moda dos filmes americanos.
Então temos que resgatar o xingamento "arrabaldino" do perigo de tornar-se um elogio.
A questão é saber quando ser suburbano, arrabaldino virou xingamento. O porque é fácil: a periferia sempre foi o lugar de moradia dos excluídos do centro político e econômico, então tudo que se relaciona com o arrabalde é considerado "menos", "brega", "barato", quando não "inferior".
Acho importante resgatar o xingamento "arrabaldino" porque, atualmente, só escuto a minha mãe utilizá-lo (e às vezes a minha irmã), tornando-o candidato à extinção, mas também porque o próprio significado da palavra subúrbio está mudando.
Antes era um lugar esquecido por Deus, habitado por quem morava longe. Atualmente é objeto de desejo para quem idealiza bairros planejados, intocados pela mão boba da urbanização caótica, à moda dos filmes americanos.
Então temos que resgatar o xingamento "arrabaldino" do perigo de tornar-se um elogio.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Carnaval 2012
Oficialmente, o carnaval no Brasil iniciará no próximo sábado, dia 18/02/2012, mas como ninguém dá a mínima para o que é oficial nesse período, na verdade já estamos vivendo o clima de carnaval.
Para falar mais a verdade ainda, aqui na minha cidade já temos carnaval desde setembro do ano passado. Em alguns lugares, as prévias são mais animadas que o carnaval em si, motivo pelo qual já há aquela estranha eletricidade no ar.
Existem algumas tradições envolvidas no carnaval que só quem participa sabe:
1) O ritual de preparar a roupa do carnaval, que pode ser uma fantasia ou peças descartáveis. Às vezes eu pulava ou brincava carnaval fantasiada, mas nos últimos tempos antes de me aposentar passei a comprar uma roupa específica, que na quarta-feira de cinzas acabava no lixo (inclusive o sapato).
"Roupa especial" pode ter diversos significados: até se cobrir todo de suco de manga e passar o carnaval todo pegajoso.
2) Pegar uma gripe. Não sei por que mas o carnaval sempre ocorre em época propícia às gripes. A tradição é colocar um nome na gripe, geralmente de mulher ou de um personagem que provocou algum estrago grande.
3) Não existe uma gastronomia específica para o carnaval, a menos que você considere beber álcool uma forma de alimentação.
As pessoas se preocupam muito com o tipo de bebida que vão levar para a folia, e gastam um tempão preparando "batidas" (álcool com frutas e outras coisas). Já tomei batida de maracujá, canela, amendoim, abacaxi...Com limão não é batida, é caipirinha.
4) Abandonar qualquer tipo de questão ou dúvida sobre o contato físico humano. Durante o carnaval é inevitável você se esfregar na maior quantidade possível de pessoas desconhecidas.
É claro que a intensidade do contato vai variar de acordo com o modelo de carnaval: no carnaval das escolas de samba (onde os espectadores ficam na arquibancada), pode ser mínimo; no carnaval dos cordões de isolamento há esfregação por classes (os que estão dentro do cordão e os que estão fora, na pipoca); e no carnaval de rua, onde todos se fantasiam de sardinhas em lata.
Hoje sou aposentada da folia, mas exerci o meu dever cívico de pular carnaval durante vários anos. Aqui nós aprendemos desde crianças a esperar pelo carnaval e, particularmente, acho que essa manifestação cultural demonstra a insofismável capacidade de planejamento do povo brasileiro.
Foi libertador quando entendi que não precisava mais pular carnaval, pois já havia moldado a minha identidade cultural e estava devidamente inserida na sociedade brasileira.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Centenário do livro "Eu", de Augusto dos Anjos
Augusto dos Anjos é um dos meus poetas favoritos, e em 2012 completa cem anos (parece que foi ontem...) da publicação do seu único e precioso livro "Eu".
Aqui no Blog nós comemoraremos esse marco através de posts dedicados ao poeta, e o primeiro deles trouxe o poema "vandalismo": http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/03/vandalismo.html.
Apesar das breves biografia e bibliografia, muito há para ser dito sobre Augusto dos Anjos. Um dos seus poemas mais conhecidos é "versos íntimos":
"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
Toda vez que a falta de educação me aborrece, ou me aborrecem o trânsito, o calor e as merdas cotidianas, lembro que é normal sentir a inevitável necessidade de também ser fera. Lembro de Augusto dos Anjos, respiro fundo, e sigo em frente.
Aqui no Blog nós comemoraremos esse marco através de posts dedicados ao poeta, e o primeiro deles trouxe o poema "vandalismo": http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/03/vandalismo.html.
Apesar das breves biografia e bibliografia, muito há para ser dito sobre Augusto dos Anjos. Um dos seus poemas mais conhecidos é "versos íntimos":
"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
Toda vez que a falta de educação me aborrece, ou me aborrecem o trânsito, o calor e as merdas cotidianas, lembro que é normal sentir a inevitável necessidade de também ser fera. Lembro de Augusto dos Anjos, respiro fundo, e sigo em frente.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Instrumentos estatais para a efetivação do direito à memória coletiva, a partir da preservação dos bens culturais que integram o seu suporte
Para começar, uma advertência: os instrumentos legais de proteção do patrimônio cultural só delimitam e abrangem os bens que são objeto de tutela estatal.
O que significa isso? Que existem bens culturais, portanto integrantes da memória coletiva, que não foram (ainda) percebidos como valiosos pelo Estado, nem apropriados por ele, e nem por isso são menos importantes. Para esses, é a própria sociedade que cria os instrumentos de salvaguarda e perpetuação.
Às vezes a atuação do Estado tem o efeito inverso do esperado: em lugar de preservar, modifica e desestrutura; em lugar de promover, faz com que as pessoas percam o apetite de praticar e transmitir manifestações culturais.
Por outras vezes o Estado persegue manifestações culturais, que só conseguiram sobreviver porque se mantiveram invisíveis ou marginalizadas. Um exemplo clássico: a perseguição aos cultos afro-brasileiros promovidos durante a Era Vargas. Muitos grupos só conseguiram sobreviver porque se "disfarçaram" em outras manifestações (em maracatus, por exemplo) ou sobreviveram nas periferias.
Em primeiro lugar, há um instrumento legal para conhecer os bens culturais: o inventário é previsto pelo artigo 216 da Constituição Federal e consiste em fazer um levantamento dos bens culturais materiais e imateriais, conforme critérios e classificações previamente estabelecidos.
Em segundo lugar, há instrumentos de preservação bens culturais: tombamento (o mais antigo no nosso sistema, e mais conhecido) para bens materiais; registro (para bens imateriais); criação de espaços protegidos (unidades de conservação que contemplam os modos de vida de populações tradicionais, por exemplo); sanções civis, penais e administrativas; desapropriação, meios processuais (ações civis públicas, ações populares) e o licenciamento cultural em geral.
Em terceiro lugar, há instrumentos de transmissão da memória coletiva: dias memoriais (comemorativos), a Educação Patrimonial, o Turismo cultural e pedagógico.
As instituições sociais exercem um importante papel na transmissão da memória coletiva e contribuem formação da memória individual: a Igreja, Escola, Família, entre outras, devem ser estimuladas a incrementarem a sua função memorial e identitária.
O que significa isso? Que existem bens culturais, portanto integrantes da memória coletiva, que não foram (ainda) percebidos como valiosos pelo Estado, nem apropriados por ele, e nem por isso são menos importantes. Para esses, é a própria sociedade que cria os instrumentos de salvaguarda e perpetuação.
Às vezes a atuação do Estado tem o efeito inverso do esperado: em lugar de preservar, modifica e desestrutura; em lugar de promover, faz com que as pessoas percam o apetite de praticar e transmitir manifestações culturais.
Por outras vezes o Estado persegue manifestações culturais, que só conseguiram sobreviver porque se mantiveram invisíveis ou marginalizadas. Um exemplo clássico: a perseguição aos cultos afro-brasileiros promovidos durante a Era Vargas. Muitos grupos só conseguiram sobreviver porque se "disfarçaram" em outras manifestações (em maracatus, por exemplo) ou sobreviveram nas periferias.
Em primeiro lugar, há um instrumento legal para conhecer os bens culturais: o inventário é previsto pelo artigo 216 da Constituição Federal e consiste em fazer um levantamento dos bens culturais materiais e imateriais, conforme critérios e classificações previamente estabelecidos.
Em segundo lugar, há instrumentos de preservação bens culturais: tombamento (o mais antigo no nosso sistema, e mais conhecido) para bens materiais; registro (para bens imateriais); criação de espaços protegidos (unidades de conservação que contemplam os modos de vida de populações tradicionais, por exemplo); sanções civis, penais e administrativas; desapropriação, meios processuais (ações civis públicas, ações populares) e o licenciamento cultural em geral.
Em terceiro lugar, há instrumentos de transmissão da memória coletiva: dias memoriais (comemorativos), a Educação Patrimonial, o Turismo cultural e pedagógico.
As instituições sociais exercem um importante papel na transmissão da memória coletiva e contribuem formação da memória individual: a Igreja, Escola, Família, entre outras, devem ser estimuladas a incrementarem a sua função memorial e identitária.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
RESGATANDO INSTITUIÇÕES ANTIGAS: FOSSO DOS CASTELOS
A série "Resgatando instituições antigas" consiste em propostas concretas de reciclagem, reuso, resgate ou reconstrução de instituições sociais antigas, que poderiam ser úteis de novo para resolver problemas cotidianos.
Já demonstramos a viabilidade do resgate das seguintes instituições/convenções sociais:
1) ostracismohttp://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html
2) auto-sacrifício maia http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html, com a proposta de ser realizado pelos candidatos eleitos nos pleitos municipais, estaduais e federais.
3) a criação de uma ordem municipal de cavaleiros templários para proteger as estradas brasileiras, em apoio à polícia rodoviária, para livrar-nos do bandoleirismo atual http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/12/resgatando-instituicoes-antigas-3.html
4) Reativar o comércio de indulgências, especialmente considerando o período momesco que está por iniciar:http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/01/resgatando-instituicoes-antigas-4.html.
Hoje promoveremos o resgate de um elemento arquitetônico importante para a defesa de fortificações: o fosso.
Observando a arquitetura dos novos prédios à minha volta, não há como negar que são verdadeiros castelos. Cercados de muralhas, com guaritas que dispõem até de seteiras (pequenas aberturas para receber envelopes, encomendas), por causa da violência as pessoas de determinada classe social passaram a residir em fortificações.
Fortificações domiciliares que são dotadas de diversos dispositivos de segurança, tais como alarmes, guardas armados (amados ou não, como diria Geraldo Vandré), dispositivos de comunicação, luzes especiais.
Para aprimorar a segurança dessas fortificações proponho a construção de fossos ao redor dos prédios, que podem ser secos ou inundados, esses últimos ótimos para locais com clima seco, como Brasília, por exemplo. Além da função defensiva e ambiental, o fosso também pode exercer uma função estética (de embelezamento) e também servir à piscicultura.
Essas fortificações domiciliares agora são praticamente auto-suficientes em termos de lazer (o clube e a praça pública já estão dentro dos muros), e com a reedição dos fossos o processo de enclausuramento e encastelamento da sociedade brasileira será realizado com mais charme.
Já demonstramos a viabilidade do resgate das seguintes instituições/convenções sociais:
1) ostracismohttp://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigas.html
2) auto-sacrifício maia http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/11/resgatando-instituicoes-antigasauto.html, com a proposta de ser realizado pelos candidatos eleitos nos pleitos municipais, estaduais e federais.
3) a criação de uma ordem municipal de cavaleiros templários para proteger as estradas brasileiras, em apoio à polícia rodoviária, para livrar-nos do bandoleirismo atual http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/12/resgatando-instituicoes-antigas-3.html
4) Reativar o comércio de indulgências, especialmente considerando o período momesco que está por iniciar:http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/01/resgatando-instituicoes-antigas-4.html.
Hoje promoveremos o resgate de um elemento arquitetônico importante para a defesa de fortificações: o fosso.
Observando a arquitetura dos novos prédios à minha volta, não há como negar que são verdadeiros castelos. Cercados de muralhas, com guaritas que dispõem até de seteiras (pequenas aberturas para receber envelopes, encomendas), por causa da violência as pessoas de determinada classe social passaram a residir em fortificações.
Fortificações domiciliares que são dotadas de diversos dispositivos de segurança, tais como alarmes, guardas armados (amados ou não, como diria Geraldo Vandré), dispositivos de comunicação, luzes especiais.
Para aprimorar a segurança dessas fortificações proponho a construção de fossos ao redor dos prédios, que podem ser secos ou inundados, esses últimos ótimos para locais com clima seco, como Brasília, por exemplo. Além da função defensiva e ambiental, o fosso também pode exercer uma função estética (de embelezamento) e também servir à piscicultura.
Essas fortificações domiciliares agora são praticamente auto-suficientes em termos de lazer (o clube e a praça pública já estão dentro dos muros), e com a reedição dos fossos o processo de enclausuramento e encastelamento da sociedade brasileira será realizado com mais charme.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Eventos sobre a memória - 2012
Neste ano de 2012 há variados eventos sobreo patrimônio cultural e a memória:
http://www.cmu.unicamp.br/viiseminario/grupos-de-trabalho/memoria-e-patrimonio-entre-a-ciencia-e-tecnica
http://www.encontro2012.historiaoral.org.br/simposio/view?ID_SIMPOSIO=58
http://www.ufpi.br/mesthist/eventos/index/mostrar/id/1343
No site da ANPUH há informações sobre variados eventos e chamadas de trabalhos: http://www.dhi.uem.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1799%3Ainformativo-eletronico-da-anpuh-edicao-17-ano-3-&catid=14%3Ablogsfixo&Itemid=217
http://www.cmu.unicamp.br/viiseminario/grupos-de-trabalho/memoria-e-patrimonio-entre-a-ciencia-e-tecnica
http://www.encontro2012.historiaoral.org.br/simposio/view?ID_SIMPOSIO=58
http://www.ufpi.br/mesthist/eventos/index/mostrar/id/1343
No site da ANPUH há informações sobre variados eventos e chamadas de trabalhos: http://www.dhi.uem.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1799%3Ainformativo-eletronico-da-anpuh-edicao-17-ano-3-&catid=14%3Ablogsfixo&Itemid=217
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Souvenir (10): Pirenópolis
Pirenópolis é uma linda cidade no Estado de Goiás, e por isso mesmo compartilha aquela tradição de beleza do Cerrado, local em que passei mini-férias em janeiro.
Trouxe um souvenir para ficar lembrando de lá:
Essa é uma representação de um "Mascarado", um dos personagens da peculiar e complexa "Festa do Divino Espírito Santo", patrimônio nacional registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Esse personagem utiliza-se da máscara como garantia da liberdade de expressão,através do anonimato. Os mascarados fazem crítica social e política, mas também gostam de fazer brincadeiras em geral.
Até o momento, e simplificando com grande possibilidade de erro, eis o que entendi da Festa do Divino Espiríto Santo de Pirenópolis, em especial da Cavalhada: é uma encenação de uma cruzada medieval entre cristãos e mouros, cujo enfrentamento ocorre através de uma Justa entre cavaleiros. Existe um imperador eleito (cúmulo da democracia), escolhido entre os habitantes da cidade e responsável pela distribuição de benesses durante determinado período, e todos esses personagens (cavaleiros, imperador, rei) convivem com os mascarados, que bebem e têm liberdade para brincar.
Acredito que só vou entender realmente essa manifestação no dia em que vivenciá-la, então até lá vou continuar relembrando o que aprendi (através do relato dos moradores).
Trouxe um souvenir para ficar lembrando de lá:
Essa é uma representação de um "Mascarado", um dos personagens da peculiar e complexa "Festa do Divino Espírito Santo", patrimônio nacional registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Esse personagem utiliza-se da máscara como garantia da liberdade de expressão,através do anonimato. Os mascarados fazem crítica social e política, mas também gostam de fazer brincadeiras em geral.
Até o momento, e simplificando com grande possibilidade de erro, eis o que entendi da Festa do Divino Espiríto Santo de Pirenópolis, em especial da Cavalhada: é uma encenação de uma cruzada medieval entre cristãos e mouros, cujo enfrentamento ocorre através de uma Justa entre cavaleiros. Existe um imperador eleito (cúmulo da democracia), escolhido entre os habitantes da cidade e responsável pela distribuição de benesses durante determinado período, e todos esses personagens (cavaleiros, imperador, rei) convivem com os mascarados, que bebem e têm liberdade para brincar.
Acredito que só vou entender realmente essa manifestação no dia em que vivenciá-la, então até lá vou continuar relembrando o que aprendi (através do relato dos moradores).
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Souvenir (9): Porto de Galinhas, Ipojuca
Porto de Galinhas é uma praia localizada no município de Ipojuca, Estado de Pernambuco, na região Nordeste do Brasil.
Atualmente é considerado um dos principais destinos turísticos para quem busca aproveitar o "Sol e Mar", e também conta com boas opções de gastronomia.
Olha aí o souvenir, um azulejo de viagem:
O turismo modificou profundamente a economia local, as ocupações tradicionais e hoje Porto de Galinhas não é mais a praia em que eu acampava quando criança.
Atualmente é considerado um dos principais destinos turísticos para quem busca aproveitar o "Sol e Mar", e também conta com boas opções de gastronomia.
Olha aí o souvenir, um azulejo de viagem:
O turismo modificou profundamente a economia local, as ocupações tradicionais e hoje Porto de Galinhas não é mais a praia em que eu acampava quando criança.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Lembrar Gregório de Matos Guerra
Gregório de Matos Guerra é um poeta português nascido no Brasil (que na época era território português), no século XVII.
Conhecido como "Boca do Inferno" por sua língua (e pena) afiada, Gregório de Matos foi muitas coisas na vida: exerceu cargos públicos (juiz, procurador), jurista, acusado à Inquisição por blasfemar, e foi deportado para Angola.
É considerado o maior poeta barroco do período colonial brasileiro, e sempre foi um dos meus poetas preferidos pela sua ampla, geral e irrestrita irreverência. Por sinal, uma irreverência que ia além do que escrevia, se metade do que contam sobre a sua biografia for verdade.
Gregório de Matos devia ser o maior dos descarados. Vê se tem cabimento dedicar esse poema a uma freira:
"Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor"
Francamente...Não sei se na época em que ele escreveu esse poema as palavras já sugeriam tanta obscenidade, mas vindo dele, sempre podemos esperar o pior (ou melhor!).
É claro que tanta falta de trato teve suas sanções sociais. O poeta se defendeu como pôde:
"Querem-me aqui todos mal,
E eu quero mal a todos,
Eles e eu por nossos modos
Nos pagamos tal por tal:
E querendo eu mal a quantos
Me têm ódio tão veemente
O meu ódio é mais valente
Pois sou só e eles tantos".
Eu tenho saudades de Gregório de Matos, e às vezes me pego pensando: como seria bom ouvir a opinião dele sobre o que acontece hoje. Às vezes sinto falta de uma opinião tão clara como a que ele teria sobre certos assuntos.
Não que eu concorde com a maledicência ou mesmo com as suas opiniões, mas tenho certeza ele nos faria refletir, ainda que fosse para discordar.
Gregório de Matos faleceu em 1695, e permanece atual mais de trezentos anos depois.
Conhecido como "Boca do Inferno" por sua língua (e pena) afiada, Gregório de Matos foi muitas coisas na vida: exerceu cargos públicos (juiz, procurador), jurista, acusado à Inquisição por blasfemar, e foi deportado para Angola.
É considerado o maior poeta barroco do período colonial brasileiro, e sempre foi um dos meus poetas preferidos pela sua ampla, geral e irrestrita irreverência. Por sinal, uma irreverência que ia além do que escrevia, se metade do que contam sobre a sua biografia for verdade.
Gregório de Matos devia ser o maior dos descarados. Vê se tem cabimento dedicar esse poema a uma freira:
"Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor"
Francamente...Não sei se na época em que ele escreveu esse poema as palavras já sugeriam tanta obscenidade, mas vindo dele, sempre podemos esperar o pior (ou melhor!).
É claro que tanta falta de trato teve suas sanções sociais. O poeta se defendeu como pôde:
"Querem-me aqui todos mal,
E eu quero mal a todos,
Eles e eu por nossos modos
Nos pagamos tal por tal:
E querendo eu mal a quantos
Me têm ódio tão veemente
O meu ódio é mais valente
Pois sou só e eles tantos".
Eu tenho saudades de Gregório de Matos, e às vezes me pego pensando: como seria bom ouvir a opinião dele sobre o que acontece hoje. Às vezes sinto falta de uma opinião tão clara como a que ele teria sobre certos assuntos.
Não que eu concorde com a maledicência ou mesmo com as suas opiniões, mas tenho certeza ele nos faria refletir, ainda que fosse para discordar.
Gregório de Matos faleceu em 1695, e permanece atual mais de trezentos anos depois.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Memória Poética - Álvares de Azevedo
"Lembrança de Morrer"
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima,
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste pensamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poente caminheiro,
_ Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o destêrro de minh`alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade _ é dêsses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade _ é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos _ bem poucos _ e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoidecido,
Minhas pálidas cranças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encontrou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flôres...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
Que na vida gozar de teus amôres.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
_ Foi poeta, sonhou, e amou na vida. _
Sombras do vale, noites da montanha,
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe o canto!
Mas quando preludia ave d`aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!
___________
:(
Álvares de Azevedo foi poeta, sonhou e amou na vida. Morreu muito jovem, e acho que ele tinha até uma certa razão de ser tão deprimido.
Quando leio os poemas dele, lembro imediatamente das aulas de Literatura na escola. "Segunda geração romântica": quando chegava nessa parte eu sabia que ia ser um rosário de tristezas.
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima,
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste pensamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poente caminheiro,
_ Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o destêrro de minh`alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade _ é dêsses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade _ é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos _ bem poucos _ e que não zombavam
Quando, em noite de febre endoidecido,
Minhas pálidas cranças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encontrou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flôres...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
Que na vida gozar de teus amôres.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
_ Foi poeta, sonhou, e amou na vida. _
Sombras do vale, noites da montanha,
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe o canto!
Mas quando preludia ave d`aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!
___________
:(
Álvares de Azevedo foi poeta, sonhou e amou na vida. Morreu muito jovem, e acho que ele tinha até uma certa razão de ser tão deprimido.
Quando leio os poemas dele, lembro imediatamente das aulas de Literatura na escola. "Segunda geração romântica": quando chegava nessa parte eu sabia que ia ser um rosário de tristezas.