sábado, 29 de junho de 2013

Manifestação pela efetividade dos direitos fundamentais no Brasil (2013): análise final

O blog está acompanhando as manifestações que exigem a efetivação máxima de direitos fundamentais no Brasil, especialmente pela melhoria da qualidade e abrangência dos serviços públicos. No princípio  tratava-se de uma reclamação pelo aumento da tarifa de ônibus (sem a correspondente melhoria do serviço),  mas diante do desenrolar dos fatos passou a ser um questionamento geral sobre como os serviços públicos são prestados no Brasil, e o seu reflexo na qualidade de vida de todos nós. E aí estão incluídos o serviço de segurança pública (com críticas à atuação da polícia em geral), da saúde, da educação, e qualquer outro de que você consiga lembrar.

Todos os pacíficos manifestantes levaram suas demandas à praça pública, e bastava olhar ao redor para perceber o que mais estava faltando em nossas vidas.  Demandas tão variadas, tão sérias, ainda que por vezes manifestadas de maneira cômica ou tragicômica.

Além da evidente oportunidade de estudo por observação do Direito Constitucional - o elemento "povo" do Estado apareceu, e tentou emanar o seu poder - as manifestações também  me  serviram como termômetro para avaliar a efetivação dos direito fundamentais.

Percebi que nem os direitos de primeira geração ou dimensão estão bem consolidados entre nós.  Se as liberdades públicas de pensamento, manifestação e criação, quando exercidas causaram tanta estranheza, significa que o Estado e seus agentes ainda estão aprendendo a lidar com elas.

A reação inicial dos governos municipais e estaduais, bem como da imprensa, confirma que não há uma prática democrática consolidada entre nós.  Não saber agir diante de uma manifestação pacífica pela efetivação de direitos demonstra inexperiência democrática das instituições.

Por outro lado, o núcleo das reivindicações é melhoria da qualidade de vida através da eficiente prestação de serviços públicos. No meu particular modo entender, o Estado é uma máquina de prestação de serviços, e será tanto mais legítimo quanto conseguir desincumbir-se de suas atividades previstas nas Constituição Federal, que no nosso caso são as seguintes, entre outras:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Sim, a minha concepção é formal, porque considero a organização estatal  um instrumento, e não um fim em si mesma.

Houve um início, e um meio (analisados parcialmente através dos posts  http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/manifestacoes-por-direitos-fundamentais.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/manifestacoes-sobre-direitos.html ), agora percebo uma mudança e uma preocupação quanto aos destinos das reivindicações.  As pessoas aderiram ou apoiaram majoritariamenteas manifestações e agora questionam-se sobre a sua continuidade porque as vitórias (redução de tarifas, aprovação da corrupção como crime hediondo, um eventual plebiscito) são medidas pontuais que não vão conseguir promover as mudanças estruturais necessárias ao real atendimento das necessidades.

A preocupação é que até as pequenas conquistas sejam com o tempo perdidas.  A falta de memória do brasileiro mais uma vez aparece como uma questão política: já ouvi diversas vezes que, daqui a alguns meses, vai estar tudo igual e todo mundo já se esqueceu das manifestações.

Em relação a isso, entendo que a memória e a democracia são um compromisso permanente.  Se o gigante acordou, se a Primavera "abriu as janelas do nosso peito", ou "se o povo unido jamais será vencido", eu não sei. Eu só espero e acredito que a consciência política pode se tornar um costume entre nós, e aí o movimento terá produzido uma mudança importante nas mentalidades que moldam as instituições.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Cerimônias de Formatura: reflexão etnográfica

Essa  nova série do blog foi criada para analisar as festividades/situações sociais em que nos metemos periodicamente.  Não são necessariamente comemorações oficiais, mas servem para compor o mosaico do nosso modo de ser, viver e sentir.  Iniciamos com uma reflexão sobre o Chá de Panela (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/cha-de-panela-reflexao-etnografica.html), para mim sempre motivo de mistério e questionamento.

Hoje, resolvi refletir um pouco sobre as cerimônias de formaturas variadas que acontecem no Brasil e, para mim, são muito curiosas.

A colação de grau em cursos superiores sempre foi muito valorizada na sociedade brasileira, talvez porque o Brasil demorou muito para conquisar as suas próprias universidades.   Como resultado, quem queria estudar (pelo menos na minha área, que é o Direito) precisava ir à Europa, passava anos longe da família e, ao graduar-se, retornava à terra natal. Imagino que a grande pompa e circunstância da ocasião deva-se, também, à alegria pelo retorno desses familiares.

Não sei, estou só tentando entender.  Analisando a minha própria experiência, percebo que em geral as cerimônias de formatura compõem-se de:

a) Aula de encerramento ou da saudade:  fechamento cíclico com a última aula da graduação.
b) Cerimônia de colação de grau: onde alguém torna-se bacharel ou licenciado.
c) Baile de formatura:  que é uma festa para familiares e amigos.

Por tradição, o curso de Direito ainda acrescenta o ato da bênção dos anéis de formatura através de uma cerimônia religiosa.  Em outros cursos também constatei que às vezes ocorre uma  celebração ecumênica.

Tudo isso geralmente concentrado em um semana, uma verdadeira maratona que exige vários trajes dos formandos (vestidos de gala, de coquetel, roupas formais, sapato apertado) e dos familiares. São cerimônias protocolares, cheias de atos simbólicos, e cujo prolongamento e ressonância são capazes de ilustrar a sua importância.

Tão importantes que hoje existe uma indústria de "cerimoniais" que criam festas cada vez mais extravagantes com novas e velhas tradições adicionadas para "incrementar" as festas.  Por exemplo, jogar o capelo para cima: tradição inventada.  Fogos de artifício no baile: tradição inventada.

Esse modelo vem sendo copiado para outras formaturas, por exemplo, do ensino médio, da alfabetização, como se a cada etapa educacional a gente tivesse que parar para comemorar esses marcos.

Em outras culturas a festa de formatura não é tão comemorada.  Essas festividades prolongadas acontecem em casamentos, funerais, por exemplo.  Então, porque entre nós, brasileiros, a formatura atingiu esse status? Eu, particularmente, gosto muito de formaturas porque é uma ocasião em que as pessoas realmente ficam orgulhosas e contentes, com uma sensação de dever cumprido.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Lua inesquecível

Foto de Marcelo Müller
A maior lua e mais brilhante que eu já vi.  Dia 23/06/2013.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Direito à memória coletiva: povos indígenas e a ditadura (1961-1988)

Hoje assisti a esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=FwSoU3r1O-Q.

Relatos assim mostram como a memória coletiva dos grupos é importante para todos nós.  Os relatos  de  violência desse vídeos foram transmitidos entre as gerações de vítimas, pelos familiares em sua dor privada, e só agora se tornaram públicas.

Eram memórias marginalizadas, clandestinas.  Mas, em determinados contextos históricos, essas memórias  subterrâneas, mantidas na clandestinidade porque afrontam a ideologia oficial, ressurgem em épocas mais propícias, aparecem sob a forma de reivindicações sociais, como destaca Pollak (1989, p. 5).

Muitas das violências cometidas contra os indígenas e relatadas nesse vídeo, acredito, são resultados de sua condição de "incapazes" perante o Direito Brasileiro. Não que a capacidade de exercício civil interfira nas violências, mas o fato de ser negado o status igualitário que lhes é de direito possibilitou essa percepção, essa representação de incapacidade geral (cf. post http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/19-de-abril-dia-de-que-indio.html).


Referências

DANTAS, Fabiana Santos.  Direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol 2, nº 3, p. 3-15, 1989.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Direito à memória dos mortos: lápides

As lápides são marcos, antigamente feitos de pedra.  Em Latim a palavra lapis designa pedra ou espécie de carvão para escrever, então provavelmente o nome "lápide" indica não só o local mas o ato de marcar o nome do falecido.

São muito interessantes pois além de indicar o local do sepultamento e nome do indivíduo, e as datas de nascimento e morte, preservando-os assim do esquecimento, as lápides às vezes trazem uma foto, poemas, e também elementos artísticos que contam uma história.

Alguns cemitérios são famosos pela peculiaridade de suas lápides: confiram o cemitério da vila de Sapanta, na Romênia https://www.google.com.br/search?safe=off&q=happy+cemetery&biw=1600&bih=775&bav=on.2,or.r_qf.&um=1&ie=UTF-8&hl=en&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi&ei=gC3IUdfmFIPI9QT-iICADg.

(Algum dia irei à Romênia.  Que lugar interessante! Não bastasse as estórias de vampiros e a melhor cerveja do mundo, ainda há tanta história para conhecer...Além disso, o hino da Romênia é belíssimo, e o time de futebol já deu grandes craques ao mundo, especialmente Raducioiu e o meu adorado Hagi. Adoro a Romênia, fim dos parênteses).

Voltando ao reino dos mortos, ter o seu nome em uma lápide é um direito.  O contrário - ser proibido de ter uma lápide - durante muitos séculos foi uma espécie de penalidade aplicável aos excomungados e aos inimigos do Estado.  A pena era ser esquecido.

Na Antigüidade, o esquecimento era concebido como uma forma de punição: na Grécia, os que desapareciam no Hades tornavam-se nônumnoi (anônimos, sem memória) e em Roma existia a damnatio memoriae, consistindo em fazer desaparecer o nome do imperador defunto dos documentos dos arquivos e das inscrições monumentais, por exemplo, Calígula, Nero, Geta (GILL, 2008), para com isso condenar-lhes à morte (LE GOFF, 2000, p. 26). 

damnatio memoriae era espécie de penalidade aplicada sobretudo aos governantes e outros poderosos que, por uma mudança de política ou pela morte, eram declarados “inimigos do Estado”: seus nomes eram removidos, as efígies e estátuas destruídas e seus decretos perdiam a vigência (WEINRICH, 2001, p. 59).

Posteriormente, e com base nessas tradições, os cristãos adotaram a mesma técnica da damnatio memoriae como penalidade para os excomungados que, após a morte, não podiam ter o seu nome lembrado de nenhuma maneira, através dos Concílios de Reisbach (798 d.c.) e Elne em 1027 d.c.(CATROGA, 2002, p.26).A penalidade era imposta pela fórmula “oblivione delebitur nomen jus” – de esquecimento seja apagado o nome dele (WEINRICH, 2001, p. 60).

Com a gradual mudança dos ritos funerários, a inumação sendo substituída pela cremação no Brasil, acredito que em breve a indústria das lápides entrará em crise.

REFERÊNCIAS

CATROGA, Fernando. Recordar e comemorar – a raiz tanatológica dos ritos comemorativos. Revista Mimesis, Bauru, vol. 23, nº 2, pp. 13-48, jul/dez. 2002.

DANTAS, Fabiana Santos.  Direito fundamental à memória.  Curitiba:  Juruá, 2010.

GILL, N.S. Emperors Whose Memory Was Erased by Senate Decree - Damnatio memoriae. Disponível em: <http://ancienthistory.about.com/od/romannames1/a/EmperorsErased.htm>. 

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Lisboa: Edições 70, 2000.

WEINRICH, Harald. Lete – Arte e crítica do esquecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

sábado, 22 de junho de 2013

Cápsula do tempo

Adoro cápsulas do tempo, intencionais ou não.  A idéia de deixar informação presente para que as futuras gerações conheçam o passado é fascinante.

Hoje as cápsulas do tempo são enviadas até em artefatos espaciais, e levam informação sobre o que é o nosso planeta e onde nós estamos.  Algumas são bem famosas, como a Cupaloy, cápsula que foi enterrada durante a  Feira Mundial de New York (1939), e que deverá ser abertas no ano de 6939.

Será que alguém lembrará de abri-la?

A informação contida em uma cápsula do tempo deve ser suficiente para conhecer e contextualizar aqueles que a criaram.  Alguns sítios e achados arqueológicos são verdadeiras cápsulas do tempo, e por isso devem ser protegidos da descontextualização.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Resgatando instituições antigas: Arautos

Os Arautos são servidores públicos importantíssimos, pois levam a mensagem dos governantes ao povo.  Adoro ver filmes que retratam a Idade Média, e sempre que o Rei ou senhor querem dar ordens aos súditos, lá está o Arauto lendo um édito, alardeando com estrépito a vontade estatal.

Apesar de também portar mensagens, o arauto não pode ser comparado a um office boy ou a qualquer espécie de mensageiro, pois é uma função grave e solene, e também não pode ser considerado um porta-voz.

O Arauto anuncia, e ser anunciado é muito importante para destacar o prestígio do governante e para evitar aquelas cenas constrangedoras de ter alguém se comportando indevidamente na ocasião da sua chegada.  

Acredito que a função de Arauto deveria ser retomada, se:

1) Como vivemos em uma república, todos os cidadãos tiverem direito de contratar o seu próprio arauto, garantidos os direitos trabalhistas; 

2) Fossem adotadas medidas para evitar doenças profissionais, especialmente quanto ao uso da voz, e protetores de ouvidos quando necessário o uso de trombetas;

3) Houvesse uma clara proibição de utilizar os arautos como guardadores de lugar em filas de banco e de repartições públicas, já que o dever de aguardar em uma fila deve ser personalíssimo.


4) Os arautos, pelo alarde que provocam, não devem ser utilizados para anunciar o fim de relacionamentos amorosos.

Sei que em alguns lugares ainda existem arautos, mas como estão desaparecidos do Brasil há algum tempo, e sinto a sua falta, decidi propor o resgate de mais essa instituição antiga.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestações sobre direitos fundamentais no Brasil (2013): análise (im) parcial

Após uma semana de  manifestações, percebe-se que há algumas regularidades que nos permitem estabelecer suas características para um perfil:

- são diversificadas quanto ao público e quanto às demandas.  Todo mundo que precisa protestar sobre alguma coisa está levando a sua reivindicação diferente.

- são apartidárias.  Não são comandadas por nenhum partido e nem por qualquer categoria específica.  Essa é uma grande novidade no Brasil, e por isso, já as considero históricas.

- Diferentemente do que aconteceu em 1992, onde a finalidade do movimento era uma mudar a conjuntura (no caso, de Presidente), em 2013 parece que as pessoas querem mudar as estruturas.  Portanto, são reivindicações mais profundas e transformativas.

- Os manifestantes não querem mudar o governo.  Querem que o governo mude as nossas condições de vida, e isso é notável.

Até o momento, tratam-se de manifestações dentro de uma ordem jurídica normal, no sentido de que não se pretende a ruptura da ordem estabelecida.  Isso me parece evidente porque as pessoas incorporaram as manifestações no seu cotidiano: cumprem seus afazeres normais e reservam um espaço para a manifestação.

Se pretendessem algum tipo de ruptura, essa normalidade diária não mais existiria.

- O caráter difuso e sem liderança está dificultando o diálogo com o governo. É preciso adaptar-se ao advento das redes sociais.

-começam pacíficas e terminam violentamente.  Parece que depois que os manifestantes democráticos vão embora, só sobra a revolta.  No mínimo, seria uma boa metáfora, caso as reivindicações sejam frustradas.

Realmente, e sinceramente, temo que se algumas manifestações não produzirem efeito prático de melhorias a população fique desencantada. E se os manifestantes democráticos forem embora pelo desencanto, só vai sobrar a sensação de que não adianta se mobilizar, e aí só sobra a violência.

- As polícias estão em estado de choque.  Depois do questionamento geral da atuação no primeiro dia do movimento, parece que não se quer ou não se sabe agir.  Quando o vandalismo toma conta ao final das passeatas, não percebi a atuação efetiva da polícia.  Pelo contrário, lamentei profundamente ver policiais acuados e feridos por grupos de jovens sem nenhum tipo de controle.

Democracia não é ausência de repressão da violência.  Pelo contrário, a violência, qualquer que seja a fonte é profundamente anti-democrática e deve ser reprimida com vigor, e com respeito à lei.

Finalmente, deixo aqui o meu lamento pelas pessoas e monumentos feridos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A lenda do Ururau

A primeira lenda brasileira que eu lembro ter aprendido é a do Ururau.   Conta-se que na cidade de Campos dos Goytacazes houve um amor proibido entre um homem pobre e uma moça rica, filha de um coronel.  Esse coronel, descontente, matou o rapaz e jogou em um rio, em um curva em frente à Lapa.

O rapaz encantou-se na forma de um grande jacaré do papo amarelo (Ururau), e vez por outra sequestrava as meninas que estavam na Lapa, onde próximo funcionava um orfanato, e as levava para o fundo do Rio.  Por isso é conhecido como Ururau da Lapa.

O coronel, muito arrependido, resolveu comprar um sino de ouro para colocar na lapa e assim afastar Ururau.  Ocorre que ele era mais esperto e virou o barco.  Mas não foi tão esperto assim porque o sino caiu no rio e ele ficou preso dentro.

Eu ficava fascinada com essa estória, e também porque no meu livrinho havia um desenho do jacaré dentro do sino.  Eu ficava intrigada:  como se podia ver o jacaré se o sino não era transparente?  Se não era de vidro, mas de ouro?

Para mim, sempre foi uma idéia assustadora a questão de haver um jacarezão no fundo do Rio, com ou sem sino.

Pensando bem, essas histórias são bem aterrorizantes.  Cada coisa que se conta para criança...

Há alguns anos tive a oportunidade de participar de uma palestra sobre contos de fada, não essas fofurinhas amenizadas pelos Grimm e Andersen, mas as estorias do "folclore" bruto.  Eram todas terrivelmente violentas e fiquei com a sensação que eram uma espécie de folha policial da época.

Tenho também uma coletânea de lendas indígenas brasileiras produzidas pela OPIAC (Organização dos Professores Indígenas do Acre), chamado "Shenipabu Miyui - história dos antigos", editado pela UFMG em 2000, que são um rico material para estudo e também muito densas.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Manifestações por direitos fundamentais no Brasil (2013)

Começamos a acompanhar aqui blog as manifestações por direitos fundamentais no Brasil no post (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/10/memoria-coletiva-e-autoritarismo-3-o.html?showComment=1371504843946#c780751069242411550), que iniciaram como protestos contra o aumento de passagens nos transportes públicos e se transformaram em um movimento de reivindicação geral por democracia.

O ponto de mutação do movimento, é fácil identificar, foi a maneira anti-democrática de perceber (não ouvir ou não atender, note-se) as reivindicações.  E nada do que aconteceu seria necessário se houvesse algum canal institucional através do qual as pessoas pudessem exigir os seus direitos, e que realmente funcionasse.

A sensação de que não adianta reclamar e exigir normalmente é que levou as pessoas às ruas. E o que começou como uma manifestação "contra" o aumento das passagens, passou a uma reivindicação a favor da melhoria da qualidade do serviço de transporte, e depois, da qualidade de vida em geral.

Agora, todo mundo que tem uma reivindicação vai levá-la à praça pública.  Então, basta olhar para o cidadão ao lado para aprender mais um aspecto do que falta à nossa qualidade de vida.

Ontem, dia 17/06/2013, houve mais uma manifestação no Estado de São Paulo, mas outras localidades também estão se manifestando.

Estou muito curiosa e interessada para ver como as pessoas, instituições e poderes irão se portar.  Este post é para acompanhar o desenrolar dos eventos e, garantimos, não vamos esquecer, independentemente dos resultados.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Desafio para a memória: Receita de Vatapá

Depois perguntam porque não sei cozinhar, já que venho de uma família de grandes cozinheiros (pai, mãe, irmão, marido) e apreciadores de muita comida (eu).  Tenta aí lembrar dessa receita:

Vatapá


1 Kg de peixe      (Não tem peixe.  Vatapá baiano não tem peixe)
250 gramas de amendoim
250 gramas de castanha
1 cebola
1 tomate
Meio quilo de camarão defumado
Suco de um limão
Gengibre (De jeito nenhum, Vatapá não leva gengibre)
Meia xícara de leite de coco
Meia xícara de água
Sal e pimenta a gosto
azeite de dendê a gosto (goste pouco, viu?, porque senão fica muito forte)


Modo de fazer

Tempere o peixe com limão, sal e pimenta. Você frita o peixe.  Não frita o peixe.
Refoga a cebola e o tomate, depois coloca o  peixe fito ou nãofrito e deixa cozinhar até ficar macio.
Depois, no caldo que ficar acrescentar o amendoim (torrado e sem pele, ou não torrado), a castanha (torrada? Ninguém explica), o camarão, o leite de coco e o dendê, depois passa tudo no liquidificador.
O creme deve ser engrossado com pão dormido, só não me dizem quando é para colocar.


Apresentação:  O Vatapá é um creme muito, muito saboroso, meio alaranjado (se colocar muito dendê fica muito alaranjado), que é servido com arroz branco (ou angu de arroz).  É comida de santo nas religiões afro-brasileiras, e, se não me engano e com perdão da ignorância, é de Ogum.

Lembrou?

Agora tente executar essa receita com duas pessoas do seu lado, ensinando receitas totalmente diferentes (descobri que há uma diferença entre o Vatapá da Bahia e o vatapá da minha região), e ainda dizendo  "está errado",  "não é assim, não", "você esqueceu o amendoim", "já fez o peixe?", "esse vatapá não tem acompanhamento não?", "é pra hoje?"

Depois ainda questionam porque não sei cozinhar (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/08/receita-de-tilapia.html).

Só mais uma coisa:  se o ingrediente não vai na receita local (por exemplo, gengibre), por favor não fiquem repetindo "gengibre", porque fatalmente a repetição vai me levar a memorizá-lo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Filmes educativos do IPES

A memória coletiva é constituída por representações sociais.  O imaginário coletivo é uma fonte de estudo memorial riquíssima, e a experiência brasileira ilustra como a propaganda pode ser utilizada eficientemente em sua construção.
O famoso Instituto IPÊS, fundado em 2 de fevereiro de 1962, foi criado para “proporcionar a educação moral e cívica dos cidadãos”, e no exercício dessa missão produziu documentos, filmes, seminários e exposições culturais com o objetivo de angariar a simpatia popular para o futuro golpe de Estado de 1964 (ASSIS, 2001, p. 22).  Não por acaso muitos membros do futuro governo ditatorial eram associados.
Os filmes produzidos são especialmente interessantes pelo discurso que veiculam, e  serviam perfeitamente à doutrinação do público alvo, principalmente os analfabetos e as mulheres. A idéia repassada era que para criar o “Brasil Grande” bastava coibir a baderna, ou seja, as reivindicações salariais, protestos, organização da classe estudantil, o que pode perceber do próprio título dos filmes produzidos pelo IPÊS, tais como: “Deixem o estudante estudar”, “O Brasil precisa de você”, “Que é a democracia?”, que eram exibidos em Igrejas, clubes, praças e escolas (LOUZEIRO, 2001, p. 38-43).
Hoje, há um catálogo dos filmes produzido recentemente pelo Arquivo Nacional (http://www.portalan.arquivonacional.gov.br/media/Ip%C3%AAs%20filmes%20%20final%2013%20nov.pdf), mas até bem pouco tempo era relativamente difícil conseguir informações.
Consegui encontrar alguns deles no Youtube, e são interessantes para quem quer conhecer um pouco mais a narrativa desse período de desestabilização (1961-1964): "Omissão é crime" http://www.youtube.com/watch?v=ZOCL6OkzCy4; "O Brasil precisa de você" http://www.youtube.com/watch?v=wzWricBgMt8; "História de um maquinista" http://www.youtube.com/watch?v=0SrMI9SD6DU; "Nordeste problema nº 1 " http://www.youtube.com/watch?v=HHrUXEh_Rfg.
 Hoje lembrei do IPES.

Referências

ASSIS, Denise. Propaganda e Cinema a serviço do golpe – 1962/1964. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.

LOUZEIRO, José. O IPÊS faz cinema e cabeças. In: ASSIS, Denise (org.). Propaganda e Cinema a serviço do golpe – 1962/1964. Rio de Janeiro: Mauad, p. 31-40, 2001.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Salvem o torrone

Dizem que todo mundo sonha, mas nem sempre conseguimos lembrar.  É realmente um desafio investigar as relações entre o sonho (será que sonhar é uma forma de lembrar?) e a memória individual.

Pois bem.  No sábado tive um sonho que dificilmente vou esquecer.

Recebi uma denúncia (dormindo) de que o torrone estava em risco de extinção e precisava ser preservado.

Eu pensei (no sonho), "mas... o torrone? Será?".  Nunca tinha ouvido falar, nem em sonho, que o torrone estava em risco, se bem que há algum tempo não os vejo.

Foi a noite toda de agonia, tentando preservar o torrone, até que resolvemos (eu e um pessoal que apareceu no meu sonho), fazer uma campanha pela preservação desse doce.  Nos mobilizamos e o resto da noite acabou em uma passeata pelo torrone.

No domingo, apesar da febre que me assolava (acho que peguei sereno no sonho), fiz uma pesquisa para ver como andavam as coisas para o lado do torrone e, pelo que me consta, está tudo bem.

O chato é que fiquei com desejo de comer torrone desde então, de comer muito torrone.  Talvez agora, realmente, ele esteja em risco de extinção.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Período Junino 2013

O mês de junho chegou e, como o calendário brasileiro é baseado em festividades, é tempo de pensar sobre o significado das Festas Juninas (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/festas-juninas.html   )

É tempo também de reiterar nossa convicção, reafirmando a nossa campanha contínua contra a caracterização pejorativa dos matutos e contra o casamento forçado na quadrilha (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/campanha-contra-caracterizacao.html e http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/06/preparacao-para-as-festas-juninas-2012.html).


sábado, 1 de junho de 2013

Esquecedouros: orfanatos


Há vários motivos que levam as pessoas a serem deixadas em orfanatos.  Entregar o filho à adoção pode ser um ato de amor, porque os pais ou responsáveis não poderiam dar a vida digna que toda criança merece.

O ideal era que os pais em situações assim pudessem recorrer às instituições de guarda, sem no entanto abandonarem os seus filhos. Sei que há casos em que os responsáveis mantêm a visitação das crianças nos orfanatos até que a vida permita reunir a família novamente.

Mas muitas as crianças são apenas abandonadas, e isso deve ser profundamente doloroso.

Assim com a roda dos enjeitados (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/esquecedouros-roda-dos-enjeitados.html), considero os orfanatos também como esquecedouros.  É um lugar de desmemória onde pessoas que foram abandonadas perdem as informações sobre a sua origem familiar, o seu nome, muitas passam a vida buscando informações sobre o próprio passado.

Ainda bem que existem os orfanatos, mas em um mundo perfeito não deviam existir crianças abandonadas.