sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Líder da comunidade judaica preso em Auschwitz durante a comemoração dos 70 anos da libertação

Essa notícia eu tenho que registrar: http://www.independent.co.uk/news/world/europe/jewish-leader-riccardo-pacifici-trapped-in-auschwitz--after-filming-a-70th-anniversary-show-then-arrested-when-he-tried-to-escape-with-crew-10009941.html

Os portões foram fechados, mas inadvertidamente algumas pessoas ficaram para trás.  Ao tentar "fugir" por uma janela, o líder da comunidade judaica de Roma, cujos avós foram mortos no campo de concentração, foi detido e interrogado longamente pela polícia.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Carnaval: reflexão etnográfica

Essa  série do blog foi criada para analisar as festividades/situações sociais em que nos metemos periodicamente.  Não são necessariamente comemorações oficiais, mas servem para compor o mosaico do nosso modo de ser, viver e sentir.  Iniciamos com uma reflexão sobre o Chá de Panela (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/cha-de-panela-reflexao-etnografica.html), para mim sempre motivo de mistério e questionamento;  depois refletimos sobre a particularíssima forma de comemorar formaturas, em festas que duram dias e noites (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/06/cerimonias-de-formatura-reflexao.html, e finalmente, a anacrônica e não menos intrigante festa de debutantes (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/festa-de-15-anos-reflexao-etnografica.html).

Agora o assunto é sério, vamos falar de carnaval.

O carnaval brasileiro não é uniforme em todas as regiões.  Em alguns lugares parece que o mundo acabou ou virou de cabeça para baixo, as leis foram reinventadas e nada será como era antes.  Em outros lugares, não existe carnaval ou, se existe, é tão  sutil que eu não o reconheceria enquanto tal.

Afirma-se que é uma festa de inversão, e isso é bem verdade aqui na paisagem onde habito. Contrariando a prática normal, é um exemplo de planejamento.  Quando o carnaval termina, no dia seguinte já estão (amos) planejando o próximo.

Algumas verdades precisam ser ditas sobre os carnavais do meu lugar:

1) A festa não dura só quatro dias. Normalmente há o sábado de Zé-Pereira, o domingo de carnaval, a segunda, a terça-feira gorda e a quarta-feira de cinzas, que não deveria ser dia de festa, mas acaba sendo.  Oficialmente, em Olinda estendemos o carnaval até a quinta-feira do Batata.  A sexta-feira é nebulosa, nada funciona, o sábado da retomada, o domingo da despedida, e aí é o fim. Na segunda, começamos a pensar no carnaval do ano seguinte.

Tenho a firme convicção de que, sendo o carnaval geralmente em fevereiro, deveríamos ter a coragem de imprensar logo o mês de janeiro e acabar com toda essa angústia.

2) As prévias carnavalescas não acontecem apenas no período imediatamente anterior à folia.  Entre nós, começam em setembro.  Desde setembro de 2014 escuto os ecos do carnaval em bailes, acerto de marcha dos blocos, ensaios, enfim, tudo muito profissional e planejado.

3) Aqui nós não brincamos o carnaval, o pulamos.  Nós pulamos carnaval e levamos tudo muito a sério.  Não dá para chamar isso de brincadeira.

4) Outras especificidades já tratadas anteriormente: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/02/carnaval-2012.html.

Enfim, como essa é uma reflexão etnográfica, tenho que falar sobre a minha experiência carnavalesca. Eu fui criada em uma família de foliões, e adestrada para amar o carnaval e dele participar com todas as minhas forças.

Durante muito tempo, e em cada fase da vida, frequentei festas.  Quando criança, ia às matinês dos clubes, ambientes controlados onde os pimpolhos em formação recebem as lições preliminares.  Depois, quando adolescente, caí na farra das ruas, que caracteriza o nosso carnaval.

Aqui abro parênteses para dizer que não consigo entender carnaval dentro de cordão de isolamento ou em desfiles de escola de samba como no Rio de Janeiro. O meu carnaval é solto e esfregado, com muito contato humano.

O carnaval de rua é um interessante e louco exercício de liberdade.  Cada um se fantasia como pode e como quer, faz o que quer, bebe o que quer.  Infelizmente, há sempre aqueles que querem fazer o mal, então é também uma oportunidade para a prática de crimes.  Foi por causa desse tipo de ocorrência que eu renunciei à festa.

Quem pula carnaval com espírito de liberdade e festa, acredito, ganha uma experiência inesquecível.  Tenho recordações maravilhosas, fui passista, dancei pelas ruas da minha cidade, falei e cantei com desconhecidos que eu nunca mais vou ver, contrariando todos os conselhos maternos, e que estavam ali só para ser felizes.

O carnaval é um encanto de se ver. Adoro as fantasias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/fantasias-de-carnaval-reflexao-e.html), adoro as músicas centenárias (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/02/marchas-de-carnaval.html), adoro a diversidade de expressões culturais que aparecem nessa ocasião: maracatus rurais e nação, caboclinhos, afoxés, blocos loucos, gente alegre e um humor que faz falta no resto do ano. 

Confesso que apesar de ter desistido do carnaval, quando chega a época fico com muita vontade de sair pulando (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/03/o-significado-do-carnaval.html).  Quem sabe em 2015 eu me desaposento?

domingo, 25 de janeiro de 2015

Antes do sistema público de abastecimento

A distribuição pública de água e esgoto é uma novidade relativamente recente no Brasil. No início do século XX, pelo menos aqui na minha cidade, o abastecimento era feito através de uma empresa privada que levava galões de água em carroças puxadas a tração animal de porta em porta.

Era isso ou cada um por si, com a lata de água na cabeça, providenciava o seu próprio abastecimento.

Abastecimento e saneamento, duas faces da mesma moeda, dependem de obras de infra-estrutura que no geral permanecem ocultas à vista de população, e por isso, não dando votos, em geral não recebem a atenção dos governantes de visão mesquinha.

Na minha cidade o saneamento sempre foi um caso à parte.  Até o início do século XX, conta-se que as pessoas jogavam as fezes pela janela, e em uma dessas ocasiões um desavisado Charles Darwin, que visitava a minha cidade, ficou coberto de fezes e realmente enfezado, que é de onde vem essa palavra.  Pelo menos, antes de jogar tudo pelas janelas, as pessoas tinham a dignidade de gritar "água vai"...

Os escravos também tinham mais esse fardo de carregar tonéis cheios de fezes pelas ruas da minha cidade.  Dizem que o doce balanço dos baldes e tonéis fazia com que o conteúdo se derramasse sobre os carregadores, pintando-os com padrões rajados que lembravam os tigres, daí serem chamados de "tigreiros".

Agora a situação melhorou um pouco, mas a solução mais fácil foi escolhida: jogar tudo nos rios.  Não é nenhuma novidade, já que relatos antigos diziam que nós, os habitantes dessa cidade ensolarada, jogamos tudo neles há muito tempo, inclusive cadáveres.  70% da nossa cidade não possui saneamento ainda hoje, e isso inclui as moradias da elite.

Enfim, tudo isso para dizer que nós poluímos os corpos hídricos, o que faz com que a água passe a ser escassa em função da qualidade ruim, e por isso devemos consegui-la cada vez mais longe e a um custo crescente.

São Paulo dispõe de água.  O sistema Cantareira em declínio desesperador não deveria ser a principal fonte abastecimento, a depender da mira de São Pedro.  Bastava uma política séria de reuso da água, e sistemas mais eficientes de captação da água da chuva e de retenção e infiltração, por exemplo, mais telhados verdes, menos impermeabilização do solo e, evidentemente, uma mudança radical no padrão de consumo.`

O reuso é mais barato do que mudar o curso dos rios, além do que, deve-se partir do pressuposto de que a natureza nunca está errada.  Vamos observar o que está acontecendo em São Paulo, com o terrível prognóstico de colapso hídrico nos próximos quatro meses, para ver se aprendemos alguma coisa com essa dura, amarga, terrível lição, de consequências imprevisíveis.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Memória Poética - Cálice - Gilberto Gil e Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai, afasta de mim esse cálice
"Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça"
____________
Memória de um tempo (1973) onde no Brasil a bebida era amarga, e a ordem era "cale-se".

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Restruição (2): a icônica máscara dourada de Tutancamon

Ninguém esqueceu da restruição (restauração + destruição) do afresco de Borja (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/08/restruicao.html), ocasião em que Doña Cecília conseguiu transformar Jesus Cristo em outra coisa qualquer.

Agora chegam notícias de que a icônica máscara de Tutancamon foi danificada durante uma limpeza, aparentemente o cavanhaque dourado foi quebrado e, pasmem, foi consertado com cola de uso comum, material irreversível (http://www.eltiempo.com/estilo-de-vida/ciencia/rompen-la-mascara-de-tutankamon-y-la-arreglan-con-pegante/15134255).

Às vezes a tentativa de restauro é o pior dano.  O uso de materiais inadequados pode comprometer não só a estética mas a própria integridade da peça. Não é assim que se restaura a unidade potencial de um bem cultural, ainda mais essa peça arqueológica mais do que icônica.

Para ver o resultado da restruição: http://www.infobae.com/2015/01/22/1622442-personal-limpieza-arruino-la-mascara-tutankamon.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Evo Morales e a escolha da herança

As notícias sobre a posse do Presidente boliviano Evo Morales em seu terceiro mandato são muito interessantes do ponto de vista memorial.

Olha que descrição interessante:   "Para a cerimônia, pelo menos 200 amautas – os sábios da tradição inca – serão responsáveis pela organização.

Segundo o jornal La Razon, diferentemente de 2010, o presidente Morales será cercado pelos artefatos encontrados no local sagrado para receber a energia dos deuses antes de ir aos templos. Após a cerimônia, Morales oferecerá um jantar típico aos chefes de Estado, que também assistirão a uma dança tradicional". (cf. http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/39210/posse+de+evo+morales+sera+marcada+por+rituais+indigenas+em+local+sagrado+na+bolivia.shtml)

Sem dúvida, trata-se de uma explícita e importante declaração do Estado Boliviano, através do seu mandatário, de que a herança indígena é motivo de orgulho e e de identificação cultural.  Mesmo que não tenha amparo na História e se tratem, na verdade, de um conjunto de tradições (re) inventadas.

A aurora neo-indígena às vezes parte de uma visão idealizada de rituais há muito esquecidos.  No caso da posse do presidente, evidentemente o sítio de Tiwanaku foi usado como cenário, belíssimo cenário, para uma cerimônia totalmente desvinculada da sua existência.

(Agora lembrei que um presidente mexicano acreditava-se ser a reencarnação de Quetzacoaltl).

Essa busca pelo "típico", na narrativa da posse do Presidente, é evidentemente uma tentativa de formatação do passado, é uma estratégia mnemônica para ligar o passado ao presente (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/time-maps.html), fundada no critério da ancestralidade.  É a vontade ou necessidade de, a partir da escolha de uma herança ,  afirmar uma identidade não só para ele mas para a Bolívia.

Entendi a dimensão política da tradição inventada, só não sei se os indígenas bolivianos se reconheceram nessas cerimônias.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Memória poética - Resposta ao tempo (Aldir Blanc/Cristóvão Bastos)

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A maldição do tempo

 Um dia você vai ver, Fabiana.  Chega um tempo na vida da pessoa que ela começa a ser o que ela contestava.

Eu já fui como você.  Adorava músicas estrangeiras, estava sempre ligado nas tendências, mas aos poucos fui descobrindo que a música e as artes do meu povo (peruano) são o que fazem sentido para mim.

Eu já fui como você. Achava que podia conquistar o mundo todo, ver tudo, aprender tudo.  Consumir as informações, deglutir e incorporá-las.  E até tenho disposição para fazer isso, só não tenho mais tempo.

O tempo limita e muda a gente.  Com o tempo fiquei sensível, fiquei romântico, apegado às minhas "raízes".  Agora, já penso que quero ser enterrado junto aos meus familiares, agora eu só penso em voltar para "casa", que não é um mero local, mas o lugar onde eu faço sentido, ao qual eu pertenço.

E não adianta tentar entender ou estudar isso, é um sentimento que toma conta. Aconteceu comigo e também vai acontecer com você.

_________________________

Eu tinha treze anos quando essa conversa aconteceu, pensei e disse: Vixe, sai pra lá.  Pé de pato, mangalô três vezes! (para saber o que isso significa: http://matracacultural.com.br/pe-de-pato-mangalo-treis-veis/).

Anos depois, acho que estou irremediavelmente sentindo esses sintomas.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Direito à memória dos mortos: quando a memória vale (muito) dinheiro

A revista Forbes publicou uma lista das celebridades falecidas que mais geraram lucros em 2014. Einstein, Michael Jackson, James Dean, entre outros, foram capazes de gerar milhões de dólares apenas em função de sua imagem, pela reprodução de suas obras, enfim, pela sua memória, confiram: http://www.forbes.com/sites/dorothypomerantz/2014/10/15/michael-jackson-tops-forbes-list-of-top-earning-dead-celebrities/.

A gestão da memória dos mortos, que envolve o seu bom nome e imagem, a integridade de suas obras e os direitos patrimoniais decorrentes de sua reprodução no Direito Brasileiro integram o conjunto de atribuições legais estabelecidos pelo Código Civil e pela Lei nº 9610/96:

Art. 12 do Código Civil. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Art. 41 da Lei n.9610/96: Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil.
Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo.

Sem dúvida a gestão da memória dos mortos, além de ser importante para a sua preservação ainda pode ser uma importante fonte de renda para os sucessores.  O art. 12 do Código Civil considera o cônjuge e/ou parentes como legitimados a exigir a reparação por dano moral por lesão ao direito de personalidade do falecido, além de lhes caber a autorização ou proibição de divulgação de escritos, a transmissão da palavra, publicação, exposição ou utilização da imagem, caso atinja a honra, a boa fama ou a sua respeitabilidade, ou se for destinada a fins comerciais.
A proteção estabelecida pelo  Código Civil é importante para coibir a publicação de obras póstumas não autorizadas próprias do falecido ou de terceiros, ou mesmo de autoria contestável tributada a personalidades falecidas (apócrifas ou mesmo psicografadas em alguns casos), bem como a “atualização” de obras que utilizam o nome do Autor falecido quase que como parte do título, com a finalidade proteger a integridade da sua obra e os direitos autorais.
Entretanto, a defesa da boa memória dos mortos não cabe apenas aos familiares e legitimados porque pode haver uma memória pública sobre o falecido, cuja proteção não é atendida se resumida à concepção exclusivamente privatística da gestão,  especialmente quando se considera que os próprios legitimados podem abusar da memória do falecido, ou serem negligentes com a sua defesa, além do que pode não haver parentes vivos.
Preocupa-me o abuso da memória dos mortos, especialmente no tocante à reprodução e à integridade de obras, porque há casos em que os falecidos  publicaram mais mortos do que vivos.  O acúmulo de obras póstumas traz questionamentos quanto à autoria e à integridade, especialmente naqueles casos em que as sucessivas "atualizações" acabam por desnaturar a obra.
Um autor que faleceu em 1960 não pode escrever sobre questões que surgiram 50 anos depois.  Sob o pretexto de "atualizar a obra" na verdade estão sendo atribuídas análises que o autor nunca fez, em prejuízo da sua obra e dos consumidores.

Referência

DANTAS, Fabiana S.  Direito fundamental à memória.  Curitiba: Juruá, 2010.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO... QUANDO O CHARLIE HEBDO FOI ATACADO?

No dia 07/01/2015, quando ocorreu o ataque ao Charlie Hebdo eu estava trabalhando.  Diferentemente do que ocorreu com o atentado de 11/09/2011 (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/03/o-que-voce-estava-fazendo-em-11-de.html), não tive acesso imediato às notícias, e só vim saber do acontecido algumas horas depois. Fiquei chocada com as imagens do policial sendo morto, e só depois entendi a dimensão simbólica que o fato assumiu para os franceses e para a comunidade européia, principalmente.

Vi algumas charges dos cartunistas do Charlie Hebdo, e as considero ofensivas para alguns grupos, mas isso evidentemente não é razão ou justificativa para homicídio.  Este está sendo um período de reflexão para mim sobre o conteúdo e a eficácia do direito fundamental à liberdade de pensamento, de expressão e de crença, e também pudemos ver a diferença de posturas entre a França e os Estados Unidos no enfrentamento da situação.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Museu Nacional fechado

Uma das instituições culturais oficiais mais antigas do Brasil fechou as portas, em razão de problemas nas contratações de serviços de limpeza e vigilância, conforme comunicado oficial do sítio http://www.museunacional.ufrj.br/.

"Problemas" resumem-se à falta de dinheiro para pagar por esses serviços, o que é incompreensível diante da evidente possibilidade de sustentabilidade do monumento.

Os monumentos públicos brasileiros têm potencial para auto-sustentabilidade, bastando que o dinheiro obtido com as visitações fosse aplicado neles mesmos, e não perdidos no labirinto da conta única.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Boco moco

A expressão "boco moco" é incompreensível para mim, por vários motivos.

Primeiro, não consigo vislumbrar de onde vem.  No Brasil existem as palavras boco (referente à boca), e o adjetivo bocó, que indica uma pessoa infantil (em um sentido pejorativo), abobado; e também a palavra mocó, que pode ter originado a palavra bocó, mas também possui diversos significados como uma espécie de pequeno animal, talismã ou alforje.

Essa expressão é utilizada como se fosse uma forma de xingamento leve, para indicar que uma pessoa é ultrapassada nos costumes, careta, old-fashioned.  Sim, já houve uma época que as pessoas eram xingadas por manifestarem a sua adesão a valores ou costumes (vestimentas, linguajar, comportamentos) considerados obsoletos, confiram esse vídeo interessante:

http://www.youtube.com/watch?v=W1HtSbib3lQ

É absolutamente incompreensível para mim que alguém seja julgado por adotar uma estética própria.  Se essa estética não viola nenhum costume ou lei, as pessoas devem ser livres para aparentar o que desejam.  No Brasil nós temos grande liberdade de adotar trajes e cores pois não há roupas determinadas segundo papéis sociais, faixa etária, etc.

Há, sim, certa limitação de gênero.  Por exemplo, um homem que decidir usar trajes considerados femininos (como saia), embora heterossexual, será associado com o homossexualismo.  Aqui não se admite que a aparência pode ser, simplesmente, uma questão de gosto.

Outra limitação importante é relativa à ditadura da indústria da moda.  Existem períodos em que usar determinadas cores e acessórios parece ser lei, e se você não estiver antenado, certamente será um boco moco. Detesto esses programas da televisão onde consultores de estilo querem impor às pessoas um certo jeito de vestir, condenando as suas opções.

Cada um devia se vestir como pode e deseja, essa também é uma expressão da liberdade individual.

Enfim, em tempos de vintage, onde a moda se apropria de épocas, estilos, pessoas e coisas, a própria expressão boco moco perdeu o seu sentido, se é que algum dia já possuiu algum.

sábado, 10 de janeiro de 2015

O meu tempo, como mulher brasileira.

a) Seja magra;

b) Transforme-se, se preciso com cirurgias plásticas;

c) Seja independente, mas não ao ponto de fazer o que tem vontade, porque os outros podem falar.

d) Ostente, para que os outros possam falar;

e) Você não precisa de homem para nada, seja independente.  Mas, se optar por dar (imerecida) confiança ao sexo masculino, saiba que: homens são infantis, não querem compromisso, são todos uns safados, e que apesar de tudo isso tem um monte de outras mulheres dando em cima dele, e ele dá bola para todas elas.  É preciso controlar todos esses fatores para espantar as invejosas, se preciso, com porrada e violência, está uma guerra lá fora.

f) Seja sempre jovem. Quando a forma decadente do seu corpo não suportar mais intervenções, diga que a jovialidade está na alma, e demonstre isso com um sorriso branco jovial  e alegre.

g) Conecte-se.

h) Depile-se.  Depilação brasileira é produto de exportação e quase virou patrimônio imaterial.  O modo de viver sem pelos parece que é um ponto essencial do "ser mulher brasileira".

i) A imagem da mulher brasileira, construída ao longo de décadas e vendida como produto pelo mundo, é que "somos" sexy, sabemos sambar e nossa relação com o sexo é liberal.  Mentira, a educação sexual das brasileiras é uma piada, extremamente autoritária e totalmente diferente daquelas que os meninos recebem (ou não recebem).

j) Espere do mundo, dos homens e da vida os esteriótipos transmitidos pela memória coletiva.

l) Homens e mulheres vivem em mundos diferentes.  Há brincadeiras de meninos e de meninas, há comportamentos de meninas e de meninos, e transgredir essa linha divisória pode trazer muitos problemas ao longo da vida.  Se não trouxer problemas, no mínimo trará adjetivos.  Há muitos adjetivos no Brasil, praticamente um para cada tipo de escolha.

l) Aparentemente, as mulheres brasileiras precisam manifestar o que deveria ser óbvio.  Que são indivíduos; que são livres, e que essa liberdade permeia todos os aspectos da vida pública, privada, dentro dos limites estabelecidos pelas leis (que são iguais para homens e mulheres); que têm direito ao próprio corpo (quem teria, se não cada um ao próprio corpo?), e isso abrange a escolha de depilar-se ou não, e realizar os seus partos conforme seja adequado a cada caso, e não obrigatoriamente por cesariana .

Essas são algumas das mensagens veiculadas no meu tempo.  O que há de bom nisso tudo é que nós, mulheres brasileiras de agora, temos algumas liberdades novas de aderir ou não a esses padrões. Basta parar, observar a mensagem, e decidir o que é melhor para cada uma.

Esta reflexão  é um aprofundamento feminino do post: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/05/o-meu-tempo.html.  Hoje acordei de saco cheio com o determinismo social, e de status e papéis fixos determinados pelo nascimento.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Charlie Hebdo - Ideologia e covardia

A execução das pessoas que trabalhavam no semanário Charlie não foi motivada pela religião, mas pela conduta fanática que é preenchida com diversos pretextos, como futebol, ciúmes, amor, ódio e etc.  Muitos são os motivos para alguém se tornar fanático, mas para isso, é preciso possuir um certo tipo de personalidade ou uma educação que não admite opiniões contrárias.

Os mortos e feridos no ataque devem ser lembrados, e também o papel de formadores de opinião, de crítica, que sempre caracterizaram Charlie.  O mundo precisa dos diferentes, dos não conformistas, dos artistas, da opinião de cada um e que cada um tenha direito à sua opinião e que possa expressá-la livremente. Sem eles, o mundo fica mais pobre e menos interessante.

Às vezes essas opiniões podem ser até ofensivas, e devemos ter meios legais eficientes para responsabilizar quem as proferiu.  Não se pode é ameaçar e matar alguém por sua opinião.

As liberdades humanas assumem traduções diversas em culturas diversas.  Em alguns lugares são mais reduzidas e em outros menos.  Lutar por uma ideologia, ter suas crenças, são fundamentalmente expressões de liberdade, devem ser revestidas das virtudes do bom combate.

Honra, convicção e coragem são exigidos de qualquer um que luta por seus ideais, para que os ideais em si sejam justificados.  Atos de covardia, como atirar em pessoas desarmadas, jamais podem ser considerados um meio digno de luta, e qualquer ideologia que promova esse tipo de ação deve ser combatida.

O alegado motivo para as execuções indiscriminadas (mas direcionadas) dos trabalhadoes do Charlie foi a publicação de charges com a imagem do Profeta.  Sabe-se que para os muçulmanos (parte deles) retratar pessoas é um ilícito religioso, ainda mais quando feita de maneira desrespeitosa como só os chargistas sabem fazer.  O que parece ser esquecido é que aqueles artistas não "respeitavam" ninguém: qualquer um, qualquer crença, qualquer coisa poderia virar objeto de suas reflexões.

Nesse tipo de questão, vale mais tentar "iluminar" os ofensores, explicando porque é errado, porque é pecado, porque é ofensivo e, se nada disso funcionasse, processá-los de acordo com as leis francesas, e também conforme a leis específicas dos que se sentem ofendidos.

Infelizmente, os extremismos parecem ser uma marca da nossa época.  Fanáticos sempre houve e sempre haverá, a História é repleta deles, mas nos últimos tempos parece ter se consolidado a idéia de que é válido provar pontos de vista e fazer reivindicações através da violência.

Je suis Charlie.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Cemitérios: locais de descanso temporário

Descanso eterno?

Essa idéia não condiz mais com o moderno conceito de cemitérios brasileiros.  Os cemitérios da nossa época são dinâmicos, mutáveis e instáveis, e deixaram de ter aquela conotação de eternidade que os acompanhou através de adjetivos como "perpétuo", "jazer", "lugar de repouso final".

Não.  Alguns cemitérios brasileiros não são mais o dormitório da eternidade, o lugar de descanso final e jazimento.  São apenas locais de depósito temporário, alguns inclusive por prazos exíguos, e cuja mentalidade atual admite até mesmo o seu deslocamento ou realocação.

Não posso concordar com essa idéia. Cemitérios são lugares de memória (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/cemiterio-lugar-de-memoria.html), e a permanência de sua localização é um importante marco na cidade e para as pessoas que guardam a memória dos mortos.

A pressa da pós modernidade está transformando o repouso final em soneca?  Será possível que o crescimento das cidades não têm limites e até os mortos e sua memória têm que ser expulsos?

Antigos cemitérios estão sendo deslocados para dar lugar a condomínios, residências.  A terra dos cemitérios, com despojos, já foi até utilizada como insumo da construção civil (http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2011/09/mpf-investiga-cidade-de-ms-suspeita-de-usar-terra-de-cemiterio-em-obra.html).  Parece até roteiro de filme de terror.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Maçanetas

Considero as maçanetas um objeto fascinante. A sua utilidade é incrível e quando associadas a fechaduras, ajudam a preservar a privacidade e descortiná-la ao nosso desejo.  Abrir e fechar portas são, literal e metaforicamente, dois atos da mais alta significação.

A palavra maçaneta, segundo o meu Dicionário Etimológico, provém da palavra "maçã" porque supostamente esse era o seu formato originário.  Era utilizada como ornamento, ou com a função de servidor de puxador/fechador e abridor de portas.

Interessante, em Español é chamada de "perilla", que em alguns dicionários indicam como tendo formato de pera.  Que associação com frutas é essa afinal?  Lembrei também que a minha avó chamava de "pera" uma espécie de interruptor de luz, que ainda hoje pode ser encontrado, ainda que seja cada dia mais raro.

Sei que essa é a explicação etimológica, mas para mim não é suficiente. Certamente a origem da maçaneta é a protuberância natural, com tamanho adequado à mão humana, que foi utilizada como instrumento pelo homem.  Depois, como geralmente faz, imitando a natureza conseguiu replicar essa protuberância artificialmente.

Possivelmente, algo que se empurra e puxa, pode ser concebido de forma estática. Quando a maçaneta passou a ter movimento?  Quando e porque ela passou a ser considerada imprescindível?

Estou pensando que elas devem ter sido muito valorizadas quando começou a ser construída uma noção específica de privacidade (individual e propriedade privada).  Em sociedades comunais as maçanetas, e talvez mesmo as portas, não fossem tão imprescindíveis, observe as ocas indígenas, yurts tradicionais, iglus, construções maoris.

Portas japonesas tradicionais têm maçanetas? Vi umas notícias intrigantes de que as (poucas) japonesas têm o fetiche de lamber maçanetas, e imagino se não seria porque lá são novidade.  Ou talvez tenha alguma relação com imaginar muitas mãos pegando no objeto. Ou talvez as maçanetas lá tenham algum tipo de sabor. Sei lá.

Gostaria de ver portas de templos e antigas habitações egípcias, gregas, romanas, hindus, chinesas só para ver se tinham maçanetas.  Já vi algumas portas medievais, mas essas tinham fechadura e magníficas aldravas, enquanto as maiores tinham traves para fechá-las

Aldrava, linda palavra de origem árabe. No Google, se pesquisar por imagens de "maçanetas antigas" aparecerão algumas aldravas, que para mim são absolutamente inconfundíveis, porque além de servirem para puxar, também servem para fazer barulho à porta.

Enfim, gosto de maçanetas, especialmente aquelas jóias feitas de porcelana, e lindamente decoradas, mas não ao ponto de lambê-las.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Jus sepulchri: o dever de conceder a sepultura

O jus sepulchri - como o direito de sepultar, ser sepultado e manter-se sepultado - já foi objeto de algumas reflexões no blog, principalmente através dos posts http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/07/jus-sepulchri-direito-de-sepultar-ser.html http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/04/direito-memoria-dos-mortos-jus.html.

Em contrapartida, em uma norma de conduta geralmente um direito corresponde a um dever jurídico.  Portanto, é necessário reconhecer que existe um dever de conceder a sepultura, seja através de serviços públicos de cemitérios (que podem ser objeto de concessão privada), como acontece no Brasil, ou pela permissão de realizar a inumação em locais privados, o que em geral não é mais permitido, embora existam propriedades privadas que ainda possuem cemitérios e ossuários, como antigas Igrejas e Engenhos.

O Estado deve providenciar meios de sepultamento ou outras formas de destinação dos restos mortais, independentemente do pagamento de taxas específicas.  Por isso, nos chamou a atenção a notícia de que uma autoridade francesa de Champlan teria negado, sem as devidas justificativas, a permissão para a inumação de uma bebê de origem cigana, que faleceu na noite de Natal.

Imediatamente, surgiu a polêmica de que a negativa da autorização significava ato de racismo, ao ponto do primeiro ministro francês Manuel Valls declarar (http://www.lalibre.be/actu/international/cimetiere-refuse-a-un-bebe-rom-une-injure-a-ce-qu-est-la-france-selon-valls-54a931f03570e99725552f56): 

"Refuser la sépulture à un enfant en raison de son origine : une injure à sa mémoire, une injure à ce qu'est la France".

O responsável afirma que foi mal compreendido, e que não autorizou a inumação porque não havia lugares disponíveis (http://www.francetvinfo.fr/france/le-maire-de-champlan-essonne-nie-s-etre-oppose-a-l-inhumation-d-un-bebe-rom_787853.html).

Vamos acompanhar a discussão, porque muitos pontos importantes para a memória dos mortos foram tangenciados: por exemplo, é possível dar preferência ou fazer distinções entre cidadãos, quando se trata de sepultamento, dando-se o direito a uns e negando-se a outros? A negativa do jus sepulchri, neste caso, significou ato de racismo? (lembram de Tamerlan Tsarnaev (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/05/direito-memoria-dos-mortos-cemiterios.html?); É possível alegar a "indisponibilidade de vagas" para recusar-se a enterrar alguém? Para criar vagas é moralmente adequado estipular uma rotatividade de ocupação das sepulturas?

domingo, 4 de janeiro de 2015

Diálogo surreal (7): em torno das máquinas de lavar

Minha máquina de lavar, uma dessas antiguidades que funcionam muito bem, mostrou sinais de exaustão e quebrou.  Chamei o técnico na esperança de que tudo voltasse ao que era antes, e aí chegamos a isso:

"Eu:  Bom dia!  Que bom vê-lo aqui hoje, o senhor realmente foi muito atencioso em me atender tão rápido.

Ele:  Nada, madame, é nossa obrigação.  O que está acontecendo.

Eu:  A minha máquina quebrou de novo.  Lembra que o senhor a consertou na semana passada?  Ela funcionou muito bem nos primeiros quatro dias, depois começou a fazer barulhos estranhos e a vazar.

Ele:  Certo, vamos ligá-la e ver o que está acontecendo.

Ligamos, ela fez barulhos estranhos e vazou.

Ele:  Estou vendo.  Vou procurar o problema.

Depois de muita procura, quase duas horas.  Ele olhou para mim e disse:

Ele:  Madame, eu olhei tudo e não sei o que está acontecendo.  Ela não deveria estar agindo assim.

Eu (pausa para pensar e tentar superar a surpresa e responder): Não deveria, mas está fazendo.  A questão agora é o que NÓS vamos fazer.(foi aí que lembrei de Galileu, "si muove").

Ele:  Eu, se fosse a senhora, tentaria compreender que ela está velhinha, e que às vezes as coisas são assim mesmo. Às vezes funcionam, às vezes vazam e fazem barulho.

Eu: E se eu fosse o senhor seria menos compreensivo com ela e tentaria consertá-la.  Diferentemente das pessoas, as máquinas realmente têm conserto".

Resultado:  a máquina está parada, não vou ligá-la vazando porque, obviamente, posso levar um choque. Também não tenho coragem de me desfazer dela, porque acho que tem conserto.  Não vou comprar outra enquanto não consertá-la, por razões econômico-ecológicas.

Resultado 2: mamãe terá uma carga extra de roupas para lavar.

sábado, 3 de janeiro de 2015

A percepção do patrimônio dos povos

Em 01 de janeiro de 2015 comi sushi e acredito que estava errado, pois não respeitou os modos de fazer corretos.  Ou seja, do meu ponto de vista (de comedora brasileira de sushi), aquela comida não correspondia ao que eu aprendi como comida japonesa.

Enquanto eu me revoltava e indignava com tudo aquilo, parei para refletir. E se a minha experiência como comedora de sushi é que estivesse falha? Será que durante todos esses anos eu comi coisas erradas que chamavam de sushi, e quando me deparei com um verdadeiro não soube reconhecer? Será que eu tenho uma deficiência de representação e de aprendizado?

Pensei, será que um japonês reconheceria aquilo como sushi?  Em caso negativo, se sentiria ofendido com aquela maneira de fazer ou com o uso inadequado da comida e do título "japonesa"?

Aqui na minha cidade é possível encontrar a gastronomia de diversas partes do mundo, há uma grande variedade: comida coreana (adoro), comida japonesa (adoro), italiana (adoro), chinesa (adoro), peruana (adoro) e até "brasileira".  Entretanto, sei que não são originais, porque obviamente aclimatam a matéria-prima. como não poderia deixar de ser, mas também porque há uma estranha falta de informação sobre o como fazer e de onde vem.

Por exemplo, parece uma generalização imprópria categorizar de "comida japonesa", ou brasileira e etc, porque dentro de um mesmo território a cultura é tão variável: o sul deve ser tão diferente do norte em qualquer lugar, como acontece no Brasil.

Deixem-me tentar esclarecer melhor o que eu estou pensando com uma ilustração.  Vamos pensar na "comida brasileira", um prato como a peixada.  A peixada feita na minha região (Nordeste) é totalmente diferente da peixada feita em Santa Catarina:  nós usamos leite de coco e coentro, o que é absolutamente incompreensível para os catarinenses com quem eu conversei.

Eles acham que a nossa peixada só tem gosto de coco e coentro, e para mim a deles não tem gosto de nada (porque falta coco e coentro).  Percebem a questão da representação?  Imagino que a mesma coisa deve acontecer com a comida de outros povos, mas o problema é que eu não consigo perceber essas diferenças.

Será que o que eu chamo de comida japonesa é apenas a manifestação de um tipo de comida de uma região específica?  Será que os japoneses a reconheceriam enquanto "comida japonesa"?

Enfim, sei que também existem sushis coreanos e chineses, mas não sei se correspondem à minha idéia de sushi.

De todo jeito, acho que os fazedores de comida deveriam ser certificados pelo país originário, e talvez pagar royalties pelo uso desse patrimônio imaterial.  Essa é uma idéia em que estou trabalhando no momento.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A primeira bobagem de 2015

O ano de 2015 mal começou e eu já pratiquei a primeira bobagem, tamanho grande.

Resolvi mudar meu visual para iniciar o ano de um modo diferente, pintando o cabelo de vermelho. Evidentemente que não havia  essa informação "vermelho" na caixa, porque agora as cores possuem nomes esquisitos.

Enfim, achei que ia ficar acobreado, com nuances que refletiriam o pôr-do-sol, mas infelizmente não foi o que aconteceu.

Há muito tempo, diante de uma bobagem semelhante, havia decidido que JAMAIS pintaria o cabelo de vermelho novamente, mas esqueci disso no momento crucial de aplicar a tinta.

O segundo erro grave foi achar que conseguiria fazer isso sozinha, quando tantos já falharam antes de mim.  Eu deveria ter aprendido com a experiência dos outros, que inclusive me foi transmitida, mas só lembrei tarde demais.

Lembrei que uma amiga nossa pintou sozinha o cabelo de vermelho, arrependeu-se no meio do processo e chamou por ajuda. Quando chegaram na casa dela, o banheiro parecia uma cena de crime, pronta para ser investigada pelo CSI. Tudo estava coberto de sangue, pelo menos era o que fazia parecer toda aquela tinta vermelha que se espalhou quando ela tentou lavar o cabelo.

O mesmo, exatamente o mesmo, aconteceu comigo. Sujei todo o banheiro, inclusive o teto, as roupas e toalhas, livros (sim, há leituras próprias para esse ambiente), e tudo mais que lá havia.

Como não sabia o que fazer (faxinar?), resolvi escrever esse post.  Acho que também vou deixar um aviso na porta do banheiro para que o meu marido não se assuste ao entrar.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Calendário oficial - feriado de 1º de janeiro

O calendário oficial é um poderoso instrumento de transmissão de ideais e fator de coesão social, afinal, são marcos em que determinados comportamentos são estabelecidos pelas normas jurídicas - legais ou costumeiras, e ocasião em que é marcado um encontro entre cidadãos e gerações a propósito de alguma coisa.

No Brasil, o calendário oficial é construído através de normas legais, que instituem datas comemorativas, algumas das quais serão feriado e outras não.  Por exemplo, o Dia Nacional do Macarrão (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/12/25-de-outubro-dia-nacional-do-macarrao.html) não é feriado, e se fizesse algum sentido, seria uma ocasião para que o Estado e a População fizessem alguma reflexão/promoção em torno do tema.

Outras datas comemorativas são feriados, que no Brasil podem ser instituídos por lei federal (feriados nacionais), estaduais  e municipais. Ainda que seja um feriado nacional, é possível que algumas atividades possam ser consideradas "de funcionamento permanente, aos domingos e feriados civis e religiosos", e a lei vai discriminar quais.

O dia 1º de Janeiro é considerado o "Dia da confraternização universal", "Dia da Fraternidade", "Dia Mundial da Paz" ou ainda o "Dia Internacional do diálogo entre os povos". No Brasil o dia 1º de janeiro é feriado instituído pela lei (ordinária) federal nº 662/1949, e alterações posteriores:


Declara feriados nacionais os dias 1º de janeiro, 1º de maio, 7 de setembro, 15 de novembro e 25 de dezembro.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

 Art. 1o São feriados nacionais os dias 1o de janeiro, 21 de abril, 1o de maio, 7 de setembro, 2 de novembro, 15 de novembro e 25 de dezembro.          (Redação dada pela Lei nº 10.607, de 19.12.2002)
Art. 2º Só serão permitidas, nos feriados nacionais, atividades privadas e administrativas absolutamente indispensáveis.
Art. 3º Os chamados “pontos facultativos”, que os Estados, Distrito Federal ou os Municípios decretarem, não suspenderão as horas normais do ensino, nem prejudicarão os atos da vida forense, dos tabeliães e dos cartórios de registro.
Art. 4º Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.


Informalmente, é considerado também o dia internacional da ressaca.

Escrevendo bem baixinho para não incomodar ninguém, desejo a todos um Feliz Ano Novo.