terça-feira, 30 de agosto de 2011

7 DE SETEMBRO: O DIA DA INDEPENDÊNCIA É UMA COMEMORAÇÃO NO BRASIL?

Sete de setembro é a data co-memorativa da Independência do Brasil, e faz parte do comemograma nacional por ser considerada representativa da fundação da identidade nacional, e como tal baseia-se na lei da repetição que cria a memória cívica.

Duas questões se apresentam: por que a maioria dos brasileiros não comemora essa data? Por que existe uma distância tão grande entre a comemoração prescrita na lei e a que realmente acontece?

Segundo as minhas pesquisas, a primeira referência ao Sete de Setembro como feriado foi encontrada no Decreto nº 1285, de 30 de novembro de 1853, que instituiu as férias forenses, mas não há indicação de tratar-se do Dia da Independência.

Em 1920, Decreto nº 4.175 autorizou o Poder Executivo a promover a comemoração do Centenário da Independência Política do Brasil, destacando no seu art. 2º a preferência pela realização de uma Exposição Nacional na capital da República. Em 7 de setembro de 1922 foi inaugurada tal Exposição, que além de pontuar o centenário da Independência, também tinha a finalidade de mostrar o progresso do Brasil como nação republicana.

Posteriormente, a Lei nº 5.571, de 28 de novembro de 1969, instituiu e denominou a data do Sete de Setembro como o “Dia da Independência”, devendo ser comemorado anualmente em todo o território nacional, cabendo ao Ministério da Educação e Cultura organizá-lo, em cooperação com as Secretarias de Educação do Estado e das Prefeituras.

A finalidade dessa comemoração, conforme art. 3º da referida Lei, consiste em exaltar a idéia da “Pátria”, estimulando o amor à liberdade, o culto às tradições nacionais, além de elevar o sentimento de solidariedade e amor ao trabalho construtivo, como fatores de preservação e fortalecimento da Independência.

Essa celebração tem o escopo de explicar ao povo o significado político da Independência. Se considerarmos que essa Lei foi editada em 1969, no auge da Ditadura militar, poderemos compreender o distanciamento popular e, diga-se, ideológico, existente entre a letra da Lei e da realidade dos desfiles “cívicos”, que têm a rara participação dos cidadãos. Até mesmo visualmente pode-se constatar que a população fica à margem da comemoração, apenas como desfile caracteristicamente marcial e solene, que em nada lembra o costume das festas populares no Brasil, cujo grau de espontaneidade é tão exaltado.

Outro ponto a ser destacado é que a Lei nº 5.571/69 prevê em seu art. 3º que a Independência do Brasil será celebrada através de “festas e espetáculos públicos, preferentemente de cunho folclórico, palestras e conferências, se possível irradiadas e televisadas, exposições, divulgação de poemas, artigos, estudos, contos, fotografias e outros alusivos à data”.

Não obstante, não se verifica a realização desses eventos patrocinados pelos entes e órgãos competentes no perfil desenhado pela Lei: de fato, a única manifestação que se conseguiu observar, porém ainda de forma assistemática, é a realização de um desfile de caráter militar, sem qualquer referência à tradição cultural e ao folclore brasileiro.

Na verdade, a celebração do “Dia da Independência” coincidiu com uma necessidade estratégica do Governo de fortalecer a sua propaganda política, finalidade essa explicitada no parágrafo único do art. 3º da citada Lei, onde há a previsão de que, sempre que possível, faça-se coincidir com essa data a inauguração de obras públicas e particulares, capazes de realizar o significado para o progresso nacional.

As comemorações procuram criar um envolvimento emocional, proporcionando o “desabrochar de sentimentos comunitários” que favorecem a coesão social, como destaca Lúcia Oliveira (2000, p. 189). Quando há uma dissociação entre a vida da sociedade os ritos e imagens que integram a iconografia oficial, a relação do povo com esses símbolos é meramente formal, daí porque a população não os experiencia com plenitude (CASTRO; ORTIZ, 2004), que é o ocorre com o “Dia da Independência do Brasil”.

Como afirma Walter Benjamin (1994, p. 253) “toda experiência profunda deseja insaciavelmente, até o fim de todas coisas, repetição e retorno, restauração de uma situação original que foi o seu ponto de partida”. Se a essência da representação não é fingir, mas reviver continuamente, então indaga-se: como o brasileiro revive e comemora a Independência?

Alguns ficam parados à margem da comemoração, assistindo ao desfile cívico, dos quais poucos participam ativamente. A maioria vai à praia ou a outras atividades de lazer.

E alguns, como eu, têm a sensação de que essa comemoração poderia ser diferente, mais apropriada pelos cidadãos, mais festiva e significativa do que se apresenta todo ano.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Obras escolhidas, vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CASTRO, I.C.; ORTIZ, C.G. El derecho a la memória. Disponível em: . Acesso em: 07/08/2004.

DANTAS, Fabiana Santos. Direito fundamental à memória. Curutiba: Juruá, 2010.

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. Imaginário histórico e poder cultural: as comemorações do Descobrimento. Estudos Históricos, Rio de janeiro, vol. 4, nº 26, p. 183-202, 2000.

domingo, 28 de agosto de 2011

RESGATANDO XINGAMENTOS ANTIGOS (1)

Essa nova série do blog é para resgatar antigos xingamentos que caíram no esquecimento, e parte do pressuposto de que a falta de educação e o argumento contra hominem (ou ad hominem) é parte da natureza humana.

Ou seja, se xingar os outros faz parte da memória coletiva, por que não xingarmos como faziam os nossos antepassados?

O primeiro resgate será do xingamento "FRASCÁRIO". No dicionário do Sr. Aurélio Buarque de Hollanda, é um adjetivo masculino que designa o "indivíduo estróina, libertino, devasso, extravagante e dissoluto".

A vantagem da palavra "frascário" é que ainda permite o resgate de outros xingamentos obsoletos como "estróina" e "dissoluto".

Modo de usar: _______________ (preencha a lacuna com o nome do indivíduo) é um frascário!!!!!

O Ministério do Blog adverte: utilizar xingamentos contra pessoas é crime de injúria. Não tentem isso em casa ou na rua.

sábado, 27 de agosto de 2011

CAMPANHA PELA RESTAURAÇÃO DA TAPIOCA TRADICIONAL

Esse é um manifesto contra as tapiocas degeneradas, essas ordinárias que são preparadas sem respeito à tradição, incorporando ingredientes estranhos como a calabresa, a goiabada, charque e doce de leite, como explicitado no post. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/08/souvenir-5-tapioqueira-de-garanhuns.html.

É preciso mobilização!

Cada um de nós pode fazer a diferença: basta que nos recusemos a comer tapiocas descaracterizadas, pedindo a tapioca tradicional (de coco) e ainda passar um sermão na (o) tapioqueiro (a).

Sim, seremos uns chatos. Mas é por uma causa nobre e maior que nós: a preservação desse patrimônio imaterial chamado tapioca.

RESTAUREM A TAPIOCA TRADICIONAL! ABAIXO AS TAPIOCAS DEGENERADAS!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Souvenir (5): A Tapioqueira de Garanhuns

Tapioca, patrimônio imaterial do Brasil. É mesmo! Uma comida simples, feita com massa de mandioca, goma, coco e só.



Ganhei esse souvenir dos meus alunos da pós-graduação, quando visitei a cidade para dar-lhes aula. Esse souvenir é muito interessante pois mostra um ofício tradicional (de tapioqueira) e o seu modo de trabalho artesanal:



Tudo que nós (eles que sabem cozinhar) precisamos para fazer a tapioca está ilustrado acima. Um fogareiro, massa, goma, coco e, evidentemente, um elemento humano que saiba cozinhar. A bonequinha de pano ali só consegue fazer tapioca de mentirinha, mas ainda assim é melhor do que eu.

A Tapioca é uma comida tradicional (quitute, acepipe) que está sofrendo mudanças drásticas em função da globalização. Quando eu era criança, tapioca era feita de massa de mandioca, goma e coco. E só.

Depois, introduziram o queijo mussarela e criaram a Cheese tapioca, ou X-tapioca, como falam agora.

Mas, definitivamente estamos passando por crise no mundo das tapiocas. Não bastasse a X-tapioca, agora há a tapi-calabresa, tapioca com charque, com doce de leite, goiabada, com presunto e queijo (?! tapioca virou sanduíche?). É preciso acabar com esse absurdo!

Há uma tapioca descaracterizada que eu tolero, que é a com recheio de coco, queijo e leite condensado, porque eu tenho que reconhecer que é muito boa. Eu até como, mas reclamando.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Direito à memória coletiva, identidade cultural e preconceito

O patrimônio cultural que serve de suporte e veículo à memória coletiva é um constructo, uma construção social, resultado de um processo de atribuição de significados e sentidos que evidenciam a sua natureza política, econômica e social (DANTAS, 2010).

É portanto um espaço de luta e disputa, submetido a diferentes usos e diferentes interesses, que selecionarão os bens culturais dignos de serem preservados e transmitidos (CHAGAS, 2002, p. 17).

Os bens culturais materiais e imateriais que compõem o conjunto denominado “patrimônio” são semióforos exatamente porque possuem força simbólica. São disputados pela hierarquia política e porque representam e detêm poder e prestígio (CHAUÍ, 2006, p. 119), tal como os despojos de guerra que ornamentam os vencedores, pois destaca Walter Benjamin (1994, p. 225) que “nunca houve um monumento de Cultura que não fosse também um monumento da barbárie”.

Os sistemas simbólicos, assim, são instrumentos que servem para assegurar a dominação de uma categoria sobre outra (BOURDIEU, 2005, p. 11) e constituem-se na essência da memória coletiva. Por isso, afirma Nilson Morais (2000, p. 95) que “a memória deve ser pensada em seu contexto e produção sócio-históricos, portanto, em termos plurais, incluindo suas redes relacionais”, porque é a expressão partilhada de uma perspectiva, de um modo de compreender e relacionar o mundo.

Ao patrimonializar bens, a sociedade reproduz os seus preconceitos. Muitas manifestações culturais brasileiras foram proibidas, perseguidas e marginalizadas, podendo ser citadas como exemplo algumas religiões afro-brasileiras (com a prisão e internamento em hospícios dos praticantes), a capoeira, e outras importantes manifestações que simplesmente não eram valorizadas porque oriundas de classes desfavorecidas economicamente.

Há, portanto, uma injustiça cultural (ou simbólica) arraigada nos padrões sociais de representação, interpretação e comunicação, onde o não-reconhecimento assume as forma de invisibilidade social ou de desrespeito, impondo a alguém um modo de vida falso, distorcido ou reduzido (FRASER, 2001, p. 250).

A questão que se apresenta é: como conquistar o reconhecimento e exercer o direito à memória, em um mundo cheio de desigualdades materiais e simbólicas, onde a injustiça possui eixos culturais e socioeconômicos?

As pessoas não devem ter vergonha de assumir a sua herança cultural: devem exercitar a sua memória coletiva de forma fluida, se assim desejarem, construindo a sua identidade de forma positiva. Desde o sotaque, passando pela gastronomia, pelas formas de expressão em geral até chegar ao patrimônio material edificado, tudo isso deve ser encarado como alternativas, recursos culturais a serem utilizados para a construção de uma vida melhor e plena.

Como se pode, através de uma política pública de preservação, tentar concretizar o ideal da Justiça simbólica? Será que basta patrimonializar bens de grupos desfavorecidos, minorias, para quantitativamente tentar a igualdade?

Claro que não. Não basta acrescentar bens “representativos de minorias” à lista de preservação – uma espécie de sistema de cotas monumental – se forem deixadas intactas as dicotomias que criaram os preconceitos simbólicos, preservando as estruturas profundas do desrespeito que cria vergonha, não identidade cultural.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Obras escolhidas, vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

CHAGAS, Mário. Cultura, Patrimônio e Memória. Ciências & Letras, Porto Alegre, v. 31, p. 15-29, 2002.

CHAUÍ, Marilena. Cidadania cultural: o direito à Cultura. São Paulo: Editora Função Perseu Abramo, 2006.

DANTAS, Fabiana Santos. O direito fundamental à memória. Curitiba: Juruá, 2010
FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça na era pós-socialista. In: SOUZA, Jessé (org). Democracia hoje – novos desafios para a teoria democrática contemporânea. Brasília: UNB, p. 245-282, 2001.

MORAIS, Nilson Alves de. Memória e mundialização: algumas considerações. In: LEMOS, Maria Teresa Toríbio Brittes; MORAIS, Nilson Alves de (org.). Memória e construções de identidades. Rio de Janeiro: 7Letras, p. 92-101, 2000.


sábado, 20 de agosto de 2011

Souvenir (4): São Luís do Maranhão

São Luís é a capital do Estado do Maranhão, situado no Nordeste do Brasil, e é Patrimônio da Humanidade.

É um lugar lindo, com uma culinária muito interessante e música, música, música.

Lá existe uma manifestação cultural bem interessante, o Tambor de Crioula.

Do que eu lembro quando penso nessa cidade? Arroz de cuxá, o patrimônio material (casario), mas principalmente do lindo sotaque dos maranhenses, que se orgulham de, supostamente, falar o melhor Português do Brasil.

Eu não sei o que significa "falar o melhor Português do Brasil" (é um título esquisito, esse), mas o jeito de falar dos maranhenses me cativou por causa da sua melodia.

Olha o souvenir que eu trouxe:



É um azulejo...que surpresa!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Souvenir (3): Sevilla

Sevilla é uma cidade ensolarada.

Quando penso nela lembro das laranjeiras carregadas de frutas no meio da rua. Assim que chegamos na cidade eu fiquei chocada com a beleza das laranjeiras, com aquelas laranjas enormes, e com o cheiro maravilhoso que elas proporcionavam. Era quase uma forma de incenso.

E eu me perguntava: por que as pessoas deixam as laranjas, com uma cara de gostosas e maduras, aí penduradas? No Brasil nós temos um ditado: "fruta madura, na beira da estrada, ou está bichada ou tem marimbondo no pé".

Concluí que aquelas frutas lindas e cheirosas deviam ter algum problema e segui a minha vida, não com certo arrependimento de não ter tentado experimentar...Se bem que, historicamente, há registros de graves consequências para quem come o fruto proibido.É bíblico.

A outra lembrança indelével é "La Giralda", na Catedral de Santa Maria de Sevilla.

E, para falar de real patrimônio material, El Alcázar - um dos edifícios mais bonitos que eu já vi na minha vida.

Olha aí o que evocou essas lembranças:



Essa cidade me deixou boquiaberta.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Souvenir (2): Lembranças de Lisboa

Não sou daquelas pessoas que coleciona coisas, porque sigo o conselho de Marco Aurélio (2001, p. 15), o filósofo que por acaso também foi imperador:

“(...)
VI – Lembro de Diogneto: Desprezo pelas futilidades. Não acreditar no que dizem magos e nigromantes sobre encantações, invocações de gênios e quejandas fábulas. Não ter mania de criar codornas ou outras manias do mesmo gênero. Apreciar a franqueza. Amar a filosofia e ter tido, por professores, primeiro Báquio, depois Tandário e Marciano”(...)

Sempre achei que o colecionismo seria enquadrado no item "manias do mesmo gênero", ao lado de criar codornas. E qual não foi a minha surpresa quando descobri que eu coleciono azulejos: revendo as minhas lembranças de viagem descobri que tenho uma paixão por esse tipo de souvenir.



Viram? É no passado que a gente descobre quem é de verdade. Eu descobri que sou colecionadora de azulejos de viagem (?), e provavelmente também de livros.

Esse souvenir me trouxe boas lembranças...De Lisboa, uma cidade absolutamente linda. Do bacalhau que eu e meu irmão comemos no restaurante "A Morgadinha" em Alfama, tão bom, tão bom, que eu me emocionei e tirei uma foto. Lembrei que eu e meu irmão nos divertimos muito, apesar do ar meio nostálgico que a cidade tem.

Pretendo voltar várias vezes.

Referência:
MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Martin Claret, 2001

domingo, 14 de agosto de 2011

RECEITA DE TILÁPIA

INGREDIENTES:

1 filé de tilápia
Bom senso.

PREPARO

- Supere o desespero e decida cozinhar.

- Veja que na geladeira há um pedaço de peixe congelado, com um rótulo denominando "tilápia".

- Coloque a tilápia congelada em um prato;

- Não deixe a tilápia congelada escorregar do prato;

- Mas se escorregar, apanhe-a do chão e jogue novamente, com cuidado para que caia do outro lado. Assim você garante a simetria na maciez e na quantidade de poeira do chão da cozinha, que não foi varrido.

- tempere a tilápia com sal e pimenta (é aqui que deveria entrar o ingrediente "bom-senso").

- Coloque para marinar;

- Desista de marinar porque você não sabe que merda é isso.

- Coloque a tilápia no microondas para descongelar;

- Ao retirar o prato do microondas, tenha cuidado para não derrubar o líquido quente que sobrou do descongelamento em você mesmo;

- Se derrubar o líquido em você mesmo, tome um banho. Se derrubar no chão, pode deixar lá pois a faxineira virá daqui a três dias.

- Coloque o peixe em uma frigideira limpa, com azeite e deixe fritar;

- Depois de fritá-lo, experimente. Se ficou com gosto de ovo frito, é porque a frigideira estava suja.

- Se ficou com gosto de peixe, você é um sucesso.

- Se ficou sem gosto algum, recomendamos aplicar uma redução de catchup e mostarda.

PORÇÃO : uma

Serve quem tem fome e não tem orgulho.

APRESENTAÇÃO DO PRATO:

hehehehehehehe.

____________________

Esse foi o meu almoço de ontem. Transformei em post para lembrar de nunca mais fazer tilápia.

sábado, 13 de agosto de 2011

PESQUISA DE OPINIÃO - DO QUE VOCÊ LEMBRA QUANDO PENSA NO BRASIL?

Eu tenho uma grande curiosidade: o que é memorável no Brasil?

Mesmo que você nunca tenha visitado, imagino que tenha alguma opinião formada ou lembrança sobre o Brasil, e eu adoraria saber qual!

Agradeço antecipadamente a todos que responderem!

Abraço,
Fabiana

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Restituída a 105ª neta argentina

A situação dos desaparecidos políticos sempre foi motivo de interesse e preocupação para mim, do ponto de vista memorial devido à luta simbólica pela construção de sua biografia, muitas incompletas até hoje, e também pela tragédia humana das famílias que esperam, e buscam e não esquecem.

Nosso primeiro post foi dedicado às "Madres de la Plaza de Mayo" (http://direitoamemoria.blogspot.com/2010/06/o-direito-veracidade-e-integridade-do.html), agora abuelas, que são um símbolo poderoso de persistência da memória.

O exemplo desses pais e mães de mayo é a perfeita tradução da persistência da memória, da luta pela veracidade e integridade do passado. Eles buscavam seus filhos e encontraram netos.

Ontem foi divulgado que a 105ª neta foi encontrada e restituída à família, possibilitando o conhecimento dos seus laços familiares verdadeiros, da biografia pessoal e da integridade e veracidade do passado (cf. http://www.abuelas.org.ar).

Fica aqui a pergunta que sempre me incomoda: será que no Brasil nós tivemos uma situação parecida? De bebês que nasceram no cativeiro, filhos de mães desaparecidas, e que não foram entregues às famílias respectivas?

domingo, 7 de agosto de 2011

Souvenir (1): Farol de Floripa

Hoje iniciamos mais uma série do blog: "souvenir".

Não sei porque aqui no Brasil utilizamos a palavra em francês, já que há um equivalente em português (lembrança). Mas ela já foi incorporada à nossa língua, e segundo Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira:

"suvenir [s.m]. Objeto característico de um lugar, vendido como lembrança a viajantes, especialmente a turistas" (p. 1911).

Não gostei muito do jeito aportuguesado, então vou manter no original, sem contar que a palavra suvenir está na mesma coluna ( no dicionário) da palavra swing, portanto andando com más companhias, o que não é nada bom para a sua imagem.

Eu gosto de viajar e coleciono as memórias dos lugares em que passei (cf. posts "Boas lembranças"), mas agora vou refletir sobre os objetos memoriais que recolhi nas minhas viagens.

Para começar, um farol em Florianópolis, que me lembra a praia de Naufragados, a trilha linda de que falei no post "Boas lembranças, Florianópolis (http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/05/boas-lembrancasflorianopolis.html), o namorado que agora é meu marido e o melhor camarão que eu já comi na vida, fresquíssimo e salgado com água do mar:





Olha o Farol longínquo traduzido em um souvenir:

sábado, 6 de agosto de 2011

Hiroshima - 6 de agosto de 1945

A cidade de Hiroshima, no Japão, foi bombardeada com uma bomba atômica no dia 06 de agosto de 1945.

Hoje é dia de lembrar das vítimas, com o poeta Vinicius de Moraes:

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(Rosa de Hiroshima)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CAMPANHA PELA REVITALIZAÇÃO DO USO DE NOMES PRÓPRIOS TRADICIONAIS

Meus amigos, vivemos tempos difíceis no Brasil.

Um tempo em que o ato simbólico, ritualístico, político e filosófico de nomear pessoas chegou ao cúmulo da desmoralização.

No ato primeiro de covardia contra a prole, pobres bebês deitados em seus bercinhos, que sequer podem reclamar ou correr, e ninguém considera o seu choro desesperado, em algum lugar do Brasil, um pai ou mãe aponta o dedo e diz: "seu nome será Maiconjequi".

Esta não é uma campanha contra a adoção de nomes estrangeiros. É contra a corruptela e desnaturação de nomes estrangeiros: Maiconjequi (Michael Jackson) e Uésli Esnaipe (Wesley Snipes) não são homenagens aos artistas, é só errado, muito errado.

Por que, meu Deus, os nomes agora abusam de letras duplas e exóticas? É aí que um simples "Camila" vira Kammyllah, e o belo "Vitória" torna-se uma derrota - Vittorya.

E, em um mau hábito que está sendo mais disseminado que bicho de pé coçado, agora os pais inventaram de construir o nome dos filhos com partes do seu próprio nome. Não é suficiente partilhar os gens da pessoa, contribuir com cromossomos? Chega, o seu nome já será perpetuado, não precisa criar um Marcivaldo (Márcia + Evaldo) para isso.

O ato de nomear pessoas também passa por modismos, e através deles podemos identificar predominâncias, épocas, eventos importantes para a memória coletiva, sem contar que os nomes em si são reminiscências de outras épocas.

Então, vamos resgatar nomes antigos que foram esquecidos, e que possuem belos significados: Hermengarda, Austregésilo, Balbina, Eufrásia, Eulina (o nome da minha bisavó, cf. http://direitoamemoria.blogspot.com/2011/07/minha-bisavo-eulina.html) , e tantos outros que merecem ser lembrados.

Esta é uma campanha pela revitalização do uso de nomes tradicionais.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

MARCHA PELO ESTADO LAICO

Esse post é para divulgar e apoiar essa iniciativa.

A separação entre o Estado e a Igreja é uma garantia dos cidadãos, fundamental para a liberdade de crença e de expressão.

O Estado brasileiro é um Estado laico, no qual cada cidadão tem o direito de exercer o seu direito à liberdade religiosa, dentro de um padrão de observância das leis nacionais.

A confusão entre o âmbito religioso e político é extremamente perniciosa porque permite a ingerência de interesses (muitas vezes privados) estranhos à esfera pública.

Além disso, essa é uma das poucas manifestações que vi no Brasil de caráter pós-material ou principiológico. Aqui geralmente as pessoas, quando raramente se mobilizam, o fazem por interesses mais imediatos, como aumentos salariais.

Nunca vi uma marcha em favor da Educação desvinculada de salário de professores. Nunca vi uma marcha em favor da melhoria do sistema de saúde desvinculada do salário dos profissionais respectivos.

Seria muito saudável para a democracia brasileira que a população começasse a manifestar as suas necessidades materiais e pós-materiais, porque isso reforça a coesão e a identidade nacionais (se realizada de maneira ordenada) e serve de indicativo para os governantes do que efetivamente deve ser feito.

Informações sobre a marcha pelo Estado Laico: http://marchaestadolaico.wordpress.com

Calendário das marchas: http://marchaestadolaico.wordpress.com/2011/08/02/calendario-das-marchas-pelo-estado-laico-no-brasil/

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ode marítima - Fernando Pessoa

Hoje escolhi mais um poema de Fernando Pessoa, simplesmente porque todo dia descubro uma "novidade" maravilhosa que ele escreveu.

A Ode Marítima é um dos melhores relatos de paisagem que já li, e parece que eu estava com o poeta ali no cais, vendo os barcos passarem...Escolhi dois trechos que falam sobre a memória desse momento:

(...)

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É - sinto-o em mim como o meu sangue -
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui...

Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

(...)

__________________

"Todo cais é uma saudade de pedra" é pra se lascar. Esse poeta devia ser preso por cenas de poesia explícita.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Memória e Apocalipse

Agosto é um mês temido pelos brasileiros, que o associam a infortúnios. Chamado o "mês do cachorro louco", parece que definitivamente se tornou antipático em nossa memória coletiva devido a alguns marcos importantes e funestos em nossa História política: o presidente Jânio Quadros renunciou em agosto de 1961, inaugurando o processo de desestabilização política que culminou no golpe de Estado de 1964 e numa ditadura militar, no mínimo trinta anos de má-sorte para os brasileiros.

Em agosto o Presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio (1954) e o ex-Presidente Juscelino Kubitschek faleceu em um acidente automobilístico (1976).

Portanto, agosto é um mês oportuno para refletir sobre um assunto que anda me incomodando um pouco: o fim do mundo. Em um desses domingos perdidos estava em casa, com vontade apenas de ficar largada no sofá, em frente à tv, quando começou uma maratona de programas sobre o fim do mundo à moda maia, em 2012.

Depois de seis programas sobre como o mundo acabará em 2012, convenci-me de que realmente o fim está próximo e acontecerá em 21/12/2012. Superei uma certa preocupação inicial com os esclarecimentos do meu marido, que é formado em Ecologia e por isso tem uma "visão holística" do Cosmos, e me disse em tom tranquilizador:

- Não, meu bem, em 2012 provavelmente é o nosso mundo que vai acabar. A Natureza vai continuar existindo depois de nós, como existia antes de nós.

Se é assim, então fico mais tranquila. Na verdade acho que está acontecendo uma certa confusão na leitura ou no entendimento da cosmologia maia porque o que vai terminar é um ciclo, impondo um recomeço em bases diferentes. Não é que o "mundo" vai acabar, mas sim o tempo da mentalidade que criou esse mundo: é essa mudança de paradigmas que todo mundo preocupado com o meio ambiente espera.

Certo, depois que esse marco for estabelecido, como ficará a memória, o patrimônio, que sobrar? Sim, porque os sobreviventes de um eventual cataclisma precisam transmitir o conhecimento às gerações futuras, que herdarão um mundo muito diferente do nosso.

Será que na era do conhecimento virtual nós temos meios eficientes de registro que possam ser transmitidos? Ou será que todo esse conhecimento será perdido?

Será que as gerações futuras vão pensar que aviões, computadores, geladeiras e televisões são mitologia?

Será que outros fins do mundo aconteceram antes, e é por isso que falamos em civilizações perdidas?