O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 31 de julho de 2011

MInha bisavó, Eulina

Domingão é dia de almoçar na casa de mamãe. Logo depois de comer (porque com fome não sou de muita conversa), enquanto tomamos o tradicional cafezinho, sempre peço à minha mãe que relembre as estórias da família.

Hoje, nós lembramos da minha bisavó materna, Eulina. Tive o privilégio de conviver com a minha bisavó até os 22 anos de idade, e através das suas memórias entrar em contato com o Brasil do fim do século XIX e dos primórdios do século XX, com valores e linguajar da época.

Mais do que isso, tive a oportunidade de conhecer uma pessoa tão peculiar que forçosamente se tornou inesquecível.

Apesar de jurar possuir uma origem nobre e fidalga (nunca comprovada), a Condessa Eulina não teve uma vida fácil. Logo na infância, enfrentou o suicídio do seu pai, que perdeu todas as terras da família no jogo, e provavelmente por isso hoje tenho que trabalhar, ao invés de ser dondoca por vocação hereditária.

A Condessa tinha hábitos muito, muito, singulares. Por exemplo, e a despeito da etiqueta que se poderia esperar de uma fidalga, aboliu o uso de talheres só comia com as mãos, fazendo pequenos bolinhos com a comida.

Também tinha o hábito de, logo após o almoço, pingar uma gota de limão em cada olho como se fosse colírio, para evitar catataras. Eu presenciei várias aplicações dessas, e confesso, uma vez quase cheguei a experimentar, mas acabei me convencendo de que aquilo só poderia ser maluquice.

Lembro também, e isso eu gostaria de esquecer, que quando fazia calor minha bisavó costumava tirar a camisa e ficava com os seios à mostra. E não pensem que isso era decorrência da senectude que um dia atingirá todos nós. Não. Ela curtia fazer isso e fazia, para desespero de todos nós que possuímos a mentalidade do vestuário.

Além disso, minha bisavó era uma viajante como eu. Não gostava de ficar em um só lugar e sempre estava se mudando. Acho que essa dinâmica de fazer malas e bagagens era uma metáfora da sua própria e atribulada vida, e com certeza é mais compatível com a sua genealogia (essa sim mais provável) de cigana.

Lembramos da bisavó com saudades e também com muitas risadas, e esse domingo foi especial porque, in memorian, a Condessa Eulina estava conosco.

2 comentários:

  1. São suas regras, Fabiana? "Regras" é como a bisavó chamava menstruação. Será que alguém ainda fala assim?

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