O "artístico" é uma categoria ampla que permite criar um repertório de manifestações culturais que moldam a nossa identidade, quando se transformam em bens acautelados pelo Estado e/ou são difundidas pela sociedade através das gerações.
A categoria artístico abrange as artes tradicionais -Música, Teatro, Arquitetura, Pintura, Escultura, Literatura/Poesia - e outras que, para surpreender as Musas, foram criadas pela evolução da sociedade, como o Cinema e a Fotografia.
Para mim, amante das musas antigas, é difícil imaginar outros tipos de arte além dessas novidades, mas tenho certeza que a Humanidade, em sua infinita capacidade, irá me surpreender.
Qualquer que seja o meio de manifestação, para mim a arte sempre teve a função de acordar e nos fazer ver o mundo de uma maneira diferente (cf. https://direitoamemoria.blogspot.com/2020/04/obras-de-adriana-varejao.html), e não mais voltar a ser como antes.
Eu trabalho protegendo o patrimônio cultural brasileiro, e a ele dedico minhas horas de estudo, lazer e caminhadas, e uma parte material importante dele são os edifícios e monumentos. Eu contemplo, teorizo, sonho e imagino quem, como, quando, por que, por que aqui, para que, mas depois que eu ouvi o poema sonoro Construção, de Chico Buarque de Holanda, passei a pensar muito mais no quem.
Escute a música, entenda a letra, imagine e chore. Veja um trabalhador carregando o peso da sua existência, vivendo e morrendo como se fosse um utensílio.
Quem fez? Quem colocou pedra sobre pedra? As pessoas que trabalharam naquele monumento, os executores, criaram a glória alheia e o seu nome se dissolveu no tempo.
Por causa dessa música/poema eu também dou muita importância ao uso de equipamentos individuais de proteção. O meu olho já procura capacetes, cordas, botas e amarrações porque acidentes acontecem, mas não deviam.
Eu vejo os edifícios que ajudo a proteger como organismos vivos que sangram quando são danificados, por causa de Adriana Varejão, e que são o produto do trabalho de pessoas anônimas que ali deixaram sua energia, suas dores, anseios, esperanças e às vezes a sua vida.
A arte expande a nossa compreensão e contribui para a diversidade que nos dá amplitude de alternativas. Pensar diferente, fazer diferente é fundamental também para nós, que não somos artistas, mas sentimos e entendemos a humanidade através das manifestações culturais.
A arte precisa de liberdade para mudar percepções, para incomodar, maravilhar, fazer sonhar, questionar, para nos ajudar a ser mais.