Essa série do blog serve para desabafar, transbordar as lembranças que aparecem no meu cérebro - máquina do tempo caótica- sem nenhum motivo.
Preciso faxinar memórias indesejadas que atravancam meu caminho (elas passarão). Por exemplo, a lista interminável de namorados daquela atriz famosa que eu, não sei porque e para meu desespero, decorei. Droga. Já lembramos da música Faraó (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/10/lembras-disso-1-farao-divindade-do.html) e dos Lango Lango (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/03/lembras-disso-2-lango-lango.html), que grudaram na minha cabeça como chicletes.
Não sei por que, e talvez nunca consiga saber, o motivo pelo qual nesses dias de festa fiz uma regressão à época do jardim da infância, e me peguei cantarolando as musiquinhas que aprendi. Parece que os primeiros anos de escolaridade aqui têm uma trilha sonora própria, que pontua cada um dos atos das crianças, e acho que são uma parte do condicionamento necessário ao adestramento que recebemos.
Por exemplo, antes de merendar, nos ensinaram a lavar as mãos. Então, logicamente havia uma musiquinha para o ato:
"Vou lavar minhas mãozinhas para agora merendar"... lararalala (esqueci o resto).
Imagino que essas musiquinhas são uma forma lúdica e eficiente de ritual. Em mim o efeito sempre foi mais pavloviano: quando começava a ouvir, imediatamente salivava em antecipação pela merenda, o que me impedia de cantar.
Também nos ensinavam a cumprimentar os visitantes com uma musiquinha:
"Bom dia visitante, como vai? A sua simpatia nos atrai. Faremos o possível para sermos bons amigos, bom dia visitante, como vai?".
Havia uma musiquinha para entrar na sala, para sair para o recreio (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/recreio.html), para entrar na sala depois do recreio, para terminar o dia escolar e despedir da professora.
Além disso, há musiquinhas que são transmitidas há gerações. Por exemplo, Sambalelê (http://www.youtube.com/watch?v=F5CHX51-Q4w#t=49), Bambalalão (http://www.youtube.com/watch?v=Xu21hKte_UE), "O meu chapéu tem três pontas".
Observem, não sou o tipo de pessoa que defende o expurgo de músicas e expressões em bens culturais, para adequá-los aos tempos politicamente corretos. Mas não entendo como e por que uma música como Sambalelê continua sendo ensinada nas escolinhas (Samba Lelê está doente, está com a cabeça quebrada, Samba Lelê precisava é de umas boas palmadas), salvo por razões de tradição e manutenção da mentalidade autoritária.
Enfim, mas também há vantagens: eu aprendi a palavra ginete por causa da música Bambalalão, e aprendi que existiam chapéus de três pontas.
Essas canções escolares são algumas de minhas lembranças mais antigas. Para conhecer outras confira http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/04/minhas-memorias-mais-antigas.html
Vixe! Na minha escola não tinha essa ritualista musical, não!
ResponderExcluirVai ver é essa a diferença que fez de mim uma pessoa tão normal e da senhora uma pessoa tão... deixa pra lá... kkkkk
Brincadeiras à parte... o assunto é sério.
Outro dia eu estava escutando uma conversa por essas bandas e fiquei pensando..., e pra não me fechar com meus botões, queria te contar.
O fato é que por causa do sistema de educação pública são distribuidas cartilhas aos alunos, certo? Significa que todos os alunos da rede publica de ensino aprendem com os mesmos livros. Ou seja, existe uma uniformização do aprendizado que pode ser, e muitas vezes é, nefasta ao desenvolvimento da diversidade, e principalmente das caracteristicas culturais locais.
Paulo Freire dava o exemplo da "panela" e da "cassarola"... eu escutei isso aos 18 anos de idade nas aulas do Centro de Educação quando eu, por "erro", me inscrevi no curso de pedagogia. Eu nunca mais me esqueci desse exemplo, e até hoje vejo em volta provas desse horror que é a uniformização do ensino-aprendizagem. O lance é que a cada dia eu vejo mais e mais...
Então, pra ir direto ao assunto de que eu queria te falar: num país onde todo o sistema de educação é publico como a França, existem gerações inteiras que estudaram TODOS no mesmo livro.
As consequências são muitas, uma mais graves, outras menos. Eu queria te dar dois exemplos. Todo e qualquer francês (todos mesmo!!) sabe tocar flauta (até o ano de 2009 era um instrumento obrigatorio nas aulas de conhecimento musical de toda e qualquer escola francesa), Num dia de festa, as piadas são também uniformizadas, pois todos tiram onda com o exemplo "-Brian is in the kitchen and Jenny is in the bathroom".
Esse tipo de ensino uniforme durante décadas faz, entre outras coisas, com que uma pessoa estrangeira não entenda várias piadas do povo francês, mesmo falando a língua francesa, e que não consiga entender porque um blog de receitas do Jean se chama "Bryan is in the kithen" etc... (se fosse só isso estava bom, pelo menos me faz rir...).
Mas o mais horrizante é pensar que esse tal país, com essa educação uniforme, é 16 vezes menor que o Brasil. Então, imagine o tamanho do nosso problema?!? E junte como elemento da problemática a coexistência do ensino privado, que tem uma margem de liberdade na escolha de livros e de conteudo programatico.
Não consigo! Só posso dizer que aquela crítica de Paulo Freire, da qual eu somente entendia uma ponta da ponta do iceberg, tem na verdade uma dimensão intangível muito além da minha vã filosofia.
Estudar pelos mesmos livros significa formar também uma memória uniforme. É claro que a educação de alguém não se esgota na escola e a diversidade virá com os interesses e vocações individuais.
ResponderExcluirAcrescente no seu problema do ensino uniforme dois outros ingredientes: conteúdo errado e interdição à crítica. Aí, sim, você terá um prejuízo inimaginável por várias gerações.
Lelê, de Samba Lelê, é uma pessoa que está com a cabeça quebrada?
ResponderExcluirPiui-tá-tá-tá, piuí-tá-tá-tá
ResponderExcluir