Há alguns dias, refletia sobre uma antiga e intrigante prática chinesa, os conhecidos "pés de lótus" (cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/07/pe-de-lotus.html), que sempre me fascinaram. Esse diálogo aconteceu quando eu tinha uns dez anos, e eu tentava pedir autorização da minha mãe para enfaixar os meus pés.
- Mãe, está muito ocupada?
- ... (ela, cozinhando, esbaforida, e com a cabeça nas nuvens, não respondeu)
- MÃE!
- (Coitada, tomou um susto), que foi, menina? O que é?
- Mãe, quero enrolar meus pés num pano.
- Como é? Para que? Ele tá dodói?
- Não. É porque eu vi num livro que as chinesas fazem.
- E você é chinesa?
- Não, e daí?
- Então tá bom, vá lá enrolar pés.
- Onde tem faixas?
- Para que?
- Para enrolar os pés, mamãe. Presta atenção.
- De quantas você precisa.
- Não sei.
- quanto tempo vai ficar com o pé enrolado?
- Não sei, acho que é para o resto da vida.
- Certo. Deixa eu acabar de fazer o almoço que eu costuro umas faixas para você.
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Sim, essa é a minha mamãe (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2015/05/mamae.html). Ela escolhe muito bem as batalhas que quer lutar, e desde que a gente não se ferisse, não ferisse os outros, não ferisse a lei e os bons costumes (e chegasse em casa antes da hora do sereno http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/07/levar-sereno.html), nós tínhamos amplas liberdades de escolha, inclusive estéticas.
Sim, ela costurou as faixas e eu enrolei os pés pelo resto da vida, que na visão de uma criança de dez anos durava, mais ou menos, umas duas semanas.
Meus pés ficaram com 24 cm, muito além dos 10 cm em média perseguidos pela constrição.
ResponderExcluirPreparada para tentar de novo em 2020, Fabiana?
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