Quando eu era uma menina, mais ou menos de seis ou sete anos, começou uma moda de colecionar papéis de carta. Todo um mundo de sociabilidade rodeava o fato de colecionar, fazer escambo, e exercer poder político para aumentar as coleções.
Havia alguns critérios de que lembro para rigorosamente aferir a desejabilidade do objeto:
- É melhor o papel estrangeiro do que o nacional;
- O papel devia ser de boa qualidade;
- É preferível o papel perfumado;
- O papel acompanhado de envelope é mais valioso;
- Se o envelope for acompanhado de selo, melhor ainda.
- O tema do papel é muito importante. Havia uns com bichinhos, bonequinhas, flores, e alguns tão decorados que nem dava para saber onde alguém podia escrever.
Olha aqui alguns exemplares bem comuns daquela época: https://www.buzzfeed.com/manuelabarem/35-papeis-de-carta-que-farao-meninas-dos-anos-80-e-90-voltar?utm_term=.nmo57lm3D#.kh7ALJkmn
Eu fui a imperatriz do escambo do recreio (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/07/recreio.html) - esse tempo mítico da minha infância - e minha habilidade para trocar e lucrar papéis de carta deveria ter sido registrada. Até hoje, atribuo o meu intenso sucesso comercial a um bloco de papéis de carta que meu pai trouxe de uma viagem ao Japão, que cumpria maravilhosamente todos os requisitos acima. E ele, evidentemente, nem desconfiava disso.
Mesmo quando perdeu o perfume, dava para ver que aquele papel era lindo, de altíssima qualidade, com um envelope e selo charmosíssimos, e um certo ar de melancolia da linda gueixa que atravessava uma ponte curva em um jardim, no seu quimono suavemente colorido. Esse papel custou caro a muita gente.
Quando atingi o auge da minha coleção, que impressionava mais pela qualidade do que pela quantidade, como só os sábios conseguem, acabei me desinteressando, e ela acabou no lixo, úmida e mofada, vítima da minha indesculpável negligência.
Hoje, poucas pessoas colecionam papéis de carta, apenas algumas meninas daquela época conservam suas coleções. Quase não há mais cartas, estão em extinção. O próprio papel como meio de comunicação parece fadado a desaparecer.
Não chega a ser uma pena, é só a vida seguindo.
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