Neste blog raramente dou dicas de culinária, para melhorar a memória individual e de beleza, como se pode conferir nos posts https://direitoamemoria.blogspot.com/2013/01/dicas-para-melhorar-memoria-individual-1.html, http://direitoamemoria.blogspot.com/2012/07/dicas-de-beleza-de-fabiana-2.html, por exemplo, simplesmente porque não sou a melhor pessoa para fazer isso.
Mas tudo bem, vivemos a Era dos Especialistas em Tudo. É um tempo em que o direito à liberdade de expressão virou apenas forma, e não conteúdo, e as pessoas expressam qualquer idéia só porque podem, seja ela ilegal, inverídica, irrelevante ou idiota.
Dito isso tenho que avisar que a reflexão sobre a condição feminina às vezes me leva a lugares estranhos. Neste final de semana, após uma ressaca (http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/01/ressaca.html) que me deixou de mau humor, estava refletindo sobre as relações entre Ética e Estética na Filosofia Ocidental, o que talvez tenha piorado bastante a minha dor de cabeça, quando comecei a pensar sobre a estética feminina e o peso em nossas vidas.
Se você é mulher, na parte ocidental do mundo, vai passar 60% do seu tempo pensando em:
a) pelos
b) tirar pelos
c) pintar pelos
d) forma corporal
Se for brasileira, as letras a e d serão muito específicas: tirar pelos é a obsessão nacional, nenhum sobreviverá; e a forma corporal começa e termina na bunda.
Aparência é muito importante para fêmeas, para fins reprodutivos e para a sobrevivência. Observem a natureza e verá: as fêmeas são mais coloridas, às vezes maiores, porque os machos são visuais e desatentos, e é necessário chamar a sua atenção.
E quando você entende isso, há duas alternativas: ou você se importa, ou não se importa. Importar-se na medida certa é positivo porque ajuda na autoestima, não porque o olhar dos outros é importante para você, mas porque são uma espécie de espelho.
E a gente gosta de espelho.
Mas não importar-se é também muito libertador. O importante é saber em que medida esses padrões cabem na sua vida, e não o contrário.
Entender como esses padrões chegaram em você, e como você os absorveu e pratica é realmente uma forma efetiva de autoconhecimento porque a gente consegue separar o que nos deram do que é nosso.
Essa tarefa é facilitada se você for meu familiar ou amigo, pois eu venho com alerta de naturalização de padrões. Por exemplo, quando discuti depilação brasileira com a minha sobrinha, eu avisei que se trata de uma imposição de padrões, que foi naturalizada como um traço cultural e depois transformada produto de exportação.
E enquanto nós discutíamos a irrelevância de discutir sobre pelos, eu a levei para depilar as sobrancelhas, e disse que isso era bom. Mostrei na prática como funciona a naturalização dos padrões e esperei que esse padrão fosse absorvido como bom e natural por ela, reforçando periodicamente o absurdo de que a sobrancelha dela estava desalinhada.
Depilar as sobrancelhas é essencial nas nossas vidas? Não. Nós fazemos isso com frequência e religiosamente? Sim. E com isso cumprimos os itens a, b e c: Pensamos em pelos, tiramos pelos e pintamos pelos. É uma síntese perfeita e virtuosa.
De resto, os outros 40% do tempo serão revertidos no esforço de não pensar nisso.
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Ps: Dica para curar ressaca (http://saude.terra.com.br/bem-estar/sprite-pode-curar-ressaca-mais-rapidamente-diz-pesquisa,73f2e60860991410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html)
Não tenho dicas para curar Filosofia.
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