O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









domingo, 3 de setembro de 2023

Memória da pandemia: relembrando rotinas

O que eu estava fazendo em um domingo de 2021?

Ontem estava pensando nisso, tentando lembrar dos meus sentimentos, do que eu fazia e do que estava acontecendo.  Hoje, resolvi replicar um domingo de 2021 para tentar ir acordando a memória do meu corpo também.

Eu começava os domingos arrumando a minha cama ao acordar.  Essa informação é relevante porque antes da pandemia eu achava um absurdo essa obrigação de arrumar camas, cuja integridade duraria menos de um dia.

Entretanto, eu li em algum lugar e em algum momento (oh, memória deslocada) que no hinduísmo arrumar as camas é um imperativo ético, e quem sou eu para discutir com uma cultura tão antiga.  Quando a quarentena se consolidou, e passou a durar mais do que quarenta dias sem horizonte para terminar, resolvi incorporar essa obrigação.

Nem todos os domingos eu tirava folga.  Às vezes eu trabalhava para adiantar meus processos, então  eu me arrumava para ir trabalhar na minha biblioteca.  

O ritual de me arrumar para trabalhar ajudava a induzir a mentalidade e o comportamentos corretos, e nesse ponto consegui manter uma rotina de trabalho normal.  Em relação a dar aulas na Universidade (eu tenho dois empregos) a docência mudou um pouco, mas conseguimos nos adaptar e acho que, em situações específicas, as aulas não presenciais podem ajudar muito.

Por causa dessa experiência passei a ser uma discente online, e fiz vários cursos à distância durante à pandemia e depois também.  Aprendi a degustar vinhos, cozinhar um pouco, fiz cursos de idiomas e reservei um tempo para concluir um livro que eu estava gestando há anos.  Fiz poemas aos domingos.

Aqui é importante lembrar que o domingo era o dia para preparar as minhas refeições. Como expliquei no post (https://direitoamemoria.blogspot.com/2021/04/pequena-atualizacao.html) eu não sabia cozinhar nada, e não podia pedir comida. A solução foi ser vegetariana crudívora por alguns meses, o que me exigiu uma forma totalmente diferente de cozinhar.  Eu colocava comida para germinar e fermentar, e o domingo era utilizado para acompanhar o desenvolvimento das minhas refeições, trocar águas, cultivar minhas kombuchas, e fazer as compras da semana para mim, para os meus pais e irmãos.

Isso foi uma coisa notável:  a gestão do nosso cotidiano passou a ser coletiva para evitar ao máximo que as pessoas precisassem sair de casa. Eu fazia as compras para todo no mundo no mercado e na farmácia, e deixava as compras nas portas.  Isso funcionou muito bem até 2021 quando eu e minha mãe ficamos doentes, mas ela já estava vacinada o que certamente evitou que desenvolvesse a forma grave da doença.

Para mim não havia vacina ainda, e nem disponibilidade de leitos de hospital, então quando eu fiquei doente já estava isolada mesmo, e assim permaneci. Tenho sequelas da covid de 2021, e depois fiquei doente de novo em 2022, e essa é uma lembrança com a qual eu tenho que conviver.

O período de isolamento mudou meus hábitos e minha mentalidade, e tenho orgulho da forma como estruturei o meu cotidiano, apesar de tudo.  Continuei a treinar tenho aulas por chamada de vídeo. Fiz o melhor possível. Tentei encontrar felicidade no meu mundo tão reduzido, e a encontrei em saber que os meus afetos, e até quem eu não conhecia, estava saudável.

Os domingos de 2021 e todos os outros são dias de gratidão e de lembrança.


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