As videolocadoras foram uma grande novidade da década de 80, do século XX, milênio passado.
Eu fui uma assídua frequentadora ao ponto de que, em uma delas, era a guardiã do catálogo. Eu assisti a todos os filmes daquela locadora e, por ter uma boa memória, o proprietário sempre me perguntava se tal filme que ele queria comprar já estava no acervo.
Ele não tinha computadores e preferia conversar comigo sobre os filmes. E, devo abrir um parênteses aqui, havia títulos maravilhosos do gênero artes marciais que eu nunca encontrei em outro lugar. Aquela videolocadora era uma janela para o mundo, e eu tive a oportunidade de assistir a filmes iranianos, da Tchecoslováquia (que ainda existia na época), e aqueles filmes que não tinham chance no circuito comercial mais tacanho.
A última videolocadora da minha cidade fechou um pouco antes da pandemia e apenas porque o proprietário faleceu. Era uma pessoa muito interessante, realmente apaixonada por cinema, e para quem qualquer filme era lançamento, ser você ainda não tinha assistido.
Tradicionalmente, os filmes mais recentes eram mais caros, então a gente pagava mais caro até por filmes com décadas de existência porque ele considerava lançamento 😂. Na verdade, ele era uma atração do lugar porque era um prazer conversar sobre filmes com ele.
Quando eu renunciei ao carnaval, fazia festival de filmes durante os dias de folia. Era aí que Eisenstein, Murnau, Greenaway e Bruce Lee vinham contar as suas estórias, e todos eles saíam do mesmo bloco das locadoras.
Os tempos mudam, e nem sempre para melhor. Perdemos um lugar de encontro para falar sobre cinema, e um exemplo visual dos benefícios da diversidade: só nas locadoras víamos lado a lado filmes românticos e documentários, filmes de artes marciais e outros sem classificação.
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