O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Dádivas natalinas

O gesto de ofertar um objeto - a dádiva - pode ter significados diversos em culturas diversas. É uma forma de estabelecer formas de comunicação e laços sociais, como destaca Mauss (2001, p. 197):

Os povos, as classes, as famílias, os indivíduos poderão enriquecer, mas não serão felizes senão quando souberem sentar-se, tal como cavaleiros [da Távola Redonda] à volta da riqueza comum. É inútil procurar o bem e a felicidade, pois ele está ali, na paz imposta, no trabalho bem ritmado, comum e solitário alternativamente, na riqueza acumulada e depois retribuída, no respeito mútuo e na generosidade recíproca que a educação ensina.

Vamos pensar, então, sobre os presentes ou dádivas natalinas, em qual a sua forma e significado.   

Pelo que me consta, não existem padrões pré-fixados para presentes, cada um dá o que quer.  Então, o significado parece residir mais no ato de dar e receber do que no objeto em si.  Portanto, ressalta a idéia de compartilhamento, de generosidade recíproca que contribui para a riqueza social, referida por Mauss no trecho acima.

A troca de presentes é só uma parte do ritual, e nem deveria ser a mais importante, mas em função de exigências mercadológicas da sociedade de consumo está cada vez mais em evidência.

Aqui abro parênteses para lembrar que, na visão da minha mãe, o Natal é o aniversário de Cristo (com direito a bolo e parabéns, cf. http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/12/feliz-natal-e-algumas-questoes.html), então trocamos presentes em homenagem ao aniversariante.

Recentemente, o ritual de dar presentes foi se tornando mais complexo, e às vezes começa com semanas de antecedência,  se adotada a técnica do amigo secreto ou oculto.  Em algumas empresas e famílias, o amigo secreto parece uma trama policial, com tentativas de suborno para descobri-lo, trocas indevidas para que os sevandijas possam agradar os chefes, e todas as práticas negativas que o dedo podre da Humanidade parece indicar para azedar a celebração.

E, finalmente, há o inimigo secreto, essa prática incompreensível de dar presentes ruins no Natal. É uma espécie de brincadeira, e geralmente se baseia na troca de presentes de baixo valor econômico, baixa qualidade e se possível ofensivos (e aí independe do valor), o que parece contrariar a idéia de generosidade e compartilhamento acima referidos.

Referência

MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 2001.







Um comentário:

  1. Pelo que me consta, existe padrão pré-fixado p dar presente às crianças: tem que ser brinquedo, ou a pessoa se faz odiar até o proximo natal.

    Outro dia descobri o inimigo secreto dinâmico. Funciona assim: cada um traz um presente, bom ou ruim e coloca no pé da arvore. Depois cada um tira na sorte um numero.

    O numero 1 escolhe primeiro o que quer e abre seu presente na frente de todos. Depois é a vez daquele que tirou o n°2. Ele pode escolher o presente do numero 1 ou um novo que vai pegar no lote.

    Em seguida o n°3 faz o mesmo e assim por diante até a pessoa que tirou o ultimo numero escolha o que quer. A coisa é feita de forma que ninguém sabe definitivamente qual presente vai realmente levar consigo até que a ciranda acabe. A estoria so se decide quando o ultimo numero tenha escolhido o seu presente.

    Com a sorte que eu tenho, vou tirar o numero 1 e alternar entre felicidade e tristeza até o final da brincad.....

    Alguém disse brincadeira? Quem foi o corno que inventou isso.... pff!!!

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