Em algumas sociedades, o valor da pessoa é medido pela sua capacidade de trabalho. Não raro, pessoas aposentadas (aquelas que trabalharam por boa parte da vida) são mal vistas porque não estão "produzindo", não estão fazendo nada, e por isso também são consideradas obsoletas e descartáveis.
Quando se trata da velhice, existem outros problemas associados: a percepção de que aquela vida está no fim e que não vale nenhum esforço; a velhice não é "estética" e em algumas sociedades há toda uma cultura de negação dos efeitos do tempo sobre o corpo.
Multiplicam-se procedimentos estéticos para rejuvenescer, e alguns alteram tão profundamente que o indivíduo não se reconhece mais, e nem é reconhecido. A nova identidade do não-tempo e do não-ser.
Existe uma necessidade social de valorização dos idosos porque eles são os repositórios vivos da experiência, os guardiões da memória coletiva. Há sociedades que, por costumes e tradição, os valorizam profundamente e isso aparece como variadas manifestações de respeito.
No Brasil, onde não há essa deferência costumeira, foi necessário transformar essa necessidade em direitos, criando uma lei federal nº 10741/2033 (o Estatuto do Idoso) para dizer o óbvio: que os idosos também tem os direitos que já pertencem aos brasileiros simplesmente pelo fato de nascerem.
Foi preciso dizer em uma lei que as pessoas idosas têm o direito de ir e vir, liberdades civis (de crença, opinião, expressão), e envelhecer tornou-se um direito, observem:
"Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente".
E essa lei tem apenas um efeito simbólico, programático e pedagógico porque apesar da sua existência os idosos ainda não são respeitados como merecem. A solução para efetivar a lei é educar a todos para tornarem-se velhos e respeitarem a si mesmos e aos outros independentemente da idade.
Ou então, como propusemos a título de brincadeira no post http://direitoamemoria.blogspot.com/2013/08/resgatando-instituicoes-antigas-gerusia.html, resgatar a Gerúsia e botar para quebrar nessa molecada sem vergonha.
A situação fica ainda pior em tempos de pandemia pois os idosos são vulneráveis duplamente por questões físicas e sociais. Nessas horas, lembro do meu professor de Geografia, Creso, que em uma de suas aulas sobre Geografia Humana nos disse em tom muito sério: quando a geração de vocês estiver velha, o mundo estará bem pior que agora, com menos recursos, com menos respeito, e vocês serão animais velhos e sem possibilidade de sobreviver.
O breve silêncio dos adolescentes perturbados naquela sala de aula mostrou um pequeno nível de reflexão e, evidentemente, as palavras tem significado e profundidade diferentes para as pessoas. Palavras gravadas a fogo na memória dessa sua aluna, professor.
Quando os recursos estiverem escassos, e as escolhas tiverem que ser feitas, quem vai sobreviver? Quem vale o custo e o esforço?
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