O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Conhece-te a ti mesmo, Brasil (8): a questão da privacidade

Diz-se que os brasileiros são amigáveis e hospitaleiros mas percebo essas características como sintomas de uma tendência à intromissão na vida alheia.

Sabe aquela projeção dos direitos personalíssimos que criam para a pessoa uma esfera de liberdade que, à falta de metáfora melhor, pareceria uma auréola ou círculo a nos envolver?  Pois bem, entre nós essa esfera é bem pequena ou quase inexistente.

No Brasil, você será invadido.

Sob o pretexto de pedir açúcar emprestado ou de saber como você vai, vizinhos não o deixarão viver só.  As pessoas adoram tanto redes sociais porque podem saber e opinar sobre a vida alheia.

E mesmo quando estiver desacompanhado, não estará sozinho, pois as pessoas chegarão até você sob a forma de barulho.

As pessoas tocarão em você enquanto falam, e essa mania de pegar nos outros, mesmo que desconhecidos, parece ser uma característica bem nossa.  Imagino a estranheza dos "outros", acostumados a mais retração, quando "nós" beijamos, abraçamos, beliscamos (sim, há quem belisque) e damos tapinhas amigáveis nos interlocutores.

Sabe aquela idéia do "don't ask, don't tell"?  Entre nós pode ser traduzida como "pergunte e divulgue", pois não há nada melhor do que saborear a vida alheia.

Acredito, inclusive, que talvez isso seja uma coisa benéfica, haja vista a grande necessidade das pessoas de falar sobre a própria vida, sonhos, desilusões, intimidades.  Essa idéia de compartilhar com o "grande grupo" deve servir para alguma coisa e pode favorecer a inclusão social.

Enfim, parece fazer parte do nosso modo de viver e sentir essa tendência de redução da privacidade, que pode até se apresentar como forma solidariedade social em situações específicas, mas que no geral revelam uma tendência à intromissão e à inefetividade do direito de estar só.

3 comentários:

  1. Por sinal, ser discreto pode ser até ser visto como um comportamento rude, de quem não quer muita conversa.

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  2. Outro dia eu disse pra uma amiga brasileira que era falta de educação fazer pergunta pessoal quando a gente acaba de conhecer uma pessoa. Ela me olhou com cara de quem não tem a menor idéia do porquê com tanta convicção que eu acabei ficando com a impressão de que a extraterrestre era eu...

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  3. Existem as perguntas pessoais, e aquelas perguntas totalmente sem noção. Aqui você experimenta as duas.

    Deve ser porque as pessoas estão acostumadas a compartilhar informações pessoais (às vezes até íntimas) nas redes sociais, e nesse contexto os limites parece que ficam meio borrados.

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