O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 8 de fevereiro de 2014

Historia calamitatum

Cheguei à conclusão de que "melhor" para mim é o que dura.  A permanência é uma virtude que só poucos objetos escolhidos possuem, principalmente nesses nossos tempos difíceis do descartável e da obsolescência programada.

Eu gosto daquele tempo mítico onde as coisas eram feitas para sempre.  Onde estão aquelas coisas maravilhosas que duravam décadas?  Minha avó, por exemplo, só possuiu uma máquina de lavar durante toda a vida, e se orgulhava muito disso.

Por que existem tantas modas retrô e vintage?  Porque os objetos ainda estão por aí, prontos para serem usados.  E quando são feitas réplicas, "caricaturas de época", geralmente duram muito menos do que os originais.

Recentemente comprei uma vassoura bonita que, pasmem, não varria.  Depois de diversas tentativas, ela simplesmente desistiu e partiu-se, como se a vida dela não fizesse sentido.  

Eu quero coisas que durem, sejam úteis, e morram dignamente.  Eu preciso de uma vassoura arquetípica e primordial que não solte as cerdas, o cabo e que realmente limpe o chão.  É pedir demais?

Você pode estar pensando que a culpa é minha, que não sei varrer direito e nem escolher vassouras. Mas essa responsabilidade eu não aceito, pois estou cansada de ver toda a responsabilidade sendo jogada sobre os ombros do consumidor, a quem cabe o ônus do desejo, da necessidade, de pagar e de peregrinar para que os fornecedores cumpram o prometido.

Eu quero  um objeto que não precise ir para a assistência técnica ao sair da loja. É pedir demais?

Aqui, a estória do consumo é assim:

Você adquire o produto;
O produto não faz o que deve;
Você liga para a loja;
E liga para a loja;
E liga para a loja.
A loja diz que você espere.
Espera.
Espera.
Liga para a loja de novo.
E a loja diz que você esperou demais, o seu prazo de garantia já passou e você tem que ligar para a assistência técnica.
Você liga para a assistência técnica;
E liga para a assistência técnica;
E a assistência técnica diz que vai ligar para a loja, e que o consumidor espere;
Espere.
Espere.
E finalmente,é marcada a data (nunca menos de uma semana) para o diagnóstico do problema que o produto novo não deveria ter.

E vinte dias depois, se der sorte, você tem um produto novinho em folha que já passou por um conserto.

O custo da minha paciência não é considerado na política de preços dos produtos, mas deveria.

4 comentários:

  1. Eu gosto do livro de Abelardo, por isso o título do post.

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  2. E dai tu telefonar pro técnico, especialista, aquele do outro post que "mexe com..."

    Kkkk

    Conta ai o que foi que tu comprou desta vez que não deu certo, doutora? Por acaso um condicionador de ar portàtil que precisa "apenas" fazer um buraco na parede para que os ratos entrem com mais facilidade dentro de casa?

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  3. Um fogão. Sabe qual foi o fim da história? Não conseguimos o reparo nem com a loja (que mandou esperar para o consumidor perder o prazo da garantia) e nem com a assistência técnica, porque o "sistema" não estava funcionando. A solução foi comprar a peça que veio quebrada e trocar.

    E compramos. Até pensei em brigar, e ainda não desisti da idéia, mas atualmente estou escolhendo bem as minhas batalhas. Se for para brigar, será por princípios, e não por causa de uma peça que a gente já trocou.

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