O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Conhece-te a ti mesmo, Brasil (5): a arte cavalheiresca de esperar

Entre nós há um ditado muito interessante que diz: "quem corre cansa, quem espera sempre alcança".

Somos educados a esperar, seja no cotidiano das filas para tudo, até mesmo pela idéia passada através das gerações de que o Brasil é o país do futuro.  Nós esperamos que um dia esse futuro chegue, ou que nós consigamos chegar nele, mas como toda miragem, parece sempre estar fora do alcance das nossas mãos.

Fatalmente, um brasileiro fará alguém esperar seja porque somos impontuais (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-2.html, mas também porque consideramos que  não há mal nenhum em fazer os outros esperarem um pouquinho.

Cada um com o seu tempo, e dispondo do tempo alheio, cuidam-se dos próprios negócios.  Precisa pegar o filho na porta da escola? Não tem problema, é só parar o carro em fila tripla e todo mundo espera.

Precisa ir à padaria, ginástica ou banco? Não tem problema, estaciona o carro na porta da garagem alheia e as pessoas esperam que termine suas atividades para retirar o carro. É proibido estacionar na frente da garagem?  Que surpresa! Não sabia... mas o que custa esperar um pouquinho?

A expressão "não vai demorar" e suas variantes geralmente são um indício certeiro de armadilha. Frequentemente é utilizada naquelas situações em que se agenda um serviço, que deveria estar pronto mas foi deixado para última hora. Um exemplo: deixei uma calça para fazer a bainha, a moça liga dizendo que está pronto e, quando fui buscar, surpresa-supresa, não estava pronto ainda, mas ia ficar, se eu esperasse um pouquinho.

Afinal, por que a pessoa ligou dizendo que estava pronto, se não estava? Não há resposta plausível.

Raramente consegui que consertos, documentos, resolução de problemas e outras situações fossem atendidas no prazo.

Se algum dia vamos superar a quase atávica impontualidade, respeitar o tempo alheio com a cortesia da pontualidade e dimensionar corretamente os serviços? Não sei, estou esperando para ver.

9 comentários:

  1. A questão da espera é tão séria, que existem algumas iniciativas legais para limitá-la. Por exemplo, algumas cidades fizeram leis municipais dizendo quando tempo de espera seria razoável nas filas em banco.

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  2. Ser esperado é sinal de ter prestígio e por isso os governantes e as noivas se faziam esperar. Isso não é mais adequado nem considerado cortês.

    Chique é chegar na hora, principalmente se a festa for sua.

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  3. E o conceito de "razoável duração" (do processo) foi consagrado na Constituição Federal, alçado ao status de garantia no artigo 5º, LXXVIII, através da emenda Constitucional nº 45/2004.

    O que pensas disso, dra. Denise?

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  4. Humf! Sósêno!! Se eu me lembrasse de quantas vezes eu esperei pela senhora pra ir almoçar (embaixo do teu prédio, na porta do teu trabalho, no escritorio, no meio da rua, no restaurante, em casa...), eu ia ocupar toda minha memoria RAM.

    E o processo de esperar a noiva acabou muito antes da reforma constitucional. Com a imposição feita pelos padres de se pagar a igreja por hora. Num instante elas ficaram pontuais.

    Agora, por mais que eu aceite que ser pontual é uma arte, um cortesia indispensavel, bons modos, civilidade etc (o que tu quiser!), eu so considero a pontualidade como tal quando me refiro à pontualidade pra chegar.

    Nunca vou me acostumar, e acho que jà te disse, com a pontualidade de alguns "povos" com a hora de terminar a festa. Isso é intoleravel e inaceitavel. A hora que termina é a hora que termina, poxa! Isso é o termômetro da festa. Onde jà se viu, acabar a hora e botar o povo pra fora?!? Não tenho vocação pra Cinderela.

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  5. O reverso da moeda é a crescente exasperação pela espera no seio da população.

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  6. Então, será que faz parte da nossa cultura também não ter hora para finalizar as coisas, por exemplo, festas?

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    1. Acho que sim. O que é muito bom a meu ver. Uma festa boa é aquela que so acaba quando ninguém aguenta mais, né não?!?

      A priori, toda festa tem a pretensão de ser boa. Se todo mundo vai embora cedo é porque não foi uma boa festa. Se todo mundo fica pra varrer o salão, é porque foi bom.

      Ou seja, se a festa tem fim de modo "artificial", tal como "chegou a hora e pronto", a gente nunca vai poder avaliar o quanto foi bom...

      Enfim, eu entendo o que eu quero dizer...

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  7. Aqui vai um serviço de utilidade pública em forma de conselho: quando se tratar das relações de consumo no Brasil, não espere. Nessa semana tive uma experiência esdrúxula.

    Compramos um fogão, que veio quebrado. Ligamos para a loja para reclamar, e a loja disse que ia analisar o caso e que retornaria com a resposta em um prazo x. Como era de se esperar, não cumpriu o prazo e quando nós retornamos a ligação, disseram que não podiam fazer nada porque o prazo de reclamação "já havia passado".

    A reclamação não interrompe o prazo? E o princípio da boa-fé contratual? Aprendida a lição, da próxima vez em que coisa parecida acontecer, todos os instrumentos de defesa do consumidor serão utilizados de uma só vez.

    E tem mais: eu não esqueço. Jamais vou comprar nessa loja de novo.

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  8. Olha aí: voz de prisão porque estacionou na frente da porta de uma garagem, cf. http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2015/03/pm-que-recebeu-voz-de-prisao-de-promotor-voltara-ao-trabalho-em-mg.html

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