Vamos fazer uma síntese do que concluímos até o momento sobre os nossos modos de viver e sentir:
Brasileiros adoram e precisam ganhar, porque isso faz parte da sua afirmação: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2012/11/conhece-te-ti-mesmo-brasil-
Brasileiros são impontuais: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-2.html
Brasileiros não cultivam a alegria de viver: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/03/conhece-te-ti-mesmo-brasil-3-questao-da.html, embora exista um aparente consenso de que somos alegres.
Brasileiros são barulhentos: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/12/conhece-te-ti-mesmo-brasil-4-questao-do.html, e não concebem uma alegria silenciosa, embora estejamos acostumados com o silêncio imposto.
Brasileiros esperam, pois são educados para isso: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-5-arte.html. Por isso, prazos parecem ser uma quase uma forma de injustiça.
Brasileiros ligam muito para as aparências: http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2014/01/conhece-te-ti-mesmo-brasil-6-questao-da.html. E os padrões de beleza feminina e masculina são bens distintos, sendo os primeiros mais restritos.
Brasileiros improvisam http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/08/conhece-te-ti-mesmo-brasil-imponderavel.html, em prejuízo da qualidade e da satisfação dos consumidores de bens e serviços.
Vamos pensar agora em outra característica coletiva notável que é o cumprimento de normas (sociais ou jurídicas).
Poderia começar a reflexão dizendo que os brasileiros não são educados a cumprir normas, e esse seria mais uma faceta do problema da Educação no Brasil (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/06/questao-da-efetividade-no-direito.html). Entretanto, como já realizamos a reflexão sob o viés da falta de educação normativa que solapa a efetividade das normas jurídicas (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/07/memoria-e-aprendizado-questao-da.html), prefiro aqui destacar que na verdade o brasileiro inventa normas para cumprir.
Como os padrões de comportamento estabelecidos normativamente não são ensinados de forma eficaz, na verdade as pessoas inventam o seu próprio modo de cumprir as normas, ou simplesmente as inventam. Há comunidades em que o Estado nunca compareceu, e nem ofertou normas através de sua longa mão. Então, as pessoas criam as suas normas de convivência consuetudinária, à margem e às vezes contra a legislação.
Nessa semana me peguei pensando nos altos índices de criminalidade no Brasil. A minha hipótese: a criminalidade transformou-se em modo de viver, ofício tradicional transmitido entre gerações, seja para populações que viveram à margem do Estado, e por isso criaram o seu próprio ordenamento, seja para aqueles integram a estrutura estatal, passando o poder hereditariamente, quase à moda monárquica, e incompreensivelmente através do voto secreto.
Brasileiros têm dificuldade de cumprir normas e confundem qualquer exigência nesse sentido como autoritarismo. Vou dar um exemplo cotidiano: o brasileiro é impontual e não dispõe de um sistema de transporte adequado, certo? Isso pode criar a falsa sensação de um direito ao atraso. Se a empregador, como é de se esperar, exige o cumprimento de horários e pune atrasos, é considerado injusto e autoritário.
Por outro lado, é muito comum perceber que as pessoas afrouxam o cumprimento das normas. Começam cumprindo e depois vão escolhendo aquelas que vão cumprir ou não. O resultado disso é a modificação para pior de procedimentos, inclusive de segurança, simplesmente porque o padrão não é mantido.
Não preciso me alongar na exposição para demonstrar que essa incapacidade de cumprir normas pode afetar muito a vida das pessoas, inclusive no aspecto empregabilidade.
Se você acha que as minhas análises são negativas quanto aos aspectos identitários, não esqueça que sempre é possível fazer uma leitura diametralmente oposta: brasileiros são competitivos, espontaneamente alegres, expansivos e calorosos, fazem tudo a seu tempo e respeitam o tempo alheio, pois esperam; são bonitos e criativos até mesmo na hora de cumprir regras.
Compliance, o termo da moda.
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